Budismo – Breves considerações

Budismo é uma doutrina religiosa, filosófica e espiritual e tem como preceito a reencarnação do ser humano de forma a prender-nos aos sofrimentos do mundo material.

Características

O budismo representa uma atitude perante o mundo, uma técnica de comportamento. Seus seguidores aprendem a desapegar-se de tudo o que é transitório, o que resulta numa espécie de auto suficiência espiritual.

No universo budista, o qual não possui início ou fim, o Nirvana seria o estágio ideal, mas esse não pode ser ensinado, apenas percebido.

Carma é assunto de destaque no Budismo. Segundo esta ideia, as boas e más ações (surgidas da intenção mental) trarão consequências nas próximas reencarnações, para as quais não há salvação divina.

Portanto, o Renascimento, processo em que passamos por vidas sucessivas, é justamente o ciclo que se busca romper ao ascender às moradas mais puras.

Este ciclo vicioso de sofrimento é chamado “Samsara” e é regido pelas leis do Carma.

Dessa forma, o caminho pretendido no Budismo é o “Caminho do Meio”, ou seja, a prática do não-extremismo, tanto físico quanto moral.

Buda

Buda não é para os seguidores da doutrina um ente particular, mas um título dado a um mestre budista ou a todos os que alcançaram a realização espiritual do budismo. Assim, Buda, em hindu, quer dizer “o Iluminado”.

Origem do Budismo

No ano de 563 nascia na Índia, Siddhartha Gautama. A vida de Buda pode ser resumida em nascimento, maturidade, renúncia, busca, despertar e libertação, o ensino e a morte.

Buda

Estátua de Siddhartha Gautama

De família aristocrata, culto, se viu chocado quando descobriu a realidade de seu país.

Os principais problemas eram a miséria, a fome e o flagelo dos ascetas, que se mortificavam em jejum rigoroso.

A perplexidade de Gautama diante dos males do mundo foi pouco a pouco evoluindo.

Raspou a cabeça em sinal de humildade, trocou suas suntuosas roupas pelo despretensioso traje alaranjado, e lançou-se ao mundo em busca de explicações para o enigma da vida.

Novato em questões espirituais o andarilho juntou-se aos ascetas para aprender com eles qual o meio melhor de chegar às verdades superiores.

Mas, como não aprendeu nada com o estômago vazio, perdeu a fé no sistema.

Gautama escolheu a sombra de uma sagrada figueira e passou a meditar, permanecendo assim até esclarecer todas as suas dúvidas.

Durante esse tempo, ocorreu o despertar espiritual que ele tanto procurava. Sua confusão se desfez.

Iluminado por um novo entendimento de todas as coisas da vida, rumou para a cidade de Benares, à margem do rio Ganges. Sua ideia era transmitir aos outros o que lhe acontecera.

Nos 45 anos que pregou sua doutrina, por todas as regiões da Índia, o Buda mencionou sempre as “Quatro Verdades” e as “Oito Trilhas”.

Além disso, acrescentou o resumo de todo o seu pensamento – a Regra de Ouro:

Tudo o que somos é resultado do que pensamos“.

Após sua morte, foi realizado um concílio que definiu os preceitos budistas, dos quais prevaleceu a Theravada.

Ensinamentos do Budismo

Monges Budistas

Monges Budistas

Os ensinamentos de Gautama, proferidos no parque da cidade de Benares, definiu os caminhos a seguir para chegar à sabedoria da moderação e da igualdade.

Antes de tudo, segundo ele, é reconhecer que a dor é universal e que sua causa reside no desejo de coisas que não podem satisfazer o espírito.

O sofrimento extingue-se quando o homem renuncia a esses desejos. Isso porque a raiz desses desejos se origina da ignorância sendo a sabedoria o melhor caminho para dominar a dor.

Com essas “Quatro Verdades Nobres”, o homem dispõe dos elementos básicos para enveredar pela “Senda das Oito Trilhas”.

Dele exigirão pureza de fé, de vontade, de linguagem, de ação, de vida, de aplicação, de memória e de meditação.

Da terceira e quarta trilhas os seguidores de Buda, mais tarde extraíram cinco preceitos, parecidos com os mandamentos judaico cristão, pois aconselhavam a não matar, não roubar, não cometer atos impuros e não mentir. E também não beber líquidos inebriantes.

O espírito pacifista dos budistas era “O ódio não termina com o ódio, mas com o amor“, dizia Gautama.

Escolas Budistas

Quatro são as escolas budistas mais conhecidas:

  • Nyingma
  • Kagyu
  • Sakya
  • Gelupa

Prevalece nelas o caminho da libertação pelas Três Joias:

  • O Buda como guia;
  • O Dharma como lei fundamental do universo;
  • O Sangha como a comunidade budista.

Nesta comunidade, é seguido o Theravada (mais ascético) e Mahayana (mais popular).

Ademais, seguem também as “Quatro Nobres Verdades” de Buda:

  • a vida é sofrimento (1);
  • o sofrimento é fruto do desejo (2),
  • ele acaba quando termina o desejo (3);
  • ele é alcançado quando se segue os ensinados pelo Buda (4).

A Expansão do Budismo

Durante os três séculos que se seguiram depois da morte de Gautama, o budismo propagou-se pela Índia. Ele acabou tendo mais adeptos que o próprio hinduísmo, a religião tradicional do país.

