Os valores do mundo atual à luz do propósito de Deus

Por René Padilla

Como podemos estar no mundo, com seus valores predominantes (sexo, dinheiro e poder), sem ser do mundo?

Um problema comum no mundo religioso é a separação categórica que se faz entre a vida espiritual e a vida cultural, socioeconómico e política. Essa atitude expressa a lamentável dicotomia entre o secular e o sagrado, presente nos diversos campos da atividade humana. Um exemplo é quando mantemos a distinção clara entre “pastores” e “laicos”, sem levar em conta que tanto uns quanto outros são membros do povo (laos, em grego, do qual se deriva a palavra “laico”) de Deus. 

A vida cristã não é vivida em uma bolha que mantém os crentes separados do mundo. A vida é vivida “no mundo”, condicionada por valores socioeconômicos e políticos que permeiam a sociedade e que se refletem na maneira de pensar e no estilo de vida de seus membros. A nós que levamos a sério o compromisso com Jesus Cristo, ele propõe o desafio de “estar no mundo sem ser do mundo”. Esse foi um tema da oração sacerdotal feita aos discípulos, conforme João 17.13-16. 

Essa oração nos coloca diante de uma pergunta da qual não podemos nos esquivar: como podemos estar no mundo sem ser do mundo? Em minha opinião, a melhor resposta é a que o apóstolo Paulo oferece ao exortar os crentes em Roma: “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12.1-2).

A exortação paulina nos sugere duas perguntas relacionadas ao nosso tema. Em primeiro lugar, quais são os valores que permeiam a sociedade atual? Em segundo, qual é o propósito de Deus para a vida humana? Encorajo-me a sugerir que os valores predominantes no mundo, tanto ao longo dos séculos como hoje, resumem-se em três palavras: sexo, dinheiro e poder. Vejamos de forma breve o que essas palavras representam.

Como todos os apetites que caracterizam o ser humano, o apetite sexual é um dom de Deus, porém, para ser devidamente satisfeito, deve estar embasado no propósito divino ao criar tanto o homem como a mulher à sua imagem e semelhança (Gn 1.27). Caso contrário, o sexo conduz a abusos sexuais, que destroem as pessoas.

O dinheiro é um meio de troca convencional de bens materiais que de modo geral tem aprovação legal. Embora possibilite a obtenção de bens necessários para o sustento da vida diária, sua função, muitas vezes, é desvirtuada, pois beneficia a avareza, que é a causa principal da pobreza. Não é exagero afirmar que render honras ao deus Mamom leva, cedo ou tarde, à desigualdade entre ricos e pobres.

O que se deseja é o poder enquanto capacidade usada para alcançar algum objetivo que beneficie realmente as pessoas em nível pessoal ou comunitário. Contudo, continuam vigentes no mundo atual as palavras de Jesus a seus discípulos, referentes ao mau uso do poder: “Sabeis que os que são considerados governadores dos povos têm-nos sob seu domínio, e sobre eles os seus maiorais exercem autoridade” (Mc 10.42). A consequência do mau uso do poder é a opressão.

Os valores do mundo atual relativos a sexo, dinheiro e poder nos apresentam um desafio, por isso nós, seguidores de Jesus Cristo como Senhor e Salvador, somos chamados a não nos amoldar a eles. E, ainda mais, somos chamados a um tipo de metamorfose espiritual que nos torne um modelo da prática dos valores que foram encarnados em Jesus Cristo, modelo do novo ser humano.

Nota
Traduzido por Vera Jordan

• C. René Padilla é fundador e presidente da Rede Miqueias, e membro-fundador da Fraternidade Teológica Latino-Americana e da Fundação Kairós. É autor de Missão Integral – O reino de Deus e a igreja. Acompanhe seu blog pessoal: kairos.org.ar/blog.

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