Lista mundial de perseguição aos cristãos

A Lista Mundial da Perseguição (LMP) é uma das principais ferramentas da Portas Abertas para monitorar e medir a dimensão da perseguição aos cristãos no mundo, e existe há mais de 25 anos. Porém, a Portas Abertas já investigava a situação da Igreja Perseguida desde os anos 1970.

O departamento de pesquisa da Portas Abertas desenvolveu uma metodologia própria para o processo de elaboração da Lista Mundial da Perseguição, que se repete anualmente. O período da pesquisa da LMP 2019 foi 1/11/2017 a 31/10/2018.  A metodologia evoluiu gradativamente nos anos 1980-1990. Em 2012, foi totalmente revisada a fim de aumentar a credibilidade, objetividade, transparência e qualidade acadêmica. Em 2013 e 2016, novos refinamentos foram feitos para aprimorar a metodologia.

Situações de perseguição apresentam uma realidade bastante complexa. Às vezes, apenas viver em um mundo caótico cria desafios suficientes para cristãos e seus semelhantes. Outras vezes, pode resultar de antipatia ou ódio contra os cristãos (ou pode ser que, em uma dada situação, os cristãos tenham dificuldades tanto como cidadãos comuns quanto por sua fé – “dupla vulnerabilidade”), o que podemos considerar perseguição. A Portas Abertas, portanto, define:

A Portas Abertas, portanto, define:

O PROCESSO DE PESQUISA DA LISTA MUNDIAL DA PERSEGUIÇÃO

O sistema de monitoramento da perseguição aos cristãos se dá por meio de uma série de procedimentos desenvolvidos pela Portas Abertas. Para entender melhor a propagação e grau de perseguição em cada país, foram definidas quatro variáveis importantes:

1) Número de categorias do cristianismo afetadas pela perseguição

O cristianismo é organizado em categorias distintas: comunidades de cristãos expatriados, comunidades cristãs históricas, comunidades de cristãos convertidos e comunidades de cristãos não tradicionais. Isso é importante porque, dependendo do país, a perseguição pode ocorrer apenas a um determinado grupo de cristãos. A metodologia usa a proporção das categorias perseguidas do cristianismo como variável para pontuar o questionário final (que dá origem ao ranking dos 50 países da Lista Mundial da Perseguição), e não a proporção de todos os cristãos. Isso ocorre porque uma comunidade cristã vulnerável e muito pequena pode facilmente ser submetida a uma perseguição muito intensa. Ou dito de outra forma: uma comunidade cristã, como um grupo secreto de cristãos ex-muçulmanos  (Muslim Background Believers, MBB) também pode ser muito pequena devido ao fato de que eles enfrentam perseguição muito intensa. O uso dessa variável possibilita, por exemplo, descrever situações em países com uma população de MBB que é fortemente restrita e uma população cristã mais ampla que goza de relativa liberdade.

2) Proporção da população geral vivendo no território afetado pela perseguição

3) Intensidade da perseguição

4) Frequência da perseguição

O processo de pesquisa se repete anualmente e é feito a partir de três passos fundamentais:

1) Na etapa da análise global, será considerado dados de organizações internacionais com resultados da internet e outras buscas relacionadas a manifestações dos tipos de perseguição.

2) A etapa seguinte, investiga os primeiros dados com o uso de três ferramentas:

  • Questionário simplificado, enviado à especialistas da área, onde é revelado um bom panorama da situação, uma prévia dos países com mais perseguição.
  • Pesquisa global sobre a perseguição, possui estrutura semelhante ao questionário completo. Os especialistas responsáveis analisam e comentam as questões.
  • Ferramenta de estudo da vulnerabilidade, usada para estudar situações voláteis e ter noção das ameaças ou riscos específicos aos quais os cristãos estão vulneráveis, se são visados deliberadamente no meio do caos.

3) Na terceira etapa, questionário completo, a equipe de campo da Portas Abertas fica encarregada de extrair as informações sobre como os cristãos são perseguidos por causa da fé, por meio da rede de contatos-chave em cada um dos países pesquisados. A base para as perguntas do questionário é o “conceito das esferas”, criado para monitorar as expressões da perseguição em diferentes áreas da vida do cristão (pressão enfrentada em cada área) e a violência enfrentada, que atravessa potencialmente as 5 esferas de pressão. O questionário contém 84 questões, divididas em 6 blocos, referente às esferas de pressão (vida privada, família, comunidade, nação e igreja) e violência. Um bloco adicional traz mais 16 perguntas, não pontuadas, para contextualizar as informações. As esferas são:

As esferas são:

Veja mais detalhes sobre as esferas de pressão e violência ao final deste artigo.