Mas, após se alastrar pela Ásia toda, desapareceu do país de origem, cedendo lugar ao hinduísmo. No decorrer da expansão, levado pela rota comercial da seda, atravessou todo o Oriente.

A doutrina original diferenciou-se, tornou-se menos rigorosa, adaptou-se às necessidades espirituais da gente simples. Essa forma de budismo denominou-se mahayana, ou “veículo maior”.

No Tibete a doutrina fundiu-se com a antiga religião bon-po, derivando-se depois para o lamaísmo.

Na Birmânia, Tailândia, Laos, Cambodja, Ceilão e Vietnã, o budismo permaneceu ortodoxo, sendo chamado hinayana, ou o veículo menor.

Gradualmente, peregrinos chineses e monges budistas hindus começaram a cruzar as montanhas, como missionários.

Neste filme, é abordado um pouco sobre o budismo na China. 

 

 

Um dos peregrinos Hsuan-Tsang, deixou a China em 629, atravessando o deserto de Gobi e chegou à Índia. Ali, durante 16 anos recolheu dados sobre o budismo e escreveu, segundo a tradição, mais de mil volumes.

Imperava na China a dinastia Tsang e milhares de pessoas se converteram ao budismo.

Entre as outras religiões, o confucionismo, o taoismo, o zoroastrismo, o budismo era a que apresentava conceitos mais profundos e com o tempo ramificou-se em muitas seitas.

Por volta do século VII, o budismo chegou à Coreia e ao Japão, que após a conversão do príncipe Shotoku Taishi, foi feito religião nacional.

No século seguinte, o budismo chegou ao Tibete, mas já bastante mudado. Foi introduzido por Padma Sambhava, monge budista hindu.

A religião oficial já estava em franca decadência. Ela se fundiu facilmente com os novos conceitos e surgiu o lamaísmo.

Esse transformou o Tibete em Estado teocrático, governado pelos Dalai e Panchen Lamas – monges lamaístas considerados reencarnação de santidades.

O budismo entrou na Europa em 1819, onde o alemão Arthur Schopenhauer desenvolveu novos conceitos, muito próximos do budismo.

Em 1875 foi fundada a Sociedade Teosófica, que encorajou as pesquisas sobre as religiões asiáticas.

O budismo se expandiu pelo mundo e existem templos budistas em diversos países da Europa, das Américas e na Austrália.

Líderes budistas levam pelo mundo seus conceitos de vida, adaptando-se em cada sociedade.

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2 respostas para Budismo – Breves considerações

  1. O que o budismo e a meditação tem a ver com o resgate dos meninos na Tailândia

    OPINIÃO

    ENTREVISTA

    Há quase 20 anos na Tailândia, Adriano Araújo acompanhou de perto o resgate dos 12 meninos tailandeses e o seu treinador nas últimas semanas. Aliás, assim como o técnico dos “Javalis Selvagens”, Adriano também trabalha com futebol entre os tailandeses e é doutorando em Estudos Religiosos, Budismo e Sudeste Asiático na Universidade Mahidol, em Bangkok.

    O sucesso do resgate comoveu o mundo e foi apontado como “milagre”, “sorte” e até como resultado da prática de meditação, conduzida pelo treinador durante os 18 dias nas profundezas do complexo de cavernas Tham Luang.

    Aproveitando o lançamento de Budismo – Uma Abordagem Cristã sobre o Pensamento Budista, um clássico entre os evangélicos europeus, e a entrevista Jesus ou Buda: que diferença faz, publicada em junho, Ultimato também conversou com Adriano Araújo sobre os últimos acontecimentos.

    Ultimato – Para o The New York Times, a “sorte” foi decisiva na operação. Nas palavras do general do Exército tailandês, Chalongchai Chaiyakham, “O elemento mais importante do resgate foi a sorte”. Para muitos mergulhadores e moradores da região, tudo foi resultado da “proteção divina”. Para o Seal tailandês Kaew – cujo nome completo não foi divulgado –, que passou a missão inteira com um amuleto de Buda: “A caverna é sagrada, ela recebeu proteção até o final.” Enfim, foi um milagre? Um milagre para os budistas e para os cristãos?

    Adriano Araújo – A “sorte”, a “proteção divina” ou o “sagrado” são perspectivas individuais e não representam o ensino budista. No ensino budista não existe Deus, a “sorte”, o “sagrado”, e nem um ser divino que possa ajudar o ser humano. Logo, a definição e compreensão de milagre na perspectiva budista e bíblica são muito diferentes. Entendemos que o milagre é uma ação divina, operada independente da capacidade, controle e ou atuação humana. No budismo não existe o conceito de milagre, mas acontecimentos podem ser compreendidos como sendo sobrenaturais ou ações predestinadas pelo karma, consequentes da vida presente e de vidas prévias.

    Desde as práticas animistas e a importação do bramanismo indiano no período da indianização do primeiro século e, consequentemente a chegada do ensino budista no terceiro século, o budismo tailandês é tradicionalmente sincrético e modernamente híbrido. Isso promove a necessidade de respeitar e seguir várias formas religiosas, contudo a compreensão é de que tudo é budista. O budista tailandês coleciona amuletos, reverencia imagens de seres animados e inanimados, constrói templos para proteger relíquias sagradas e tem um extremo respeito pelo líder religioso.

