Faixa de Gaza – território palestino ***Quem é você, Gaza?***

Localização Faixa de Gaza
Mapa da Faixa de Gaza mostrando as áreas urbanas, campos de refugiados e pontos de travessia na fronteira.

Faixa de Gaza (em árabe: قطاع غزة Qiṭāʿ ĠazzahIPA: [qɪˈtˤɑːʕ ˈɣazza]) é um território palestino composto por uma estreita faixa de terra localizada na costa oriental do Mar Mediterrâneo, no Oriente Médio, que faz fronteira com o Egito no sudoeste (11 km) e com Israel no leste e no norte (51 km). O território tem 41 quilômetros de comprimento e apenas de 6 a 12 quilômetros de largura, com uma área total de 365 quilômetros quadrados.

A população da Faixa de Gaza é de cerca de 1,7 milhão de pessoas. Apesar da maior parte da população ter nascido na Faixa de Gaza, uma grande porcentagem se identifica como refugiados palestinos, que fugiram para Gaza durante o êxodo palestino que ocorreu após a Guerra árabe-israelense de 1948. A população é predominantemente muçulmana sunita. Com uma taxa de crescimento anual de cerca de 3,2%, a Faixa de Gaza tem a sétima maior taxa de crescimento demográfico do mundo, além de ser um dos territórios mais densamente povoados do planeta. A área sofre uma escassez crônica de água e praticamente não tem indústrias. A infraestrutura é precária, e quase nada foi refeito após os bombardeios israelenses de 2008-2009. A designação Faixa de Gaza deriva do nome da sua principal cidade, Gaza, cuja existência remonta à Antiguidade.

A Faixa de Gaza adquiriu suas fronteiras atuais com o fim dos combates da guerra de 1948, confirmado pelo Acordo de Armistício entre Israel e Egito em 24 de fevereiro de 1949. O Artigo V do Acordo declarou que a linha de demarcação não era para se tornar uma fronteira internacional. Primeiramente, a Faixa de Gaza foi oficialmente administrada por um governo completamente palestino estabelecido pela Liga Árabe em setembro de 1948. A partir da dissolução desse governo em 1959, a Faixa de Gaza tornou-se uma área diretamente administrada por um governador militar egípcio até 1967.

Israel anexou e ocupou a Faixa de Gaza durante a Guerra dos Seis Dias, em 1967. Em conformidade com os Acordos de Oslo, assinados em 1993, a Autoridade Palestina se tornou o órgão administrativo que governa os centros populacionais palestinos. Israel manteve o controle do espaço aéreo, das águas territoriais e das fronteiras, além da fronteira com o Egito. Em 2005, o governo israelense retirou-se do território ocupado . Desde julho de 2007, depois das eleições parlamentares palestinas de 2006 e da Batalha de Gaza, o Hamas tem controlado de facto a administração da área. Após a desocupação militar e a retirada dos assentamentos de colonos judeus do território palestino, Israel bombardeou a Faixa de Gaza em 200820122014 e atualmente em 2021, vem sofrendo ataques por mísseis, aéreos originador pelo grupo terrorista Hamas, que obtém controle da Faixa de Gaza, porém os danos foram relativamente pequenos, por conta de um eficiente sistema de defesa antiaéreo israelense. Esses ataques resultaram em milhares de mortos, sobretudo entre a população civil, além produzirem severos danos à infraestrutura local.


História

A cidade de Gaza foi fundada aproximadamente no século V a.C. por piratas do Mediterrâneo que se denominavam Filisteus e chamaram a região de Filisteia. Após diversas invasões(tribos israelitas, babilónicos, persas e assírios), caiu nas mãos dos macedônios, cujo processo de imperialização possibilitaram-na o contato com a cultura grega (helenismo). Quando os romanos invadiram Israel, também submeteram a cidade de Gaza e região. Por muito tempo ficou em poder dos bizantinos e árabes.

Durante centenas de anos, o Império Otomano dominou Gaza, até que o território – junto com o restante da Palestina – passou para o controle dos britânicos, com o final da Primeira Guerra Mundial (1914-1918).

Gaza após a rendição às forças britânicas, 1918

Mandato britânico e plano de partilha

Mandato Britânico da Palestina foi uma entidade geopolítica sob administração do Reino Unido que foi criada com a Partilha do Império Otomano após o final da Primeira Guerra Mundial. A administração civil britânica na Palestina operou de 1920 a 1948.

Em 29 de novembro de 1947, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou a sua Resolução 181, que previa uma plano para a partilha da Palestina, que consistia na partição da banda ocidental do território em dois Estados – um judeu e outro árabe -, ficando as áreas de Jerusalém e Belém sob controle internacional. Os Estados árabes rejeitaram a proposta.

Governo palestino

Membros do Governo de Toda a Palestina, implementado pela Liga Árabe

Durante a Primeira Guerra Árabe-Israelense, que conduziu à criação do Estado de Israel, Gaza absorveu um quarto das centenas de milhares dos refugiados palestinos expulsos das áreas que hoje fazem parte de Israel.

Em 22 de setembro de 1948, no final da guerra, o Governo de Toda a Palestina foi proclamado pela Liga Árabe na cidade de Gaza ocupada pelo Egito. Foi concebido em parte como uma tentativa da Liga Árabe de limitar a influência da Transjordânia na Palestina. O governo palestino foi rapidamente reconhecido por seis dos então sete membros da Liga Árabe: EgitoSíriaLíbanoIraqueArábia Saudita e Iêmen, mas não pela Transjordânia e por nenhum outro membro da comunidade internacional.

Após o fim das hostilidades, o Acordo de Armistício Israel-Egito de 24 de fevereiro de 1949 estabeleceu a linha de separação entre as forças egípcias e israelenses e estabeleceu o que se tornou a atual fronteira entre a Faixa de Gaza e Israel. Ambos os lados declararam que a fronteira não era uma fronteira internacional. A fronteira sul com o Egito continuou a ser a fronteira internacional traçada em 1906 entre o Império Otomano e o Império Britânico.

Ocupação egípcia

Após a dissolução do Governo de Toda a Palestina em 1959, Egito continuou a ocupar a Faixa de Gaza até 1967 sob a desculpa do pan-arabismo. O governo egípcio nunca anexou a Faixa de Gaza formalmente, mas a tratou como um território controlado e administrou-a por meio de um governador militar. O afluxo de mais de 200 mil refugiados do antigo Mandato Britânico em Gaza, cerca de um quarto daqueles que fugiram ou foram expulsos de suas casas durante e após a Guerra Árabe-Israelense de 1948, resultou em uma diminuição dramática no padrão de vida. Como o governo egípcio restringiu o movimento de ida e volta para a Faixa de Gaza, seus habitantes não podiam procurar um emprego lucrativo em outro lugar.