Enquanto a violência pode ser medida pelo número de incidentes ocorridos, a pressão precisa ser estudada de forma diferente, discernindo como a vida cristã e o próprio testemunho estão sendo espremidos nas diferentes áreas da vida. A metodologia, portanto, nega a idéia de que quanto mais violência há contra os cristãos, mais perseguição deve haver, mas afirma que menos violência pode ir junto com níveis (muito) altos de pressão.

menos violência pode ir junto com níveis (muito) altos de pressão.

Um exemplo de um nível muito alto de pressão é a situação dos cristãos nas Maldivas. De todos os lados, eles enfrentam uma enorme pressão de amigos, vizinhos, familiares e do governo, o que significa que mal conseguem expressar a fé. Devido à grande pressão e controle, os cristãos não conseguem expressar a fé livremente. No entanto, se alguém procurasse uma lista de incidentes em que os cristãos foram agredidos, colocados na cadeia ou deportados, possivelmente encontraria poucos casos.

Em outras palavras, o grau de perseguição pode ser tão intenso que na verdade resulta em menos incidentes de perseguição, uma vez que os cristãos escondem a fé e atos de testemunho em público. Então, enquanto não há evidência de “fúria” contra os cristãos através da violência e prisões, a pressão é o que está matando a igreja. De fato, não é exagero dizer que muitos perseguidores preferem pressionar a igreja, ao invés de cometer um ato público de violência contra ela, na crença de que é uma forma mais bem-sucedida de destruí-la.

As perguntas referentes às esferas de pressão e violência são organizadas em um sistema de pontuação onde cada um dos blocos pode ter no máximo 16,7 pontos. A pontuação final do país é a soma dos resultados nos 6 blocos e é ela que vai determinar a posição do país na Lista Mundial da Perseguição, em uma escala de 0 a 100. Veja na imagem a seguir o exemplo da Índia, na pesquisa da Lista Mundial da Perseguição 2019:

Veja na imagem a seguir o exemplo da Índia, na pesquisa da Lista Mundial da Perseguição 2020:

*A soma dos resultados é arredondada para a escala final dos níveis de perseguição.

RANKING E NÍVEL DE PERSEGUIÇÃO DOS PAÍSES

Uma escala de 0 a 100 pontos, diretamente ligada às perguntas do questionário que cobrem as esferas da vida (vida privada, família, comunidade, nação e igreja) e violência, caracteriza o nível de perseguição por país. A escala é dividida em quatro categorias, baseadas em intervalos específicos de pontuação.

A escala é dividida em quatro categorias, baseadas em intervalos específicos de pontuação.

Os países com perseguição variável, que pontuam de 0 a 40, não entram na Lista Mundial da Perseguição. No entanto, aqueles que ficam com pontuação mais alta nesta categoria, entram para a lista de países em observação.

A pontuação final pode ser o resultado de diferentes tipos de perseguição. Por exemplo, um país pode ter uma pontuação alta devido à opressão islâmica, enquanto outro país tem uma pontuação semelhante devido à paranoia ditatorial. A metodologia permite fazer comparações entre diferentes situações de perseguição, já que seu ponto de partida é a pressão e a violência que os cristãos experimentam em suas diferentes esferas da vida. Se essa pressão ou violência se origina do mesmo ou de diferentes tipos de perseguição, isso não é relevante para as pontuações finais, embora seja para a narrativa do país.

QUAIS SÃO OS TIPOS PERSEGUIÇÃO QUE OS CRISTÃOS ENFRENTAM?

O termo “tipo de perseguição” é usado para descrever uma situação distinta que está causando hostilidade contra os cristãos. Essa situação pode ser considerada como a consequência de uma “dinâmica de poder” social. Essa dinâmica normalmente representa uma visão de mundo que tem uma reivindicação de superioridade sobre outras visões de mundo. Isso não é um problema por si só, desde que esteja associada a um verdadeiro sentido de pluralismo. Quando não é o caso, as fontes de perseguição (citadas logo abaixo), oriundas da dinâmica do poder, irão batalhar pela submissão absoluta da sociedade à sua visão de mundo.

Os 8 tipos de perseguição são: opressão islâmica, nacionalismo religioso, protecionismo denominacional, antagonismo étnico, opressão comunista e pós-comunista, intolerância secular, paranoia ditatorial e corrupção + crime organizado.