    Apesar de eu não achar que foi um milagre – e sim misericórdia e graça de Deus –, muitos cristãos podem sim interpretar o resgate dos 12 garotos e do assistente técnico como um milagre de Deus. Contudo, para o budista foi apenas como os jornais tailandeses comentam: “algo inacreditável” .

    O fato de o treinador, Ekapol Chantawong, ser ex-monge budista e ter ensinado técnicas de meditação para ajudar no controle da situação correram o mundo. Como você acompanhou e enxerga essa informação?

    Adriano Araújo – Buda foi um monge e praticou a meditação (samadhi) indiana da sua época. “Concentração da mente” seria um termo mais apropriado. Assim, pela tradição budista todos os homens devem participar das cerimônias budistas e se tornar um noviço durante pelo menos um período da sua vida: nos primeiros meses de idade, na adolescência, quando algum membro da família morre etc. Durante esse período – que pode variar de alguns dias a vários anos – o noviço adquire muitos méritos para si mesmo e para as pessoas mais próximas, principalmente para a sua mãe – que, segundo algumas interpretações da Tripitaka (Escrituras budista), na próxima vida, com méritos suficientes, pode reencarnar como homem e assim iniciar o processo rumo à iluminação budista (inexistência).

    ” No budismo não existe o conceito de milagre. O budista tailandês coleciona amuletos e reverencia imagens de seres animados, inanimados e constrói templos para proteger relíquias sagradas ”

    Estatísticas contabilizam mais de 43 mil templos budistas na Tailândia. Antigamente os templos eram responsáveis pelo ensino acadêmico e religioso. Depois da reforma budista, houve algumas mudanças e a separação entre o ensino acadêmico e religioso. Muitos templos budistas têm fundações como, por exemplo, orfanatos, abrigo para animais abandonados e cuidado florestal. Por ser órfão, o auxiliar técnico Ek morou num templo desde os 8 anos de idade. Um noviço deve aprender todos os aspectos do budismo, e aqueles que desejam entrar para a vida monástica só podem ser aceitos aos 20 anos de idade. Aprender e praticar a meditação na Tailândia é algo completamente normal para qualquer criança, adolescente e muito mais para um noviço budista.

    O budismo e a prática da meditação budista tem atraído muitos brasileiros. Aliás, muitos espaços no Brasil como hospitais, escolas e empresas têm adotado a meditação como uma resposta para diferentes desafios da vida diária. A meditação é, de fato, uma prática comum na vida diária do tailandês?

    Adriano Araújo – O tailandês tradicional pratica a meditação com frequência. Mesmo não sendo a meditação ensinada por Buda com os 40 níveis ou estados de concentração, o tailandês tenta de alguma forma meditar para acalmar a mente. Todas as casas têm um cômodo separado para guardar as relíquias budistas e objetos sagrados, onde o tailandês tradicional pratica a sua meditação. Na pré-escola, antes dos treinos de futebol, antes de dormir, dentro do carro e, por que não dentro da caverna? Qualquer momento em que seja preciso tranquilidade, renovar a mente, fazer com que o que aflige desapareça da mente, pode ser uma oportunidade para sentar e se concentrar.

    Segundo o ensino budista, a meditação tem como objetivo dizer à consciência que ela não precisa estar nervosa, sentir dor e pode deixar a tristeza para trás, que você mesmo pode acalmá-la e que apesar dos problemas, você pode viver sem se preocupar. Na Tailândia, várias pessoas aparentam-se calmas, não gritam, não choram, não reclamam e raramente discutem sobre uma opinião. Dificilmente se ouve a buzina de alguém estressado no trânsito e as pessoas têm uma expressão de serenidade no rosto. É por isso que uma das expressões mais ouvidas na Tailândia é may pen rai (“não se preocupe; não tem problema; deixa isso pra lá”).

    Mas, para quem mora nesse país e conhece as expressões do tailandês, sabe que para cada sorriso sereno há uma preocupação, um medo e uma dor na alma. Apesar de ser atraente, a meditação é também um grande manipulador da mente. Prefiro acreditar no que meus amigos monges acadêmicos budistas comentam por experiência pessoal, de que a meditação e prática budista “deve aniquilar o ser”, e não gerar vida para a pessoa, pois a vida e o ser trazem os problemas. A meditação deve levar o praticante a acreditar que o problema já foi superado mesmo sem uma vitória, e é contraria à projeção da vida. Essa prática budista é o oposto do que Jesus ensinou sobre a vida verdadeira.

    O adolescente Adul Samon, de 14 anos, virou símbolo do grupo. Apátrida, nascido em Mianmar e educado por professores cristãos na Tailândia, segundo a Folha de S. Paulo, ele foi o único capaz de se comunicar (em inglês) com os mergulhadores britânicos. O que isso representa para os cristãos na Tailândia?

    Adriano Araújo – Sim, ele é o único que conseguiu se comunicar em inglês, mas isso não tem feito dele o símbolo do grupo ou o mais especial dentre todos. Para os cristãos tailandeses, Adul é uma criança normal das tribos do Norte e que gosta de jogar de futebol. Seus pais são membros de uma igreja cristã, e o garoto é privilegiado por receber assistência financeira do Programa Cristão da Compassion. Ele deve ter tido professores cristãos, mas por viver dentro de uma sociedade budista, a grande maioria dos seus professores são budistas.