Che Guevara visitando Gaza em 1959

Ocupação israelense

Vista da cidade de Gaza em 1967

Em junho de 1967, durante a Guerra dos Seis Dias, as Forças de Defesa de Israel capturaram a Faixa de Gaza. Após esta vitória militar, Israel criou o primeiro bloco de assentamento, Gush Katif, no canto sudoeste perto de Rafah e da fronteira egípcia em um local onde um pequeno kibutz existiu anteriormente por 18 meses entre 1946-48. No total, entre 1967 e 2005, Israel estabeleceu 21 assentamentos em Gaza, abrangendo 20% do território total.

A taxa de crescimento econômico de 1967 a 1982 foi em média de cerca de 9,7% ao ano, em boa parte devido à expansão da renda das oportunidades de trabalho dentro de Israel. O setor agrícola de Gaza foi adversamente afetado quando um terço da Faixa foi apropriado por Israel, a competição pelos escassos recursos hídricos se acirrou e o lucrativo cultivo de frutas cítricas diminuiu com o advento das políticas israelenses, como proibições de plantar novas árvores e impostos que geravam quebra para os produtores israelenses, fatores que militaram contra o crescimento.

As exportações diretas de Gaza desses produtos para os mercados ocidentais, em oposição aos mercados árabes, foram proibidas, exceto por meio de veículos de marketing israelenses, a fim de auxiliar as exportações de cítricos israelenses para os mesmos mercados.

O resultado geral foi que um grande número de agricultores palestinos foi forçado a deixar o setor agrícola. Israel colocou cotas em todos os produtos exportados de Gaza, enquanto aboliu as restrições ao fluxo de produtos israelenses para a Faixa.

Acordos de Oslo de 1993

Yitzhak RabinShimon Peres e Yasser Arafat ao receberem o Prêmio Nobel após os Acordos de Oslo.

Após uma série de acordos assinados entre maio de 1994 e setembro de 1999, Israel se comprometeu a transferir para a Autoridade Nacional Palestina a responsabilidade pela segurança e pelos civis das áreas povoadas por palestinos na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, o que não ocorreu. Os territórios povoados por palestinos foram “cercados” pelas colônias judias e os governos israelenses, tanto trabalhistas quanto likudistas, só fizeram aumentar o número dessas colônias, inviabilizando de fato a possibilidade de constituição de um Estado palestino. Isto levou ao fracasso nas negociações para determinar um status definitivo para os territórios palestinos, e o início da Segunda Intifada, em setembro de 2000, fez com que as forças israelenses reocupassem a maioria das áreas controladas pelos palestinos.

Retirada israelense em 2005

Moradores protestam contra retirada forçada da comunidade israelense de Kfar Darom, 2005

Em 2005, o então primeiro-ministro Ariel Sharon executou um plano de retirada de todos os 8 mil colonos israelenses da Faixa de Gaza, bem como as tropas que os protegiam. O plano também previa que Israel continuaria a controlar o espaço aéreo de Gaza, seu mar territorial e todos as passagens de fronteira. Em setembro, a retirada israelense foi concluída.

A situação na Faixa de Gaza começou a se deteriorar depois que o Hamas venceu as eleições legislativas palestinas, obtendo 76 das 132 cadeiras do Parlamento Palestino, em janeiro de 2006.

No entanto, as profundas divergências políticas entre o presidente Mahmoud Abbas da Autoridade Nacional Palestina, pertencente ao Fatah, e o primeiro-ministroIsmail Haniyeh, do Hamas, resultaram em violentos confrontos entre militantes das duas facções rivais na Faixa de Gaza, em 2006 e no início de 2007, com um grande número de mortos e feridos.

Conflito Gaza-Israel em 2006

Em junho de 2006, as Forças de Defesa de Israel lançaram sua primeira grande operação militar contra a Faixa de Gaza, desde a retirada dos colonos judeus do território palestino. Chamada de Operação Chuvas de Verão, a ação de Israel visava a resgatar o soldado Gilad Shalit – capturado no dia 25 de junho daquele ano em uma operação conjunta do Hamas e dois outros grupos militantes, que entraram em Israel a partir da Faixa de Gaza. A captura detonaria uma grande ação militar israelense na Faixa de Gaza, que resultou nas mortes de mais de cem palestinos em quatro semanas, além da detenção de 60 dirigentes do Hamas, entre eles vários ministros e dezenas de deputados.

Em novembro, as forças israelenses lançaram uma nova e ampla ação militar, batizada como Operação Nuvens de Outono, desta vez atacando Beit Hanoun, ao norte da Faixa de Gaza. Os ataques deixaram 56 palestinos mortos, a metade deles civis, e mais 200 feridos. Chegava-se ao quinto mês de operações militares na Faixa de Gaza (com mais de 400 palestinos mortos), Israel concordou em realizar um cessar-fogo com o grupo Hamas, desde que este se compromete a não retornar a lançar foguetes contra o território israelense.

Em abril de 2007, o exército israelense retomou os ataques à Faixa de Gaza, depois de centenas de foguetes palestinos disparados desde novembro do ano anterior. No dia 24 daquele mês, o braço armado do Hamas proclamou o fim da trégua com Israel. Um mês antes, Abbas e Haniyeh concordaram em formar um governo de união nacional.

Tanque israelense durante a Operação Chuvas de Verão

Conflito entre Hamas e Fatah em 2007

Protesto de manifestantes do Hamas em Ramala

Em junho de 2007, em meio a intensos conflitos entre militantes das duas facções, o Hamas acabou por assumir o controle da Faixa de Gaza, expulsando o Fatah, que continuou dominando a Cisjordânia. Com isso, o governo de Israel fechou seu posto de fronteira com a Faixa de Gaza, alegando que a Fatah não poderia mais garantir a segurança na região, e impôs um bloqueio ao território palestino, proibindo todas as exportações e permitindo, unicamente, limitada ajuda humanitária. O governo do Egito havia também fechado sua fronteira quando os combates mais intensos entre Fatah e Hamas tiveram início, em 7 de junho de 2007.

