As urnas auditáveis

Os críticos desse sistema apresentam estes argumentos para rejeitá-lo:

1) tempo de votação – muitas pessoas podem querer testar se o voto rejeitado é mesmo destruído e assim ficariam mais dentro da cabine, repetindo o processo várias vezes. Isso pode resultar em demoras no processo eleitoral em várias seções;

2) simulação de fraude – políticos mal-intencionados podem combinar com eleitores em várias seções eleitorais para que entrem na cabine e repitam o processo várias vezes e digam que a urna está computando o voto de maneira errada (ainda que isso não esteja acontecendo). Em alguns casos, podem obrigar a troca da urna. Tudo isso pode resultar em perda de tempo e processos mais longos de votação;

3) brecha para fraude – como os “votos impressos” serão guardados em milhares de seções eleitorais e serão manuseados para a contagem nesses locais, há sempre a possibilidade de haver cédulas falsas sendo preenchidas previamente para serem plantadas no momento em que as verdadeiras forem escrutinadas. Isso pode levar a fraudes que eram muito comuns no período em que o voto era apenas impresso e analógico.

https://www.poder360.com.br/eleicoes/conheca-o-argumento-a-favor-do-voto-impresso-auditavel-nas-urnas-eletronicas

As urnas eletrônicas foram utilizadas no Brasil pela primeira vez em 13 de maio de 1996. Completando 25 anos em 2021, o sistema foi desenvolvido por pesquisadores e técnicos de instituições como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e o Centro Técnico Aeroespacial (CTA).

A adoção do projeto foi considerada uma “revolução” nas eleições do país, que anteriormente eram realizadas por meio de cédulas de papel. Antes de ter um software específico, a contagem de votos era feita de maneira manual e bastante demorada.

“Eram eleições que não representavam a legitimidade do voto e a vontade do eleitor. Eleições feitas a bico de pena, com aproveitamento de votos em branco e outras fraudes”, disse Carlos Velloso, que era presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) quando as urnas eletrônicas foram instituídas.

Além de minimizar as possibilidades de fraude, o TSE pontuou que as urnas eletrônicas entregam agilidade, confiabilidade e segurança, bem como fortalecem a democracia brasileira.

Apesar de ter sido inaugurado em 1996, o primeiro pleito 100% informatizado no país foi realizado em 2000. Desde então, o TSE e os Tribunais Regionais Eleitorais (TRE) realizam a distribuição das urnas nos 4 cantos do país a cada 2 anos, no período de eleições.

Disputas políticas e voto impresso

Mesmo com o TSE negando supostos problemas, o assunto “urna eletrônica” acabou virando alvo de disputas políticas nos últimos anos. Há 2 décadas, legisladores brasileiros tentam fazer que o sistema eleitoral retorne ao modelo impresso ou pelo menos que a urna emita um comprovante de papel que prove o voto daquele eleitor. Falando sobre o tema há alguns anos, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a defender com ênfase essa segunda opção.

De acordo com ele, é preciso complementar o sistema eletrônico com um papel que serviria para conferência e garantia de qual candidato foi efetivamente escolhido.

“Com toda certeza nós aprovaremos no Parlamento e teremos, sim, uma maneira de auditar o voto por ocasião das eleições de 2022. Ganhe quem ganhar, mas na certeza, não na suspeição da fraude. Não podemos admitir isso porque o voto é essência da democracia e a sua contagem deve ser de conhecimento de todos e auditada para que realmente quem vocês, porventura, vierem a escolher no futuro, os represente”, chegou a argumentar o presidente durante um passeio com motociclistas no último fim de semana.

Qual é mais seguro?

Críticos sem filiação político-partidária dizem que o sistema brasileiro precisa, sim, ser revisto em alguns pontos. Uma das principais críticas é em relação justamente ao fato de que o voto precisa ser auditado fora do ambiente virtual.

“O voto impresso é uma proposta de, além de usar a memória eletrônica, registra os votos também em papel. Não é necessário conhecimento técnico para ler um número impresso em um papel. Por isso, essa forma de registro permite que todos os eleitores, mesmo pessoas leigas em tecnologia, possam participar da auditoria do processo eleitoral”, dizem os pesquisadores de Segurança da Informação Diego Aranha, Pedro Barbosa, Thiago Cardoso, Caio Lüders e Paulo Matias em um material técnico sobre as urnas eletrônicas.

voto impresso
Voto Impresso

O grupo participou dos testes públicos de segurança do TSE em 2017 e publicou diversos materiais sobre vulnerabilidades na urna. Os especialistas defendem um modelo específico de voto impresso em que o eleitor não levaria o comprovante para casa, já que esse sistema violaria o sigilo do voto e acarretaria grandes problemas em relação à compra de votos, por exemplo.

“Uma vez digitado o número do candidato, a máquina imprime e mostra o voto para o eleitor dentro de uma janela hermeticamente fechada. Após confirmar que o papel realmente contém o seu voto, o eleitor aperta a tecla ‘confirma’, fazendo com que a máquina corte o papel e o deposite em uma urna. Se houver algum problema, o eleitor pode apertar a tecla ‘corrige’, fazendo que a máquina imprima uma marca no papel indicando que ele é inválido antes de cortá-lo”, explicam.

Os especialistas dizem que a solução é essencial para tornar as eleições no país mais confiáveis e transparentes.

Urna eletrônica

Por outro lado, o TSE defende que a urna eletrônica é completamente segura e não precisa imprimir uma comprovação em papel do voto nem deve ser substituída pelo formato anterior do pleito, em cédulas.

De acordo com o órgão, o sistema “utiliza o que há de mais moderno em termos de segurança da informação para garantir a integridade, a autenticidade e, quando necessário, o sigilo. Esses mecanismos foram postos à prova durante os Testes Públicos de Segurança realizados em 2009 e 2012, nos quais nenhuma tentativa de adulteração dos sistemas ou dos resultados da votação obteve êxito”.

O Tribunal pontuou também que existem vários mecanismos de auditoria e verificação de resultados que podem ser feitos por candidatos e coligações, Ministério Público (MP), Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e eleitores.

TSE

Inclusive, sobre a conferência dos votos — justamente uma das críticas de quem pretende instituir o voto impresso —, a defesa do TSE é que a urna gera um boletim ao final da votação, o qual contém a apuração de todos os votos contabilizados pela urna em determinada seção eleitoral e é transformado em documento público no fim do certame.

O TSE já se posicionou veementemente de forma contrária ao voto impresso alegando que ele traria um custo muito maior para as eleições e que o modelo não daria retorno em segurança. O órgão considera a discussão um “retrocesso”.

https://www.tecmundo.com.br/seguranca/217126-voto-eletronico-impresso-seguro.htm

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Descanso de 11/07/2021 à 08/10/2021

É tempo de descanso. Ao longo de mais de dez anos tenho postado no blog(Inicio em 11/05/2010). Outrossim faço sistematicamente a inserção de novos posts, a cada trinta dias. Considero-me bem aventurado, pois pessoas não só da nação brasileira em seus diversos segmentos, mas também de várias partes do mundo tem acessado o blog, e se agradado dos textos (Aproximadamente 125 nações até 01/07/2021).

NOTA: Eu, particularmente acredito que este números tem relação:

-O próprio nome do blog “Sal da terra e luz do mundo” é um fator que favorece estes números, pois as pessoas de diferentes nações ao pesquisarem algo, encontram um link associado ao blog (https://saldaterraeeluzdomundo.wordpress.com), leem um texto, se agradam e provavelmente podem ler outros textos mais a frente.

-Acredito também que há muitos brasileiros que habitam nestas nações, e ao pesquisarem algo associado às escrituras sagradas encontram textos de interesse e podem acessar frequentemente o blog.

-Há também o fato de que pode não haver literatura na própria língua portuguesa disponível em editoras, livrarias, etc., nestas nações e na internet as pessoas “NAVEGAM LIVREMENTE” pelos diversos links e, querendo podem imprimir estes textos para uso pessoal ou coletivo.

-Outrossim, há muitos tradutores de boa qualidade, como o Google tradutor, que permitem que as pessoas possam traduzir os textos para a sua língua materna.

– Há casos também de perseguição religiosa, como aconteceu em Hong Kong, alguns anos atrás, pois em determinado momento houve muitos acessos ao blog desta localidade ( https://saldaterraeeluzdomundo.wordpress.com/missoes-2/hong-kong-2/hong-kong-e-o-blog-sal-da-terra-e-luz-do-mundo-2/), que me levou a pesquisar mais cuidadosamente as características de Hong Kong. Se vocês observarem cuidadosamente, há um link específico do blog para esta nação com vários sub-links.

Entendo que agora chegou o tempo de descansar novamente.

O blog “Sal da Terra e Luz do Mundo” tem cumprido o seu propósito.

São até o momento 278.320 acessos, com 177.177 visitantes e 1666 documentos publicados e 351 hinos ou louvores em 494 documentos publicados até 09-07-2021.

Ou seja, há muito conteúdo de cunho cristocêntrico (teologicamente centrado em Jesus Cristo) e cristológico (relativo a cristologia (https://pt.wikipedia.org/wiki/Cristologia)) disponibilizado.

Durante alguns meses não farei inserção de novos textos (11/07/2021 à 08/10/2021), pois reiniciarei as postagens a partir do dia 08/10/2021. Agora, não mais com postagens (vem de poster ou documentos liberados) a cada trinta dias, mas a cada três meses ou 90 dias. Talvez faça pequenas correções nas postagens ou paginas, durante estes períodos.

Neste ínterim quem acessar o blog poderá clicar em qualquer link, pois há muitos textos e temas diversos para edificação e ensino bíblico além destes hinos ou louvores, visto que há um link específico, conforme imagem abaixo, contendo em ordem alfabética estes diversos hinos ou louvores, entre outras coisas.

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Igreja Ortodoxa Copta

CopticAltar.jpg
Altar copta

Igreja Copta Ortodoxa de Alexandria

FundadorMarcos, o Evangelista
IndependênciaPeríodo Apostólico
ReconhecimentoOrtodoxia Oriental. 451 d.C., como Igreja distinta da Igreja Ortodoxa Grega de Alexandria
PrimazPapa Teodoro II de Alexandria
Sede PrimazAlexandriaEgito
TerritórioÁfrica
PossesAméricasOceaniaEuropa OcidentalOriente MédioSudeste Asiático
LínguaCopta (língua litúrgica tradicional), línguas locais
Adeptos20-25 milhões estimados no total (cerca de 18 milhões no Egito)

Igreja Copta Ortodoxa de Alexandria (em árabe: الكنيسة القبطية الأرثوذكسية, transl Al-Kanīsah al-Qibṭiyyah al-ʾUrṯūḏuksiyyah; em copta: Ϯⲉⲕ̀ⲕⲗⲏⲥⲓⲁ ̀ⲛⲣⲉⲙ̀ⲛⲭⲏⲙⲓ ̀ⲛⲟⲣⲑⲟⲇⲟⲝⲟⲥ, transl Tiekklesia Nremnkhemi Northodoksos, lit. ‘A Igreja Ortodoxa Egípcia’) é uma igreja cristã oriental ortodoxa baseada no EgitoÁfrica e Oriente Médio. O chefe da Igreja e da Sé de Alexandria é o Patriarca de Alexandria sobre a Sé de São Marcos, que também leva o título de papa copta. A Sé de Alexandria é titular, e hoje o papa copta preside a Catedral Copta Ortodoxa de São Marcos, no distrito de Abbasia, no Cairo. A igreja segue o Rito Alexandrino por sua liturgiaoração e patrimônio devocional, assim como as co-irmãs Igreja Ortodoxa EtíopeIgreja Ortodoxa EritreiaIgreja Católica EritreiaIgreja Católica Etíope e Igreja Católica Copta. Com 18 a 22 milhões de membros em todo o mundo, dos quais cerca de 15 a 18 milhões estão no Egito, é a igreja cristã nacional do Egito (copta significa egípcio) e uma das igrejas da Ortodoxia Oriental mais antigas do mundo. A maior igreja cristã do Norte da África, é governada pelo seu primaz, o Papa Teodoro II de Alexandria, juntamente com o seu Sínodo.