Os 8 tipos de perseguição são:

FONTES DE PERSEGUIÇÃO

As fontes de perseguição são os condutores/executores das hostilidades, violentas ou não violentas, contra os cristãos. Geralmente são grupos menores (radicais) dentro do grupo mais amplo de adeptos de uma determinada visão de mundo, que não representam necessariamente o grupo mais amplo, mas de alguma forma conseguem espaço suficiente para manobrar em direção ao seu objetivo.

Um exemplo é o islamismo no Norte da Nigéria. Não é que todos os muçulmanos querem se livrar dos cristãos dessa região através da conversão ou expulsão. No entanto, fortes impulsionadores da islamização são bem-sucedidos através de meios violentos e não violentos, tornando a vida dos cristãos no Norte da Nigéria cada vez mais difícil.

São 12 categorias distintas de fontes da perseguição, uma é relacionada ao governo e as demais são relacionados à sociedade: oficiais do governo, líderes de grupos étnicos, líderes religiosos não cristãos, líderes religiosos cristãos, grupos religiosos violentos, grupos de pressão ideológica, cidadãos e quadrilhas,parentes, partidos políticos, grupos paramilitares, redes criminosas e organizações multilaterais.

São 12 categorias distintas de fontes da perseguição

O discurso dos tipos de perseguição não é explicitamente contra cristãos e/ou igrejas. Um cenário possível é que as fontes de perseguição desses tipos estão completamente focadas em sua busca pelo poder e o que podem alcançar com isso. O cristianismo, em sua essência, ensina que o poder exclusivo não pertence às forças terrenas. E essa mensagem emana nas ruas, nos púlpitos ou talvez apenas nas casas, e é isso que frequentemente faz o cristianismo atrair a ira das fontes de perseguição.

Portanto, mesmo quando as fontes de perseguição não têm uma agenda anticristã explícita, mas estão simplesmente pressionando pelo poder exclusivo, as hostilidades contra os cristãos podem ser classificadas como perseguição. Da mesma forma, as expressões radicais religiosas, ideológicas e relacionadas à corrupção da busca pelo poder (exclusivo) que causam dano a cristãos e igrejas podem ser chamadas e analisadas como tipos de perseguição, mesmo quando não se baseiam em um manifesto anticristão.

OS TRÊS IMPULSOS FUNDAMENTAIS DA PERSEGUIÇÃO

A perseguição se manifesta quando cristãos e suas comunidades experimentam pressão e/ou violência especificamente relacionadas ao mecanismo de perseguição prevalecente no ambiente em que vivem, que os forçam a ceder às fontes de perseguição. O mecanismo de perseguição se forma a partir de três “impulsos” diferentes. Eles funcionam como “fontes de energia” que alimentam os 8 diferentes tipos de perseguição e são impulsionados por atores específicos, as fontes de perseguição, explicadas no tópico anterior. Os três impulsos fundamentais são:

EXCLUSIVISTA – sempre relacionado à forte convicção religiosa. O outro, que não pertence ao mesmo grupo, é visto como inferior ou infiel. Os tipos de perseguição diretamente relacionados ao impulso exclusivista são a opressão islâmica, o nacionalismo religioso, o antagonismo étnico ou protecionismo denominacional.

SECULARISTA – exerce uma pressão severa sobre indivíduos ou grupos que não aderem à ideologia dominante que é sempre antirreligiosa ou cética em relação à religião organizada em algum grau. O que conta é que os humanos ou a natureza são a única fonte de todas as normas e valores, sem inspiração ou orientação divina. Os principais tipos de perseguição relacionados ao impulso secularista são a opressão comunista e pós-comunista e a intolerância secular.

EXPLORATÓRIO – refere-se à ganância simples: obter o máximo de recursos possível para si mesmo e para o seu ambiente social, legal ou ilegalmente. Tudo é permitido. Enquanto no contexto dos impulsos exclusivista e secularista o poder é ativamente procurado para significar a supremacia de sua religião ou ideologia, o exploratório precisa de poder para salvaguardar seus interesses. Relaciona-se a dois tipos de perseguição: corrupção + crime organizado e paranoia ditatorial.

Os cristãos e suas comunidades vivem em um mundo que está longe de ser perfeito. Em maior ou menor grau, eles vivem em circunstâncias problemáticas, como fazem todos os outros habitantes das mesmas áreas. Embora essas questões possam fazer com que os cristãos se sintam pressionados ou violados, a metodologia não considera essa perseguição por si, mas se refere a ela como circunstâncias do mundo “caótico”. Esse é o pano de fundo contra o qual evoluem as situações de perseguição.

