Grande bênção da longevidade produtiva

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Samuel Rodrigues de Souza, gerontólogo, pastor dos Idosos da Igreja Batista em Água Santa – RJ

       O sistema atual sacrifica os idosos, que pagam determinado piso e a cada ano vão vendo seus préstimos diminuídos. Um leitor da seção de cartas do Jornal “O Globo”, José Carlos Moreira, testemunha ter contribuído quase toda a sua carreira sobre 20 salários–mínimos e hoje ganha o equivalente a seis mínimos. Afirma gastar uma fortuna com remédios, pois trabalhava com engenharia química, área insalubre.

       Estas realidades obrigam a população idosa a buscar novos proventos, que ajudem, complementando seu sustento.

       Pode-se destacar a existência em pessoas idosas de uma forte vinculação entre “sentido da vida” e o trabalho profissional. Mesmo com a mulher já disputando o mercado de trabalho com o homem, esta cultura de trabalho funciona mais para os homens, pois a definição feminina não passa exclusivamente pelo trabalho remunerado e inclui outros elementos como o trabalho caseiro e as relações familiares.

       Pesquisas com trabalhadores mais velhos (Jacques, 1993; Doll, 2002) demonstraram que, para a grande maioria dos homens, o trabalho assume um valor de tal tamanho que eles quase não conseguem enxergar a sua vida sem alguma forma de trabalho.

       Segundo o doutor Johannes Doll, “É preciso providenciar para os homens idosos, uma educação permanente, que vise abrir os horizontes além do mundo do trabalho durante a vida inteira e formas de ajuda no processo de ressignificar as suas vidas na velhice”.

       Os idosos do Brasil prosseguem trabalhando mesmo após a aposentadoria? Sim, a cada idoso é conveniente oferecer uma nova responsabilidade, mas, nesse ponto da vida sem preocupação excessiva para a saúde, quer dizer, sem trabalho estressante, podendo continuar em uma especialidade já conhecida, por exemplo, em um trabalho em escritório, etc., ou se aplica em outra atividade, o que renovará o desejo e a paixão.

       Devido o aumento da proporção de idosos na população brasileira, está aumentando a participação deles na força de trabalho. A mão de obra idosa deve ser valorizada, pois possui o mais belo diploma, o da experiência da vida.

       O grupo de idosos pressionará o mercado de trabalho, com um incremento da ordem de aproximadamente 300 mil idosos sendo somados a cada ano.

       Necessitamos ter um expressivo número de novos postos de trabalho para a camada de população idosa, mesmo com níveis de escolaridade inferiores ao da média populacional, de qualificação muitas vezes defasada, de difícil reciclagem, mas aproveitando-se, em contrapartida, as vantagens comparativas oferecidas pela maturidade.

       À medida que as pessoas envelhecem as melhores chances de permanecer ativos pertencem aos mais bem qualificados, aos de melhor escolaridade e, sobretudo, aos que não estão envolvidos em atividades manuais.

       Pesquisadores preveem um intenso crescimento da participação de idosos na PEA (População Economicamente Ativa). Projeta-se em duas décadas que a proporção de homens idosos na PEA masculina estará perto de 10% (Quase o dobro das 5,9% atuais) e a de mulheres idosas em torno de 6% (atualmente são 3,4%).

       É bem interessante quando o idoso passa a se empenhar em algo diferente, que ainda não tenha feito, isto é, pode se debruçar em algo que seja uma novidade para si, e isso vai exigir mais dele, vindo a lhe trazer mais contribuições do que se permanecesse naquilo que sempre fez. Em qualquer idade, e, sobretudo na terceira idade, chega o tempo onde é preciso dar espaço à descoberta de livros, de ideias, de viagens, etc., alargando os horizontes.

       Navegar é preciso, já diziam os descobridores:

  • Ir à universidade pode ser um emprego. As universidades da terceira idade começaram a se desenvolver no Brasil nos anos 80, e hoje temos cerca de 200 Unatis em todo o país;
  • Cuidar de filhos próprios é considerado um trabalho tão nobre quanto cuidar dos filhos de outros. O sistema de filhos é uma obra inaugurada pelo indivíduo.

O idoso pode dizer: Ele é meu filho, portanto, tem uma obra sua. Conquistas e realizações do filho o fazem feliz. Acompanhar o filho, estimulá-lo, apoiá-lo, eis um trabalho para o qual alguns velhos necessitam despertar;

  • Tornar-se professor nas horas de folga pode criar “outro” sobrenome e enriquecer

a experiência profissional. O papel dos professores é às vezes difícil, mas sempre muito rico. É como o que um treinador em uma equipe esportiva pode fazer por seus jogadores;

  • Dedicar-se ao gerenciamento de alguma ONG ou entidades sem fins lucrativos;
  • Auxiliar parceiro (a) na estruturação de projeto alternativo.
  • Escrever artigos ou até ousar um livro para compartilhar experiências. Um dos capítulos do livro “Terceira Idade Dinâmica- Como Organizar o Grupo de Idosos”, (de nossa autoria, editado pela UFMBB), desenvolve a técnica de James Birren, pioneiro da Gerontologia, sobre como escrever um livro de memórias. Em cinco décadas estudando o desenvolvimento do adulto, diz Birren: “Descobri que escrever sobre as experiências de nossas vidas e compartilhar com outros é um dos melhores meios disponíveis para dar um novo significado a elas, compreendendo o passado mais inteiramente”;
  • Estruturar de forma mais profissional alguma atividade. O importante é que a atividade não seja mero passatempo. A atividade deve exigir algum componente de poder e desafio para tornar-se nova identidade e reduzir grau de dependência do sobrenome organizacional;
  • Fazer palestras dentro da especialidade profissional para grupos. Conservando um espírito crítico, de julgamento livre, é possível atingir cumes onde todos podem se encontrar para dividir a chama que, sobretudo, não pode se apagar.

       Conforme disse o doutor Louis Bourgeois, presidente da Associação Internacional das Universidades da Terceira Idade, “O futuro dos idosos não será jamais um caminho sem esperança, pois a velhice, na medida do possível, bem-entendido, deve recusar suas limitações e uma nova educação cria para os idosos novos papéis”.

O Jornal Batista – Órgão Oficial da Convenção Batista Brasileira. Fundado em 1901

Ano CXV Edição 18

Uma resposta para Grande bênção da longevidade produtiva

  1. Ontem, dia 02/06/2018, minha mãe completou oitenta anos de vida. Ela fez questão de comemorar o seu aniversário com todos os meus tios maternos. E isto de fato aconteceu em uma churrascaria aqui em Duque Caxias, no RJ. Fiz questão de colocar estas imagens, porque é um privilégio meu e de todos os que a conhecem participar desta comemoração. Atualmente ela trabalha em regime de meio expediente em um escritório em frente a matriz de Sto Antonio, em Duque e Caxias, no RJ.
    Louvado seja Deus pela minha mãe.

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