Segundo sua tradição, a Igreja copta foi estabelecida por São Marcos, o apóstolo e evangelista, em meados do século I (c. 42). Devido a disputas a respeito da natureza de Cristo, ela se separou do resto da cristandade após o Concílio de Calcedônia, em 451, resultando em uma rivalidade com a Igreja Ortodoxa Bizantina. Nos séculos IV e VII, a Igreja copta gradualmente se expandiu devido à cristianização do Império de Axum e de dois dos três reinos núbiosNobácia e Alódia, enquanto o terceiro reino núbio, Macúria, reconheceu o patriarca copta depois, num primeiro momento, estar alinhado com a Igreja Ortodoxa Bizantina.

Depois de 639, o Egito era governado por seus conquistadores islâmicos da Arábia, e o tratamento dos cristãos coptas variava da tolerância à perseguição aberta. No século XII, a igreja mudou sua sede de Alexandria para o Cairo. O mesmo século viu também os coptas se tornarem uma minoria religiosa. Durante os séculos XIV e XV, o cristianismo núbio foi suplantado pelo islamismo.

Em 1959, a Igreja ortodoxa da Etiópia recebeu autocefalia ou independência. Isso foi estendido à Igreja Ortodoxa Eritreia em 1998, após a bem-sucedida Guerra de Independência da Etiópia.

Desde a Primavera Árabe, em 2011, os coptas vêm sofrendo cada vez mais discriminação religiosa e violência.

História

Igreja copta em AmãJordânia
Bíblia escrita na língua copta

Os primeiros cristãos no Egito eram principalmente judeus de Alexandria, tais como Teófilo, a quem Lucas dirige o capítulo introdutório do seu evangelho. Quando a Igreja foi fundada, durante a época do imperador romano Cláudio, um grande número de egípcios, contrariamente a gregos e judeus, abraçou a fé cristã. Esta espalhou-se pelo Egito em poucas décadas, tal como se pode verificar nos escritos do Novo Testamento encontrados em Bahnasa, no Egito Médio, e que datam de cerca do ano 200, e de um fragmento do Evangelho segundo São João, escrito em língua copta, encontrado no Egito Superior e datado da primeira metade do século II.

No século IV um presbítero vindo do que é hoje a LíbiaÁrio, iniciou uma discussão teológica sobre a natureza de Jesus Cristo que se espalhou por toda a Cristandade. O Concílio de Niceia (325), convocado pelo imperador Constantino para resolver a questão levou à formulação do Credo de Niceia, ainda hoje recitado por todos os cristãos, e cujo autor é Santo Atanásio.

Um ponto definitivo da Igreja Copta se deu no Concílio de Calcedônia, no ano de 451. O Papa Dióscoro de Alexandria, protestando contra o que percebia como uma influência nestoriana na fórmula calcedoniana e contra a influência do Imperador Marciano, glorificado como santo pelos calcedonianos, convocou o Segundo Concílio de Éfeso, protegendo Eutiques como ortodoxo e separando-se do resto da Igreja. Como resultado, a maior parte da Igreja de Alexandria separou-se das restantes igrejas cristãs por causa das suas características miafisistas, com o remanescente diofisista subsistindo hoje na Igreja Ortodoxa Grega de Alexandria. Este cisma, subsistindo na chamada Ortodoxia Oriental, perdura até hoje.

A Igreja Copta Ortodoxa de Alexandria teve hegemonia regional por algum tempo, hegemonia esta que foi mantida mesmo algum tempo após a conquista muçulmana do Egito no ano de 639. Gradualmente, no entanto, as conversões ao Islã, largamente influenciadas pelos abusos contra cristãos e pela jizia, transformaram o Egito em um país majoritariamente muçulmano ainda por volta do século XII.

Em 1741, o bispo copta Atanásio de Jerusalém converteu-se ao catolicismo romano, sendo subsequentemente apontado pelo Papa Bento XIV como vigário apostólico de menos de dois mil coptas. Este bispo acabaria retornando para a Igreja Ortodoxa, mas em 1824 foi estabelecido um Patriarca de Alexandria em união com Roma, que progressivamente construiria igrejas praticando o rito alexandrino até que o Papa Leão XIII fatalmente restabeleceu a Igreja Católica Copta em 1895, hoje com sede em Cairo.

No caso da Etiópia, desde o século IV até 1959, o Papa de Alexandria, como Patriarca de Toda a África, sempre indicou um egípcio para ser abuna, ou Arcebispo da igreja local. Porém, em 1959, a Igreja Ortodoxa Etíope obteve finalmente o direito de ter o seu próprio Patriarca nativo, tornando-se assim autocéfala e independente da Igreja Ortodoxa Copta. Subsequentemente, em 1998 foi consagrado um patriarca para a Eritreia, devido à tensão da Guerra Eritreia-Etiópia, estabelecendo assim a Igreja Ortodoxa Eritreia.

Embora as igrejas copta, etíope e eritreia sejam independentes umas das outras, elas se mantêm em plena comunhão umas com as outras. No entanto, as igrejas Etíope e Eritreia ainda reconhecem a supremacia honorária do Papa de Alexandria, e, consequentemente, ainda têm seus respectivos Patriarcas, antes de sua entronização, necessariamente aprovados pelo sínodo da Igreja Copta, que é a Igreja-Mãe das igrejas etíope e eritreia.

Distribuição

Distribuição mundial dos ortodoxos coptas

O número de cristãos fiéis à Igreja Copta é de cerca de 16 milhões, estando distribuídos principalmente pelo Egito. A Igreja Copta, apesar dos conflitos atuais no país, tem crescido. Segundo representante da E3 Partners muitos muçulmanos têm se convertido em segredo.

Os coptas celebram o Natal em 7 de Janeiro, conforme o calendário juliano. Um costume curioso da Igreja Copta é que, em liturgias ordinárias, ainda se usa a copta, um descendente da língua egípcia, original do Antigo Egito. A Igreja funciona como uma das últimas comunidades preservando esta língua, sendo que, com os vários atentados contra a Biblioteca de Alexandria e a influência de outras línguas (principalmente a árabe) na antiguidade, a língua foi sendo esquecida aos poucos e, logo, tornou-se incompreensível, estando definitivamente extinta no máximo pelo século XVII. Porém, a Igreja Copta mantém viva a língua copta graças a seus ritos litúrgicos.

Coptas no Brasil

Desde 1993 está presente no Brasil, em missão, o Aboune Aghason Anba Paul. Ele atua como líder da Diocese Copta de São Marcos no Brasil, com sede na Catedral de São Marcos, na Rua São Borja, 201, no Jabaquara, São Paulo, SP. A presença eclesiástica no Brasil se deve, necessariamente, aos imigrantes coptas que se refugiaram no país. Há também um pequeno número de convertidos brasileiros que frequentam regularmente as liturgias que acontecem aos domingos pela manhã – rezada em três línguas: Copta, português e árabe.

Aboune Aghason Anba Paul foi ordenado Bispo pelo Patriarca da Igreja Copta, o Papa Shenouda III de Alexandria, no dia 11 de junho de 2006 na Catedral de São Marcos, no Cairo.

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

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Repouso sabático

Ricardo Barbosa de Sousa

Por que tem sido tão difícil servir a Deus em nossos dias? Por onde ando, encontro pastores, missionários, profissionais cristãos de várias áreas, jovens e adolescentes, todos cansados, desmotivados e desencorajados. Líderes reclamam da falta de compromisso, cada vez fica mais difícil encontrar voluntários para uma tarefa e muitos não encontram sequer motivação para ir à igreja. Aqueles que foram chamados para serem “sal da terra e luz do mundo”, para proclamar o evangelho das boas novas a todos os necessitados, angustiados e aflitos, em vez de serem parte da solução para o mundo tornam-se parte do problema.

Atribuímos às mudanças culturais, aos efeitos da modernidade, ao consumismo, narcisismo e tantos outros “ismos” do nosso tempo o cansaço e a apatia. Porém, nem sempre a causa é cultural. É possível que a origem do desânimo e da falta de motivação esteja mais dentro do que fora de nós.

Os discípulos de Jesus, depois de uma intensa atividade missionária, retornam exaustos e o Mestre lhes propõe o seguinte: “Vinde repousar um pouco, à parte, num lugar deserto”. Ele diz isso porque eles “não tinham tempo nem para comer, visto serem muitos os que iam e vinham” (Mc 6.31). O cansaço é uma realidade inerente a todos os que querem servir a Deus. Não temos como evitar isso. As demandas são muitas e, com frequência, não temos tempo para cuidar de nós mesmos, muito menos para descansar.

O convite para repousar num lugar deserto pode ser a resposta para o desânimo de muitos cristãos. A autora Marva Dawn diz que o propósito de separar um tempo para o descanso envolve quatro atividades necessárias para a recuperação e preservação da fé como expressão viva da confiança e do relacionamento com Deus: cessar, descansar, abraçar e celebrar.

Para entrar no repouso proposto por Jesus precisamos primeiro deixar todas as atividades de lado por algum tempo, seja por um dia ou pelo menos por algumas horas. Redes sociais, internet, agenda e celulares precisam ser desligados. Sair para um lugar deserto implica, literalmente, parar tudo, cessar todos os afazeres.

O descanso inicia quando interrompemos nossas atividades. Esse descanso proposto por Jesus não significa passar o dia dormindo ou passeando num shopping. É o repouso do Salmo 23 — “Ele me faz repousar em pastos verdejantes. Leva-me para junto das águas de descanso. Refrigera-me a alma” (v. 2-3). É somente quando entramos nesse recesso da alma que entendemos o significado do “nada me faltará”.

É aqui que podemos abraçar aquilo que somos em Deus. Somos seu povo, ele é o nosso Deus. Somos ovelhas do seu aprisco, ele é o nosso Pastor. Somos seus discípulos, ele é o nosso Mestre. Somos o seu corpo, ele é o Cabeça. No descanso reafirmamos nossa identidade nele. Reconhecemos que ele nos conduz. Todo o fardo que pesa sobre nós é retirado e somos envolvidos pela bondade e misericórdia de Deus.

Por fim, Marva Dawn nos fala da celebração. Tomamos demasiadamente a sério a vida, o ministério e o serviço. A imagem do triunfo final de Cristo é de um grande banquete de casamento. Uma dificuldade que todos os que procuram servir a Deus enfrentam é não saber celebrar, contemplar a grandeza, a majestade e o governo de Jesus Cristo.

O repouso sabático é um mandamento da graça de Deus. É o lugar onde aprendemos que é Deus, e não nós, quem governa e reina. É o lugar onde somos nutridos e restaurados por ele, onde a aliança é reafirmada e aprendemos a celebrar o cuidado e a bondade de Deus. Disse Jesus: “Vinde repousar um pouco, à parte, num lugar deserto”. É apenas disso que precisamos.

• Ricardo Barbosa de Sousa é pastor da Igreja Presbiteriana do Planalto e coordenador do Centro Cristão de Estudos, em Brasília. É autor de, entre outros, A Espiritualidade, o Evangelho e a Igreja e Pensamentos Transformados, Emoções Redimidas.

https://www.ultimato.com.br/revista/artigos/364/repouso-sabatico

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O que é cristandade?

Jo 8:31

“Jesus dizia, pois, aos judeus que criam nele: Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos; E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.

A autoridade da Igreja foi estabelecida, o que teve uma razão de ser; agora, No entanto, é preciso considerá-la em termos mais amplos. O termo igreja recebe várias interpretações diferentes; mas, aquele relacionado à cristandade encontra adeptos no mundo todo.

       Os judeus do tempo de Jesus eram chamados de fiéis, porém a conversa que o Mestre teve com eles mostra-nos o quanto estavam longe do caminho. Aquelas pessoas perderam o rumo no seguinte ponto: eram descendentes biológicos de Abraão e orgulhavam-se disso; e, o nosso Senhor não negava tal fato, pois afirmou-lhes: Bem sei que sois descendência de Abraão (Jo 8:37ª). O erro não estava em acreditarem pertencer à genealogia abraâmica, mas em crerem ser, automaticamente, seus herdeiros espirituais. O Nazareno tentou explicar-lhes isso, entretanto, creio que não tinham entendido. Ele lhes disse: Se fôsseis filhos de Abraão, faries as obras de Abraão (v. 39b).

