Corpus Christi

A Solenidade de Corpus Christi ou Corpus Domini (expressão latina que significa Corpo de Cristo ou Corpo do Senhor), e generalizada em Portugal como Corpo de Deus, é uma comemoração litúrgica católica que ocorre na quinta-feira seguinte ao domingo da Santíssima Trindade, que, por sua vez, acontece no domingo seguinte ao de Pentecostes. É uma Festa de Guarda, em que a participação da Santa Missa é obrigatória, na forma estabelecida pela conferência episcopal do país respectivo.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Corpus_Christi

Duas perspectivas distintas

Nota de esclarecimento sobre a festa de “Corpus Christi”

Para efeitos didáticos, seis grandes grupos cristãos não católicos herdeiros das Reformas Religiosas do século XVI na Europa compõem o que convencionalmente chamou-se de protestantismo. Esses atendem pelos nomes de Igreja Luterana, Igreja Presbiteriana, Igreja Anglicana, Igreja Metodista, Igreja Congregacional e Igreja Batista.

Na tradição protestante, durante a celebração da Ceia do Senhor ou Eucaristia traz-se à memória o ensino de Jesus Cristo de que a Igreja não poderia se esquecer que Ele entregou o seu corpo e sangue na cruz por toda a humanidade a fim de redimi-la e reconectá-la com Deus.

Desta maneira, este ato celebrativo visa rememorar o sacrifício de Cristo com a ingestão de um pedaço de pão e um pouco de suco da uva.

Já no catolicismo, por instituição do Papa Urbano IV em 1264, além do ato eucarístico comumente realizado em todas as celebrações cúlticas, foi determinado um dia para festejar o Corpo de Cristo – Corpus Christi ou Corpus Domini – vivo e presente no pão e suco da Ceia. Este evento estava previsto para ocorrer na quinta-feira da Semana Santa, no entanto, a sua realização oficial passou a acontecer na primeira quinta-feira após o domingo da Santíssima Trindade.

Entre os protestantes, a última Ceia de Jesus com os seus discípulos é lembrada na Semana Santa e no catolicismo aguarda-se o domingo de Pentecostes e o subsequente domingo da Ressurreição para que na quinta-feira a grande festa do Corpo de Cristo se realize.

A principal diferença entre católicos e protestantes se coloca sobre a interpretação da Eucaristia. Para os primeiros, o pão e o suco se transformam misteriosamente em Corpo e Sangue de Cristo, e, para os segundos, trata-se apenas de um memorial, ou seja, uma lembrança. E a outra divergência entre os dois grupos cristãos é que, no catolicismo, o pão é servido para os membros da igreja e o suco é tomado apenas pelo líder religioso, o clérigo.

Uma vez que o protestantismo não se orienta pelas decisões da Igreja Católica e existem dois posicionamentos diferentes com relação à Ceia do Senhor, as Igrejas Protestantes realizam a Eucaristia exclusivamente como memorial e quatro comunidades específicas – Presbiteriana, Metodista, Congregacional e Batista – não celebram a festa de Corpus Christi. No Anglicanismo e Luteranismo, a celebração do “Corpo de Cristo” é praticada com significado protestante.

http://portal.metodista.br/pastoral/reflexoes-da-pastoral/nota-de-esclarecimento-sobre-a-festa-de-201ccorpus-christi201d

Por trás do Corpus Christi

“Em memória mim” (Lc 22. 19).

A solenidade litúrgica e o feriado de Corpus Christi são eventos e momento que ou causam alguma confusão ou, na verdade, são ignorados pela ampla maioria dos cristãos evangélicos no Brasil e no mundo.

De fato, as controvérsias em torno da Eucaristia não são novas, não é exatamente uma questão havida apenas nos dias da Reforma Protestante. Os pais apostólicos, como Inácio de Antioquia, se viram às voltas com disputas acirradas com os gnósticos que possuíam uma interpretação exageradamente mística desta celebração. Devido às várias interpretações que desde cedo este sacramento recebeu, não poucos autores da patrística foram forçados a dizer algo a respeito. Muitos documentos de orientação litúrgica e instrução catequética foram publicados para conduzir a Igreja em meio as suas dúvidas. Aqui encontramos as Constituições Apostólicas, a Didaquê, As Tradições de Justino e Hipólito, as Catequeses Mistagógicas e numerosos sermões.

