A Influência da Personalidade nas Relações Humanas

       De acordo com a Psicologia, o homem começa a ser pessoa quando é capaz de relacionar-se com os outros, quando se torna capaz de dar e receber e deixa o egocentrismo de lado.

       Deus criou o homem com a capacidade para estabelecer numerosas pontes de relacionamento interpessoal, mesmo que, desde o início, o pecado tenha influenciado nos conflitos interpessoais. No primeiro conflito registrado na Bíblia, vemos um homicídio. Caim matou Abel, seu irmão, por ter inveja deste.

1 – A complexidade das relações interpessoais

       O processo de socialização é algo progressivo e contínuo, que começa muito cedo na vida do ser humano. Assim que a criança nasce, ela passa a receber a influência do meio externo. A família é o primeiro grupo social com o qual a criança tem contato. A escola vem em seguida, sendo recebida muitas vezes com insegurança e medo, por representar um mundo até então desconhecido. A dificuldade de adaptação do indivíduo aos novos meios sociais muitas vezes dá-se devido aos choques de valores entre as famílias e as demais instituições.

       A forma como percebemos o mundo que nos rodeia, a aceitação do outro e a flexibilidade em relação ao diferente são fatores de grande importância nas relações interpessoais.

       Para que haja um inter-relacionamento, são necessários e imprescindíveis dois elementos: o “Eu” e o “Outro”. Segundo Powell e Brady (1995), a comunicação entre dois seres humanos é reconhecidamente difícil. Quando nos comunicamos, partilhamos alguma coisa, tornando essa coisa, posse comum.

       John Powell e Loretta Brady, na obra Arrancar Máscaras! Abandonar Papéis!, afirmam que, por meio da comunicação relacional humana, o que obtemos como posse comum somos nós mesmos, pois, pelo ato de partilhar ou comunicar, conhecemos e somos conhecidos.

       Apesar da complexidade do comportamento humano, há algo em comum em todas as pessoas: a capacidade de relacionar-se de forma consciente e voluntária uns com os outros, não havendo, assim, processos unilaterais na interação humana.

2 – A Convivência entre as pessoas

       Conviver ou “viver com” é a capacidade de partilhar a vida, as atividades com os outros. A convivência é formativa, pois ajuda no processo de reflexão, interiorização pessoal e autorregulação do indivíduo. Minicucci (1995) mostra que, quando convivemos com as pessoas, formando conceitos delas, e elas, por sua vez, formam conceitos nossos:

Pelo fato de vivermos em sociedade, oferecemos aos outros uma imagem de nós mesmos, assim como formamos conceitos sobre cada uma da pessoas que conhecemos, ou seja, cada um de nós tem um conceito das pessoas que conhece e cada uma delas tem um conceito de nós. Assim como depositamos em cada pessoa conhecida um capital de estima maior ou menor, temos com ela também a nossa cota, de acordo com o nosso desempenho pessoal e social.

       A capacidade de conviver harmoniosamente com o outro é considerada pelos estudiosos do comportamento como um dos principais sinais de maturidade psíquica. Minicucci (1995) mostra a opinião de Fritzen – grande teórico do comportamento humano – sobre a socialização do indivíduo:

De acordo com Fritzen (1998), a sociabilidade e a sociabilidade são as duas formas básicas de estabelecer relação com o meio. A sociabilidade faz parte da natureza humana: é a necessidade de comunicação ativa e passiva que se manifesta no indivíduo desde o seu nascimento. A socialidade vai depender das circunstâncias, do ambiente, no nível de participação da pessoa em nível social. Existem pessoas mais abertas e extrovertidas, que comunicam com facilidade suas impressões e estão sempre dispostas a receber as mensagens dos outros. São as pessoas que consideramos comunicativas e sociáveis. 

       Segundo Minicucci (1995), Fritzen reconhecia a influência da personalidade no processo de comunicação entre as pessoas. As diferenças entre as pessoas devem ser consideradas para que haja um bom relacionamento:

Outras pessoas são mais tímidas e introvertidas, propensas a reações de fechamento e de reserva, que sentem dificuldades na comunicação e podem mostrar-se inseguras até mesmo diante de suas próprias possibilidades. Há pessoas mais seletivas, que sentem dificuldade de extrapolar o círculo familiar, restringindo suas relações a pessoas próximas e em número reduzido; assim como existem pessoas que manifestam características de dominação, que gostam de impor sua vontade aos demais. Enfim, pondera Fritzen, os estilos e formas de sociabilidade variam muito e também dependem das situações, sendo necessário, para a boa relação interpessoal, certa disposição de ânimo e interesse pelo outro: ver e ser visto, escutar e ser escutado, compreender e ser compreendido.