       Cristo não levou em conta a vida interior e a conduta exterior pela descendência genética. Ele excluiu os fariseus da Aliança quando afirmou “Vocês não são filhos legítimos de Abraão, de maneira alguma o são. São sementes dele, seus descendentes, mas não são seus filhos, porquanto ele fora humilde, obediente, fiel e amável, vocês não. Odeiam-me porque eu lhes digo a Verdade; querem matar-me não por culpa, mas por pregar-lhes a vontade do Pai; Abraão não agiu assim”. Todavia, não quero discutir acerca do judaísmo, mas do que chamamos de cristandade. Além dos cultos, ela se constituiu de católicos romanos, ortodoxos gregos, protestantes liberais e evangélicos.

       A palavra evangélico deve ser escrita em letras minúsculas. E com isso, não me refiro à Igreja evangélica ou a denominações, mas a pessoas como nós, os formadores da cristandade: aqueles que creem na Bíblia, pentecostais m suas várias nuances e intensidade de fervor, quem vive em santidade, os de intimidade espiritual profunda e vida vitoriosa, e os bons e velhos fundamentalistas calvinistas.

       Os evangélicos são um pouco culpados por um erro não tão grave quanto o dos fariseus, mas que, de toda maneira, é um equívoco. Orgulhosos, e sem prova alguma disso, nós nos consideramos descendentes diretos dos apóstolos.

       Muitos judeus daquela época pensavam assim. Qualquer aspecto do qual não se tivesse certeza e que suscitasse entrar em discussão seria pecado. Porém, quando se é confiante o bastante de modo a nem precisar mencionar qualquer incerteza, é muito pior. Até serem pressionados pelo nosso Senhor, os fariseus nem falavam sobre a questão. Eles estavam certos que eram descendentes de Abraão e, por isso, acreditavam possuir os mesmos direitos dele.

       Nós, evangélicos, excluímos os católicos romanos sem hesitar; descartamos os ortodoxos gregos e os protestantes liberais. Contudo, não deixamos de fora quem, tal como nós, crê na Bíblia. Achamos e acreditamos ser sucessores espirituais de nosso Senhor, de Seus apóstolos e da Igreja primitiva.

       Assim como os judeus fazem parte da genealogia abraâmica, e ninguém dúvida disso, também os evangélicos são descendentes da fé dos apóstolos. Acreditamos no mesmo que Paulo, Pedro, João e quem escreveu a carta aos hebreus ou o livro de Atos. Cremos de igual modo. Não existe qualquer suspeita nisso. Confiamos na Palavra de Deus.

       Herdamos o credo dos apóstolos. Isso é fato inquestionável. No entanto, o engano estar em achar que ser descendente dessa crença significa estar na sucessão espiritual. Os fariseus cometeram esse erro, e o Senhor esclareceu-lhes, excluindo-lhes da Aliança de Abraão. Por isso é possível também estarmos supondo demais quando, ao compartilharmos a fé que Paulo tinha, achamos possuir o mesmo que ele. Ou crendo no mesmo que Pedro, pensamos nos assemelhar a esse servo. Nós nos identificamos com eles, por isso nos julgamos espiritualmente idênticos.

       Não ousemos isso. Lembro-me da letra da pequena canção: With eternity’s values in view [sem perder os valores da eternidade]. Assim tento fazer, portanto não quero pressupor nada. É por isso que não gosto de pregadores que “mordem e assopram”, fazendo-nos achar que somos bons, sejamos ou não. Se não o sou, de modo algum quero me sentir como tal. Essa é uma armadilha terrível. Quero ser autêntico saber a verdade sobre mim mesmo.

       Ao alegar que sucedemos aos apóstolos, temos de mostrar que quem somos é aquilo que foram. Jesus desaprovou as alegações e suposições dos judeus ao dizer que “Abraão não agiu conforme eles”. O Mestre afirmou: “Isso o que vocês têm não é o mesmo que Abraão teve”. Não é “igual”; “Abraão não agiu assim”. Então, Cristo os deixou de fora.

MARCAS DA VERDADEIRA IDENTIDADE ESPIRITUAL

       Existe apenas uma sucessão apostólica: a dos pais do Novo Testamento. A semelhança com aqueles servos é a prova dessa herança. Se fosse possível apontar para nós mesmos e dizer “isso”, e nos voltarmos para a Igreja do Novo Testamento e afirmar “é aquilo”, autenticando essa similaridade, deveríamos ser o povo mais feliz do mundo, cheio dos motivos para nos alegrar. Se eu fosse capaz de olhar para a igreja evangélica e dizer que “isto é aquilo”, indicando Paulo e a primeira igreja cristã como o “aquilo”, então teríamos o “isto”. Se somos iguais, logo não estamos fazendo suposições erradas. Por outro lado, e se houver alguma diferença, como no caso dos judeus e Abraão? Jesus declarou-lhes: “Abraão não era assim. Vocês afirmam ser seus descendentes e reivindicam a sucessão espiritual mesmo seguindo por um caminho diferente de o dele”.

       Há alguns indicadores necessários para provar ser “isso” o “aquilo”, atestando-nos de nossa participação na descendência espiritual dos apóstolos, bem como garantindo-nos da presença da Igreja do Novo Testamento hoje entre nós.

      Quais traços identificam a nossa semelhança com a Igreja primitiva?

POSICIONAMENTO QUANTO AO CREDO DOUTRINÁRIO

       O primeiro indicador é a identificação doutrinária. Temos de acreditar no que eles criam, assim como sermos os mesmos bons cristãos nem abandonarmos a Verdade. Não devemos ter exceções; precisamos tal qual esses servos, crer na totalidade bíblica.

   Nunca fiz muitas ponderações ou estudei o bastante para abalar a plenitude de minha crença nas Escrituras. Alegro-me nelas tanto quanto alguns se preocupam com elas. Medito nas suas palavras, geralmente na versão King James, embora eu tenha outras 25 ou 30 versões, e simplesmente creio.

      De boa vontade qualquer um pode atestar que a posição doutrinária dos evangélicos contemporâneos é a mesma de os pais da Igreja. Na verdade, descendemos da doutrina dos crentes do Dia de Pentecostes.

    Essa é a primeira evidencia.

POSICIONAMENTO MORAL

    O segundo fator é a identificação com uma integridade moral. Os padrões comportamentais eclesiásticos atuais devem ser os mesmos pregados pelos apóstolos. Afinal de contas, nada mudou, e, apesar de todos os seus avanços, o homem ainda é o homem.

       A estrutura moral da Igreja deveria ser tão transcendente que os ímpios a veriam lá no alto. Em vez disso, nós a temos modificado, enfraquecido e diluído. Muitos têm nos mostrado não podermos ser mais santos do que eles, declarando: “Somos todos iguais, só que vocês têm um Salvador”.

       Seria como se dois homens estivessem morrendo em uma mesma enfermaria de um hospital e um dissesse para o outro: “Você e eu temos o mesmo, a única diferença é que eu tenho um médico e você não”.

       Que diferença haveria se um paciente terminal pudesse tratar-se, mas morresse tal qual um outro doente sem os mesmos cuidados? Que benefício há em ter um médico, se não se pode ser curado? Esse doutor poderia muito bem ter ido logo jogar golfe.

       Se declaro a um pecador que “a única diferença entre nós se deve a eu ter quem me salve”, porém me comporto igual a ele – conto as mesmas piadas sujas, gasto o meu tempo de modo semelhante, e até as nossas práticas são iguais – mas digo: “Eu tenho um Salvador, você também precisa ter um”; essa pessoa não teria o direito de me perguntar que tipo de salvação é essa? Quais as vantagens de alguém morrendo dizer “ter um médico”? Do que vale “ter um Salvador” quando se caminha para a perdição?

       O Corpo de Cristo tinha uma irrefutável moral na época dos apóstolos. Se as práticas da igreja atual, não puderem comparar-se as do Novo Testamento, então, a lei da sucessão espiritual foi violada; talvez os membros dela até sigam a mesma linha doutrinária dos apóstolos, mas, moralmente, perderam tal conexão e estão fora dessa herança.

POSICIONAMENTO COM DEUS

        O próximo ponto de identificação é o nosso posicionamento com Deus. Os cristãos da igreja primitiva acreditavam na Trindade: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Eles não só mantinham essa fé, como também o Altíssimo era tudo para eles, a parte central de sua vida. Aqueles cristãos se reuniam no Senhor, adoravam-No, obedeciam-Lhe. Infelizmente, o nosso Deus não é mais fundamental em algumas igrejas. Muitas alegam acreditar nEle, mas a título de doutrina. Tudo está tão arrumado que Ele deixou de ser necessário para o seu sucesso. Alguns cristãos consideram-No desejável e até útil, mas não indispensável. Há congregações pensando ser possível seguir sem o Senhor, apenas cedendo a Ele um lugar agradável, como a um convidado; então, declaram: “O nosso convidado de honra está aqui esta noite”; todavia, logo é esquecido em meio a tantos disparates. Isso não é igreja apostólica.

       Sempre oro, e procuro viver alinhado às minhas súplicas, assim meu Pai me deixará em uma posição na qual eu careça da Sua ajuda para não fracassar. Quero estar onde eu dependa do Senhor para tudo e Ele me seja indispensável.

       Gostaria de ter estado no lugar de Elias quando provocou os profetas de Baal (ver 1ªRe 18:16_38). Aqueles homens haviam se cortado o dia todo e estavam furiosos, mas o Deus deles não os ouvira. Então ele os provocou: “Talvez ele esteja dormindo, caçando ou conversando com alguém”. E disse mais: “Baal os ouvirá, tão logo os ouvirá”. Depois de tê-los enfurecido até que se sentissem frustrados e amargurados, chegou o momento de Elias fazer suas ofertas.

       Caso Deus o tivesse ajudado, aqueles profetas poderiam tê-lo abatido. Não era o caso de dizer: “Te agradecemos, Pai, porque estás aqui. Amém! ”. Todavia, Elias pediu: “Deus, mostre-lhes que estás aqui”. E o Senhor o fez muito bem. Fogo desceu do céu e consumiu todo o sacrifício, até a água.

       Nem sempre estar o tempo todo no monte é bom, e com certeza, não gosto de me ver cercado por inimigos; porém, quero estar onde a presença de Deus seja necessária. Para ser descendente direto e estar na sucessão espiritual, é preciso viver alguns perigos.

Nunca ocorreu aos apóstolos ou às igrejas daquela época se envolver em algo importante e esquecer Deus. Eles seguiam a Cristo. Amavam o Senhor e, todos os dias, Ele lhes acrescentava quem precisava a salvação. Os cristãos mostravam espiritualidade pelo seu posicionamento diante do Pai. Somente provaremos isso com uma atitude semelhante à deles.

POSICIONAMENTO COM O ESPÍRITO SANTO

       O próximo indicador é a nossa postura diante do Espírito Santo. Uma grande injúria tem se amontoado sobre a terceira Pessoa da Trindade. Algumas pessoas têm declarado o fim de seus dons e, por conseguinte, extinguido o Consolador.

     Creio na manifestação multiforme do Espírito, assim como em sua atuação na Igreja. Não se trata apenas de acreditar em sua ação em uma ou outra congregação, mas também que é parte fundamental do Corpo de Cristo. Contudo há muita incredulidade acerca disso. Alguns dizem que os dons espirituais terminaram com a morte dos apóstolos. Por que se prender a essa data específica eu não sei, pois não conhecemos a época do último apóstolo; mas deixaria o Espírito Santo de agir em nosso meio por causa disso?

       Os cristãos têm limitado o poder do Consolador; nós temos resolvido tudo de modo que Ele não seja requisitado. Seu mover fora substituído pelo que chamamos de atividade social programada.

     A Igreja do Novo Testamento nasceu do fogo e, se queremos ser semelhantes a ela, precisamos ter a mesma origem. Nem todos os livros ou detalhes doutrinários que possamos citar comprovarão o contrário.

       O Espírito Santo é tão necessário para a sucessão apostólica quanto o ar é vital para nós. Ele produz vida. Se não o tivermos, ou o Seu poder não estiver presente, até estaremos na descendência doutrinária dos apóstolos, mas apenas na fé; não seremos, portanto, herdeiros de fato.

A doutrina do Espírito Santo virou blasfêmia. Muitos se preocupam muito com isso que há três ou quatro pensadores e reflexões para que possamos escolher. Quem não está totalmente convencido de que existe apenas uma Verdade sobre o Espírito deveria plantar batatas. Ou então, não deveria estar no púlpito. Meia dúzia de possíveis teorias é muito para quem sempre foi humilde a ponto de persistir em uma.

