Quando as situações de crise atingem nossa fé

      Às vezes, determinadas circunstâncias da vida atingem nossa fé, levando-nos a um enorme dilema, a ponto de perguntarmos: “Se Deus existe mesmo, então porque é que ele permite que tal coisa aconteça?”. Nesse momento, parece haver uma discrepância entre aquilo que a pessoa crê e aquilo que ela está vivenciando. O pensamento sobre a inescrutável justiça divina de pronto cria uma tensão à luz dessa experiência negativa e automaticamente exige uma explicação.

       Quando sucessivas coisas desagradáveis acontecem conosco (doenças, tragédias, injustiças, etc.), sentimo-nos desamparados. Oramos, e o Senhor parece ficar em silêncio. O aparente silêncio de Deus torna-se um verdadeiro desafio à nossa fé. Na verdade, Deus envia uma resposta, mas não conseguimos entendê-la. Pensamos, então, que o Senhor desamparou-nos, e é ai que entramos em conflitos.

       Todos nós estamos sujeitos a ter uma “crise de fé“, principalmente em momentos de desespero ou quando não somos atendidos por Deus da maneira que queremos. Isso porque não entendemos que o Senhor é livre para agir ou não do modo como Ele quer. Nós também nos esquecemos de que os caminhos deles são mais altos do que os nossos caminhos, e os seus pensamentos, mais altos do que os nossos pensamentos (cf.Is 55:9).

       Dessa forma, o Senhor responde-nos à maneira dEle, às vezes simplesmente dando-nos consolo em meio à crise, para sairmos fortalecidos , ao superarmos nosso conflitos. Deus nunca erra. Embora às vezes, suas respostas possam parecer estranhas para nós, devemos sempre permanecer firmes no Senhor, porque Ele nunca nos abandona.

A Bíblia mostra que alguns homens de Deus, como Jó (Jó3:5_25), Davi (Sl 69:1_30) e Elias (1ªRs 19:1_25), viveram momentos de conflitos, dúvidas, estresse e enfrentaram a depressão. Por isso, eles questionaram seu Senhor e a sua justiça. Apesar de tudo, eles superaram esses momentos cruciais quando compreenderam os propósitos de Deus.

       Gideão é um exemplo claro de alguém que estava saturado da vida que levava. Ele demonstra sua desilusão e descrença total na providência de Deus quando ouve do anjo do Senhor a expressão “[…]O Senhor é contigo, varão valoroso” (Jz 6:12).

Jz 6:13,14

“Mas Gideão lhe respondeu: Ai, Senhor meu, se o Senhor é conosco, por que tudo isto nos sobreveio? E que é feito de todas as suas maravilhas que nossos pais nos contaram, dizendo: Não nos fez o Senhor subir do Egito? Porém agora o Senhor nos desamparou, e nos deu nas mãos dos midianitas.
Então o Senhor olhou para ele, e disse: Vai nesta tua força, e livrarás a Israel das mãos dos midianitas; porventura não te enviei eu?”

       Por vezes, esperamos soluções milagrosas e, quando isso não acontece, ficamos decepcionados. As soluções, porém, estão em nossas mãos. Basta crermos e agirmos. Veja a solução apresentada por Deus a Moisés, quando este clama ao Senhor diante do Mar Vermelho: “Então, disse o Senhor a Moisés: Por que clamas a mim? Dize aos filhos de Israel que marchem. E, tu, levanta a tua vara, e estende a tua mão sobre o mar, e fende-o para que os filhos de Israel passem pelo meio do mar em seco” (Êx 14:15_16).

       O salmista Asafe também viveu momentos conflitantes. Ao ver a prosperidade dos ímpios, ele questionou se valia mesmo a pena ser justo. Você já imaginou o que significa para um obreiro questionar a justiça de Deus? Parece paradoxal, não é? Mas não se assuste, porque até mesmo você poderá viver momentos de dúvidas.