Daí em diante, o Fatah passou a receber os apoios de Israel, dos Estados Unidos e da União Europeia, enquanto o Hamas era desconsiderado como interlocutor. Mas, além das disputas com o Fatah, depois de chegar ao governo palestino, o Hamas teve que enfrentar o boicote econômico internacional à Faixa de Gaza, principalmente por parte dos Estados Unidos e da União Europeia, sob a alegação de que o partido não reconhece o Estado de Israel, não renuncia à violência e desconsidera os acordos firmados anteriormente por Israel e pela ANP.

Em junho de 2008, representantes do Hamas e do governo israelense chegaram a um acordo de cessar-fogo na região, mediado pelo Egito, com duração de seis meses, e que expirou no dia 19 de dezembro. O grupo palestino decidiu não renová-lo, por entender que Israel não havia cumprido o compromisso de suspender o bloqueio imposto à Faixa de Gaza.

Conflito Hamas-Israel

2008-2009

Alcance dos mísseis lançados pelo Hamas a partir da Faixa de Gaza

Em 27 de dezembro de 2008, caças israelenses F-16 lançaram uma série de ataques aéreos contra alvos em Gaza após o colapso de uma trégua temporária entre Israel e o Hamas. As Forças de Defesa de Israel disseram que o ministro da Defesa, Ehud Barak, a instruiu a se preparar para uma operação de seis meses antes do seu início, utilizando planejamento de longo prazo e de inteligência. Vários lugares que estavam sendo usados ​​como depósitos de armas foram atingidos: delegacias de polícia, escolas, hospitais, mesquitas, armazéns da ONU, vários edifícios do governo do Hamas e outras construções.

Israel disse que o ataque foi uma resposta aos ataques de foguetes do Hamas ao sul de Israel, que totalizavam mais de 3 000 até 2008 e que se intensificaram durante as semanas que antecederam a operação. Equipes médicas palestinas afirmaram que pelo menos 434 palestinos foram mortos e cerca de 2 800 ficaram feridos, sendo muitos civis e um número desconhecido de membros do Hamas, nos primeiros cinco dias de ataques israelenses em Gaza. A FDI negou que a maioria dos mortos fossem civis, fornecendo evidências de que o Hamas deliberadamente escondia suas armas e combatentes em “mesquitas, pátios de escolas e casas de civis” para deter um ataque e explorar as regras de combate de Israel. O governo israelense começou uma invasão terrestre da Faixa de Gaza em 3 de janeiro de 2009 e rejeitou muitos pedidos de cessar-fogo, até os dois lados declararem um cessar-fogo unilateral.

Explosão em Gaza depois de um ataque israelense, janeiro de 2009

Cerca de 1 100 e 1 400 palestinos e treze israelenses foram mortos durante os 22 dias de conflito. Depois de Israel declarar o cessar-fogo, o Hamas prometeu continuar a batalha se as forças israelenses não deixassem a Faixa de Gaza.

O conflito danificou ou destruiu dezenas de milhares de casas, 15 dos 27 hospitais de Gaza e 43 de suas 110 unidades de cuidados primários de saúde, 800 poços de água, 186 estufas e quase todos as suas 10 mil fazendas familiares; deixando 50 000 desabrigados, 400 000 a 500 000 sem água corrente, um milhão sem eletricidade e resultando em grave escassez de alimentos.

Em fevereiro de 2009, a disponibilidade de alimentos voltou aos níveis pré-guerra, mas houve falta de produtos frescos devido aos danos sofridos pelo setor agrícola.

2012

Uma escola da ONU danificada e as ruínas do Ministério do Interior em Gaza, dezembro de 2012

Em 14 de novembro de 2012 as hostilidades recomeçaram com o lançamento de centenas de mísseis pelo Hamas contra o sul de Israel durante quatro dias consecutivos e com o início da “Operação Coluna de Nuvem“, como resposta do governo israelense. Ao longo do andamento do conflito, Israel respondeu novamente aos ataques de foguetes. Na operação, o chefe militar do Hamas foi morto.

Em 21 de novembro de 2012, um cessar-fogo, mediado pelo Egito, foi oficialmente declarado pelo Hamas e por Israel. Ambos os lados declararam-se vitoriosos nos combates.

De acordo com estimativas do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), em 26 de novembro, 224 israelenses e 1 269 palestinos haviam sido feridos durante a operação.

2014

Uma escalada de violência israelense ocorreu após a morte de três adolescentes israelenses na Cisjordânia no final de junho de 2014. Como “vingança”, um jovem palestino foi queimado vivo em Jerusalém. Logo após a descoberta dos corpos dos três jovens, Israel iniciou uma ofensiva contra o Hamas. Aviões de guerra passaram a bombardear Gaza destruindo casas e instituições e foram realizadas execuções extrajudiciais. Os ataques israelenses causaram a morte de 1 100 palestinos. O Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas aprovou em 23 de julho de 2014 uma resolução que condena Israel por sua ofensiva militar contra Gaza e também cria uma comissão própria para investigar crimes e violações do direito internacional na empreitada. Entre os 47 países-membros do conselho, a resolução foi aprovada por 29 votos favoráveis — todos os países latino-americanos, incluindo o Brasil, apoiaram a proposta — e 17 abstenções (AlemanhaItáliaFrança e Reino Unido permaneceram neutros). Os Estados Unidos foram os únicos a se opor à proposta, assinalando que o conteúdo do documento é “destrutivo” e que em nada contribui para o fim das hostilidades.

Ruínas de Beit Hanoun após um bombardeio israelense

2018-2019

Manifestantes palestinos durante os protestos de 2018

Em 2018, protestos na fronteira de Gaza com Israel de 2018–2019, chamados de Grande Marcha do Retorno, ocorreram todas as sextas-feiras de março de 2018 até dezembro de 2019. Os manifestantes exigiram que os refugiados palestinos tenham permissão para retornar às terras de onde foram deslocados no que hoje é Israel. Eles também protestaram contra o bloqueio de Israel a Gaza e o reconhecimento pelos Estados Unidos de Jerusalém como capital de Israel.

As primeiras manifestações foram organizadas por ativistas independentes, mas a iniciativa foi logo endossada pelo Hamas, assim como por outras facções importantes em Gaza. Os ativistas que planejaram a Grande Marcha do Retorno pretendiam que durasse apenas de 30 de março (Dia da Terra) a 15 de maio (Dia da Nakba), mas as manifestações continuaram por quase 18 meses até que o Hamas em 27 de dezembro de 2019 anunciou que seriam adiadas.