       Se o Consolador vier sobre a sua vida, todo o seu medo desaparecerá e dará lugar a certeza, e você poderá ensinar a Palavra de Deus com segurança profética. Devemos estabelecer a mesma relação que a Igreja teve com Ele se quisermos afirmar a nossa hereditariedade espiritual.

POSICIONAMENTO COM A CARNE

       Outro indicador de identidade é a nossa relação com a carne. Os primeiros cristãos repudiavam as vontades humanas. Carne não se refere ao nosso corpo mortal, Deus não tem nada contra o nosso corpo. Isso diz respeito à personalidade, ao ego.

       A Igreja neotestamentária testemunhou que fora batizada na morte do Filho de Deus. Quando Ele ressuscitou, ela ressurgiu nEle, mortificando a velha natureza e se tornando uma nova criatura em Jesus. Os cristãos pregavam isso. Paulo ensinou-lhes que assim acontecia quando eram batizados. As práticas antigas ficavam para trás, e eles tinham outra vida em Cristo, o Senhor.

       Nós dizemos que estamos na sucessão espiritual dos apóstolos porque cremos no mesmo modo que eles. No entanto temos uma atitude similar quanto à carne? Muitas igrejas incorporaram alguns aspectos da velha natureza em si e, de alguma maneira, conseguem conviver com ela, escrevendo até livros para mostrar qual seria o seu verdadeiro lugar.

       Trazem aquilo que Deus condenou à vida. Eles a alimentam, amaciam-na; dão-lhe nomes agradáveis. Então a Igreja a adota e a elege para a diretoria. Depois surgem dela obreiros e diáconos. Muitas congregações estão organizadas em torno dela agora, absorta em valores e padrões carnais. Entretanto, os primeiros cristãos acreditavam que a carne era deixada nas águas do batismo. A Igreja primitiva a considerava mortificada em Cristo conforme Ele morrera na cruz.

       Eu não sou um velho amargo. Amo todas as pessoas. Não é questão de se estar obsoleto ou não, trata-se apenas da plena verdade bíblica. Eu acreditava naquela época, acredito hoje e espero ainda acreditar quando o povo de Deus e o mundo alcançarem padrões diferentes. A carne não tem lugar no Reino dos Céus, por isso deveríamos excluí-la. E preciso agir assim e, pelo poder do Espírito e pelo poder do sangue, livrar-se do velho homem e das suas ações. Temos de retirá-la conforme um casaco velho e nos revestirmos de um novo homem, o qual, em Jesus, é renovado em justiça e santidade verdadeira.

POSICIONAMENTO COM O MUNDO

       Outra marca da nossa identificação com a Igreja apostólica é o posicionamento quanto ao mundo. Aqueles primeiros cristãos fugiram dele, que os odiava, e também foram crucificados nele. Certamente, lembravam-se do que Jesus disse: “Se o mundo vos aborrece, sabei que, primeiro do que a vós, me aborreceu a mim” (Jo   15:18). Eles ouviram as palavras do apóstolo João: “Não ameis o mundo, nem o que nele há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele” (1ªJo 2:15).

       Temos muitos aspectos desagradáveis para falar dos liberais, visto que eliminaram determinadas passagens das Escrituras. Certa vez, li um livro que explicava quais evangelhos eram válidos e cujas partes tinham sido escritas por homens bons que de nada sabiam. Eu ainda acredito que Bíblia é a Palavra de Deus. A passagem de 1ªJo 2:15 não é mais popular; as pessoas não querem ouvi-la. Adotamos o mundo, conformamo-nos com ele e nos identificamos com tudo isso. Com exceção das piores partes, é claro, como a violência ou o abuso de drogas. Repudiamos tais práticas, mas muitos pecadores também.

       Nós nos regozijamos porque vivemos tão refinados quanto os eruditos frequentadores de óperas. Vivemos de modo tão decente quanto o ateu e o cientista, os quais acreditam que Deus é uma energia. Deveríamos estar completamente livres disso, mas a verdade é que cedemos tudo para o mundo.

       A crença evangélica contemporânea rende-se ao mundo, tenta explicá-lo, adota-o e o imita. Um número ainda maior de jovens pregadores imita homens do meio secular com muito mais energia do que os santos de Deus. Eles não estão interessados nesses exemplos, tampouco procuram se assemelhar a eles; desejam assimilar as práticas mundanas.

       Uma congregação que tem incorporado o mundanismo já foi tomada por ele. Em geral, o mundo absorve os cristãos antes de eles mesmo o fazerem. Portanto, essa igreja não está na sucessão dos apóstolos, embora tenha um credo retirado das epístolas de Paulo e se apegue às doutrinas de sua fé. Cristo está dizendo: “Sei que vocês são descendência dos apóstolos, mas não são seus filhos”. Há mais moral liberal do que bíblica nos círculos evangélicos.

POSICIONAMENTO COM A ADORAÇÃO

       O último indicador de identificação com a Igreja apostólica é a nossa identidade quanto à adoração. Jesus estabeleceu o Reino de Deus interior. O Altíssimo habita em nós, mas alguns têm afirmado que Ele somente está em nosso meio, o que não procede. O Emanuel quis dizer que o seu reinado reside dentro de cada ser humano. Paulo afirmou que é Cristo em vós, esperança da glória (Cl 1:27b). Além disso, Jesus disse: “Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade” (Jo 4:24). Nós adoramos ao Senhor intimamente. A essência do cristianismo encontra-se dentro do coração.

      Temos adorado em templos. Porém, Jesus colocou essa vontade em nosso íntimo, o que não nos restringe a espaços fechados. O Salvador depositou-a em nós, não em cabines de projeção. Hoje, um cristão não consegue mais adorar por si, é como um padre que depende do óleo da unção e de seu terço para praticar a sua religião. Quem não é capaz de fazê-lo tendo apenas a Bíblia nas mãos não pode dizer-se vencedor. Alguém que precise sustentar o seu caráter cristão com um monte engenhocas, gastando todo o seu dinheiro nisso, deve alegar a mesma fé da Igreja apostólica.

       Muitas igrejas e muitos pastores são viciados em apetrechos e não conseguiriam dirigir as suas congregações sem se entupir com uma inútil montoeira de lixo. Nós temos agido desse jeito, e isso é ensinado na escola bíblica.

       Antes, só era preciso um jovem assentado em um banco de madeira e um educador religioso à frente para se formar uma escola. Costumava-se ver um homem de Deus rodeado de pequenos grupos e então, tinha-se uma Igreja. Agora é diferente, e nós ainda dizemos devotamente, sermos descendentes dos apóstolos. “Nós não somos nascidos de prostituição; temos um Pai, que é Deus” (Jo 8:41b). Jesus declarou calmamente: “Sei que vocês têm crido no mesmo, mas Abraão não agiu assim”.

       É preciso que nos assemelhemos à Igreja apostólica na adoração. No entanto, essa característica tem faltado. Há uma infinidade de reuniões religiosas, mas somente de vez em quando o Todo-Poderoso se faz presente. Eu poderia andar com lama até os joelhos a fim de encontrar um grupo em que alguém pudesse evidenciar a real presença de Deus. A Igreja primitiva orou, falou com o Senhor. Quando os cristãos daquela época cantavam, falavam com o Altíssimo e cantavam sobre Ele. Hoje, para tudo existe uma programação, essa terrível e detestável palavra e, assim, Deus está ausente.

Os primeiros cristãos eram adoradores, e o descrente que chegasse no meio deles dizia: “Verdadeiramente, Deus está no meio deles”. Não era pela eloquência do adorador, talvez nem houvesse um. Era a presença do Senhor que os fazia renderem-se e adorar. Posso me juntar a qualquer grupo no qual eu puder passar dez minutos e constatar: “Estou onde Deus está”. Era assim no tempo dos apóstolos.

       Afirmamos crer no que os apóstolos acreditavam, mas me pergunto se somos herdeiros espirituais deles. Tenho minhas dúvidas.

A VERDADEIRA IGREJA

       Assumimos um grande risco ao ficarmos totalmente convencidos de que estamos na sucessão espiritual apostólica e de que a graça termina em nós. Lembre-se de que Israel testemunhou milagres em sua História, mas todas essas maravilhas não livraram do julgamento divino. O povo escolhido por Deus foi disperso para os confins da Terra.

       É da vontade de Deus que sejamos descendentes espirituais dos apóstolos, que tenhamos a mesma moral da igreja primitiva e que o Espírito Santo ocupe em nossas igrejas, o lugar que lhe é devido conforme descrito no Novo Testamento. Deus deseja que façamos de Jesus Cristo a Figura central de nossas igrejas – apenas de boca para fora, mas em atitude. Se não for assim, apenas estaremos enganando-nos. Eu não quero me iludir nem mentir para ninguém.

       Preciso saber se sou descendente espiritual dos apóstolos ou não. Em caso negativo, será necessário fazer algo a respeito disso. E se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e buscar a minha face, e se converter dos seus maus caminhos, então eu ouvirei dos céus, e perdoarei os seus pecados, e sararei a sua terra (2ªCr :14).

       Quero que o meu pequeno trabalho seja tal qual ouro maciço por toda a caminhada. No íntimo, desejo descobrir se sou descendente dos apóstolos – não tão importante, mas tão genuíno e espiritual quanto eles. Creio nessa possibilidade para qualquer um de nós.

       Não acredito que exista qualquer igreja em meu pais com uma devoção espiritual tão intensa quanto a registrada no livro de Atos. Se em algum lugar do mundo houver uma congregação que tenha a mesma pureza, cuja adoração seja tão intensa, além de preservar a liberdade do Espírito Santo e o alto nível moral, então essa igreja está na sucessão apostólica. Caso nossas igrejas não tenham tais características, nem sonhando poderemos ousar dizer que somos descendentes da fé dos primeiros cristãos. Parecer-se fisicamente é insuficiente, assim como foi para Israel.

       É preciso ser como os apóstolos e adotar o padrão da Igreja primitiva para que, então, todos tenham essa mesma disposição. Assim, com alegria em nosso coração, poderemos reconhecer sermos descendentes dos apóstolos.

THE CHURCH’S ONE FOUNDATION

[DA IGREJA É FUNDAMENTO]

Samuel J. Stone

Da igreja é Fundamento Jesus, o Salvador;

em Seu poder descansa, é forte em Seu amor.

Porquanto permanece, a Igreja existirá:

Com vida renovada, jamais perecerá.

A pedra preciosa que Deus predestinou

sustenta pedras vivas que a graça trabalhou.

E, quando o monumento se erguer em plena luz,

a glória do edifício será do Rei Jesus!

Senhor, que este edifício, erguido por amor

e para a Tua glória, redunde em Teu louvor:

e que almas redimidas, aqui em comunhão,

se tornem templo santo de Tua habitação.

Recuperando o Cristianismo – O resgate da verdadeira fé

A.W. Tozer

Graça EDITORIAL

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Por que os cristãos devem usar suas mentes?

Ninguém deseja um cristianismo frio, triste, intelectualizado.

Mas será que isso significa que temos que evitar a todo custo o “intelectualismo”? Não é a experiência o que realmente importa, e não a doutrina? Muitos estudantes fecham suas mentes ao fecharem seus livros, convencidos de que ao intelecto compete apenas um papel secundário, se tanto, na vida cristã. Até que ponto têm eles razão? Qual é o lugar da mente na vida do cristão iluminado pelo Espírito Santo?

Tais perguntas são de importância prática, e afetam todos os aspectos de nossa fé. Por exemplo, até que ponto devemos apelar à razão das pessoas em nossa apresentação do evangelho? A “fé” implica algo completamente irracional? O senso comum tem algum papel a divulgação na conduta do cristão?

Tendo esses e outros problemas em vista, o Rev. John Stott aborda o lugar da mente na vida cristã. Explica por que o uso da mente é tão importante para o cristão, como se aplica em aspectos práticos de sua vida. E faz um vigoroso apelo aos cristãos para mostrarem “uma devoção inflamada pela verdade ”.