    Durante aqueles 17 dias de procura e resgate, seus pais receberam apoio da comunidade cristã. Alguns irmãos das igrejas do Norte se juntaram para orar e fazer culto a Deus na região da caverna. Soubemos que muitos cristãos ao redor do mundo ficaram tocados com esse acontecimento e oraram a Deus por resgate. Do mesmo modo ouvimos que muitas pessoas de outras religiões, e segundo as suas crenças, o fizeram.

    Nós, cristãos, entendemos e agradecemos a Deus por providenciar pessoas de diferentes nacionalidades e com alta capacidade técnica para resgatar com vida o Adul e todos os outros garotos. Deus teve misericórdia dele, bem como dos outros doze integrantes, e na sua graça respondeu as orações do seu povo.

    Contudo, ainda existem milhares de pessoas em situação semelhante a que Adul e os outros integrantes da equipe de futebol vivem: carentes, sem identidade ou nacionalidade, e sem Jesus. Essas pessoas não ficaram presas na caverna, mas também precisam de orações. Será que os cristãos ao redor do mundo continuarão orando por essas pessoas das quais a mídia nunca irá dar destaque aqui na Tailândia?

    O que aconteceu na Tailândia nas últimas semanas tem provocado uma série de reações. Fala-se em um museu sobre resgate, na produção de um filme ou série para TV, além da busca por informações sobre o budismo e a cultura tailandesa, entre outras coisas. O que os cristãos da Tailândia e de outras partes do mundo podem aprender com esses acontecimentos?

    Adriano Araújo – Certamente muitas coisas acontecerão depois desse evento. Muitas pessoas aproveitarão disso para fazer palanque politico, religioso e para entretenimento. “Foi um monge budista que apareceu no local e a chuva parou”; já é mais um filme que está sendo escrito; mais um altar sagrado será levantado para a comercialização religiosa; um clube famoso quer receber os jovens atletas; muitas câmeras e entrevistas agendadas; uma universidade deu bolsas de estudo ate o nível de doutorado para os garotos. Pena que eles não melhoraram a tempo de ver o último jogo da Copa da Rússia.

    Os cristãos da Tailândia podem refletir sobre a unidade do corpo de Cristo, sabendo que muitas pessoas ao redor do mundo, mesmo que apenas por um tempo, se uniram para orar pela igreja tailandesa e para que os budistas tenham a oportunidade de compreender as Boas novas. É muito difícil para um cristão, convertido do budismo, compreender, crescer e manter-se fiel a Jesus na Tailândia, pois existe pressão cultural, social, religiosa e política. Assim como foi após o Tsunami, muitas pessoas ao redor do mundo se unirão para orar pela Tailândia.

    Para quem mora nesse país e conhece as expressões do tailandês, sabe que para cada sorriso sereno há uma preocupação, um medo e uma dor na alma. A meditação e prática budista “deve aniquilar o ser”, e não gerar vida para a pessoa, pois a vida e o ser trazem os problemas…

    ” Ainda que a Tailândia seja um dos únicos países do Sudeste Asiático com liberdade religiosa, o país continua sendo um grande desafio para o serviço missionário como a nação mais budista do mundo ”

    Há muitas pessoas e organizações interessadas em ajudar a Tailândia: a ONU, a UNICEF, a FIFA, varias nações, artistas e empresas estão por aqui cooperando entre as tribos, refugiados, carentes, elefantes, limpando as praias, mas poucos querem morar e permanecer na Tailândia para explicar sobre as Boas novas. São muitas as limitações e desafios da língua e da cultura. A igreja tailandesa precisa de ajuda para falar e viver Jesus entre os budistas. O povo budista precisa de paz e só Jesus pode lhe dar isso.

    Somos uma igreja de 360 mil cristãos num país de 66 milhões de habitantes. 60% de todos os cristãos estão no norte do país. A Tailândia é um país multicultural, com muitas atrações turísticas: templos budistas redondos em praias, prostituição e prazeres. Há grande necessidade de pessoas para ajudar, a partir da igreja tailandesa, a iniciar novas igrejas em várias outras regiões. A partir deste episódio com os garotos tailandeses e seu técnico, as pessoas ao redor do mundo podem aprender sobre como orar pela Tailândia e responder às suas necessidades espirituais.

    Acompanhando de longe, é possível enxergar pessoas, grupos e organizações diferentes de mãos dadas, em cooperação, colocando barreiras linguísticas e culturais de lado. É algo comum por estas bandas? Em sua opinião, a igreja brasileira, os evangélicos no Brasil, em situação semelhante, agiriam do mesmo modo?

    Adriano Araújo – Não dá para generalizar, mas muitas pessoas estão acostumadas a se ajudarem na Tailândia. Não há muita dependência de que o Governo irá resolver esse ou aquele problema, então todos precisam cooperar. É um que traz a agua, outro que providencia o peixe para o almoço, outro que passa a noite cuidando da bomba de água, enquanto outros entram numa caverna escura.