2021

Ficheiro:Operation Guardian of the Walls, May 2021. XXIII.webm
Bombardeio israelense contra a Faixa de Gaza, 12 de maio de 2021

Em maio de 2021, ocorreram confrontos entre manifestantes palestinos e a polícia israelense sobre uma decisão planejada da Suprema Corte Israelense sobre despejos de palestinos em Sheikh JarrahJerusalém Oriental. Os confrontos, que coincidiram com os feriados de Laylat al-Qadr e o Dia de Jerusalém, resultaram em mais de trezentas pessoas feridas, a maioria delas civis palestinos e mais de vinte palestinos mortos. Os ataques atraíram condenação internacional para ambos os lados e resultaram no adiamento da decisão da Suprema Corte em trinta dias, depois que o procurador-geral de Israel procurou reduzir as tensões. Em 9 de maio, depois que os palestinos no Monte do Templo estocaram placas, pedras e fogos de artifício, as forças policiais israelenses invadiram a Mesquita de Al-Aqsa, um importante local sagrado para os muçulmanos, antes de uma marcha de judeus nacionalistas que foi posteriormente cancelada, realizada no feriado israelense do Dia de Jerusalém.

Ficheiro:Palestine fires rockets at Israel, 14 May 2021.ogv
Mísseis sendo lançados pelo Hamas contra Israel, 14 de maio de 2021

Durante as duas semanas de conflito, grupos palestinos como o Hamas e Jihad Islâmica dispararam mais de 4 000 foguetes contra Israel a partir de Gaza, dirigidos primeiramente à região central israelense, inclusive Jerusalém e Bete-Semes, e depois contra cidades israelenses fronteiriças, Asquelom e Asdode, e na direção de Telavive, que causaram a morte de pelo menos onze civis israelenses e um militar, além de dezenas de feridos, bem como danos de extensões variadas a residências e escolas em Israel. Desde o início do disparo dos foguetes palestinos, as Forças de Defesa de Israel empreenderam uma campanha de bombardeios localizados contra as bases militares e tubos de lançamento de foguetes palestinos, os quais se situam aterrados dentro da área urbana da Faixa de Gaza, densamente povoada por civis palestinos. Mais de 230 palestinos foram mortos, incluindo comandantes de organizações islamitas, operadores de foguetes e civis palestinos, especialmente em Gaza, no decorrer das hostilidades, como resultado dos bombardeios israelenses e de centenas de foguetes palestinos que caíram dentro de Gaza, sem chegar ao espaço aéreo israelense. Em 20 de maio, após onze dias de intensos hostilidades, Israel e Hamas concordaram com um cessar-fogo, que entrou em vigor na madrugada do dia seguinte. Naquela altura, mais de 280 pessoas já tinham morrido (a maioria palestinos).

Geografia

Imagem de satélite da Faixa de Gaza em 2005.

A Faixa de Gaza está localizada no Oriente Médio (31° 25′ N, 34° 20′ L). Tem 51 quilômetros de fronteiras com Israel e uma fronteira de 11 km com o Egito, perto da cidade de RafahKhan Yunis está localizada a 7 km a nordeste de Rafah e várias cidades ao redor de Deir el-Balah estão localizadas ao longo da costa entre ela e a Cidade de GazaBeit Lahia e Beit Hanoun estão localizadas ao norte e ao nordeste da Cidade de Gaza, respectivamente. O complexo de assentamentos israelenses de Gush Katif costumava existir nas dunas adjacentes a Rafah e Khan Yunis, ao longo da margem sudoeste dos 40 quilômetros da costa mediterrânica do território. A praia de Al Deira é um local popular para os surfistas.

Clima e recursos naturais

território palestino tem um clima árido, com invernos suaves e secos e verões quentes e sujeitos à seca. O terreno é plano ou levemente ondulado, com dunas próximas à costa. O ponto mais alto é ‘Awdah (Joz Abu ‘Auda), a 105 metros acima do nível do mar. Os recursos naturais incluem terras cultiváveis ​​(cerca de um terço da tira é irrigada) e, recentemente, descobriu-se reservas de gás natural na área. Entre os problemas ambientais estão a desertificaçãosalinização da água doce; tratamento de esgoto precário; doenças transmitidas pela água; degradação do solo e o esgotamento e contaminação dos recursos hídricos subterrâneos. A Faixa de Gaza é largamente dependente da água de Wadi Gaza, que também serve como um recurso para Israel.

Demografia

Vista de Gaza, a maior cidade do território.

A população da Faixa de Gaza é de 1 428 757 habitantes (dados de julho de 2006). Cerca de 60% da população é composta por refugiados chegados nas duas vagas geradas pelas guerras de 1948-1949 e de 1967; os restantes são populações nativas. Quase toda a população habita as cidades, das quais se destacam GazaKhan YunisRafah e Dayr al-Balah. Outras cidades menores são Beit HanounAbasan al-KaberaJabaliyaBeit Lahiya, sendo que são poucas as fazendas, devido à falta de espaço. Por causa disso, praticamente todos os alimentos consumidos na região são importados de outros locais.

A Faixa de Gaza tem uma das populações mais jovens do planeta, com 48,1% da população enquadrada na estrutura etária entre os 0 e os 14 anos. A taxa de crescimento anual da população é de 3,71% e a esperança média de vida é de 71,97 anos.

A maioria dos habitantes da Faixa de Gaza são muçulmanos sunitas, com uma minoria cristã. A língua predominante no território é o árabe, seguida do hebraico – antigamente muito falado, hoje tende a não ser aprendido pelos jovens (falar hebraico em Gaza não é bem visto); o inglês é compreendido por alguns habitantes, sendo crescente a sua aprendizagem.

Religião

Grande Mesquita de Gaza em 2009

islamismo é a religião de 99,8% da população, que segue o ramo sunita do islã. Os outros 0,2% são adeptos do cristianismo, população que tende a diminuir. Nem todas as pessoas são muito religiosas, mas ultimamente Gaza como um todo está se tornando mais influenciada pela religião. Depois que o Hamas venceu as eleições de 2006, assumindo efetivamente o poder em 2007, havia prometido não impor a religião aos habitantes de Gaza, mas vem forçando a adoção de preceitos religiosos pelos cidadãos. Advogadas, por exemplo, passaram a ser obrigadas a usar o hijab nos tribunais, para cobrir os cabelos. Cabeleireiros do sexo masculino são proibidos de cortar os cabelos de mulheres,

O número de cristãos na Faixa de Gaza é estimado entre 2 500 e 5 000, muitos deles idosos. A grande maioria é greco-ortodoxa, e há cerca de 300 católicos (rito latino). Em 1894, havia 196 500 cristãos árabes na Palestina (incluindo o atual Estado de Israel). De 13% da população, eles passaram a menos de 2% hoje.