A primeira razão se apresentará a todo crente que deseja ver o evangelho proclamado e Jesus Cristo reconhecido no mundo todo. Trata-se do poder do pensamento humano na concretização de ações. A História está repleta de exemplos da influência que grandes ideias exercem. Todo movimento de poder teve a sua filosofia que se apossou da mente, inflamou a imaginação e capacitou a devoção de seus seguidores. Basta pensar nos manifestos fascista e comunista do século passado, na obra “Mein Kampf” de Hitler, de um lado, e não “Das Kapital” de Marx e “Pensamentos” de Mao, do outro. UMA.N. Whitehead resume isso da seguinte forma: Uma grande parte do mundo atualmente é dominada por ideologias que, se não completamente falsas, são estranhas ao evangelho de Cristo. Apregoamos “conquistar ”o mundo para Cristo. Mas que espécie de “conquista” temos em mente? Certamente que não uma vitória baseada na força das armas.

Nossa cruzada cristã diferencia-se completamente das vergonhosas cruzadas da Idade Média. Observemos a descrição que Paulo faz dessa batalha: “Na verdade, as armas com que combatemos não são carnais, mas têm, a serviço de Deus, o poder de destruir fortalezas. Destruímos os raciocínios presunçosos e todo poder altivo que se levanta contra o conhecimento de Deus. Tornamos cativo todo pensamentos para paisagistas-lo a obedecer a Cristo ”. Esta é uma batalha de ideias, a verdade de Deus vencendo as mentiras dos homens. Será que acreditamos no poder da verdade?

Não muito tempo depois que a Rússia brutalmente reprimiu a revolta húngara de 1956, o Sr. Kruschev referiu-se ao precedente dado pelo Czar Nicolau I, que comandara combate à revolta húngara de 1848.

Num debate sobre a Hungria, travado na Assembleia Geral das Nações Unidas, Sir Leslie Munro citou as tornado feito por Kruschev e concluído seu discurso relembrando uma declaração feita por Lord Palmerston na Casa dos Comuns em 24 de julho de 1849, com respeito ao mesmo assunto. Palmerston tinha dito o seguinte: “Como As opiniões são mais fortes que os exercícios. Se fundadas na verdade e na justiça, as opiniões ao fim prevalecerão sobre as baionetas da infantaria, os tiros da artilharia e as cartas da cavalaria ”… Deixando de lado exemplos seculares do poder do pensamento, passo agora a abordar algumas razões, mais propriamente cristãs, pelas quais devemos fazer uso de nossas mentes. Meu argumento agora é que nas doutrinas básicas da fé cristã, doutrinas da criação, revelação, redenção e juízes, em todas elas estão implícito que o homem tem um duplo e inalienável dever: o de pensar e o de agir de compliance com o seu pensamento e conhecimento.

John Stott – Crer também é pensar.pdf

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Abstenham-se da imoralidade sexual

Precisamos oferecer resistência à inveja, ao egoísmo, à ira, à vingança, à ansiedade, à profanação do nome do Senhor, à apropriação indébita, à soberba e a qualquer outra coisa que prejudica a nossa comunhão com Deus e com o próximo. A pergunta agora é: é necessário oferecer resistência também à imoralidade sexual?

Além de abundante, a resposta é muito simples. Na relação das obras da carne ou das coisas que a natureza humana produz, a primeira que Paulo menciona é a “imoralidade sexual”. As duas seguintes são como comportamentos sinônimos: “impureza” e “ações indecentes” (Gl 5.19). Jesus, por sua vez, na relação das coisas que saem do coração e fazem com que a pessoa peque, não se esquece das “imoralidades sexuais” (Mt 15.19).

Paulo também fala sobre o assunto, primeiro quando escreve aos romanos: “Vivamos decentemente, como pessoas que vivem na luz do dia [e, portanto,] nada de farras ou bebedeiras, nem imoralidade ou indecência, nem brigas ou ciúmes” (Rm 13.13). E, depois, quando escreve aos coríntios: “Receio ainda que na minha próxima visita o meu Deus me humilhe diante de vocês e que eu tenha de chorar por muitos de vocês que continuam a cometer os mesmos pecados que cometiam no passado e não se arrependeram da sua imoralidade sexual, nem das relações sexuais proibidas, nem de outras coisas indecentes que faziam” (2ªCo 12.21). No caso de Corinto, a situação é muito grave porque, antes da conversão, eles viviam de acordo com a cultura da cidade, extremamente liberal na questão do sexo. Ao conhecerem o evangelho por ocasião da segunda viagem de Paulo, eles foram lavados de todos os pecados, inclusive da área do sexo (1ªCo 6.11). Agora, o apóstolo receia que eles tenham voltado à mesma má conduta anterior.

Nem todas as versões da Bíblia traduzem a palavra do original grego (porneia) como “imoralidade sexual”, o que é bom, porque, assim, podemos enxergar melhor o significado da expressão. Além disso, ela nunca vem sozinha. Sua abrangência é enorme: adultério, concubinato, devassidão, fornicação, homossexualismo, indecência, impudicícia, impureza, imundícia, incontinência, infidelidade, lascívia, libertinagem, luxúria, prostituição e relações sexuais ilícitas. Tudo isso está debaixo da chamada imoralidade sexual.

Na primeira carta aos Tessalonicenses, Paulo escreve: “Não há necessidade de lhes escrever a respeito do amor pelos irmãos na fé, pois o próprio Deus lhes ensinou que vocês devem amar uns aos outros” (1ªTs 4.9). A capacidade de amar entre eles era notável. Mas o mesmo não se pode dizer da conduta sexual. Daí as exortações do apóstolo (1ªTs 4.3-8, NVI):

1. Abstenham-se da imoralidade sexual.

2. Cada um saiba controlar o seu próprio corpo de maneira santa e honrosa, não dominada pela paixão de desejos desenfreados (ou não com paixões sexuais baixas).

3. Deus não os chamou para a impureza (ou para viverem na imoralidade).

A santidade requer vigilância e disciplina não só no que diz respeito à ira, à inveja, à presunção etc., mas também (não especialmente) no que diz respeito à indisciplina sexual.

https://www.ultimato.com.br/revista/artigos/358/abstenham-se-da-imoralidade-sexual

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Ética e moral cristã

uma bússola representando a moral
Moral

É comum à teologia introduzir o tema ‘ética’ e ‘moral’ ao abordar a necessidade de um bom comportamento do cristão em sociedade…

“Somente deveis portar-vos dignamente conforme o evangelho de Cristo, para que, quer vá e vos veja, quer esteja ausente, ouça acerca de vós que estais num mesmo espírito, combatendo juntamente com o mesmo ânimo pela fé do evangelho.” (Fp 1.27).

Introdução

Antes de analisar a ideia de uma ética e de uma moral intitulada cristã, se faz necessário analisar algumas recomendações dos apóstolos acerca do bom porte indispensável a quem professa o evangelho de Cristo.

É indispensável frisar que, quando trataram do comportamento dos cristãos, os apóstolos não apontaram a ética e nem a moral humana, antes invocam a ‘boa consciência’ para fazer recomendações, e os parâmetros evidenciados são superiores a ética e a moral.

A sã doutrina deve ser defendida

O apóstolo Paulo recomendou aos cristãos de Filipos que se portassem dignamente conforme o evangelho de Cristo (Filipenses 1.27; Colossenses 2.6 -7), ou seja, que todos estivessem firmados em um só espírito (doutrina), como se fossem uma só alma (ânimo), lutando juntos em defesa da fé (doutrina, evangelho).

“Somente deveis portar-vos dignamente conforme o evangelho de Cristo, para que, quer vá e vos veja, quer esteja ausente, ouça acerca de vós que estais num mesmo espírito, combatendo juntamente com o mesmo ânimo pela fé do evangelho.” (Fp 1.27)

Nesta oportunidade, o apóstolo dos gentios declarou abertamente que foi escolhido como apóstolo para defender a verdade do evangelho, missão que ele cumpriu até descer à sepultura (acabar a carreira), preservando a fé (doutrina) intacta.

“Mas outros, por amor, sabendo que fui posto para defesa do evangelho.” (Filipenses 1.17);

“Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé.” (2ª Tm 4.7).

O irmão Judas aborda a mesma questão, pois enquanto escrevia acerca da salvação comum a todos os cristãos, viu a necessidade de exortá-los a batalharem pela fé (doutrina) que lhes foi entregue (Judas 1.3).

Na qualidade de ministro do espírito (evangelho), o cristão tem o dever de viver conforme o evangelho de Cristo (2ª Coríntios 3.6), ou seja, abandonar filosofias, tradições, preceitos e doutrinas de homens (Colossenses 2.8 e 22), propondo aos ouvintes somente o Cristo, e esse crucificado (1ª Coríntios 2.2), e permanecer crendo até o fim que Jesus é o Filho de Deus (Atos 14.22; Colossenses 1.23).

“O qual nos fez também capazes de ser ministros de um novo testamento, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata e o espírito vivifica.” (2ª Coríntios 3.6).

O cristão deve professar e defender a verdade do evangelho (fé, querigma, doutrina, mandamento), o que é diferente de lutar contra carne e sangue. O que seria lutar contra carne e sangue? No contexto, ‘carne’ e ‘sangue’ remetem à descendência de Abraão e nacionalidade judaica, ou seja, não se tem que lutar contra a nação, o povo, precisamente, com os filhos de Israel.

“Revelar seu Filho em mim, para que o pregasse entre os gentios, não consultei a carne nem o sangue,” (Gálatas 1.16; Mateus 16.17);

“Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais.” (Ef 6.12).

Com relação aos cristãos da igreja primitiva, embate contra ‘carne’ e ‘sangue’ seria debater com os judeus acerca de genealogias, tribos, leis, sacrifícios, cerimoniais, tradições, etc., que mais produzem celeumas do que edificação (1ª Timóteo 1.4).

“Todos os que querem mostrar boa aparência na carne, esses vos obrigam a circuncidar-vos, somente para não serem perseguidos por causa da cruz de Cristo. Porque nem ainda esses mesmos que se circuncidam guardam a lei, mas querem que vos circuncideis, para se gloriarem na vossa carne.” (Gl 6.12-13).

Ao defender a verdade do evangelho, a base de atuação do cristão também não é contra os não crentes (os de fora), e sim, contra aqueles que se dizem irmãos (nos lugares celestiais), mas, na verdade, são devassos, idólatras, avarentos, etc.

“Mas agora vos escrevi que não vos associeis com aquele que, dizendo-se irmão, for devasso, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com o tal nem ainda comais. Porque, que tenho eu em julgar também os que estão de fora? Não julgais vós os que estão dentro?” (1ª Co 5:11 -12).

Vale destacar que os comportamentos reprováveis segundo a moral humana enumerado pelo apostolo Paulo no verso acima, na verdade, são figuras que foram utilizadas pelos profetas para descrever os judeus, e que, no Novo Testamento, os apóstolos utilizaram as mesmas figuras para descrever a relação dos filhos de Israel com Deus (1ª Tm 1.7-10; Salmo 106).

É por causa das figuras utilizadas pelos profetas para falar aos filhos de Israel (Jeremias 9.2; Isaías 57.3; Jeremias 23.14), que Tiago chama os cristãos convertidos dentre os judeus de ‘adúlteros’ e ‘adúlteras’:

“Adúlteros e adúlteras, não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus.” (Tiago 4.4).

Através desses dois versos, temos que nos focar em duas coisas:

  1. Não é dado aos cristãos lutarem contra carne e sangue, ou seja, não compete aos seguidores de Cristo querer mudar as práticas e os costumes judaicos, e;
  2. Os cristãos estão assentados nas regiões celestiais em Cristo (Efésios 1:3; Efésios 2:6), e a defesa da fé se dá em meio aos cristãos (regiões celestiais), e não em relação aos não cristãos (Efésios 6.12).

“Estes são manchas em vossas festas de amor, banqueteando-se convosco, e apascentando-se a si mesmos sem temor; são nuvens sem água, levadas pelos ventos de uma para outra parte; são como árvores murchas, infrutíferas, duas vezes mortas, desarraigadas;” (Judas 1.12).

Por que é importante destacar essa verdade? Porque o apóstolo Pedro, de antemão, instruiu os cristãos acerca dos falsos doutores que, nos últimos dias, introduziriam heresias de perdição e fariam dos cristãos negócios.

“E TAMBÉM houve entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá também falsos doutores, que introduzirão encobertamente heresias de perdição, e negarão o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina perdição.  E muitos seguirão as suas dissoluções, pelos quais será blasfemado o caminho da verdade.  E por avareza farão de vós negócio com palavras fingidas; sobre os quais já de largo tempo não será tardia a sentença, e a sua perdição não dormita.” (2ª Pedro 2:1 -3).