    Durante períodos de crises todos “arregaçam as mangas” e voluntariamente se unem para ajudar. Há aqueles que cooperam por interesse, mas a maioria o faz não para promover o seu partido ou a sua religião. Na Tailândia todos se consideram parte de uma grande família. Chamamos uns aos outros de irmão, tio, tia, vovó, e o rei é respeitado como o pai que cuida e serve a nação. O cristão precisa aprender a ser mais do que simplesmente bom, ele precisa amar, porque todas as pessoas fazem o bem comum. O budista é ensinado a não praticar o mal, seja esperando um cachorro sair do meio de uma autoestrada, ou expulsando uma cobra venenosa que apareceu no terreno de uma casa. Quanto mais então não deveria ser feito para salvar treze pessoas presas numa caverna! Por isso, soldados, engenheiros e médicos de todas as partes da Tailândia, o rei, os monges budistas, e a igreja cristã (mesmo sendo uma minoria) voluntariamente se uniram para ajudar nessa operação.

    As barreiras linguísticas e culturais são muito simples, e eu prefiro achar que o povo brasileiro as superaria. Ou será que haveria problema em aceitar a ajuda de um americano, um inglês, um argentino, ou um médico haitiano? Eu prefiro não acreditar que a igreja brasileira ficaria inerte diante de uma situação semelhante, ou ficaria? Será que para ajudar num caso semelhante alguma denominação se uniria com outras denominações sem o interesse de promover seu próprio grupo? Um evangélico daria as mãos para um católico, um secular, um membro de um seita ou um espírita?

    Tenho a impressão de que a igreja brasileira tem uma expectativa de que o governo deve resolver alguns dos problemas. Se o Brasil é de Jesus – como sempre ouço alguns lideres evangélicos proclamarem – por que os filhos de Jesus não agem como irmãos unidos e servindo em amor? Enquanto o budista tailandês coopera com a expectativa de que em algum momento, se necessitado, ele também receberá ajuda (o budismo ensina que “praticar o bem, atrai o bem para si mesmo”), acredito que os evangélicos no Brasil não teriam uma postura de ajudar olhando para o que poderiam receber de Deus, mas ajudariam, sim, com a graça de Deus.

    Muitos se mobilizaram para o resgate dos meninos – em termos práticos e também a partir da sua fé. A partir desse esforço conjunto, é possível perceber alguma oportunidade ou pontes para a comunicação do Evangelho daqui para frente?

    Adriano Araújo – Ainda é muito precoce ter esse tipo expectativa. Para dificultar o desafio da comunicação do Evangelho na Tailândia, o budismo, como um dos pilares da nação, passa por um momento de modernização. Nos últimos 30 anos, como resposta ao budismo tradicional e institucional, surgiram vários movimentos budistas. Assim, vários acadêmicos e monges sugerem a necessidade de uma reforma budista. Outros preferem que a reforma seja religiosa, dentro de todas as religiões presentes na Tailândia.

    Ainda que a Tailândia seja um dos únicos países do Sudeste Asiático com liberdade religiosa, o país continua sendo um grande desafio para o serviço missionário como a nação mais budista do mundo (93% da população). A história mostra que o budismo levou mais de doze séculos para se estabelecer na Tailândia. Passados 150 anos desde a chegada dos primeiros missionários protestantes, somos apenas 0,6% da nação – sendo que a igreja dobrou numericamente nos últimos quarenta anos. Mas as estatísticas apenas mostram a quantidade e não revelam a qualidade nem a influência que a igreja exerce na sociedade.

    A igreja tailandesa é formada por muitas pessoas da primeira geração de cristãos e, mesmo sendo numericamente pequena, está ganhando espaço e sendo mais ouvida. Sem dúvida, pontes para a comunicação das Boas novas entre os budistas surgem nos períodos de crise, nos quais os cristãos conseguem demonstrar amor através da assistência. As pessoas ficam abertas para receber oração e ajuda da igreja. Daí nasce um relacionamento entre o budista necessitado e o cristão. Consequentemente, a exposição ao cristianismo faz com que o budista se interesse pelo Deus dos cristãos. Algumas pesquisas mostram que um tailandês budista consegue compreender a fé cristã e está pronto para responder se quer ou não seguir a Jesus, depois de uma caminhada de sete anos de exposição ao cristianismo. O resgate dos meninos será mais um assunto, em que os cristãos terão a oportunidade de afirmar o cuidado de Deus e explicar, segundo a perspectiva cristã, como Deus teve misericórdia do Adul e dos outros doze.

    As reações do povo tailandês ao resgate dos meninos mostram a fé e a religiosidade daquele povo. Como os cristãos devem reagir à cosmovisão dos tailandeses?

    Adriano Araújo – Os cristãos devem reagir com muito respeito e admiração. Devem aprender a amar e servir ainda mais o povo budista. Devem também ter uma atitude positiva com os budistas, nunca reagindo negativamente às suas práticas religiosas, mesmo que elas sejam totalmente contrárias ao ensino bíblico. Os budistas imaginam que há diferenças entre as religiões, mas a grande maioria deles nunca teve contato com um seguidor de Jesus. Além disso, os budistas não querem trair a sua nação e os seus antepassados. Eles entendem que nasceram budistas, assim o seu karma é ser budista e, por isso, eles devem continuar sendo budistas até a morte. O budismo ensina que o seguidor do ensino budista não deve discutir sobre o que outra pessoa crê ou provar quem tem a verdade, mas dar liberdade para as pessoas praticarem tudo o que possa ajudar na sua caminhada de fé. O budista não está interessado em saber o ensino de Jesus, mas dentro de uma amizade de amor com um cristão, ele naturalmente vê as Boas novas.

