Guerra dos Trinta Anos
Mapa da Europa em 1648, após o Tratado de Vestfália. A área em cinza representa os estados alemães do Sacro Império.
Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) é a denominação genérica de uma série de guerras que diversas nações europeias travaram entre si a partir de 1618, especialmente na Alemanha, por motivos variados: rivalidades religiosas, dinásticas, territoriais e comerciais. Foi um dos maiores e mais destrutivos conflitos da história, deixando um saldo de mais de oito milhões de mortos (a maioria da Europa Central).
As rivalidades entre católicos e protestantes e assuntos constitucionais germânicos foram gradualmente transformados numa luta europeia. Apesar de os conflitos religiosos serem a causa direta da guerra, ela envolveu um grande esforço político do Império Sueco e da França para procurar diminuir a força da dinastia dos Habsburgos, que governavam a Monarquia de Habsburgo (futuro Império Austríaco). As hostilidades causaram sérios problemas econômicos e demográficos na Europa Central e tiveram fim com a assinatura, em 1648, de alguns tratados (Münster e Osnabrück) que, em bloco, são chamados de Paz de Vestfália.
Os conflitos religiosos ocorridos na Alemanha e solucionados em 25 de setembro de 1555 com a assinatura da Paz de Augsburgo inauguraram um período no qual cada príncipe podia impor sua crença aos habitantes de seus domínios. O equilíbrio manteve-se enquanto os credos predominantes restringiam-se às religiões católica e luterana, mas o advento do calvinismo complicaria o cenário. Considerada uma força renovadora, a nova linha religiosa conquistou diversos soberanos. Os jesuítas e a Contrarreforma, por outro lado, contribuíram para que o catolicismo recuperasse forças. Assim nasceu o projeto expansionista dos Habsburgos, idealizado por Fernando, duque de Estíria, que fora educado pelos jesuítas. O perigo ameaçava tanto as potências protestantes no norte como a vizinha França.
À medida que o conflito se desenhava, a luta estava sendo influenciada por muitos outros temas colaterais, tais como as rivalidades e ambições dos príncipes alemães e a teimosia de alguns dirigentes europeus, sobretudo dos franceses e suecos, em abater o poderio do católico Sacro Império Romano-Germânico, o instrumento político da família dos Habsburgos.
Esta conjuntura fora desencadeada na segunda metade do século XVI pelas fraquezas do Tratado de Augsburgo, um acordo concluído em 1555 entre o Sacro Império católico e a Alemanha luterana.
As tensões religiosas agravaram-se na Alemanha no decurso do reinado do imperador Rodolfo II (1576-1612), período durante o qual foram destruídas muitas igrejasprotestantes. As liberdades religiosas dos crentes protestantes foram limitadas, nomeadamente as relativas à liberdade de culto; os oficiais do governo lançaram as bases do Tratado de Augsburgo, que criou condições para o refortalecimento do poder católico.
Com a fundação da União Protestante em 1608, uma aliança defensiva protestante dos príncipes e das cidades alemãs, e a criação, no ano seguinte, da Liga Católica, uma organização semelhante mas dos católicos romanos, tornava-se inevitável o recurso à guerra para tentar resolver o conflito latente, o qual foi desencadeado pela secção da Boêmia da União Protestante.
No Reino da Boêmia (atual República Checa), teve início uma disputa pela sucessão do trono, que envolveu católicos e protestantes. Fernando II de Habsburgo, com a ajuda de tropas e recursos financeiros da Espanha, dos germânicos católicos e do papa, conseguiu derrotar os protestantes da Boêmia.
Os protestantes, que constituíam a maior parte da população, estavam indignados com a agressividade da hierarquia católica. Os protestantes exigiam de Fernando II, o rei da Boêmia e futuro imperador do Sacro Império Romano-Germânico, uma intercessão em seu favor. Todavia, as reivindicações foram totalmente ignoradas pelo rei, pois este era um fervoroso católico e um potencial herdeiro do poder imperial dos Habsburgos. Fernando II estabeleceu o catolicismo como único credo permitido na Boêmia e na Morávia. Os protestantes boêmios consideraram o ato de Fernando como uma violação da Carta de Majestade. Isso provocou nos boêmios o desejo de independência.
A resposta da maioria protestante não se fez esperar: em 23 de maio de 1618, descontentes com os católicos que destruíram um de seus templos, invadiram o palácio real em Praga e defenestraram dois dos seus ministros e um secretário, fato que ficou por isso conhecido como “Defenestração de Praga“, tendo despoletado a sublevação protestante. Assim começava a guerra, que abrangeu as revoltas holandesas depois de 1621 e concentrou-se em um confronto franco–Habsburgo após 1635.
