Carrie Lam admitiu que o trabalho do governo na proposta foi um ‘total fracasso’
A chefe-executiva de Hong Kong, Carrie Lam, disse nesta segunda-feira (8, terça-feira pelo horário local) que o polêmico projeto de lei de extradição está “morto”, admitindo que o trabalho do governo na condução da proposta foi um “fracasso total”.
A proposta permitiria a extradição de suspeitos para serem julgados por tribunais na China continental — cujas cortes, controladas pelo Partido Comunista, são considerados menos justas.
Em entrevista coletiva, a líder do governo disse que está com o “coração partido” e que assume total responsabilidade pela crise política que atingiu o território semiautônomo.
Lam, porém, negou-se a anunciar a retirada do texto. “Em certa medida, se retirasse hoje, poderia voltar no Conselho Legislativo em três meses. Se querem escutar algo muito determinante e decisivo, ‘o projeto de lei está morto’ é uma declaração bastante determinante.”
Em meados de junho, Lam havia reagido aos protestos que acontecem há semanas em Hong Kong suspendendo o projeto. Na noite de segunda, disse que “ainda havia dúvidas sobre a sinceridade do governo ou se o governo reiniciaria o processo no conselho legislativo”. “Então, reitero aqui, não existe tal plano, o projeto está morto.”
Estudantes universitários que lideram os protestos não ficaram satisfeitos com os comentários de Lam, dizendo que não aceitarão nada além da total retirada do projeto.
“O que queremos é a completa retirada do projeto. Ela está fazendo um jogo de palavras”, disse Chan Wai Lam William, representante da União de Estudantes da Universidade Chinesa de Hong Kong.
Hong Kong, ex-colônia britânica, retornou ao domínio chinês em 1997 e desde então é governado sob a fórmula “um país, dois sistemas”, que permite que o território goze de liberdades que não existem na China continental, incluindo um sistema judiciário independente.
Milhões de pessoas, temendo o fim dessas liberdades, têm ocupado as ruas do centro financeiro asiático para se mobilizar contra o projeto. Foram os protestos mais violentos em décadas, com a polícia disparando balas de borracha e gás lacrimogêneo para dispersar as multidões.
Mesmo após o texto ter sido retirado da pauta, o movimento cresceu para reivindicar reformas democráticas e para pedir que a degradação das liberdades no território semiautônomo seja contida.
Em 1º de julho, dia do aniversário de 22 anos da devolução do território para a China, o Parlamento de Hong Kong foi invadido por manifestantes com o rosto coberto, jovens em sua maioria.
Eles exibiram uma faixa da época colonial britânica, rasgaram fotos de líderes de Hong Kong e saquearam o prédio, deixando pichações em suas paredes. Foram expulsos pela polícia.
Em junho, ao sinalizar o possível fim da proposta de lei de extradição, Lam disse também que não renunciará ao cargo e que ainda tem trabalhos importantes a fazer nos três anos que lhe restam no governo.
No domingo (7), manifestações foram realizadas perto de uma estação de onde partem os trens de alta velocidade para a China continental,com o objetivo de manter a pressão contra o governo local e ter a atenção de turistas chineses.
“Queremos mostrar aos turistas, incluindo os turistas do continente chinês, o que acontece em Hong Kong. Esperamos que possam levar este conceito para a China”, afirmou Eddison Ng, 18.
Em Pequim, informações enfrentam a “grande muralha informática”. No país, as manifestações de Hong Kong são apresentadas como violentas e orquestradas do exterior para desestabilizar a China, e não como um movimento popular em massa contra a influência crescente do governo chinês no território.
Esta foi a maior crise enfrentada pelo regime chinês em relação à ex-colônia britânica desde o retorno para seus domínios.
Na semana passada, o chefe da diplomacia britânica, Jeremy Hunt, ameaçou a China com “graves consequências” caso não respeite o acordo firmado em 1984 que garante liberdades na região.
“Hong Kong faz parte da China, e temos que aceitar. Mas as liberdades em Hong Kong estão registradas em uma declaração comum”, disse. “Esperamos que um acordo juridicamente obrigatório seja respeitado e, se não for o caso, haverá graves consequências.”
A China respondeu de forma dura e convocou seu embaixador em Londres. “Ele (Hunt) parece estar fantasiando com a glória esmaecida do colonialismo britânico”, criticou o porta-voz do ministério chinês das Relações Exteriores, Geng Shuang, antes de acrescentar que o “Reino Unido não tem mais a mínima soberania” sobre Hong Kong.
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