    O cristão precisa conhecer o budista melhor, não para discutir sobre os ensinamentos de Buda. Este, que por sinal viveu no mesmo tempo em que Daniel estava na Babilônia, não tinha o desejo de ser um líder religioso. Ele só queria vencer o sofrimento da alma. Quando ele chegou ao mais alto grau de conhecimento, segundo as suas descobertas, disse que as pessoas não deveriam olhar para ele como um guia, mas que cada um deveria ter a sua própria jornada em busca da aniquilação do ser assim como ele conseguiu. A caminhada do budista tailandês é solitária, portanto ele precisa de amigos e de amor.

    Em todo o mundo – e também aqui na Editora Ultimato – os cristãos se reuniram para orar pela intervenção de Deus e o sucesso da operação. Agora é hora de celebrar a Graça de Deus. Em que a gratidão da maioria budista da Tailândia se difere da gratidão cristã?

    Adriano Araújo – O conceito de graça não existe no ensino budista, por isso não tem como celebrar exatamente isto. Existe, sim, um sentimento de alegria e bem-estar, entendendo que o que aconteceu faz parte do karma de cada individuo. Contudo, o tailandês expressa a sua gratidão em forma de pagamento, e isso pode ser feito de diferentes maneiras. A extensão da retribuição deve ser de acordo com o tamanho da ajuda: tudo o que se recebe deve ser pago, e o que se paga será recebido em algum momento na vida – e se caso isso não acontecer é porque estava destinado pelo karma.

    Esse pagamento de gratidão pode se dar: visitando lugares sagrados, fazendo oferendas, dando alimento aos monges, soltando peixes no rio, plantando árvores no parque ou, como os pais das crianças e o auxiliar técnico Ek decidiram fazer, tornando-se monges noviços, praticando a meditação por um período de dez dias num templo budista no norte da Tailândia. Essa prática será uma expressão de gratidão pelo mergulhador que faleceu e pela ajuda dos espíritos da caverna que protegeram suas vidas e guiaram pessoas para resgatá-los. E nós, cristãos, devemos celebrar com a perspectiva cristã de que Deus cuidou de todos eles e ouviu as preces de todo o povo que se juntou em oração. Louvado seja Deus em terras brasileiras e no mundo budista do Reino da Tailândia!

    • Adriano Araujo é brasileiro, casado com Fabiana e tem dois filhos (Davi e Lucas). É doutorando em Estudos Religiosos, Budismo e Sudeste Asiático na Universidade Mahidol, em Bangkok. Adriano e Fabiana são missionários da SEPAL (Servindo aos Pastores e Líderes) e OMF (Overseas Missionary Fellowship) no Reino da Tailandia desde 2001 em vários ministérios (plantação de igrejas, discipulado, mentoria de missionários/obreiro e seminaristas tailandeses e com ministério de futebol. Atualmente lideram uma equipe missionaria multicultural iniciando uma igreja na Província de Samut Prakan.

    http://www.ultimato.com.br/conteudo/o-que-o-budismo-e-a-meditacao-tem-a-ver-com-o-resgate-dos-meninos-na-tailandia?

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  2. Jesus ou Buda: que diferença faz?

    ENTREVISTA | Ziel Machado e Mila Gomides

    “A dor é inevitável, o sofrimento é opcional”. Frases motivacionais e bonitas como essa são compartilhadas diariamente nas redes sociais. A maioria, provavelmente, não sabe que se trata de uma frase budista. Isso mostra um pouco como ensinamentos e pensamentos do Budismo estão diluídos em nossa cultura e sociedade.

    A religião baseada nos ensinamentos de Siddharta Gautama (600 a.C.), reúne aproximadamente 376 milhões de adeptos em todo o mundo – no Brasil são quase 250 mil adeptos. Assim como nem sempre é possível perceber a influência budista em frases bonitas, talvez, nem todo mundo distingue com facilidade as semelhanças e diferenças entre Buda e Jesus, entre Budismo e Cristianismo. Para esclarecer dúvidas e curiosidades sobre o assunto, o Portal Ultimato conversou com o teólogo Ziel Machado, diretor do Seminário Servos de Cristo, e com Mila Gomides, missionária com experiência entre budistas.

    Portal Ultimato – Para o conhecido teólogo e escritor Frei Betto, Buda e Jesus têm muito em comum. Para ele, “Os dois não fundaram religiões; propuseram uma via espiritual centrada no amor, na compaixão e na justiça, capaz de nos conduzir ao que todo ser humano mais almeja: a felicidade”. Se é assim, que diferença a fé cristã pode fazer para o budista?

    Ziel Machado – A singularidade de Jesus, o Cristo. Ele não veio iluminar o ser humano, Ele é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Nosso problema não é um apagão existencial, nosso problema é o nosso pecado, aquele que Cristo tomou para si, para nos assegurar a plena vida.