Política, administração e fronteiras

Controle da Autoridade Palestina

Os Acordos de Oslo definiram a Autoridade Palestina como a autoridade administrativa da Faixa de Gaza (exceto dos assentamentos israelenses e de áreas militares) em 1994. Depois da retirada israelense em 12 de setembro de 2005, a Autoridade Palestina tinha autoridade administrativa completa na Faixa de Gaza.

Controle do Hamas (2007-presente)

Bandeira do grupo Hamas, que atualmente controla o território palestino.

Em 2006, o partido Hamas venceu as eleições parlamentares palestinas. Desde junho de 2007, o partido assumiu efetivamente o controle da Faixa de Gaza, após confronto armado com o Fatah. O espaço aéreo e o acesso marítimo à Faixa de Gaza são atualmente controlados pelo Estado de Israel, que também ocupou militarmente o território entre junho de 1967 e agosto de 2005.

Eleição legislativa palestina na Faixa de Gaza

DistritosHamasFatahVotos válidos
Gaza Norte35 78146,95%31 55941,41%76 212
Gaza74 81656,70%48 32836,64%131 894
Deir el Balah26 55043,87%28 68147,39%60 518
Khan Younis35 07043,96%38 38448,11%79 786
Rafah20 78540,39%27 39553,23%51 461
Total193 00248,27%174 34743,60%399 871

Fronteiras

Um dos túneis usados na fronteira entre a Faixa de Gaza e o Egito.

O território da Faixa de Gaza é cercado por muralhas, tanto do lado egípcio quanto israelense. Em 2010, Israel anunciou a construção de uma barreira de mais de 100 quilômetros, ao longo da fronteira com o Egito, bloqueando metade da linha de separação entre os dois países. “Esta é uma decisão estratégica para garantir o caráter judaico e democrático do Estado de Israel”, declarou o premiê israelense, Benjamin Netanyahu.

Desde 2009, o governo egípcio também está construindo uma barreira subterrânea de aço, que deverá ter 11 km de extensão e chegar a uma profundidade de 18 metros, visando impedir que túneis clandestinos possam romper o isolamento da Faixa de Gaza. A fronteira entre o Egito e Israel tem 255 quilômetros, e as duas cercas previstas vão cobrir quase a metade dessa extensão. As Nações Unidas estimam que até 80% do que é importado pela Faixa – desde xampú até automóveis – chega por meio dos túneis.

Bloqueio militar

Mapa do território palestino com as restrições nas fronteiras terrestres e aquáticas impostas pelo governo de Israel

bloqueio à Faixa de Gaza continuou após a Operação Chumbo Fundido, embora Israel permitisse ajuda humanitária médica em quantidades limitada. A Cruz Vermelha afirmou que o bloqueio prejudicou a economia e provocou uma escassez de medicamentos e equipamentos básicos, como analgésicos e filmes de raio-x.

O diretor do Shin Bet (Agência de Segurança de Israel), Yuval Diskin, não se opôs a flexibilização das restrições comerciais, mas disse que os túneis de contrabando para a Península do Sinai e um porto aberto na Faixa de Gaza colocariam em perigo a segurança nacional. De acordo com Diskin, o Hamas e a Jihad Islâmica tinham contrabandeado mais de “5 000 foguetes com um alcance de até 40 quilômetros.” Alguns dos foguetes poderiam chegar até os subúrbios da área metropolitana de Tel Aviv.[104] Mark Regev, porta-voz do gabinete do primeiro-ministro israelense, descreveu as ações de Israel como “sanções”, não um bloqueio, mas um consultor jurídico para Gaza da UNRWA, chamou o bloqueio de “uma ação que descumpre a lei internacional”.

Em julho de 2010, primeiro-ministro britânicoDavid Cameron, criticou o bloqueio israelense, dizendo que “bens humanitários e de pessoas devem fluir em ambas as direções. Gaza não pode e não deve ser autorizada a permanecer como um campo de prisioneiros”. Em resposta, o porta-voz da embaixada israelense em Londres, disse: “O povo de Gaza são os presos da organização terrorista Hamas. A situação em Gaza é o resultado direto do governo e das prioridades do Hamas.”

As Forças de Defesa de Israel (FDI) controlam rigorosamente as viagens dentro da área dos pontos de passagem entre Israel e a Faixa de Gaza e fechou a sua fronteira com Gaza. O ambiente de segurança dentro de Gaza e ao longo de suas fronteiras, incluindo a sua fronteira com o Egito e seu litoral, é perigoso e instável.

Barreira israelense na fronteira com Faixa de Gaza.

Enfrentando a crescente pressão internacional, Egito e Israel diminuíram as restrições na fronteira em junho de 2010, quando a passagem de Rafah do Egito para Gaza foi parcialmente aberta pelo governo egípcio. O Ministério das Relações Exteriores do país disse que a travessia permaneceria aberta principalmente para as pessoas, mas não para o abastecimento. Israel anunciou que iria permitir a passagem de bens civis, mas não de armas e itens que poderiam ser usados ​​para fins ambíguos.

Em janeiro e fevereiro de 2011, o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) realizou uma avaliação dos efeitos das medidas para aliviar as restrições de acesso. Eles concluíram que apenas a flexibilização não resultaria em uma melhora significativa na subsistência da população do território. Eles descobriram que a “natureza fundamental das restrições remanescentes” e os efeitos de três anos de rigoroso bloqueio impediram uma melhora significativa nos meios de subsistência e apelaram para Israel abolir completamente o bloqueio, incluindo a remoção de restrições à importação de materiais de construção e às exportações de bens e de acabar com a proibição geral sobre o movimento de pessoas entre Gaza e a Cisjordânia através de Israel, com o objetivo de cumprir com o que eles descreveram como obrigações humanitárias internacionais e de direitos humanos.

Economia

Vista da região oriental da cidade de Gaza

A economia de Gaza se deteriorou desde o fim da Segunda Intifada, devido tanto a densidade populacional de Gaza quanto as restrições de segurança impostas ao território. A política de cerco de Israel, ampliada após o Hamas ter chegado ao poder em 2007, levou a altos níveis de pobreza e desemprego, além de um colapso quase total do setor privado, que era fortemente dependente de mercados de exportação. A população é em grande parte dependente de ajuda humanitária, principalmente de agências da Organização das Nações Unidas (ONU).