A perseguição frequentemente ocorre em contextos conturbados, difíceis e desestabilizados, como guerras, tensões étnicas, religiosas e ideológicas, conflitos políticos e sociais, corrupção, degradação ambiental e desastres naturais, pobreza, problemas psicológicos severos, doenças e violência doméstica. Esse pano de fundo influencia negativamente a resiliência dos cristãos quando eles são alvos das fontes de um ou mais tipos de perseguição.

COMO SABEMOS QUAIS SÃO AS HOSTILIDADES ENFRENTADAS PELOS CRISTÃOS?

Como dito anteriormente, o conceito das esferas de pressão e violência formam a base principal do questionário aplicado como terceira etapa da metodologia da pesquisa da Lista Mundial da Perseguição. É por meio dele que descobrimos as hostilidades enfrentadas pelos cristãos perseguidos com mais detalhes. Para cada esfera da vida do cristão, são atribuídas várias perguntas por meio das quais se identifica o nível de liberdade que o cristão possui em cada área.

VIDA PRIVADA: verifica-se o nível de liberdade do cristão em sua privacidade. Não se limita à casa particular, mas também pode se aplicar à prisão, por exemplo, ou a um passeio na rua. Isto é, independentemente de quem seja o agente desafiando essa liberdade. As perguntas feitas no questionário tratam de conversão, culto privado, posse de material religioso, liberdade de expressão (por exemplo, na palavra falada e/ou escrita, através de imagens e símbolos), acesso à informação e mídia, compartilhamento da fé com os outros no privado, liberdade de reunião privada e isolamento dos cristãos.

FAMÍLIA: verifica-se o nível de liberdade do cristão para viver suas convicções cristãs dentro do círculo da família, e quão livres são as famílias para conduzir a vida familiar de uma maneira cristã. As perguntas do questionário lidam com a alocação forçada de identidade religiosa, registro de assuntos civis, casamentos, batismos, enterros, adoções, criação de filhos, doutrinação de crianças, assédio ou discriminação contra crianças, separação de famílias, pressão para se divorciar, custódia de crianças e direitos de herança.

COMUNIDADE: verifica-se o nível de liberdade do cristão individual e coletivamente para viver suas convicções cristãs dentro da comunidade local (além da vida da igreja), e quanta pressão a comunidade coloca sobre os cristãos por atos de discriminação, assédio ou qualquer outra forma de perseguição. Essa vida comunitária inclui o local de trabalho, negócios, saúde, educação e vida pública local, e ordem cívica. As perguntas do questionário lidam com ameaça ou obstrução à vida cotidiana, regras de vestuário, monitoramento de cristãos, sequestro e casamento forçado, acesso a recursos comunitários, cerimônias comunitárias, participação em instituições e fóruns comunitários, pressão para renunciar à fé, acesso à saúde, acesso e desvantagens na educação, discriminação no emprego e obstrução nos negócios, e questões de policiamento (multas, interrogatórios e notificação forçada).

NAÇÃO: verifica-se o nível de liberdade do cristão em sua interação com a nação em que vive. Isso inclui direitos e leis, o sistema de justiça, a administração pública nacional e a vida pública. As perguntas do questionário tratam da constituição, registro de religião em documentos de identidade, objeção de consciência, viagem dentro e fora do país, discriminação por autoridades, impedimento de cargo público ou progresso profissional, interferência política em empresas, expressão de opinião em público, organizações cristãs da sociedade civil e partidos políticos, reportagens na mídia, campanhas de difamação, símbolos religiosos, acusações de blasfêmia, impunidade, igualdade de tratamento no tribunal e monitoramento de julgamentos.

VIOLÊNCIA: é definida como a privação da liberdade física ou como um dano físico ou mental grave aos cristãos ou sérios danos à sua propriedade. As perguntas do questionário lidam com o assassinato de cristãos, ataques a edifícios cristãos comunitários, detenção sem julgamento, prisão, rapto, estupro e assédio sexual, casamento forçado, outros danos físicos ou mentais, ataques a casas e empresas de cristãos e expulsão e fuga.

Os resultados finais da pesquisa da Lista Mundial da Perseguição são submetidos a um rigoroso sistema interno de checagem dos dados. É realizado uma série de verificações cruzadas por especialistas a fim de eliminar dúvidas e/ou inconsistências e garantir a credibilidade do processo. Entre eles, uma auditoria feita pelo Instituto Internacional para Liberdade Religiosa (International Institute for Religious Freedom – IIRF).

https://www.portasabertas.org.br/artigo/entenda-a-lista

http://www.cacp.org.br/lista-mundial-de-perseguicao-aos-cristaos/

Deixe um comentário