Talvez, por causa de tantos desencontros a palavra que mais prevaleceu entre os cristãos antigos para a celebração do memorial do Senhor foi: “Os santos mistérios”. Este mistério não significava que havia algo de nebuloso e arcano, acessado apenas pelos iluminados, mas a comunicação de uma graça invisível prometida a todos os que, crendo, obedeciam ‘fazendo isso em memória de mim’. Por quase mil anos a Igreja cristã ocidental e oriental esteve unida pela mesma Mesa Eucarística, expressão maior de sua indivisível comunhão e unidade. As diferenças entre as duas expressões da Igreja se davam mais em torno de ênfases do que em substância. A Eucaristia era sinal, símbolo, presença, sacramento e memorial. A presença nunca foi, de fato, negada pelo cristianismo histórico. Mas, nunca foi uma presença física, local e substancial. Antes, essa presença era espiritual, real e nunca nos elementos, mas na assembleia reunida para a celebração.

O reducionismo teológico da Eucaristia a uma concepção de simples lembrança e de ausência de qualquer graça comunicada vem à tona com força, pela primeira vez, com os ensinos do monge francês Berengário, Mestre Escola na Catedral de Chartres e professor de Teologia em Tours.

Berengário foi duramente perseguido e depois processado em um dos Concílios do Latrão e forçado a voltar atrás em suas ideias e ensinamentos. O “mal”, porém, estava feito. Seus ensinos alcançaram os séculos XII e XIII e foram difundidos pelo arcebispo Maurino de Narbone que sofreu uma dura advertência do Papa Clemente IV em 28 de outubro de 1267. Numa carta enviada pelo pontífice com o título de “Quanto Sincerius” a doutrina da Transubstanciação1 seria consolidada no magistério oficial católico. Antes disso, porém, em 11 de agosto de 1264 o papa Urbano IV instituiu a festa de Corpus Christi, ainda sem a procissão com os elementos eucarísticos. Foi uma resposta a Berengário e àqueles que desposaram as suas ideias. Este costume de celebrar um dia festivo em honra do Corpo e Sangue de Cristo já existente na piedade popular ignorante de Bíblia e Doutrina, estendeu-se para toda a Igreja ocidental. Tomás de Aquino foi o encarregado pelo papa de criar um ofício litúrgico para essa nova celebração. Em 1317 o papa João XXII publicaria a Encíclica Clementina ordenando o dever da procissão com a Eucaristia pelas vias públicas.

Vale ressaltar que esta solenidade, bem como a afirmação da Transubstanciação, selou de vez a ruptura da comunhão entre ocidente e oriente já muito combalida por outras questões. De sorte, que esta solenidade é desconhecida e estranha aos cristãos orientais e ortodoxos, tanto como para os protestantes em geral.

O século XVI trouxe novas controvérsias em torno do tema. Os protestantes só concordaram entre si ao discordarem todos da Missa católica. No mais, Luteranos, Calvinista e Zwinglianos, para ficar apenas nesses, nunca chegaram a concordar plenamente sobre o assunto.

Resta-nos saber se há alguma coisa a ser aproveitada pelos evangélicos do século XXI a respeito da superlativa importância dada pelo católicos a esse sacramento.
À parte do exagero e, claro, da grassa idolatria de um elemento criado, no caso o pão, em muitos contextos evangélicos, tradicionais e conservadores inclusive, a Ceia do Senhor tem sofrido cada vez maior indiferença e desprezo até. Muitos até substituem-na por outros “novos velhos” sacramentos, como unções, fogueiras, abluções em água, “arcas”, “templos sagrados” etc.

A pompa de Corpus Christi deveria ser um convite para os evangélicos retornarem com piedade, reverência e gratidão à singeleza do pão e do vinho como sinal de pertença e comunhão com Aquele que esperamos voltar um dia; aí, sim, em Corpo e Sangue glorificados para a vida do crente.

Nota:
1. Transubstanciação é a conjunção de duas palavras latinas: trans (além) e substantia (substância), e significa a mudança da substância do pão e do vinho na substância do Corpo e sangue de Jesus Cristo no ato da consagração. Isto significa que esta doutrina defende e acredita na presença real de Cristo na Eucaristia. É adotada pela Igreja Católica. A Igreja Ortodoxa, Igreja Anglicana e Igrejas Calvinistas, creem na presença real, mas não na transubstanciação. Fonte: Wikipédia 


Luiz Fernando Dos Santos
É ministro da Igreja Presbiteriana Central de Itapira (SP) e professor de Teologia Pastoral e Bioética no Seminário Presbiteriano do Sul, de Filosofia na Faculdade Internacional de Teologia Reformada (FITREF) e de História das Missões no Perspectivas Brasil.

https://www.ultimato.com.br/conteudo/por-tras-do-corpus-christi