No entanto, uma flexibilização da política de cerco imposta por Israel em 2010 resultou em uma melhora de alguns indicadores econômicos, mas exportações regulares provenientes da Faixa de Gaza ainda estão proibidas.[111] De acordo com as Forças de Defesa de Israel (FDI), a economia da Faixa de Gaza melhorou em 2011, com um queda no desemprego e um aumento do PIB. O tenente-coronel Kobi Gertzvolf, da FDI, afirma que novos shoppings abriram e que a indústria local está se desenvolvendo. O tenente-coronel Gertzvolf afirma que o crescimento econômico tem levado à construção de hotéis e um aumento na importação de carros.

Campus da Universidade Islâmica de Gaza.

O desenvolvimento em larga escala tem sido possível graças à livre circulação das mercadorias em Gaza através do cruzamento de Kerem Shalom e de túneis clandestinos construídos na fronteira entre a Faixa de Gaza e o Egito. A taxa atual de caminhões que entram em Gaza através de Kerem Shalom é de 250 por dia. Este número varia dependendo do nível de interferência das mercadorias trazidas do Egito para Gaza através de túneis. O aumento na atividade de construção levou a uma escassez de trabalhadores da construção civil. Para compensar o déficit, os jovens do território estão sendo enviados para estudar e trabalhar na Turquia.

Infraestrutura

Aeroporto Internacional Yasser Arafat, em Rafah, destruído pelas forças israelenses em 2001-2002.

A Faixa de Gaza tem uma pequena e pobre rede de estradas e uma simples rede ferroviária ligando o norte ao sul do território palestino. Esta, no entanto, encontrava-se abandonada nos últimos anos.

O Aeroporto Internacional de Gaza (posteriormente renomeado Aeroporto Internacional Yasser Arafat) foi inaugurado a 24 de novembro de 1998, mas suas atividades foram encerradas em outubro de 2000 por ordem do governo de Israel. Em 2001, a pista do aeroporto foi destruída pelas Forças de Defesa de Israel, inviabilizando seu funcionamento. A Faixa de Gaza possui um heliporto.

Quem é você, Gaza?

Por Daniela Kresch

Quem é você, Gaza?

Às margens do Mar Mediterrâneo, as lindas praias da Faixa de Gaza poderiam receber turistas do mundo todo como Riviera Francesa do Oriente Médio. Mas a realidade não poderia ser mais inversa. Na Gaza de 2018, poucos entram e saem. Turistas em busca de um balneário? Nem pensar.

Por que Gaza não é a “Cingapura” do Oriente Médio? Por que se tornou sinônimo de violência e conflito?

Para entender a Faixa de Gaza, é preciso compreender que se trata de um pedaço de terra mínimo localizado em um ponto estratégico. Tem uma área de apenas 365 km², equivalente a um quarto da cidade de São Paulo, que fica na encruzilhada entre África, Europa e Ásia. Por lá, marcharam um sem número de imperadores com seus povos e generais com seus exércitos nos últimos 5 mil anos.

No território, com apenas 41 km de costa e de 6 a 12 km de largura, vivem hoje entre 1,8 milhão e 2 milhões de palestinos (o número exato não é consenso). Segundo o site americano Demographia, a Cidade de Gaza (maior centro urbano da Faixa de Gaza), é a 40ª cidade mais densamente populada do mundo (dados de 2014).

A sensação de asfixia é assinalada pelo fato de que as fronteiras de Gaza com os vizinhos Egito e Israel estão praticamente fechadas desde 2007, quando o grupo terrorista Hamas tomou o controle, à força, da região após expulsar de lá toda a cúpula da facção palestina rival, o Fatah.

HISTÓRIA DE CONQUISTAS

Mas, como Gaza chegou a esse ponto? A verdade é que o conflito israelense-palestino é um grão de areia na história milenar desse ponto de encontro entre três continentes. Os registros começam em 3300 AC, com os primeiros assentamentos humanos nessa área, chamada na época de Canaã. Desde então, Gaza passou muitas vezes pelas mãos dos egípcios. A capital era Tell al-Ajjul, no local onde hoje está a Cidade de Gaza. Gaza se tornou um ponto cobiçado nas guerras cíclicas entre Egito, Síria e Mesopotâmia. Por volta do século XII, se tornou a capital dos filisteus, um povo marítimo mediterrâneo.

Foi por volta dessa época que passou a estrelar nos relatos bíblicos. Os filisteus se consolidaram como os principais rivais dos israelitas. Gaza é mencionada na Torá (a Bíblia judaica) diversas vezes. Foi lá que Sansão foi traído por Dalila. A Torá também conta como os israelitas tomaram Gaza na época do Rei Davi, se tornando parte do Reino de Israel.

Nos séculos seguintes, passou pelas mãos de assírios, babilônios, macedônios, gregos, selêucidas e egípcios. Em 96 AC, foi a vez dos hashmoneus (dinastia judaica conhecida também como macabeus) tomarem as rédeas, até a chegada dos romanos. Durante essa, Gaza viveu um de seus períodos mais prósperos.

O NOME “PALESTINA”

Quando o Império Romano decidiu punir os judeus depois de duas rebeliões judaicas, em 66 (que levou à destruição do Segundo Templo Judaico de Jerusalém, quatro anos depois), e entre 132-135 (com Bar Kochba), Gaza foi a inspiração. Para irritar os judeus, Roma renomeou a região da Judeia e atual Síria como Síria-Palestina, em homenagem aos rivais filisteus (ou “palestinos”, como eles diziam). O nome “Palestina” pegou.

A conversão de Gaza ao cristianismo aconteceu aos poucos até os séculos IV e V. Mas, em 637, a população adotou o islamismo com a chegada dos muçulmanos. Com o passar dos séculos, viveu épocas de prosperidade e de declínio sob domínio dos cruzados, dos mongóis e dos otomanos. Em 1799, Gaza foi ocupada brevemente por Napoleão Bonaparte, que chamou a cidade de seu “Porta para a Ásia”.

No século XIX, Gaza fortaleceu os laços com o Egito depois de ser ocupada pelo país vizinho até 1840, quando foi novamente retomada pelos otomanos.

PRIMÓRDIOS DO CONFLITO

Pode-se dizer que o atual contexto de Gaza começa no início do século passado, quando, em meio a perseguições na Europa e motivados pelo movimento sionista, centenas de milhares de judeus europeus começaram a imigrar para a Palestina. Em Gaza, entre a maioria muçulmana, havia uma minoria de judeus e de cristãos.