Desenrolar da guerra
O conflito se concentrou principalmente entre o Sacro Império Romano-Germânico, católico e dominado pela casa de Habsburgo, e um vasto conjunto de cidades e principados alemães protestantes, apoiados primeiro pelas principais potências anticatólicas, o Império Sueco e os Países Baixos, e depois também pela França católica, em mais um capítulo das antigas rivalidades entre os franceses e os Habsburgos.
Esta guerra devastadora, talvez uma das mais ferozes na História da Europa, pode dividir-se em quatro períodos distintos, caracterizados pelos soberanos que, sucessivamente, lutaram contra o imperador, sustentáculo dos católicos.
Neste ínterim, surgiram diversos períodos, que eu, particularmente não adicionei na postagem, porém deixo abaixo o link dos mesmos caso alguém se interesse.
O papel da França
O papel da protagonista principal durante a Guerra dos Trinta Anos coube à França. No apogeu do conflito, o país chegou a contar com um exército de 100 mil homens e a firmar aliança com as Províncias Unidas, a Suécia, os príncipes alemães contrários à paz, a Confederação Helvética e alguns Estados italianos. Na organização estratégica de todos esses movimentos estava Armand Jean du Plessis, o cardeal de Richelieu (1585-1642), descrito por seus contemporâneos como uma figura mais próxima à Coroa do que do papa.
O fim do conflito
A Paz de Vestfália foi negociada durante três anos pelos representantes dos católicos e protestantes, reunidos em Münster (onde tinha precedência a França católica) e em Osnabrück (onde tinha precedência a Suécia protestante). As conversações de paz, iniciadas em 1644 em Münster e Osnabrück, envolviam o fim da Guerra dos Oitenta Anos entre Espanha e Países Baixos e da guerra dos trinta anos na Alemanha. O tratado de paz entre Espanha e Países Baixos foi assinado em 30 de janeiro de 1648; em 24 de outubro do mesmo ano foi assinado o tratado de paz entre o Sacro Império Romano-Germânico, os outros príncipes alemães, a França e o Império Sueco. Os tratados concluídos nessas duas cidades da Vestfália foram depois reunidos no Ato Geral de Vestfália em Münster em 24 de outubro de 1648.
A assinatura da paz ratificou as cláusulas do Tratado de Augsburgo de 25 de setembro de 1555, incluindo o calvinismo, garantindo a protestantes e católicos a liberdade de culto. Assim, o mapa religioso da Europa ficaria imóvel, uma vez que a eventual conversão dos soberanos não acarretaria mudanças religiosas nos respectivos domínios. Ao mesmo tempo, não só o equilíbrio de poderes no continente europeu se viu alterado – com a Espanha a ceder a posição dominante à França – como também certas fronteiras foram redefinidas.
A diplomacia e os exércitos franceses obrigaram os Habsburgos a se concentrar nos territórios austríacos e a se expandir em direção ao Império Turco, no Oriente. Na qualidade de árbitro do equilíbrio internacional, a França conseguiu alguns ganhos territoriais: tomou o Rossilhão à Espanha, tomou posse de toda a Lorena e de quase toda Alsácia e obteve o reconhecimento dos “Três Bispados” (Metz, Toul e Verdun).

Celebração da Paz de Münster
O Império Sueco ampliou seu controle sobre o Báltico e recebeu a Pomerânia ocidental alemã, além de importantes portos situados em rios alemães, dilatando assim seus domínios para fora da Escandinávia. O poder sueco seria recompensado com concessões feitas ao eleitor príncipe-eleitor que participava da eleição do imperador) de Brandemburgo, dono das vias de acesso entre a Prússia e o Reno.
A Espanha perdeu não só os Países Baixos mas sua posição de domínio no oeste da Europa e o controle dos mares nas colônias americanas.
Várias nações, entre as quais os Países Baixos e a Suíça, viram reconhecida a sua independência.
A Paz de Vestfália, que significou a dissolução da antiga ordem imperial, permitiu o crescimento de novas potências em suas partes componentes. Reconhecido como fundamento da constituição alemã, o tratado formou a base de todos os acordos seguintes até o desaparecimento definitivo do império em 1806.