Qual a artimanha dos falsos doutores? Sorrateiramente apresentar uma doutrina em substituição ao evangelho genuíno. Dentre esses doutores temos: a) os anticristos, aqueles que abertamente negam que Jesus é o Cristo, o Filho do Deus bendito, e; b) os falsos profetas, aqueles que, sorrateiramente, negam a eficácia do evangelho ao impor várias práticas aos cristãos sob o argumento de que através delas é possível ao homem se salvar.

“ENTÃO alguns que tinham descido da Judeia ensinavam assim os irmãos: Se não vos circuncidardes conforme o uso de Moisés, não podeis salvar-vos.” (Atos 15.1).

A essência do evangelho: mandamento e obediência

A doutrina cristã, ou a fé dada aos santos, tem por escopo evidenciar aos homens o fato de que todos, sem exceção, estão perdidos por causa da ofensa de Adão, e que Cristo é o único caminho que conduz o homem a Deus. Como a salvação em Cristo é a essência do evangelho, todos os homens precisam crer que Jesus é o Cristo para serem salvos.

No quesito evangelho, não importa se alguém possui bom caráter, conduta ilibada e obedece às leis do seu país, se não crer que Jesus é o Cristo não será salvo. Não importa se é mestre e juiz em Israel, como Nicodemos, ou alguém conforme a mulher samaritana, de moral questionável e conduta reprovável aos olhos da sociedade, se não nascer de novo, jamais verá o reino dos céus. A verdade do evangelho evidencia que todos os homens, sem exceção, precisam ouvir o evangelho e crer para alcançar salvação.

É por isso que, quando o apóstolo Paulo afirmou que a ‘graça de Deus se há manifestada trazendo salvação a todos os homens’, não introduziu ressalvas, pois a graça se destina a todos, não importando religião, caráter, moral, condição social, sexo, nacionalidade, etnia, língua, etc.

Ao destacar que Jesus se manifestou trazendo salvação a todos os homens, o apóstolo Paulo estava evidenciando que Jesus é causa de eterna salvação, e ao mesmo tempo evidenciando que, na salvação em Cristo, não há acepção de pessoas, contudo, a salvação é alcançada somente por aqueles que obedecem ao evangelho. Compare:

“Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens,” (Tito 2.11);

“E, sendo ele consumado, veio a ser a causa da eterna salvação para todos os que lhe obedecem;” (Hb 5.9).

A graça de Deus foi manifesta em Cristo, que trouxe salvação a todos os homens, sendo Ele mesmo a causa de salvação de todos os que O obedecem. A Tito, o apóstolo Paulo destaca a abrangência do evangelho (salvação a todos os homens), e o escritor aos Hebreus destaca a necessidade de se obedecer ao mandamento que há no evangelho (todos os que lhe obedecem). Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho Unigênito (universalidade do evangelho), para que todo aquele que n’Ele crê não pereça (mandamento implícito).

“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” (João 3.16);

“Mas que se manifestou agora, e se notificou pelas Escrituras dos profetas, segundo o mandamento do Deus eterno, a todas as nações para obediência da fé;” (Rm 16.26).

A essência do evangelho é mandamento (fé) e sujeição (obediência).

“Onde está logo a jactância? É excluída. Por qual lei? Das obras? Não; mas pela lei da fé.” (Rm 3.27).

Em crer em Cristo não há como o homem se gloriar, pois, crer que Jesus é o Cristo é obedecer, de modo que, quando crê, o homem deixa de ser senhor de si mesmo, ou seja, humilha a si mesmo, se fazendo servo de Cristo.

Ética e moral ‘versus’ consciência

Os termos ‘ética’ e ‘moral’ não aparecem na Bíblia, até porque ética é próprio à filosofia, ciência que estuda o caráter e a conduta humana em sociedade, tendo por base “princípios morais” vigentes na sociedade em análise.

Na Bíblia, as questões comportamentais do cristão são abordadas através do termo ‘consciência’:

“Orai por nós, porque confiamos que temos boa consciência, como aqueles que em tudo querem portar-se honestamente.” (Hebreus 13.18).

A perspectiva bíblica está além das questões éticas e morais, pois enquanto a ética é própria à filosofia, ciência que estuda a moral humana em uma determinada sociedade, a boa consciência apresentada nas Escrituras surge da submissão a Deus, visando a propagação do evangelho de Cristo aos homens em qualquer sociedade.

“E por isso procuro sempre ter uma consciência sem ofensa, tanto para com Deus como para com os homens.” (Atos 24.16);

É comum à teologia introduzir o tema ‘ética’ e ‘moral’ ao abordar a necessidade de um bom comportamento do cristão em sociedade, aponto de Champlin, na introdução ao tema ética, na sua ‘Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia’, dizer:

“A ética também faz parte essencial da fé religiosa” Champlin, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, vol. 1, Ed. Hagnus, 11ª Edição, 2013, pág. 554.

É compreensível que a ética faça parte da ‘fé religiosa’, mas considerar que ela faça parte da fé do evangelho (Fp 1.27), e que seja essencial ao evangelho, é asserção que carece de prova bíblica. Se analisarmos o budismo, hinduísmo, islamismo, judaísmo, etc., uma das temáticas será a moral, diferentemente do evangelho, que a temática é Cristo, e esse crucificado (1ª Co 2.2).

Champlin, como teólogo, descreveu com maestria os seis ramos da filosofia, sendo a ética um dos ramos: a conduta ideal do indivíduo. Falou do surgimento da ética, como, provavelmente, originou-se do homo sapiens, e como os chimpanzés tem noção do que é apropriado e inapropriado.

Sem destacar pontos da Antiga Aliança, Champlin falou das religiões e da preocupação com a conduta humana, isto porque elas tratam de julgamento, recompensa, reencarnação, etc. Em seguida, faz alusão aos filósofos pré-socráticos, que se envolveram em considerações éticas, citando Anaximandro, Heráclito, Pitágoras, e as suas teses principais.

Em seguida, Champlin apresenta Sócrates (450 A.C.), considerado o pai da ética como sistema filosófico, mas não há qualquer referência a Abraão, o pai da fé, a quem primeiramente foi anunciado o evangelho, e que na oportunidade não se fez qualquer referência a ética (Gálatas 3.8).

Champlin destacou que, no grego, ética é ethos (costume, disposição, hábito), e no latim, é mos (moris = vontade, costume, uso, regra), e diz da conduta ideal do indivíduo, da busca do ideal summum bonum da existência humana e como alcança-lo.

A Bíblia não aponta o comportamento ideal em sociedade, até porque há diferenças de comportamento de sociedade para sociedade. Entretanto, a Bíblia apresenta o bem e o mal como conhecimento do qual a humanidade tornou-se participante quando Adão comeu do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. O fruto do qual a humanidade é participante é do conhecimento do bem e do mal, o que demonstra que o bem e o mal são indissociáveis quanto conhecimento.

Adão não só comeu o mal, mas do bem e do mal. Isto significa que o summum bonum através da ética é inatingível, pois não há como o homem se desvencilhar do mal, enquanto houver o bem. É através deste conhecimento que o homem se tornou como Deus: conhecedor do bem e do mal.

Mas, enquanto a ética se preocupa com um padrão (ou padrões) do que é certo ou errado a ser aplicado à humanidade, a Bíblia aponta a desobediência de Adão como o evento que levou a humanidade a queda, sendo que o conhecimento do bem e do mal veio agregado as consequências da desobediência: a morte.

Com a vinda de Cristo, Deus não providenciou salvação do conhecimento do bem e do mal, e sim, redenção da morte, condenação imposta à humanidade em função da ofensa de Adão. A Bíblia não trata de caráter, moral, comportamento, etc., mas da substituição de ato: desobediência pela obediência.

“Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida. Porque, como pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores, assim pela obediência de um muitos serão feitos justos.” (Romanos 5.18-19).

Ao utilizar as categorias da filosofia, percebe-se que que os tratados teológicos de muitos estudiosos tentam cristianizar as ideias dos filósofos gregos, a ponto de se afirmar que Agostinho é Platão batizado, e Tomás de Aquino é Aristóteles batizado (Idem, Pág. 566).

Champlin, ao abordar princípios éticos no Novo Testamento, afirma que o dilema ético envolve uma luta cósmica, e cita 1ª João 5, verso 18:

“Sabemos que os filhos de Deus não continuam pecando, porque o Filho de Deus os guarda, e o Diabo não pode tocar neles” (1ª João 5.18).

O verso em análise não trata de ética, muito menos de uma luta cósmica[1]. O apóstolo João já havia destacado que os nascidos de Deus não pecam (1ª João 3.6 e 9), no sentido de que não mais são sujeitos ao pecado como servos, vez que os filhos de Deus são servos da justiça (João 8.34).

Esse verso não trata de uma luta cósmica, mas da sujeição do homem a Cristo. Como em Cristo não há pecado, qualquer que está nele tem que estar livre do pecado, pois quem peca é do diabo, e não de Cristo. Quem admite que peca, tem que admitir que é do diabo, pois quem pertence a Jesus não serve mais ao pecado.

Em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa.” (Efésios 1.13);

“Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.” (2ª Co 5.17);

“Qualquer que confessar que Jesus é o Filho de Deus, Deus está nele, e ele em Deus.” (1ª Jo 4.15).

O crente é passível de erros, tropeço, o que é diferente da ideia de ser servo do pecado (Tiago 3.2).

A ideia de uma luta cósmica e da existência de um dilema ético decorre de má leitura do verso 12, do capítulo 6, da carta aos Efésios, e de influências da filosofia de Platão[2].

Ao falar de uma ética Teísta, e nessa categoria inclui o Novo Testamento, Champlin discorre que a ‘… busca na ética teísta é pela perfeição. O homem tem uma consciência inerente (dom de Deus) para ajudá-lo na inquirição pela perfeição.’ Idem, Pág. 566, e cita o verso 14 da carta aos Hebreus:

“O mantimento sólido é para os perfeitos, os quais, em razão do costume, têm os sentidos exercitados para discernir tanto o bem como o mal” (Hebreus 5.14).

Enquanto Champlin fala que a busca na ética Teísta é pela perfeição, o escritor aos Hebreus fala de alguém que efetivamente é perfeito, e que, por isso mesmo, participa de uma alimentação sólida, e pelo costume tem os sentidos exercitados para compreender tanto o bem como o mal.

Ao falar da perfeição, os apóstolos não tinham em mente a ética, quer seja ela Teísta ou não:

“Todavia falamos sabedoria entre os perfeitos; não, porém, a sabedoria deste mundo, nem dos príncipes deste mundo, que se aniquilam;” (1ª Co 2.6).

É uma sabedoria que se fala entre os perfeitos, e não uma sabedoria daqueles que vivem em busca de perfeição.

“E estais perfeitos nele, que é a cabeça de todo o principado e potestade;” (Cl 2.10).

É estarrecedora a ideia que Champlin faz acerca do propósito da ética, ao aplica-la à doutrina dos apóstolos.

“g. O propósito da ética: 2ª Pe 1:4: «Ele nos tem dado grandes e preciosas promessas para que por elas fiqueis participantes da natureza divina, havendo escapado da corrupção que pela concupiscência há no mundo». Este texto fala da visão beatífica (que vede), da teologia, na qual o homem recebe uma iluminação espiritual de imensas dimensões, e o início da participação na natureza divina, que sempre aumenta de estágio para estágio, sem limite de tempo. Ver 2ª Co 3:18. A ética, desta maneira, é intensamente ligada com o destino metafísico do ser, sendo envolvido na transformação do espírito à imagem do Filho, Rm 8:29. Isto nós chamamos salvação (que vede).” Idem, Pág. 567.

É estranho ao evangelho de Cristo o que Champlin chama de salvação, de que a ética está ligada com o destino do ser, e que por ela se transforma o espírito à imagem do Filho.

Enquanto o apóstolo Pedro destaca a fé (evangelho) como preciosa e que todos os que creem em Cristo alcançaram (1ª Pe 1.1), certo é que os cristãos não foram chamados pela ética, antes pela glória e virtude de Cristo, de modo que, pelas grandíssimas e preciosas promessas, os cristãos sejam participantes da natureza divina.