Em 1917, os britânicos colocaram um ponto final no domínio otomano. Foi um momento de renascimento, com aumento populacional e modernização. Com o incremento da imigração judaica para a Palestina, no entanto, os conflitos em judeus e árabes se proliferaram. O bairro judaico de Gaza foi destruído em 1929 e as 50 famílias judias da cidade fugiram.

Em 1936, novos confrontos entre judeus e árabes eclodiram em meio a um caldeirão de tensões que já começava a borbulhar. Antes mesmo da Segunda Guerra Mundial, os ingleses já consideravam entregar os destinos da Palestina aos líderes locais. Em 1947, a recém-criada ONU tentou justamente isso ao aprovar um plano de Partilha da Palestina entre árabes e judeus. Mas, se os judeus, sob o comando de David Ben-Gurion, aceitaram o plano, a liderança árabe o rejeitou.

Em 1948, Ben-Gurion declarou unilateralmente a criação do Estado de Israel e, com a guerra que se sucedeu, a Cidade de Gaza e seus arredores passaram ao controle do Egito. Cerca de 250 mil palestinos se deslocaram para lá durante a guerra, fugidos ou expulsos.

Em fevereiro de 1949, Egito e Israel riscaram as fronteiras da Faixa de Gaza, que ficou sob controle egípcio por quase 20 anos.

RELAÇÃO COM O EGITO

Segundo o ativista de direitos-humanos Muhammad Shehada, os egípcios sempre trataram os palestinos de Gaza com desdém. “Todos os regimes militares egípcios isolaram Gaza, culparam os moradores pelos problemas do Cairo e semearam o medo, a humilhação e a miséria entre a população palestina do enclave”.

Na guerra contra Israel, em 1948, o Egito recusou-se a anexar a Faixa de Gaza, mas sim a cercou, instalou uma força de ocupação composta de inteligência militar e nomeou um governador militar.

“Gaza se tornou a última prioridade do Egito, que se recusou a assumir qualquer responsabilidade sobre sua então população de 1 milhão de pessoas. A posição do regime egípcio era de nunca aceitar o ônus sobre Gaza, mas sim de responsabilizar Israel como a força de ocupação, posição que mantém até agora”, diz Shehada. Além disso, a campanha de perseguição doméstica de Gamal Abdel Nasser contra a Irmandade Muçulmana, facção islâmica radical criada em 1928, levou a prisões arbitrárias em larga escala de ativistas, sindicalistas e intelectuais palestinos na Faixa de Gaza – onde mantinha muita influência.

A situação mudou brevemente em 2011, depois da Primavera Árabe no Egito, que derrubou o presidente Hosni Mubarak. Com a vitória eleitoral de Mohamed Morsi (2012-2013), ligado à Irmandade Muçulmana, as fronteiras com Gaza foram reabertas, a população claustrofóbica deixou de ser aprisionada, a economia prosperou.

Mas essa época de ouro foi de curta duração. Com a eleição do general Abdel Fattah el-Sisi, a tradicional visão de Gaza como berço de terroristas ligados à Irmandade Muçulmana voltou com força total. Sisi isolou Gaza do mundo novamente, a culpando pelas repetidas crises do Egito.

“Agora, é quase uma ofensa punível ser um gazano no Egito”, diz Muhammad Shehada. “A população do Egito, sujeita à propaganda interminável do Estado, teme o contato com os moradores de Gaza como se eles tivessem a praga, ou um defeito moral contagioso”.

SOB CONTROLE DE ISRAEL

Com a vitória na Guerra dos Seis Dias, em 1967, a Faixa de Gaza foi ocupada por Israel, que passou a construir pequenas comunidades na região (as chamadas “colônias”). A administração civil de Gaza foi mantida, mas houve, desde o começo, reclamações quanto à intervenção de Israel em assuntos locais. Apesar do crescimento econômico anual de 9%, em média, entre 1967 e 1982, a repulsa a Israel cresceu ano a ano.

Os primeiros casos de luta armada contra Israel começaram imediatamente depois de 1967. Na Primeira Intifada (1987), Gaza se consolidou como um centro de resistência/terrorismo contra Israel. Foi nesse ano que o Hamas surgiu, uma organização islamista sunita inspirada na Irmandade Muçulmana do Egito que prega a destruição de Israel e a instalação da Lei Islâmica em todo mundo. O Hamas é oficialmente registrado como organização terrorista pela União Europeia, pelos Estados Unidos, por Israel e por outros países.

O Hamas se tornou popular especialmente por causa de seu braço assistencialista, mas é o infame ramo paramilitar, as brigadas Izz ad-Din al-Qassam, que torna o grupo temido. Paradoxalmente, muitos israelenses se lembram dessa época – dos anos 70 e 80 – como uma espécie de “época de ouro”, quando podiam ir fazer compras em Gaza, ir às praias e interagir com os moradores da região. Milhares de gazanos trabalhavam em Israel, principalmente na construção civil. Havia pólos industriais e comerciais conjuntos entre empresários israelenses e palestinos.

Em 1993, com os Acordos de Oslo, a Faixa de Gaza se tornou parte formal da Autoridade Palestina, um órgão de autogoverno que deveria ser temporário, mas que existe até hoje, governado pelo partido Fatah. Junto com Cisjordânia e Jerusalém Oriental, Gaza faz parte do sonho palestino de formar um Estado nacional independente reconhecido por todo o mundo, incluindo Israel.

Mas se os Acordos de Oslo pareciam promissores há 25 anos, eles se depararam com obstáculos que parecem intransponíveis até hoje, como o fortalecimento de grupo islâmicos que optam pela luta armada contra Israel através de ataques terroristas – Hamas e Jihad Islâmica – e a oposição política dentro de Israel à retirada de colônias na Cisjordânia e à divisão de Jerusalém.

Desde 2001, grupos extremistas em Gaza começaram a atacar Israel com foguetes do tipo Qassam, morteiros e mísseis russos ou iranianos. Foram mais de 17 mil projéteis até hoje, que mataram 44 pessoas e feriram mais de duas mil.

Em 2005, Israel se retirou totalmente de Gaza: 21 colônias com 8 mil pessoas foram deslocadas para dentro de Israel. Críticos afirmam que o então primeiro-ministro israelense, Ariel Sharon, errou em se retirar unilateralmente, sem firmar acordo algum com a Autoridade Palestina. O resultado seria um vácuo de poder explorado pelo Hamas.