Europa Central no fim da Guerra dos Trinta Anos, mostrando a fragmentação
Consequências
Com o fim definitivo do poder do Sacro Império Romano-Germânico, as pequenas nações germânicas estavam arrasadas economicamente. A guerra havia sido cruel em demasia com seus participantes em especial a região alemã que havia sido o principal campo de batalha; a civilização europeia havia chegado a um dos seus níveis mais baixos na questão cívica e humana. Era o início da hegemonia francesa na Europa e do declínio do poder dos Habsburgos. Os Estados onde hoje se encontra a Alemanha foram os que arcaram com o ônus da guerra, saíram derrotados, arruinados e devastados dos trinta anos de guerra. Os principais campos de batalhas dos intermitentes conflitos foram as cidades e principados que hoje formam a Alemanha, estes sofreram danos graves em suas cidades e campos. Muitos dos combatentes eram mercenários que tinham na pilhagem sua principal forma de pagamento. Assim, tomavam à força, onde paravam ou por onde passavam, os suprimentos necessários a sua manutenção e lucro, numa estratégia predatória que levou à destruição completa de inúmeras comunidades; depois da guerra, esses mercenários se tornaram ladrões e continuavam a assaltar as pessoas e roubar o que havia restado da guerra. Hoje estima-se que a população das cidades e principados da região alemã caiu pela metade depois da guerra; A destruição tomou tamanha proporção que vilas e cidades pequenas simplesmente deixaram de existir. Os Estados e Principados alemães levariam em torno de duzentos anos para se recuperarem da Guerra dos Trinta Anos.
Entre as consequências de longo prazo da guerra estão, além da emergência da França como o poder terrestre dominante na Europa, a formação das repúblicas da Holanda e Suíça e a contínua fragmentação da Alemanha. Estima-se que em torno de 350 Estados alemães tornaram-se independentes do imperador, culminando, assim, no retardamento do processo de unificação dos Estados na atual Alemanha.
Cronologia dos principais eventos
- 1618 a 1620: Foi derrotada uma revolta na Boêmia contra a regência da Monarquia de Habsburgo. Ainda assim, alguns príncipes protestantes continuaram a sua luta contra a Áustria;
- 1625 a 1627: A Dinamarca entra na guerra ao lado dos protestantes;
- 1630: O rei Gustavo Adolfo do Império Sueco intervém ao lado dos protestantes, invadindo o norte da Alemanha;
- 1631: O comandante das forças católicas, Tilly, ataca Magdeburgo;
- 1632: Tilly foi derrotado em Breitenfeld e no rio Lech, tendo sido morto. O general alemão Wallenstein foi derrotado na Batalha de Lützen, onde Gustavo Adolfo morreu;
- 1634: Quando os suecos foram derrotados em Nördlingen, Richelieu fez com que a França entrasse na guerra com o objetivo de infligir várias derrotas à Espanha, aliada da Áustria. Wallenstein é assassinado.
- 1648: A Paz de Vestfália deu a Alsácia-Lorena à França e algumas províncias bálticas à Suécia, tendo a autoridade imperial na Alemanha ficado a ser apenas nominal. Os exércitos mercenários de Wallenstein, Tilly e Mansfeld devastaram a Alemanha.
Principais batalhas
- Batalha de Pilsen (1618)
- Batalha de Záblatí (1619)
- Batalha de Vestonice (1619)
- Batalha da Montanha Branca(1620)
- Batalha de Wiesloch (1622)
- Batalha de Wimpfen (1622)
- Batalha de Höchst (1622)
- Batalha de Fleurus (1622)
- Batalha de Stadtlohn (1623)
- Batalha da Ponte Dessau (1626)
- Batalha de Lutter am Barenberge(1626)
- Batalha de Stralsund (1628)
- Batalha de Wolgast (1628)
- Batalha de Frankfurt on the Oder(1631)
- Batalha de Magdeburgo (1631)
- Batalha de Werben (1631)
- Batalha de Breitenfeld (1631)
- Batalha de Rain (1632)
- Batalha de Fürth (1632)
- Batalha de Lützen (1632)
- Batalha de Oldendorf (1633)
- Batalha de Nördlingen (1634)
- Batalha de Wittstock (1636)
- Batalha de Rheinfelden (1638)
- Batalha de Breisach (1638)
- Batalha de Chemnitz (1639)
- Segunda Batalha de Breitenfeld(1642)
- Batalha de Rocroi (1643)
- Batalha de Tuttlingen (1643)
- Batalha de Friburgo (1644)
- Batalha de Jüterbog (1644)
- Batalha de Jankau (1645)
- Batalha de Mergentheim (1645)
- Segunda Batalha de Nördlingen(1645)
- Batalha de Zusmarshausen (1648)
- Batalha de Lens (1648)
- Batalha de Arras (1654)
- Batalha de Valenciennes (1656)
- Batalha das Dunas (1639)
https://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_dos_Trinta_Anos