O texto trata de comunhão, de se fazer um só corpo, de se fazer um com a verdade, por isso o termo ‘conhecimento’ é empregado. A iluminação dos olhos do entendimento se deu com o evangelho, o que resulta em ‘conhecimento’, ‘comunhão intima’.

É impossível através da ética o homem ser transformado à imagem do Filho, antes é através do evangelho que o homem morre e ressurge com Cristo um novo homem, homem este que, como um espelho, reflete a glória de Cristo, visto que foi transformado na mesma imagem de Cristo.

“E, chegando-vos para ele, pedra viva, reprovada, na verdade, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa, Vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo.” (1ª Pe 2.4-5).

A Bíblia fala de morte e ressurreição, quando é criado um novo homem, e não de uma transformação somente do espírito.

“Qual o terreno, tais são também os terrestres; e, qual o celestial, tais também os celestiais. E, assim como trouxemos a imagem do terreno, assim traremos também a imagem do celestial.” (1ª Co 15.48-49);

“Nisto é perfeito o amor para conosco, para que no dia do juízo tenhamos confiança; porque, qual ele é, somos nós também neste mundo.” (1ª João 4.17).

Neste mundo somos filhos de Deus (1ª João 3.1-3), e no vindouro seremos semelhantes a Ele, para que Ele seja primogênito entre muitos irmãos.

“Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos.” (Rm 8.29).

O apóstolo Paulo deixa claro que não há outro destino (predestinou) para aqueles se fizeram um com Cristo (conheceu): serão conforme a imagem de Cristo, pois o propósito de Deus é que Cristo seja primogênito entre muitos filhos de Deus iguais a Ele.

Ética, moral e evangelho

A moral, enquanto conjunto de regras de convívio em sociedade, não estabelece que alguém sofra agravos ou padeça injustamente, mas a compreensão do evangelho faz com que o cristão considere como agradável sofrer agravos por causa do evangelho.

“Porque é coisa agradável, que alguém, por causa da consciência para com Deus, sofra agravos, padecendo injustamente.” (1ª Pedro 2.19);

“Retiraram-se, pois, da presença do conselho, regozijando-se de terem sido julgados dignos de padecer afronta pelo nome de Jesus.” (Atos 5.41).

A moral impõe ao indivíduo, sob pena de ser censurado pelo grupo ou sociedade, que não se deve comportar na casa dos outros como se estivesse em sua própria casa. A moral impõe a cordialidade nas ações humanas, censurando a indiferença, intromissão, falta de discrição, etc.

Já a consciência para com Deus impõe aos cristãos que, se for em prol do evangelho, que sofra agravos. Mesmo o cristão não sendo malfeitor, visando promover o evangelho, que sofra o agravo, e assim, confunda os homens através do bom porte em Cristo.

“Tendo uma boa consciência, para que, naquilo em que falam mal de vós, como de malfeitores, fiquem confundidos os que blasfemam do vosso bom porte em Cristo.” (1ª Pe 3.16).

O bom porte do cristão é tido como ornamento do evangelho, exigência muito além da ética e da moral humana, pois impunha aos escravos à época dos apóstolos que fossem leais aos seus senhores (1ª Pe 2.18), até mesmo para com os maus:

“Não defraudando, antes mostrando toda a boa lealdade, para que em tudo sejam ornamento da doutrina de Deus, nosso Salvador.” (Tito 2.10);

“TODOS os servos que estão debaixo do jugo estimem a seus senhores por dignos de toda a honra, para que o nome de Deus e a doutrina não sejam blasfemados.” (1ª Tm 6.1).

A consciência cristã não impõe obrigações somente para com os não crentes (judeus e gregos), mas também impõe aos cristãos deveres para com a igreja de Deus:

“Portai-vos de modo que não deis escândalo nem aos judeus, nem aos gregos, nem à igreja de Deus.” (1ª Co 10.32).

O conceito de ética difere da moral, pois esta tem por base costumes e hábitos herdados ou que surgem das interações humanas, e aquela se fundamenta na razão. Já o apelo à consciência cristã não comporta exceções, visando sempre a propagação do evangelho.

“Vede que ninguém dê a outrem mal por mal, mas segui sempre o bem, tanto uns para com os outros, como para com todos.” (1ª Ts 5.15).

Quando Naamã se despediu do profeta Eliseu, solicitou que lhe fosse perdoado quando tivesse que se inclinar perante o deus Rimon, posto que não podia recusar fazê-lo quando o rei da Síria e senhor de Naamã se inclinasse (2ª Reis 5.17). Caso se encurvasse perante o deus Rimon, Naamã era passível de repreensão, ou estava mostrando boa lealdade para com seu senhor em tudo?

Sadraque, Mesaque e Abednego, de outra banda, se recusaram prostrar e adorar a estátua de ouro confeccionada pelo rei da Babilônia, Nabucodonosor. Sadraque, Mesaque e Abednego estavam corretos, ou Eliseu orientou Naamã equivocadamente? Havia alguma regra ética ou normal moral na Antiga Aliança que regulasse essas questões? Evidente que não!

A regra de ouro é:

“Tens tu fé? Tem-na em ti mesmo diante de Deus. Bem-aventurado aquele que não se condena a si mesmo naquilo que aprova.” (Rm 14.22).

Naamã não se condenava naquilo que aprovava, e os três jovens, Sadraque, Mesaque e Abednego, não impuseram as suas convicções aos demais filhos de Israel que estava no exílio babilônico.

Tanto Naamã, quanto os três jovens, apesar do comportamento diferente, tinham um propósito em comum: dar graças a Deus!

“Aquele que faz caso do dia, para o Senhor o faz e o que não faz caso do dia para o Senhor o não faz. O que come, para o Senhor come, porque dá graças a Deus; e o que não come, para o SENHOR não come, e dá graças a Deus.” (Rm 14.6).

Daí surgem duas premissas:

  1. Não julgar uns aos outros (Rm 14.13);
  2. Não impor tropeço ou escândalo ao irmão.

Cada cristão tem os seus motivos diante de Deus, e como tudo o que foi escrito é para instrução (Romanos 15.4), ao instruir Naamã, Eliseu considerou que o ídolo nada é (1ª Coríntios 10.19), e os três jovens propuseram evidenciar que serviam ao Deus de Abraão, Isaque e Jacó (Daniel 3.17).

Analisando uma questão ética decorrente de um caldo sociocultural, verifica-se que mesmo após pregar várias vezes em Jerusalém demonstrando que Jesus é o Cristo, o apóstolo Pedro, quando preparava o seu almoço, sofreu um arrebatamento de sentidos, e teve uma visão, sendo instruído por Deus a matar e comer os animais impuros que, na visão, desciam do céu em um vaso (Atos 10.10-16). Logo em seguida, ele foi solicitado por gentios para ir à casa de Cornélio, um estrangeiro.

Somente quando estava na casa de Cornélio, o apóstolo Pedro compreendeu que Deus não faz acepção de pessoas, e destacou a todos que ali estavam que era proibido um judeu ajuntar-se com gentios, mas que fora instruído a não considerar ninguém comum ou impuro (Atos 10.28). Em seguida anunciou que Deus não faz acepção de pessoas e, que lhe é agradável qualquer que, em qualquer nação, o teme e faz o que lhe é agradável (Atos 10.34-35).

As amarras das tradições, onde a ética faz suas análises e a moral floresce, ainda enlaçavam o apóstolo da circuncisão, que teve que evidenciar aos gentios a serem evangelizados a proibição dos judeus em não adentrar na casa de estrangeiros. Os costumes e as preferências diárias do apostolo Pedro eram ditados por uma herança imaterial, que desde tenra idade era utilizada para auxiliar distinguir entre o certo e o errado. Entretanto, até que ponto os valores morais do evangelista devem permanecer intocáveis, ou até que ponto o evangelista deve respeitar os entraveis morais dos evangelizados, visando a propagação do evangelho?

Enquanto cidadão de uma pátria, o cristão pode preservar valores pertinentes a sua nação, entretanto, tais valores não podem ser considerados quando se trata do corpo de Cristo. Apesar de ter sido instruído, aprendido a lição e continuar combatendo o bom combate, o apóstolo Pedro, quando em outro ajuntamento solene, tornou-se repreensível, pois comia com os gentios, mas ao ver alguns da circuncisão chegarem, afastou-se dos cristãos gentios para se achegar aos cristãos convertidos dentre os judeus, uma clara violação das premissas do evangelho de Cristo.

“Mas, quando vi que não andavam bem e direitamente conforme a verdade do evangelho, disse a Pedro na presença de todos: Se tu, sendo judeu, vives como os gentios, e não como judeu, por que obrigas os gentios a viverem como judeus?” (Gl 2.14).

Não andar bem e direito conforme a verdade do evangelho (boa consciência) pode levar o cristão a naufragar (não conservar, não guardar) na fé. O evangelho (fé) não comporta fingimento, pois qualquer posicionamento ou comportamento que exclui o irmão do corpo de Cristo é vã contenda, e pode levar o cristão a desviar-se do evangelho (fé).

Ora, o fim do mandamento é o amor de um coração puro, e de uma boa consciência, e de uma fé não fingida, do que, desviando-se alguns, se entregaram a vãs contendas;” (1ª Tm 1.5-6);

“Conservando a fé, e a boa consciência, a qual alguns, rejeitando, fizeram naufrágio na fé.” (1ª Tm 1.19).

Em quanto membro de uma determinada sociedade, o cristão deve se adaptar às práticas tidas como virtuosas e louváveis do ponto de vista da ética e da moral daquela sociedade. Ao escrever a Tito, o apóstolo Paulo destaca a necessidade de sujeição dos cristãos as autoridades e instituições humanas (estado e governo), bem como considerar a ética e a moral local (modestos[3], apropriado):

“Admoesta-os a que se sujeitem aos principados e potestades, que lhes obedeçam, e estejam preparados para toda a boa obra; Que a ninguém infamem, nem sejam contenciosos, mas modestos, mostrando toda a mansidão para com todos os homens.” (Tito 2.1-2).

Qual ética ou moral o cristão deve adotar? A moral judaica? A ética grega? A moral romana? A ética dos bárbaros? Ora, nenhuma e nem outra, e ao mesmo tempo considerar todas, observando sempre o que é apropriado, conveniente, sutil, etc.

Como pode ser isto? Ora, o cristão não deve adotar uma ética ou moral própria aos judeus, pois seria inevitável ao cristão querer impor aos outros povos práticas judaicas.

“Mas, quando vi que não andavam bem e direita mente conforme a verdade do evangelho, disse a Pedro na presença de todos: Se tu, sendo judeu, vives como os gentios, e não como judeu, por que obrigas os gentios a viverem como judeus?“ (Gálatas 2.14).

É por causa das diferenças culturais nas sociedades, que ao escrever aos cristãos convertidos dentre os judeus, o apóstolo Pedro enfatiza a condição de estrangeiros e forasteiros dos judeus cristãos, quando recomendou se absterem das questões judaicas (concupiscências carnais) enquanto vivessem entre os gentios, e adotassem um modo de vida[4] que as pessoas bendissessem a Deus no dia da visitação.

“Amados, peço-vos, como a peregrinos e forasteiros, que vos abstenhais das concupiscências carnais que combatem contra a alma; Tendo o vosso viver honesto entre os gentios; para que, naquilo em que falam mal de vós, como de malfeitores, glorifiquem a Deus no dia da visitação, pelas boas obras que em vós observem.” (1ª Pe 2.11-12).

A exigência do apóstolo Pedro aos judeus cristãos também se aplica aos romanos cristãos, aos gregos cristãos e aos brasileiros cristãos. A incumbência da igreja nunca foi e nem será impor ou transformar as leis, a ética e a moral da sociedade na qual o cristão está inserido.

A incumbência da igreja (corpo de Cristo) ou de seus membros em particular (cristãos) não é ditar normas de comportamentos ou práticas a serem adotadas pelos não crentes. Entretanto, ao longo da história da cristandade, verifica-se que várias instituições ditas cristãs têm se empenhado em impor valores comportamentais à sociedade alegando um modo de vida dito cristão.

Não existe um modo de viver cristão, ou modo de viver de crente. Observe:

“Mas, quando vi que não andavam bem e direita mente conforme a verdade do evangelho, disse a Pedro na presença de todos: Se tu, sendo judeu, vives como os gentios, e não como judeu, por que obrigas os gentios a viverem como judeus?“ (Gálatas 2.14).