    Mila Gomides – Há um ditado budista tailandês que diz: “o perigo surge daquilo que amamos”. Eu discordo do Frei Betto. Quanto mais estudo a vida de Jesus e de Buda, mais vejo que as diferenças entre os dois são maiores do que imaginamos no ocidente. E o livro Budismo, escrito pelo antropólogo David Burnett, nos ajuda a entender isso.
    Ao usar a história e os textos da tradição budista clássica como base, entendo que não existem referências que embasam que Buda Sakayumi pregou o amor ou compaixão durante sua vida. Naquela época, o foco era outro. A mensagem dele estava mais centrada na eliminação do sofrimento (dukkha), e um dos seus ensinos era que as paixões do mundo e o amor levavam ao apego e por consequência ao sofrimento. As práticas espirituais na primeira comunidade monástica eram muito individualizadas e individualistas, incluíam o abandono familiar, das relações de amor e não havia um exercício tão forte da compaixão. Totalmente diferente da vida e ensinamentos de Cristo e seus primeiros discípulos, cuja centralidade do ministério estava no amor e na compaixão.

    Budismo

    Séculos após a morte de Buda, o budismo desenvolveu mais este pensamento e criou novas tradições, com a Mahayana e Tibetana, incluindo pensamentos sobre a compaixão e amor, apresentando uma releitura à vida de Buda e outros budas, amorosos e compassivos. Mas isso somente aconteceu quando o budismo começou a chegar a novos lugares, como a China, e a ter contato com outras religiões, como o cristianismo que pregava o amor e compaixão por meio dos missionários nestorianos, e o confucionismo que ensinava o valor da família. Neste momento, o budismo começou a incluir esses valores em sua mensagem, mas ainda sim bem diferentes dos ensinados por Cristo.
    E num capítulo mais recente da história, o budismo chega ao ocidente e encontra uma busca grande pelo amor, compaixão, justiça e felicidade. Mas uma vez, ele precisa se reinventar, assimilar conceitos fora de sua base original, para permanecer e a responder por esses anseios humanos.

    Sobre a justiça, a compreensão é oposta. A crença budista no carma os fazem entender justiça de forma muito diferente dos ensinos cristãos com base na queda e graça.
    Recentemente li que monges japoneses altamente estudados, ao refletir as raízes históricas de sua fé, reconheceram que suas escolas maiores (Shinram, Zen, Nichiren) já estavam muito afastados dos ensinamentos originais do Buda Sakayumi, e mais baseados em construtos humanistas e dando respostas mais humanistas também sobre a felicidade, amor, compaixão. E pode ser aí que teólogos liberais começam a crer que há uma semelhança com os ensinos numa perspectiva liberal sobre Cristo.

    Buda não conhecia o amor, nos primórdios do budismo. Mas Deus é amor. Jesus é amor. Amamos porque somos amados pelo próprio Amor e compaixão. Essa é uma grande diferença que a fé cristã pode fazer para o budista. E onde não há amor, há medo. E na Ásia, o que os budistas mais têm é medo. Medo dos espíritos, medo da morte, medo das consequências dos carmas negativos. E a diferença que Cristo pode fazer em suas vidas é libertá-los de todo o medo, dando uma vida plena nEle e confiantes no seu amor e proteção.

    A meditação é uma técnica bastante associada ao budismo, a ponto de afastar alguns grupos de cristãos das disciplinas e exercícios espirituais. Como lidar com essa questão na igreja?

    Ziel Machado – A meditação não é particularidade do Budismo. Na prática cristã, a meditação não tem por objetivo esvaziar a mente ou nos unir com o Cosmo. A meditação cristã tem por objetivo ouvir, de forma atenta, a voz do Deus Trino, por meio de Sua Palavra.

    Mila Gomides – Vejo esta busca crescente pela meditação budista como sinalizador de que muitas pessoas no contexto de secularização não se satisfazem nas coisas materiais e nem na correria do dia a dia. Eles buscam espiritualidade, uma experiência transcendental. Mas com quem? Pois no budismo não há crença em Deus, logo, os cristãos que se afastam da igreja na busca por meditação budista, acabam recebendo uma espiritualidade distorcida da que a Bíblia nos ensina. Por outro lado, igrejas que entraram no ritmo frenético proposto pelo securalismo também oferecem uma espiritualidade distorcida. Vou explicar melhor.

    Creio que a igreja precisa retomar a prática da meditação, mas entender as suas diferenças com a do budismo. No livro de Salmos, o escritor continuamente afirma que meditará, mas, em todos os casos, a meditação está no caráter e na atividade de Deus: “Meditamos em teu amor leal” (Sl 48.9); “[…] então meditarei nas tuas maravilhas” (Sl 119.27). Escritores cristãos ao longo dos séculos falaram de uma maneira de ouvir a voz de Deus, de se comunicar com o Criador dos céus e da terra.

    David Burnet nos ensina, contudo, que uma diferença fundamental entre meditação budista e meditação cristã é que a tradição budista aspira desapego do mundo de experiências, enquanto a tradição cristã procura apego a Deus. No budismo, em geral, busca-se o vazio, no cristianismo, busca-se o encher-se de Deus.

