Uma sociedade para todas as idades

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Com apenas 39 anos, Ezequias, rei de Israel, lá pelo ano 711 a.C., foi acometido de uma enfermidade terminal. No desespero de sua dor, ele orou a Deus, que lhe deu mais 15 anos de vida (2ª Rs 20.1-11).  Hoje ninguém precisa ter inveja de Ezequias, pois todos ganhamos, no correr deste século, mais alguns anos de vida. No mundo industrializado o ganho foi de 25 anos em média, bem mais que o de Ezequias, graças à redução da mortalidade infantil e ao tratamento das doenças ligadas à velhice. O que está acontecendo é algo espantoso, uma revolução nunca vista da longevidade, a que se dá o nome de o boom dos vovôs e das vovós, mais destas do que daqueles. Nos últimos 50 anos — afirma Peter G. Peterson — “a expectativa de vida global aumentou mais do que durante os cinco milênios anteriores”. Estamos empurrando a morte cada vez mais para frente. Essas mudanças — explica Gregory Stock — “vão afrouxar a âncora fundamental de nossa existência, a mortalidade”. O processo é tal que o salmo atribuído a Moisés vai ficar tremendamente desatualizado. Enquanto ali se lê que “só vivemos uns setenta anos e que os mais fortes chegam aos oitenta” (Sl 90.10, BLH), é enorme a possibilidade de ampliar nossa expectativa de vida, em nível mundial, de 66 para 110 ou 120 anos, a idade com que morreu o próprio Moisés (Dt 34.7). Os cientistas acreditam que 120 anos vão corresponder a “duração natural da vida”. O físico Michio Kaku vai mais além e afirma que “a probabilidade de chegar aos 130 anos, ou até mais, é evidente e não tem nada de ficção científica”. Daí o título que a revista Superinteressante dá a um artigo sobre longevidade: “65 anos em cada perna”. Daqui a pouco mais de 30 anos (em 2030), a expectativa de vida para a mulher vai aumentar em 16 anos (de 51 para 67) nos países menos avançados; 10 anos (de 64 para 74) nos países em desenvolvimento; e 4 anos (de 78 para 82) nos países desenvolvidos. No mundo todo esse aumento será de 10 anos para as mulheres (de 66 para 76) e de 9 anos para os homens (de 62 para 71). Hoje somos 580 milhões de idosos acima de 60 anos no mundo. Seremos 1 bilhão no ano 2020. Enquanto a população em geral deverá crescer 50% no período, a população idosa crescerá 75%. Em 1950, os idosos constituíam 10,5% da população mundial. Em 2025 eles serão 15,2% no mundo e 34,1% nas regiões desenvolvidas. O fenômeno é marcante também no Brasil. Há 30 anos, nossa expectativa de vida era de 55,1 anos. Agora é de 67,9 (um aumento de 12,8 anos, quase igual ao aumento dado ao rei Ezequias). A previsão é que na primeira metade do próximo século haja mais idosos que jovens no país. Para enfrentar esse reboliço da longevidade, que trará profundo impacto social, econômico e político ao mundo, é preciso muita sabedoria, muito cristianismo, muita justiça, muitas reformas e muitas providências prévias e de ordem prática. É por isso que a ONU determinou que 1999 fosse o Ano Internacional das Pessoas Idosas. A palavra de ordem é “uma sociedade para todas as idades”, e não só para as crianças ou para os jovens ou para os idosos. Já que, pela primeira vez na história, será possível a criança abraçar seus pais, seus avós, seus bisavós e seus trisavôs ou o ancião abraçar seus filhos, seus netos, seus bisnetos e seus trinetos.

Editora Ultimato

Edição 259

Julho-Agosto 1999

Texto retirado do original – Ano Internacional do Idoso — Uma sociedade para todas as idades