O apóstolo Paulo podia ter repreendido o apóstolo Pedro dizendo: ‘Se tu, sendo judeu, vives como ‘crente’, e não como judeu’, se realmente houvesse um tipo especifico de comportamento cristão. Entretanto, não há um comportamento que se possa rotular ou dizer ser especifico dos crentes. Há entre os gentios ou entre os judeus um modo honesto de viver, e é esse modo apropriado (conveniente) que o cristão deve adotar (modo de vida).

É por isso que o apóstolo Paulo recomenda aos cristãos serem íntegros:

“Seja a vossa equidade notória a todos os homens. Perto está o SENHOR. (…) Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai. O que também aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim, isso fazei; e o Deus de paz será convosco.” (Fp 4.5 e 8-9).

Ética, moral e salvação

Não há no evangelho de Cristo qualquer referência a ética ou a moral humana, isto porque a perdição e a salvação da humanidade não decorrem e nem estão vinculadas a tais questões.

A perdição não se deu por causa de uma questão ética ou moral, antes se deu pela ofensa de um homem (Adão) a um mandamento, e todos os seus descendentes, por entrarem neste mundo por Adão (a porta larga), trilham um caminho que os conduz à perdição.

Semelhantemente, a salvação se dá por Cristo, a porta estreita, o último Adão, e todos que entram por Cristo trilham um caminho apertado que os conduz à vida.

“Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela; E porque estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem.” (Mt 7.13-14).

Onde está a moral e a ética nos quesitos perdição e salvação? Inexiste questões de ordem ética ou moral tanto para salvação ou para a perdição.

O homem moralmente correto, que vive de acordo com os preceitos herdado de seus pais, ou que toma suas decisões com base na razão, segundo a Bíblia, está em igual condição àquele que não é moralmente regrado ou que não segue a razão. Nicodemos e a mulher samaritana são dois personagens bíblicos que ilustram bem essa questão.

Crer em Cristo é a grande temática da Bíblia com relação à salvação, sem qualquer alusão às questões humanas de ética e moral.

Há quem diga que estudar ética é muito importante para aperfeiçoar o relacionamento e conduta do indivíduo na sociedade[5]. Grande equívoco, pois se assim fosse, bastava massivo ensino de filosofia no campo da ética e da moral para melhorarmos o comportamento do indivíduo na sociedade.

Ora, sabemos que a moral humana é delineada pela família e sociedade, e que os estudos acadêmicos não moldam o comportamento de ninguém.

Mas, equivoco maior surge quando alguém se apoia na premissa de que existe uma ética dita cristã, e que é necessário identificarmos os seus principais fundamentos a fim de aperfeiçoar a vida de comunhão com Deus.

Em nenhuma abordagem Jesus fez alusão a princípios éticos e morais que pudessem aperfeiçoar o crente, antes Ele apontou a palavra de Deus e o que ela faz:

“Vós já estais limpos, pela palavra que vos tenho falado.” (João 15:3).

A Bíblia não apresenta princípios éticos, morais ou legais, antes as instruções comportamentais aos cristãos são de ordem superior:

“Portai-vos de modo que não deis escândalo nem aos judeus, nem aos gregos, nem à igreja de Deus.” (1ª Co 10:32).

O cristão deve se comportar de modo apropriado para não impor entrave ao evangelho, e esse cuidado abrange todos os homens: quer judeu, quer grego ou a igreja de Deus.

Para o crente em Cristo não há restrições, antes plena liberdade:

“Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm; todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas edificam.” (1ª Co 10:23).

Isto posto, vemos que a Bíblia não trabalha com uma espécie de ‘ética cristã’, mas sim com a palavra de Deus, pois tudo o que não é proveniente de fé é pecado.

“Mas aquele que tem dúvidas, se come está condenado, porque não come por fé; e tudo o que não é de fé é pecado.” (Romanos 14:23).

Quando Deus ordenou a Abraão oferecer o seu único filho em holocausto, vemos a palavra de Deus acima de qualquer questão ética, moral ou legal. Como Abraão se propôs oferecer o seu único filho em obediência a palavra de Deus, ou seja, tendo por base a fé, o comportamento de Abraão não era pecado, embora tal conduta fosse censurável por parte da moral e das leis humanas.

Tamar resolveu enganar o seu sogro se passando por prostituta para prover descendência ao seu marido, Er. Tendo por base a moral e a ética, a atitude de Tamar é censurável, mas como ela buscou descendência para o seu marido em virtude da promessa feita a Jacó, a conduta dela não foi pecado, pois tinha por base a fé anunciada a Abraão.

Deus havia ordenado Saul exterminar completamente os amalequitas, porém, ele resolveu preservar a vida de Agague, rei dos amalequitas, e Deus o reprovou. Segundo a moral e a ética humana, preservar a vida de alguém é louvável, mas como a atitude de Saul não tinha por base a fé, ou seja, a palavra de Deus, a conduta de Saul foi tida como pecado.

É em função da não existência de uma ética ou moral cristã que o apóstolo Paulo recomenda aos cristãos que se portem de modo digno da salvação, com disposição para portar-se honestamente em tudo.

“ROGO-VOS, pois, eu, o preso do Senhor, que andeis como é digno da vocação com que fostes chamados,” (Ef 4:1);

“Orai por nós, porque confiamos que temos boa consciência, como aqueles que em tudo querem portar-se honestamente.” (Hebreus 13.18).

É imprescindível para quem quer portar-se de modo honesto em tudo permanecer na condição que foi chamado:

“E assim cada um ande como Deus lhe repartiu, cada um como o Senhor o chamou. É o que ordeno em todas as igrejas. É alguém chamado, estando circuncidado? fique circuncidado. É alguém chamado estando incircuncidado? não se circuncide. A circuncisão é nada e a incircuncisão nada é, mas, sim, a observância dos mandamentos de Deus. Cada um fique na vocação em que foi chamado. Foste chamado sendo servo? não te dê cuidado; e, se ainda podes ser livre, aproveita a ocasião.” (1ª Co 7.17-21).

Por que? Qualquer mudança na condição de quem segue ao evangelho gerará entraves na sociedade. Se alguém é chamado incircunciso e quer se circuncidar, trará entraves a si mesmo e aos seus familiares e amigos, e acabará por querer impor a eles a sua nova condição.

Aos donos de escravos, o apóstolo Paulo somente recomendou que se fizesse o que fosse de justiça e equidade aos seus servos, sem ameaças (Colossenses 4.1; Efésios 6.9). Por que não foi determinado aos senhores cristãos que fosse dada carta de alforria aos seus escravos? Porque seria perturbada a ordem social vigente, causando mais estrago do que edificação no evangelho. Que diriam outros senhores quando soubessem que, por tornar-se seguidor de Cristo, um senhor cristão havia despedido forro aos seus servos?

Caso um senhor ordenasse a um escravo ou escrava cristão que se deitasse com outro escravo para prover mais escravos, qual seria o dever do escravo cristão? Obedecer, ou alegar que não faria porque agora era cristão?

“Vós, servos, sujeitai-vos com todo o temor aos senhores, não somente aos bons e humanos, mas também aos maus.” (1ª Pe 2.18).

Dizer que a ética e a moral humana se fundamentam em valores materialistas e relativistas tendo por base o modelo sociocultural de hoje é leviano, pois os conceitos pós-modernos jamais relativizam as doutrinas cristãs e a ética e a moral decorrem e se transformam segundo os valores próprios à sociedade e o seu tempo. A ética e a moral rotulada como cristã não tem como eixo a Palavra de Deus, pois esta é revelação divina imutável e, aquela é mutável ao sabor dos valores que tocam as sociedades em tempos determinado.

[1] “C. Princípios Éticos 1. Novo Testamento a. O problema ético envolve uma luta cósmica. 1 João 5:18: «Sabemos que os filhos de Deus não continuam pecando, porque o Filho de Deus os guarda, e o Diabo não pode tocar neles». Efésios 6:12: «Porque nós não estamos lutando contra seres humanos, mas contra as forças espirituais do mal que vivem no mundo celestial, os governos, as autoridades do universo desta época de trevas».” Champlin, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, vol. 1, Ed. Hagnus, 11ª Edição, 2013, pág. 567. (Grifo nosso)

[2] “14. A Devoção de Platão – Estamos informados de que a devoção religiosa de Platão era grande, assim ele pode ser descrito como o Jeremias ou o Isaías grego. 15. Dualismo – Platão montou o alicerce do dualismo cristão, fazendo do homem um cidadão de dois mundos. Hegel falou: «Platão ensinou quão perto Deus é, e como a razão humana é verdadeiramente unida com ele».” Idem. (Grifo nosso)

[3] “1933 επι εικ ης epieikes de 1909 e 1503; TDNT – 2:588,243; adj 1) aparente, apropriado, conveniente 2) equitativo, íntegro, suave, gentil” Dicionário bíblico Strong.

[4] “391 ανα στ ροφ η anástrofe de 390; TDNT – 7:715,1093; n f 1) modo de vida, conduta, comportamento, postura” Dicionário bíblico Strong.

[5] “Estudar ética é muito importante para o aperfeiçoamento dos nossos relacionamentos e conduta na sociedade. Entretanto, neste trimestre, veremos que a Ética Cristã difere da secular. Enquanto esta se fundamenta em valores materialistas e relativistas, aquela tem como eixo a Palavra de Deus, a revelação divina imutável. Assim, como vivemos em uma época onde os conceitos pós-modernos relativizam as doutrinas cristãs, é relevante identificarmos os principais fundamentos da Ética Cristã a fim de aperfeiçoar nossa vida de comunhão com Deus e testemunho cristão à sociedade (Mt 5.13,14).” CPAD, Revista, Lições Bíblicas Adultos, Valores Cristãos – Enfrentando as questões morais de nosso tempo, Comentarista Pr. Douglas Baptista, 2 Trimestre 2018. (Grifo nosso).

Claudio Crispim

Nasceu em Mato Grosso do Sul, Nova Andradina, em 1973. Aos 2 anos, sua família mudou-se para São Paulo, onde vive até hoje. O pai ‘in memória’ exerceu o oficio de motorista de ônibus coletivo e a mãe comerciante, ambos evangélicos. Claudio Crispim cursou o Bacharelado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública na Academia de Policia Militar do Barro Branco e, atualmente exerce a função de Capitão da Policia Militar do Estado de São Paulo. É casado com Jussara e é pai de dois filhos, Larissa e Vinícius. É articulista do Portal Estudo Bíblico (www.estudosbiblicos.org), com mais de 360 artigos publicados e distribuídos gratuitamente na web.

NOTA: Preparei as minhas adaptações e criei um áudio, expressando os meus comentários associados ao tema da postagem.

https://estudobiblico.org/etica-e-moral-crista/


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O dom de pensar e a servidão do pensamento

REFLEXÃO — ROBINSON CAVALCANTI

Criados para pensar

Deus escolhe um momento único e último — como símbolo de sua importância — para criar os seres humanos, parcela privilegiada da criação, marcados com os atributos de sua imagem e semelhança, entre estes a capacidade de pensar. Os humanos, pela graça de Deus, são os únicos seres pensantes. Isso os equipa para a realização do propósito de serem mordomos e continuadores da obra de Deus (mandato cultural).

Somente os humanos seriam capazes de compreender, refletir, propor e intervir significativamente. Vão, assim, gerando as culturas em sua materialidade (cadeiras, automóveis) e imaterialidade (governo, moral), com toda sua diversidade. A expulsão do Éden trouxe a ambiguidade e a contradição entre a imago dei e o pecado em todos os seres e em tudo que fazem, inclusive no pensar. Além de diferentes coeficientes intelectuais, pensamos construtiva ou destrutivamente.

A queda não leva Deus a desvalorizar o pensamento humano. Ele o inspira na elaboração das Escrituras Sagradas e o ilumina em sua leitura — nunca o anula. Isso nos difere da visão islâmica (ditado textual) e da visão espírita (psicografia).

Pensar é um dom, um privilégio e uma responsabilidade. Paulo nos ensina que, no processo de santificação, vamos nos aproximando dos pensamentos de Deus, “tendo a mente de Cristo”.

Querer ser como Deus (e pensar no infinito de Deus) foi o pecado original. Fugir do pensar é desobediência, preguiça intelectual e agressão a um dom outorgado. