Jesus, o holocausto perfeito

INTRODUÇÃO

       Só viremos a entender plenamente a obra da salvação, em Jesus Cristo, se nos voltarmos com devoção e temor à teologia do holocausto, o principal sacrifício levítico. Quando o ofertante apresentava essa oferta ao Senhor, acenava ele, de maneira vivida e dramática, a História Sagrada. Uma interface perfeita com João 3:16; sublime teologia. Quem melhor compreendeu a sua doutrina foi o autor da Epístola aos Hebreus. Inspirado pelo Espírito Santo, ele divisou, nos animais oferecidos periodicamente a  Jeová, o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.

       Estudaremos, a instituição do holocausto: história, teologia, referência simbólica e cumprimento em Jesus. Sem o sacrifício dos sacrifícios, não podemos entender o plano da nossa salvação. O presente estudo, por conseguinte, além de formalmente tipológico, é essencialmente soteriológico; requer uma exegese correta que harmonize profetas e apóstolos, pois estes jamais estiveram em desarmonia.

       Que Deus nos permita a perceber a maravilhosa doutrina da salvação e a desenvolvê-la em nossa jornada terrena.

I – HOLOCAUSTO, O SACRIFÍCIO POR EXCELÊNCIA

       Como já vimos, a religião noética gerou grandes santos e teólogos, como Jó, Melquisedeque e Abraão. E, pelo que nos é permitido inferir do texto sagrado, cada um deles, em seu próprio turno, serviu a Deus com sacrifícios cruentos. Nesse sentido, o rei de Salém, por ter uma teologia bem mais messiânica e soteriológica(Relativo a soteriologia ou a doutrina ou estudo da salvação do homem por um redentor), foi além das oferendas animais. Ao receber o pai dos hebreus, em seu domicílio, Melquisedeque apresentou-lhe uma oferta que, em virtude de sua essência, unia o Antigo ao Novo Testamento. Neste tópico, mostraremos por que o holocausto é ofertório por excelência.

1 – Definição de holocausto

       O termo holocausto provém do vocábulo hebraico òlah, que significa ascender ou ir para cima. É uma referência tanto à fumaça da oferta queimada em si, como à devoção e a entrega amorosa dessa mesma forma ao subir à presença de Deus (Lv 1:9). Sacrifício dos sacrifícios. Foi por essa razão, que Paulo considerou o desprendimento dos irmãos filipenses, em favor da obra missionária, como um holocausto de cheiro suave ao Senhor (Fp 4:18).

       O holocausto era o mais importante sacrifício do culto hebreu (Lv 1:1_3). Consistindo no oferecimento de aves e animais limpos, requeria a queima total da vítima; era pleno e incondicional (Lv 1:9). Tendo em vista a sua relevância, inaugurava todas as solenidades diárias, sabáticas, mensais e anuais do calendário litúrgico do Antigo Testamento.

       O holocausto era conhecido também como oferta queimada.

       Ao oferecê-lo ao Senhor, o crente hebreu fazia-lhe uma oração que, apesar da ausência de palavras, era eloquente e persuasiva; implicava em sua total submissão ao querer divino. Assim com a vítima do sacrifício dera-se ao altar sem resistência, assim também o fazia o adorador naquela instância; entregava-se resignadamente a Deus. Tal atitude remetia-o ao calvário.

       Jesus Cristo é o holocausto perfeito.

       Quando nos conformamos plenamente à vontade do Filho, oferecemos ao Pai o mais sublime dos holocaustos; mostramos-lhe que, pela ação intercessora do Espírito Santo, já estamos crucificados com Cristo. A partir de agora, não sou eu quem vive, mas Jesus Cristo vive em mim.

2 – A antiguidade do holocausto

       O holocausto é também o mais antigo sacrifício da História Sagrada. Introduzido mui provavelmente por Abel, foi observado durante todo o período do Antigo Testamento. É o cerimonial que mais caracteriza  culto levítico; descreve gestualmente, a peregrinação da alma penitente da Queda, no jardim do Éden, À redenção no monte Calvário.

       Pelo que depreendemos da narrativa sagrada, após a morte de Jó, o holocausto, como o praticara os primeiros descendentes de Noé, não demoraria a desaparecer. Manter-se-ia, porém, no clã de Abraão, o amo mais nobre de Sem; messiânico e soteriológico.

       Em Canaã, se o holocausto Noético foi alguma vez oferecido, não tardou a dar espaço a celebrações sórdidas, lascivas e criminosas. Naqueles templos e lugares altos, dominados por régulos tiranos e sanguinários, prostituição e homicídio litúrgico eram livremente praticados. Já no Egito, sacrifícios como o holocausto era algo impensável. Se bovinos e ovinos eram deuses, por que lhes tirar a vida?

       Nas escavações arqueológicas realizadas nos entornos das pirâmides, animais mumificados são descobertos em nichos e santuários. Aqui, um macaco; ali, um falcão. E quanto ao boi? Era intocável; personificava a Terra. Imolá-lo? Sacrilégio dos sacrilégios aos olhos egípcios.

       No Cairo, capital do Egito, existe um museu em que é possível constatar que os ídolos, nos quais Faraó depositava toda a sua confiança, eram absurdamente esdrúxulos. Cada um deles, embora tivesse corpo de homem, carregava uma cabeça de animal. Até deus com cara de cachorro pode ser visto ali entre múmias de reis e carcaças de nobres.

       Já que a religião egípcia tinha o holocausto como algo abominável, como descrever-lhe a soteriologia? Para mim, semelhante religião nem soteriologia possui. O mais acertado seria qualificá-la de Tanatologia; doutrina ou estudo da morte. Isso porque, no Egito, empregavam-se todos os recursos, para dar a Faraó, após o seu falecimento, confortos, regalias e honras. O reino do Nilo mais parecia uma imensa casa funerária.

       A bem da verdade, os egípcios não acreditavam na vida eterna, mas numa morte sem fim. No mundo além, dependiam do mundo aquém. Nem mesmo Aquenáton que, reinando no século XIV antes de Cristo, buscou estabelecer um culto monoteístico em ambos os Egitos (alto e baixo), logrou uma doutrina da salvação que tivesse a Deus como redentor. Adorando o Sol, ignorou o Criador dos Céus e da Terra.

       Retornemos, agora, aos descendentes de Noé que perseveraram em seguir-lhe as pisadas.

3 – O holocausto no período patriarcal

       Se considerarmos o sacrifício que Abel ofereceu ao Senhor uma espécie de holocausto, então essa oferenda foi, de fato, a mais Antiga da História Sagrada (Gn 4:4). O costume seria preservados pelos filhos de Abraão em Isaque e Jacó (Gn 8:20; 22:13).

       A religião divina, como Adão e Noé a transmitiram a seus descendentes, foi preservada no holocaustos que, sem interrupção foram oferecidos ao Senhor desde Abel até a destruição do Templo de Esdras, no ano 70 da nossa era. Cada vez que um desses crentes imolava um animal, profetizava ele, tipologicamente, a morte de Cristo no Calvário. Em cada oferenda, sustentada pela fé, havia uma súmula da soteriologia que hoje professamos.

4 – O holocausto no período mosaico

       Após a saída dos filhos de Israel do Egito, o Senhor instruiu Moisés a sistematizar o culto divino, para evitar impurezas pagãs. Quanto ao holocausto, por exemplo, apesar de já ser uma tradição na comunidade de Israel, teria de observar preceitos e normas. A partir daquele momento, haveria um altar específico para as ofertas queimadas (Êx 31:9). Tudo deveria ser executado de acordo com as normas estabelecidas por Deus (Lv 1_6).

      Em sua peregrinação, os israelitas retornam livremente ao holocausto. Se, no Egito, era abominação imolar um animal a Jeová, agora, naquele deserto inóspito, o sacrifício da animais veio a constituir-se na parte mais bela e nobre da religião hebréia. Os sacerdotes, agora, ofereciam redis inteiros ao Senhor.

       Como puderam eles criar tantos animais, não apenas consumo próprio, como também para oferece-los a Deus? Se em prados verdejantes e junto a águas tranquilas já é difícil tanger bois e carneiros, o que fazer em regiões ermas e abrasadoras? Quando nos pomos a servir a Deus, tudo ele dispõe a nosso favor. À noite orvalhava o maná para o sustento do povo. Durante o dia, providenciava o pasto àqueles rebanhos que se esparramavam pelo Sinai. 

       A instituição e a continuidade do culto levítico, no deserto, constitui em si, um grande milagre. Uma religião como a hebreia que, litúrgica e teologicamente, requer animais, perfumes, incensos e pães, não pode sobreviver sem uma logística perfeita. Num grande centro urbano, não haveria problemas; fornecedores de matérias primas não faltam. Mas, no Sinai, já distante do Egito e ainda longe de Canaã, adorar o Senhor, com os rigores e demandas do culto levítico, era um desafio cotidiano. Sem mencionar a construção do Tabernáculo em si.

5 – O holocausto na Terra de Israel

       Após a conquista de Canaã, os holocaustos continuaram a ser oferecidos livremente ao Deus de Abraão. Josué celebrou uma importante vitória sobre os cananeus com holocaustos e ofertas pacíficas (Js 8:31). Gideão, ao ser comissionado pelo Senhor para libertar Israel, ofertou-lhe um holocausto (Jz 6:26). Quanto a Samuel, ofereceu o mesmo sacrifício ao Poderoso de Jacó, antecipando uma grande vitória sobre os filisteus (1ªSm 13:9_10). A reforma de Ezequias foi marcada por generosos holocaustos (2ªCr 29:7_35). Após o retorno do exílio, os judeus, agradecidos a Deus pela restauração de seu culto, também ofereceram holocaustos que iam além de suas posses(Ed 8:35).

      A essa altura, o que era tradição adâmica e noética torna-se instituição religiosa em Israel. Agora, o holocausto é visto como a principal liturgia do culto israelita. Se fizermos uma pesquisa no âmbito da história, da cultura e da antropologia, concluiremos que apenas a linhagem de Sem observou a prática de ofertas queimadas ao Senhor. Quanto, aos camitas, que povoaram a África e partes do Oriente Médio, e aos jafetitas, que colonizaram a imensa região da Eurásia, temos evidências de que não deram continuidade a oferenda com que Noé inaugurava a segunda civilização humana.

       As etnias acima citadas praticavam sacrifícios cruentos; nenhum desses, porém assemelhava-se ao holocausto semítico. Entre os povos tidos como bárbaros, houve (e ainda há) abate ritual de animais e de seres humanos. Mas holocausto, semelhante ao hebreu e com sua essência teológica, não, ; é algo exclusivo de Israel, a linhagem mais nobre e representativa de Sem. E, por se falar em sacrifícios humanos, veremos, daqui a pouco, por que esse tipo de oferenda jamais seria aceito por Deus.

II – A IMPLICAÇÃO TEOLÓGICA DO HOLOCAUSTO

Em todo sacrifício levítico, subjaz uma teologia que tem, em sua natureza, uma soteriologia que nos remete, de imediato, à morte vicária de Jesus Cristo. Sendo assim, precisamos descobrir aquilo que não seria incorreto chamar de a mecânica teológica do holocausto.

1 – A consciência o pecado humano

       Quando um crente hebreu propunha-se a oferecer um holocausto ao Senhor, a primeira coisa que lhe vinha ao coração era a sua própria culpabilidade (Sl 51:5). Ele sabia, que em Adão, todos haviam pecado; ninguém seria tido por inocente diante de Deus. Até mesmo, o recém-nascido, apesar de ainda não ter a experiência do pecado, já carregava, em si, a essência da ofensa adâmica (Rm 3:23; 5:12).

Se a situação do peregrino é tão desfavorável, o que fazer?

Ele não poderia apresentar a si próprio a Deus, pois não ignorava a pecaminosidade que lhe ia na alma. Por isso, buscava num animal tenro, bom e geneticamente perfeito (símbolo de um intermediário eficaz); uma ponte que o conduzisse a Deus. Sem o saber, o penitente evocava perspectivamente, pela fé, ali, junto àquele altar, o sacrifício do Senhor Jesus Cristo no Calvário. O Filho de Deus haveria de morrer, de fato, em favor de todos os filhos de Adão: pelos contemporâneos da cruz, pelos que viriam a nascer e pelos que haviam morrido.

2 – A consciência da justiça divina

       Já diante do altar, esse mesmo crente sabia que, confrontado pela justiça de Deus, merecia apenas uma coisa: a morte; o salário mais adequado ao pecado adâmico.  Nesse impasse, a pergunta vinha-lhe à mente: “Como aplacar um Deus irado?”. Se, por um lado, ele sabia que Deus é justo, por outro, não ignorava que a justiça divina jamais deixava de vir acompanhada por um amor que, incompreensivelmente se dá. Por essa razão, apresentava ao Senhor a vítima do holocausto, como a rogar-lhe: “Nele, perdoa-me”. E, pela fé, era não apenas perdoado, mas justificado imediatamente.

       A justificação não é uma doutrina exclusivamente apostólica; no âmbito profético, era já conhecida e praticada junto ao trono divino. O salmista, ao discorrer sobre a ousada ação de Fineias no episódio de Baal-Pedor, reconhece: “Isso lhe foi imputado por justiça, de geração em geração, para sempre”  (Sl 106:31, ARA).

       No episódio narrado pelo autor sagrado, observa-se que Fineias assim agiu porque fora movido por uma fé incomum na santidade divina. E, por essa mesma fé, foi justificado. O mesmo acontecia àquele que, crendo na justiça divina, apresentava-lhe um holocausto. No ato da matança e da queima do animal, mostrava, ele a Deus a sua confiança num sacrifício vicário que alcançaria o mundo todo.

        No ato do holocausto, desfilava diante de Deus toda a soteriologia do Novo Testamento.

3 – A consciência da propiciação diante de Deus

        O que o crente hebreu mais ansiava era tornar-se propicio a Deus. Todavia, ninguém poderia fazê-lo por si só, a não ser por meio de um intermediário, que fosse visto pelo justíssimo Deus como alguém igualmente justo, santo, inocente e eficaz como salvador; o próprio Filho de Deus. 

       Nos tempos dos patriarcas, ainda não se tinha um retrato do Messias como hoje encontramos nos Salmos e nos Profetas. Davi, em vários de seus cânticos, descreveu a vida, a morte e a ressurreição de Jesus Cristo. Já Isaías, no capítulo 53 de seu livro, pinta o Servo de Jeová em tons fortes e inapagáveis.

       Ambos os autores sagrados já não precisavam do holocausto para saber que o Filho de Deus, ao vir a este mundo como homem, teria o mesmo destino do animal oferecido a Deus numa oferta queimada. Eis porque o rei de Israel, numa evocação messiânica, lembra a transitoriedade do holocausto na soteriologia messiânica: “Sacrifícios e ofertas não quiseste; abriste os meus ouvidos; holocaustos e ofertas pelo pecado não requeres” (Sl 40:6, ARA).

       Davi, como bom teólogo, sabia que o homem, para tornar-se propício diante de Deus, carece não propriamente de um animal perfeito, mas de um perfeitíssimo medianeiro. Já intervendo, não apenas o Messias, mas também o Consolador, roga ele a Jeová, depois de haver quebrantado duplamente a Lei divina:

Esconde o rosto dos meus pecados e apaga todas as minhas iniquidades. Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova dentro de mim um espírito inabalável. Não me repulses da tua presença, nem retires o teu Santo Espírito. Restitui-me a alegria da tua salvação e sustenta-me com um espírito voluntário. (Sl 51:9_12, ARA)

       Observemos que Davi, embora almejasse a aceitação de Deus, não lhe ofereceu um único holocausto. Sua compreensão das coisas divinas ia além da pedagogia das oferendas e dos sacrifícios. Naquele momento, ofertório algum, ainda que duplamente cruento, ser-lhe-ia útil. Por essa razão, evocando implicitamente a intermediação de Jesus Cristo, o Holocausto dos holocaustos, confessa sua confiança no verdadeiro Mediador entre Deus e os homens: “Pois não te comprazes em sacrifícios; do contrário, eu tos daria; e não te agradas de holocaustos. Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; um coração compungido e contrito, não o desprezarás, ó Deus” (Sl 51:16,17, ARA).

       Não procuramos, aqui, ao evocar Davi e Isaías, invalidar o holocausto na compreensão da soteriologia bíblica. Sem esse sacrifício, o profeta e o rei jamais viriam a entender adequadamente a mecânica da redenção que Deus, em Jesus Cristo, nos providenciara antes mesmo da fundação do mundo.

4 – A consciência de um sacrifício perfeito diante de Deus

       Assombrado pela justiça divina, indaga o profeta:

 “Com que eu poderia comparecer diante do Senhor e curvar-me perante o Deus exaltado? Deveria oferecer holocaustos de bezerros de um ano?
Ficaria o Senhor satisfeito com milhares de carneiros, com dez mil ribeiros de azeite? Devo oferecer o meu filho mais velho por causa da minha transgressão, o fruto do meu corpo por causa do meu próprio pecado?
Ele mostrou a você, ó homem, o que é bom e o que o Senhor exige: Pratique a justiça, ame a fidelidade e ande humildemente com o seu Deus”.(Mq 6:6-8)

       Sim, indaga Miqueias: “Com que me apresentarei ao SENHOR?”. Buscando a propiciação divina, o crente hebreu poderia oferecer diversas coisas a Deus: bezerros, carneiros e azeite. Numa instância já desesperada, não hesitaria em dar-lhe o próprio filho; o primogênito da alma. Vejamos a inadequabilidade desses ofertórios. Iniciemos por examinar a oferta que mais dor custaria a um pai. 

    Antes de tudo, deixemos bastante claro, que Deus jamais exigiu sacrifícios humanos. A razão é bastante simples. Não obstante o custo material, moral e espiritual que tal demanda acarretaria ao adorador, o seu efeito redentor e soteriológico seria inútil perante a justiça divina. Se todos pecaram e carecem da glória de Deus, quem estaria apto a morrer vicariamente por alguém? Um recém-nascido?

Embora ainda inocente, já traz em si a semente da transgressão adâmica. Até mesmo, os três homens mais justos da História Sagrada não seriam capazes de se darem vicária e salvificamente em favor dos transgressores como o próprio Deus o demonstra através do profeta Ezequiel:

“Filho do homem, se uma nação pecar contra mim por infidelidade, estenderei contra ela o meu braço para cortar o seu sustento, enviar fome sobre ela e exterminar seus homens e seus animais.
Mesmo que estes três homens — Noé, Daniel e Jó — estivessem nela, por sua retidão eles só poderiam livrar a si mesmos, palavra do Soberano Senhor.”(Ez 14:13,14).

       No entanto, se o Senhor Jesus Cristo estivesse nessa mesma cidade, Ele, em virtude de sua justiça vicária, certamente morreria; ela, porém, seria poupada. Foi o que disse mui sabiamente o sumo sacerdote Caifás:  “Vós nada sabeis, nem considerai que vos convém que morra um só homem pelo povo e que não venha a  perecer toda a nação” (Jo  11:49, 50). Ao registrar o fato, o apóstolo João com a sua elevadíssima acuidade teológica, assim interpretou a alocução de Caifás:

“Ele não disse isso de si mesmo, mas, sendo o sumo sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus morreria pela nação judaica,
e não somente por aquela nação, mas também pelos filhos de Deus que estão espalhados, para reuni-los num povo.” (Jo 11:51,52).

       Inspirados por esse modelo teológico, como explicaremos a experiência de Abraão ao ser instado pelo Senhor a oferecer-lhe Isaque? O patriarca, como o melhor teólogo da época, depois de Melquisedeque, sabia que, seja desta seja daquela forma, haveria de recobrar o filho, pois tinha irrestrita fé na promessa divina. Mas, ainda que viesse a imolar o seu querido unigênito, a morte deste poderia ser doxológica, mas jamais soteriológica e redentora, porque Abraão já havia sido justificado ao crer em Deus (Gn 15:6). No instante extremo da provação, o Senhor interveio, não permitindo que o hebreu lhe imolasse o filho da promessa (Gn 22:11_13). Vicariamente, o ser humano é ineficaz até para si mesmo. Se a nossa morte, fosse suficiente para salvar-nos, bastaríamos optar pelo suicídio, e a nossa situação, diante de Deus, estaria resolvida de vez. O suicídio, todavia, não tem qualquer eficácia remidora. . Se assim fosse, Judas Iscariotes estaria hoje no Paraíso junto ao Senhor Jesus. Mas sabemos que, perdendo-se ele, foi para o seu próprio lugar.

       Se a morte do meu primogênito é ineficaz para tornar-me aceitável diante do Senhor, o que lhe entregarei? Rios de azeite? O fruto da oliveira pode (e deve) ser apresentado ao Senhor como dízimo e ação de graças, mas, soteriologicamente, que eficácia tem? Afinal, não somos salvos pelas obras, mas pela fé em Jesus Cristo. Logo, tais ofertas servem apenas para evidencia-nos a salvação; somos salvos não pelas boas obras, mas à prática de obras boas, meritórias e que mostrem, por intermédio delas, o nosso compromisso com o Pai Celeste.

       Restam-nos, agora, o bezerros de um ano e os carneiros tenros e bons. Tornar-nos-ão propícios a Deus? Como símbolos e tipos são eficazes. Mas, vicariamente, não. Se a simbologia e tipologia desses animais fossem recebidas pela fé, o adorador não deixaria de  ver, em cada um deles, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Caso contrário, a morte desses bichos  não passaria de um desperdício litúrgico, um pesado encargo ao crente, um enfado ao sacerdote e um enojamento ao Senhor.

       O adorador que, pela fé, oferecia um holocausto ao Senhor, demonstrava a eficácia desse sacrifício, em sua vida, na prática da justiça, no exercício da misericórdia e na vivencia do amor divino em seu cotidiano. E, no final de tudo,  veria naquele bezerro ou naquele carneirinho, o Cordeiro de Deus.

III – JESUS CRISTO, O HOLOCAUSTO PERFEITO

Para que o Filho de Deus se tornasse o holocausto perfeito, a fim de redimir a humanidade, três coisas foram-lhe necessárias: a encarnação, o sofrimento e, finalmente, a morte e ressurreição.

1 – A encarnação de Cristo

A encarnação de Cristo foi o cumprimento cabal e perfeito da profecia de Davi: “Sacrifício e oferta não quiseste; os meus ouvidos abriste; holocausto e expiação pelo pecado não reclamaste” (Sl 40:6).

       O que o Messias, por meio do salmista, diz é que, sendo os holocaustos transitórios, restava-lhe apresentar-se voluntária e eternamente, perante o Pai, para ser a oferta e o ofertante, a fim de redimir a humanidade (Hb 10:1_10). Foi na condição de Homem Verdadeiro que o Senhor Jesus foi provado em todas as coisas, exceto no pecado, para mostrar a eficácia de seu maravilhoso e definitivo sacrifício.

2 – O sofrimento de Cristo

Assim como a vítima do holocausto era, antes de ser queimada, repartida em pedaços, foi o Senhor Jesus submetido a todos os sofrimentos, angústias e dores (Is 53). Ele sabia o que era padecer.

       O autor da Epístola aos Hebreus garante que o Filho de Deus, durante o seu ministério terreno, apresentou ao pai constantes rogos, clamores e lágrimas (Hb 5:7).

       Da encarnação à morte, Ele foi implacavelmente provado em todas as coisas. Mas, nem por isso, deixou de apresentar um fiel testemunho como o Cordeiro de Deus (Jo 1:29).

3 – A morte e a ressurreição de Cristo

O auge do sofrimento do Filho de Deus, como nosso perfeito holocausto, foi  sua morte no Calvário. Antecedendo o seu sacrifício, rogou ao Pai que lhe afastasse aquele cálice (Mc 14:36). No entanto, Ele sabia que a morte na cruz era a sua missão, o ápice do seu ministério. Em sua morte, a nossa vida.

     Na verdade foi morto e sepultado (Mt 27:59-66). No terceiro dia, entretanto, eis que ressurge dos mortos como Rei dos reis e Senhor dos senhores (Mt 28:1_10). Com a sua ressurreição, Jesus Cristo, plenifica o sacrifício perfeito, como ofertante e oferta.

Conclusão

Neste capítulo, refletimos sobre o sacrifício perfeito de Jesus Cristo. Ele é o Holocausto dos holocaustos. Ele morreu eficazmente por mim e por você. Por essa razão mantenhamos uma vida de santidade e pureza, a fim de sermos fiéis testemunhas do Evangelho. Não ignoremos o sacrifício de Cristo. Se o fizermos, sobre nós recairá o justo juízo de Deus (Hb 10:26,27).

Adoração, Santidade e Serviço – Os princípios de Deus para a sua Igreja em Levítico – Livro de Apoio das Lições Bíblicas do 3ºT 2018 Adulto CPAD e Revista – Lições Bíblicas

 

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