    Uma característica central da meditação cristã é que a Bíblia é considerada a revelação especial de Deus que criou todas as coisas. Richard Foster sugeriu vários métodos a serem usados na meditação cristã, mas enfatiza a importância da Bíblia. Não é fazer exegese, é internalizar e personalizar as passagens bíblicas. Já as técnicas budistas mais elevadas, levarão os praticantes a estados de transe. No cristianismo, não é preciso de transe nem guias espirituais para conseguirmos estar em plena consciência e comunicação com Deus, pois o próprio vem ao nosso encontro e fala conosco no estado natural.
    E, por fim, a meditação no budismo faz parte das disciplinas espirituais do dharma, ou melhor, o caminho da “salvação” para eles. Ou seja, é preciso também meditar para chegar ao nirvana. No cristianismo, não meditamos para sermos salvos. Meditamos na grande expectativa nos encher da Palavra e presença transformadora nosso salvador.

    Em meio às muitas frases de efeito, discursos de autoajuda e manifestações de religiosidade que enchem a mídia e as redes sociais, como fazer diferença entre o pensamento budista e as verdades bíblicas?

    Ziel Machado – O critério será sempre a Palavra de Deus, ela será a base para discernir cada ensino, seja um ensino feito por um cristão ou por um budista. A pergunta será sempre: “está afirmação está em concordância com o ensino bíblico?” Independente de quem ensina, a questão é saber se o mesmo tem o apoio das Escrituras.

    Mila Gomides – A diferença básica é a fonte da transformação do homem e da criação. As técnicas de autoconhecimento, meditação, mindfulness têm por base que o homem por si pode obter a transformação que precisa. Não há crença em Deus, nem na necessidade de um salvador.
    As verdades bíblicas nos ensinam o contrário. O homem por si, por mais bem intencionado, não é capaz de se transformar, nem de se salvar. Lembro aqui de 1 João capítulo 4, que por várias vezes apresenta Jesus como o nosso único aperfeiçoador. Ele é o nosso salvador e nos coloca direto na história da redenção, onde estão seremos transformados.

    É verdade que os budistas não entendem Jo 3.16 (o versículo mais traduzido da Bíblia)?

    Ziel Machado – Nunca ouvi nada a respeito disso, portanto não posso responder.

    Mila Gomides – Sim, é verdade. Mas para budistas no contexto asiático. Em grande maioria, entenderão o versículo como más novas ao invés de boas novas, pois a interpretação que sua cosmovisão dará, é que o caminho apresentado nas palavras de João sobre o Evangelho são contrários aos ensinamentos de Buda.

    Para os cristãos, não existe outro caminho espiritual válido a não ser por Jesus. E para os budistas, qual é a sua visão acerca de outras expressões de fé?

    Ziel Machado – Se por outro caminho espiritual estamos nos referindo a caminho para salvação, fora de Jesus Cristo, não há outro, segundo as Escrituras. Não sei se salvação é uma questão para os budistas.

    Mila Gomides – Percebo que há uma visão no ocidente que o budismo é somente uma filosofia tolerante a outras expressões de fé e que não se declara como única verdade ou caminho espiritual. Existem vários capítulos no livro “Budismo” que explicam como tem sido o contato deles com outras religiões.

    Em suma, Buda Sakyamuni não se manifestou contrário à algumas expressões de religião populares na sua época, como a crença nos espíritos, contudo, apregoou para que os seus ensinos no dharma não fossem mudados. É interessante que segundo a tradição budista, ele chegou a pregar o dharma para vinte mil deuses, incluindo os grandes deuses hindus brama e indra. Para ele, o dharma é o único caminho e um ensinamento mais elevado às outras expressões de fé. Ele, inclusive chegou a comissionar seus discípulos para a pregarem por todo o mundo.

    Na caminhada, contudo, o budismo assimilou expressões de fé locais na China, Japão, Tibet e outros países, para conseguir permanecer lá, mas eram expressões populares como o shintoísmo ou xamanismo e não religiões como cristianismo ou islamismo. Na Tailândia, vários monges ensinam para a população que o cristianismo é inferior ao budismo.

    Em 2004, aconteceu um congresso mundial de líderes budistas para a fortalecerem a propagação do budismo no mundo e diminuírem a influência das grandes religiões em países tradicionalmente budistas. E isso já está em prática. Existe grande dificuldade de muitos missionários cristãos obterem vistos religiosos em países budistas, e não se compara a ampla facilidade dos monges budistas obterem vistos religiosos no ocidente.
    Vale lembrar que também existem disputas internas entre eles, como por exemplo a do Dalai Lama e da Nova Tradição Kadampa (NTK).

    Existe alguma prática do budismo que seja possível conciliar com o cristianismo?

    Ziel Machado – O cuidado com o próximo e com a criação, embora baseado em justificativas distintas.

    Mila Gomides – Sim! Precisamos reconhecer isso também. A sila, por exemplo, é a conduta ética e moral, que ensina o abster-se de matar, de roubar, de mentir. Lembra muito os 10 mandamentos, sem o primeiro sobre o amor à Deus.

    Quando morei em alguns países budistas, percebi que os índices de assassinato ou roubos eram bem menores do que no Brasil tão cristão. Fui muito desafiada!

    http://www.ultimato.com.br/conteudo/jesus-ou-buda-que-diferenca-faz?

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