       Quando observou a prosperidade dos ímpios, Asafe duvidou da justiça de Deus. A sua fé foi abalada: “[…]Os meus pés quase se desviaram […] ao ver a prosperidade dos ímpios” (Sl 73:2_3) Asafe pensou em vão manter-se puro: “Eis que estes são ímpios; e, todavia, estão sempre em segurança, e lhes aumentam as riquezas. Na verdade que em vão tenho purificado o meu coração e lavado as minhas mãos na inocência” (Sl 73: 12_13).

       O salmista buscou ao Senhor e conseguiu entender como seria o final dos ímpios. “Quando pensava em entender isto, foi para mim muito doloroso;
Até que entrei no santuário de Deus; então entendi eu o fim deles” (Sl 73:16,17).

       O profeta Habacuque também viveu momentos de conflitos em sua vida. Ele expressava a sua perplexidade sobre o ministério da maldade não castigada no mundo. Ele questionava a Deus por não executar imediatamente o juízo.

       O profeta Habacuque viveu essa experiência ao não entender porque Deus permitia que a crescente iniquidade de Judá prosseguisse impunemente. O profeta procurava uma explicação para isso e francamente expressava suas dúvidas. Depois de um diálogo com Deus, ele compreende o plano divino e louva ao Senhor com um lindo salmo ( Hc 3:17_19).

       Habacuque, quando via os homens flagrantemente violando a Lei de Deus, relutava em sua fé e questionava: por que Deus às vezes não executa o juízo sobre o ímpio? O profeta falava como se fosse a consciência da nação: “Até quando, Senhor, clamarei eu, e tu não me escutarás? […] Por que razão me fazes ver a iniquidade e ver a vexação? […]a lei se afrouxa, e a sentença nunca sai […]” (Hc 1:2_4).

       Deus mostra a Habacuque que, embora, algumas vezes, pareça ser indiferente, Ele está agindo e, no tempo certo, castigará a nação de Judá. Ele enviará os caldeus, que viriam de forma súbita como vara do seu juízo (Hc 1:5_11). Ninguém fica impune diante de Deus. 

       Ao ouvir a resposta de Deus, o profeta fica ainda mais perplexo. O primeiro problema estava resolvido.

       Porém, Habacuque levanta outra questão: Por que Deus, às vezes, usa o ímpio para fazer juízo? Como um Deus justo, cujos olhos são extremamente puros, aprovará que o seu povo seja castigado por uma nação que é ainda mais perversa? (Hc 1.12; 2:1).

       Deus responde essa questão mostrando que está cônscio dos pecados babilônios e que eles também, não ficarão impunes, mas sofrerão um terrível juízo. Judá está sendo castigada por ser culpada das mesmas ofensas.

       Habacuque aprendeu preciosas lições. A sua profecia, que se iniciou com perguntas, dúvidas e questionamentos, termina com certeza e afirmações de fé: “[…] Mas o justo, pela sua fé, viverá” (Hc 2:4). Deus assegura ao profeta que a fé paciente termina vencedora. Viver pela fé significa desfrutar do favor de Deus e das suas bênçãos.

       Outro exemplo foi Elias – de herói a vítima -, que teve um profícuo ministério, abençoado e confirmado por Deus. Quem não desejaria ter um ministério tão brilhante assim? Elias possuía autoridade de Deus a ponto de dizer ao rei Acabe: “[…]Vive o SENHOR Deus de Israel, perante cuja face estou, que nestes anos nem orvalho nem chuva haverá, senão segundo a minha palavra“.(1ª Rs 17:1).

       Elias tinha uma estreita comunhão com Deus e vivia sob a sua plena dependência. Veja a providência de Deus para a sua vida:

1ª Rs 17:3,4,7-9

Retira-te daqui, e vai para o oriente, e esconde-te junto ao ribeiro de Querite, que está diante do Jordão.
E há de ser que beberás do ribeiro; e eu tenho ordenado aos corvos que ali te sustentem.
E sucedeu que, passados dias, o ribeiro se secou, porque não tinha havido chuva na terra.
Então veio a ele a palavra do Senhor, dizendo:
Levanta-te, e vai para Sarepta, que é de Sidom, e habita ali; eis que eu ordenei ali a uma mulher viúva que te sustente” .