Em 2006, o Hamas venceu as eleições parlamentares palestinas. Um ano depois, em 2007, o grupo tomou o poder à força em Gaza depois de uma confronto com os rivais do Fatah (legítimos governantes através do presidente eleito em 2005, Mahmoud Abbas). No conflito  entre as duas facções, o Hamas saiu-se vencedor de uma guerra civil entre janeiro de 2006 e maio de 2007 que deixou 600 mortos.

Com a subida ao poder do Hamas, a antes efervescente fronteira entre Gaza e o resto do mundo se tornou uma barreira. Dos seis postos de fronteira entre Israel e a Faixa de Gaza, só dois funcionam – parcialmente – hoje: o de Kerem Shalom (para mercadorias) e o de Erez (para pessoas). E o maior posto de fonteira, o de Rafah, com o Egito, fica praticamente fechado desde o começo do governo Sisi.

Apesar da retirada israelense, as Nações Unidas, organizações internacionais de direitos humanos e a maioria dos governos e comentaristas legais consideram o território ainda ocupado por Israel, apoiado por restrições adicionais impostas a Gaza pelo Egito. Israel controla o espaço aéreo e marítimo. Gaza depende de Israel para a água, eletricidade, telecomunicações e outros serviços públicos.

GRANDES CONFLITOS

De 2009 até hoje, o Hamas e Israel entraram em conflito três vezes. O motivo é sempre o mesmo: os ataques aéreos de Gaza contra Israel, que paralisam todo o sul do país e levam centenas de milhares de pessoas a se abrigarem em bunkers. Por causa desses ataques, todas as comunidades em volta de Gaza dispõem de abrigos antiaéreos e sirenes. Os moradores têm, em média, 15 segundos para procurar refúgio quando as sirenes tocam.

O primeiro conflito (27 de dezembro de 2008 a 19 de janeiro de 2009) é chamado em Israel de Operação “Chumbo derretido”. O Hamas chegou a atacar cidades como Beer Sheva e Ashdod com mísseis de médio alcance. Israel atacou, em resposta, locais de treinamento e depósitos de armas do Hamas. Houve ataques israelenses também a mesquitas e escolas de onde Israel alega que militantes do Hamas lançaram foguetes e mísseis usando civis como escudos humanos. O saldo de mortos é de cerca de 1,2 mil palestinos e 13 israelenses.

O frágil cessar-fogo durou pouco e a situação de violência escalou novamente até o segundo conflito, em outubro de 2012, chamado de “Operação Pilar Defensivo”, com cerca de 150 mortos palestinos e 22 israelenses. Pela primeira vez, Tel Aviv foi alvo.

Mas o maior confronto aconteceu em 2014, a Operação “Margem Protetora”, que começou com o sequestro e morte de três adolescentes israelenses por membros do Hamas na Cisjordânia. No conflito, cerca de 2,2 mil palestinos e 72 israelenses morreram (incluindo om trabalhador estrangeiro tailandês). Os grupos palestinos lançaram 4,5 mil projéteis contra Israel, sendo que 735 foram interceptados no ar pelo sistema antiaéreo israelense. Domo de Ferro. Israel, por sua vez, atacou 5,2 mil alvos em Gaza, a maioria deles vinculados ao Hamas. Mas os ataques também destruíram 10 mil casas e danificaram 90 mil.

Pela primeira vez os palestinos fizeram uso de sofisticados túneis subterrâneos clandestinos, alguns com quilômetros de distância. Esses túneis começam em Gaza e terminam além de fronteira, dentro de Israel. Militantes palestinos podem se infiltrar em vilarejos israelenses para cometer sequestros e ataques terroristas (foi através de um desses túneis que o Hamas sequestrou o soldado israelense Gilad Shalit, em 2006).

SITUAÇÃO ATUAL

Atualmente, Gaza vive uma situação humanitária sem precedentes. Só há energia elétrica poucas horas por dia. Falta água potável e equipamentos médicos. O desemprego chega a 45% (62% entre os jovens).

Israel alega que isso acontece porque o Hamas usa bilhões de dólares em ajuda internacional para esforços de guerra contra Israel ao invés de utilizar em melhorias para a população civil, que controla com mão de ferro, reprimindo opositores. Os palestinos alegam que isso é resultado direto do bloqueio das fronteiras por Israel e Egito. O resultado é uma população civil frustrada e asfixiada.

A frustração levou à realização, em março deste ano (2018), de protestos na fronteira com Israel organizados, a princípio, por ativistas sociais, mas logo adotados pelo Hamas. No dia 30 de março, 40 mil palestinos marcharam em direção à cerca que marca a fronteira com Israel, na chamada “Marcha do Retorno”. Soldados israelenses impediram a infiltração em massa. Mais de 60 palestinos morreram.

Segundo Yohanan Tzoreff, da INSS, desde a Primeira Intifada (1987-1990), multidões de palestinos não participaram em tamanha manifestação. “A severa situação em Gaza, juntamente com os sentimentos generalizados de inferioridade e discriminação, pode acender um fogo quando for a hora certa e houver motivos imediatos. A realidade de hoje é mais severa do que no passado e a divisão entre as facções enfraqueceu os palestinos e impediu qualquer ação efetiva. No entanto, os anúncios do presidente Trump sobre Jerusalém e a realocação da embaixada dos EUA para Jerusalém forneceram um denominador comum para unir as fontes do poder palestino”, diz Tzoreff.

FUTURO

O futuro de Gaza depende das posições do Hamas e do posicionamento de Israel diante do grupo terrorista. Os pessimistas acham que Gaza poderá continuar a ser usada como base paramilitar contra Israel pelo Irã, por exemplo. Ou que Israel poderá decidir reocupar militarmente a região. Os poucos otimistas acham que é possível negociar uma “hudna” (trégua) entre Israel e Hamas, com o Egito funcionando como moderador em eventuais e pontuais confrontos.

Mas a maioria acredita que, enquanto o Hamas estiver no poder, nada vai realmente mudar.“Iniciativas, soluções pacíficas e conferências internacionais estão em contradição com os princípios do Movimento de Resistência Islâmica. A jihad se torna o dever individual de todo muçulmano em face da usurpação da Palestina pelos judeus. Essas crenças são o pano de fundo para a violência. Enquanto o Hamas governa Gaza, soluções completas para os problemas de Gaza devem ser buscadas, mas parece muito improvável que elas sejam encontradas”, diz Amr Hamzawy, estudioso do Instituto Carnegie Endowment for International Peace.

http://institutobrasilisrael.org/noticias/noticias/quem-e-voce-gaza

https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Faixa_de_Gaza

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