3 – Os estados de ego

       Nossas atitudes para com o outro estão relacionadas ao nosso estado de ego. De acordo com a Análise Transacional(*), existem três estados de ego pelos quais agimos: o Estado de Ego Pai, o Estado de Ego Adulto e o Estado de Ego Criança. Estamos sempre agindo através desses três estágios:

  • Estado de Ego Pai – Exteropsiquê (formada a partir da influência de pais e familiares)
  • Estado de Ego Adulto – Neopsiquê (aquisição de informações, contato objetivo com a realidade)
  • Estado de Ego Criança – Arqueopsiquê (processos fisiológicos, experiências desde o nascimento, pensamento mágico, emoções, adaptações).

(*)=A Análise Transacional é um método psicológico criado em 1958 pelo psiquiatra Eric Berne de origem canadense e residente nos EEUU. Informalmente conhecida como AT, estuda e analisa as trocas de estímulos e respostas, ou transações entre indivíduos.

O Estado de Ego Pai é o reservatório de normas e valores, de conceitos e modelos de conduta, surge no indivíduo por volta dos três anos de idade e suas principais fontes são os pais, (ou substitutos) e outros familiares e pessoas que convivam com a criança e tenham uma figura de autoridade e importância na vida dela. Está sujeito a influências culturais e impõe à pessoa ações, regras e programas de conduta.

O Estado de Ego Adulto é a parte da personalidade do indivíduo que recebe informações de fora para dentro, as analisa, as compara e toma decisões baseado no seu banco de dados. É a parte racional do ser humano, que adquire conceitos pensados da vida desprovidos de influências sentimentais. Seria segundo Kertész, o hemisfério esquerdo do cérebro, nos destros. Sua função básica é trabalhar, estudar e operacionar.

O Estado de Ego Criança surge logo que se nasce. É o primeiro estado de Ego a emergir no ser humano e representa as emoções básicas como alegria, amor, prazer, tristeza, raiva e medo. Esta é a parte mais autêntica do ser humano e também a mais reprimida pela educação. Segundo Kertész(1977) representada pelo hemisfério direito do cérebro dos destros, hemisfério direito do cérebro dos destros, hemisfério esse que processa os sonhos, as imagens, estimulado quando se usa a criatividade e a arte.

       É preciso que haja um equilíbrio na forma como agimos. Uma pessoa imatura age constantemente pelo seu estado de ego criança, faz birra e fica ressentida com tudo. Quem porém, age com maturidade usa a sabedoria (Pv 14:1;15:2); reconhece as virtudes do outro (Pv 18:22; 31:10_31); fala a seu tempo (Pv 15:23); e anda no temor do Senhor (Pv 31:30; Sl 128).

4 – Alcançando a maturidade emocional

       A maturidade é caracterizada pela capacidade de tornarmo-nos mais competentes para lidar com as dificuldades da vida. Uma pessoa madura desenvolve uma boa tolerância às inevitáveis frustrações e contrariedades a que todos nós estamos sujeitos.

       Para adquirirmos a maturidade, precisamos de decisão, de posicionamento, de ação. Temos de ter consciência dos nossos atos e desejarmos mudar de atitude. Trata-se de deixar de agir de forma infantil e assumir um comportamento de adulto.

       O apóstolo Paulo escreveu: “Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino”(1ª Co 13:11).

       Existem algumas características  que demonstram  se a pessoa é ou não é madura:

a) Resiliência

       Uma pessoa madura torna-se resiliente. A resiliência é um aspecto psicológico, definido como a capacidade que o indivíduo possui para lidar com os problemas, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações. É a capacidade de absorver os golpes e, mais ou menos rapidamente, livrar-se da tristeza ou do ressentimento que possa ter sido causado por aquilo que o contrariou.

b) Flexibilidade

       A maturidade leva-nos a sermos flexíveis e encararmos com tranquilidade as próprias limitações, aceitando a opinião do outro e as decisões tomadas por um grupo, mesmo que sejam contrárias as suas. Uma pessoa madura está aberta para as mudanças.

c) Altruísmo

       Ser maduro emocionalmente é ser altruísta, voltado não apenas para si mesmo, mas também para os outros, buscando oportunidades de servir e ajudar. O profeta Isaías escreveu: “Um ao outro ajudou e ao seu companheiro disse: esforça-te” (Is 41:6). Somente ajudaremos nossos companheiros se tivermos maturidade suficiente.

d) Sabedoria

    A maturidade exige sabedoria para lidarmos com as situações da vida. Precisamos ter sabedoria para tomarmos decisões, para decidirmos problemas, para darmos uma palavra de conforto e para darmos um resposta sábia. 

Psicologia Pastoral – A Ciência do Conhecimento Humano como Aliada Ministerial

Jamiel de Oliveira Lopes – CPAD

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