       Elias era um homem ousado; veja como ele desafiou os 450 profetas de Baal:

1ª Rs 18:23_24

Dêem-se-nos, pois, dois bezerros, e eles escolham para si um dos bezerros, e o dividam em pedaços, e o ponham sobre a lenha, porém não lhe coloquem fogo, e eu prepararei o outro bezerro, e o porei sobre a lenha, e não lhe colocarei fogo. Então invocai o nome do vosso deus, e eu invocarei o nome do Senhor; e há de ser que o deus que responder por meio de fogo esse será Deus[…]”.

       Elias possuía fé e confiança em Deus. Ele orou ao Senhor pedindo chuva e, quando viu uma nuvem do tamanho de uma mão, pediu a Acabe que fosse para casa imediatamente, pois iria chover. Elias também orou e o filho da viúva ressuscitou.

       Diante de coisas tão extraordinárias , como um homem assim poderia estar em crise? Veja, no entanto, o que lhe aconteceu após ele tomar conhecimento de que Jazebel, mulher de Acabe, queria matá-lo:

1ª Rs 19:4

“Ele, porém, foi ao deserto, caminho de um dia, e foi sentar-se debaixo de um zimbro; e pediu para si a morte, e disse: Já basta, ó Senhor; toma agora a minha vida, pois não sou melhor do que meus pais”.

       Elias, agora, é acometido por uma perda de significado da vida, desejando, assim morrer. De repente, de uma forma inexplicável,  grande herói transforma-se em vítima. Apesar disso, Deus não o desampara e envia um anjo que, por duas vezes, desperta-o para alimentá-lo, dizendo: “[…] Levanta-te e come, porque mui comprido te será o caminho” (1ªRs 19:7).

       Elias caminha 40 dias até o Monte Horebe e entra numa caverna. Em geral, a pessoa em crise esquiva-se dos problemas e entra num casulo, buscando esconder-se.

       Elias esperava que o Senhor viesse até ele. De repente, surgiu um grande e forte vento que fendia o monte e quebrava as pedras. Mas, para decepção do profeta, o Senhor não estava no vento. Em seguida, um terremoto e um fogo; o Senhor, porém, também não estava ali. Elias sente-se desamparado. Deus estava a todo momento com ele, mas era ele que não conseguia perceber.

       O Senhor finalmente aparece e, com uma voz mansa e delicada, pergunta: “[…]Que fazes aqui, Elias?” (1ªRs 19:13). Deus deseja saber por que o profeta escondera-se numa caverna. Elias, imediatamente responde:

1ª Rs 19:14

E ele disse: Eu tenho sido em extremo zeloso pelo Senhor Deus dos Exércitos, porque os filhos de Israel deixaram a tua aliança, derrubaram os teus altares, e mataram os teus profetas à espada, e só eu fiquei; e buscam a minha vida para ma tirarem.”

       Elias sentiu-se só. Ele foi acometido de um sentimento de autocomiseração ou autopiedade e acha que está sendo injustiçado e que não merece passar por tudo aquilo. Deus mostra que ele não está. Existem, pelo menos, 7 mil joelhos que não se dobravam a Baal. O profeta precisava continuar o seu ministério: “[…] Vai, volta pelo teu caminho[…] e vem ” (1ªRs 19:15).

       Voltar ao ponto de origem é imprescindível para uma restauração total. O profeta, já recuperado, faz o seu caminho de volta, unge a Hazael rei sobre a Síria; Jeú, rei sobre Israel, e Eliseu, profeta em seu lugar (1ªRs 19:15_21), enfrenta Acabe e Jezabel (1ªRs 21:17_29) e ordena que desça fogo do céu e consuma cem soldados do rei Acazias (2ªRs 1:1_13).

1 – Meios corretos de lidar com as crises:

Bibliografia:

Psicologia Pastoral

Jamiel de Oliveira Lopes

CPAD

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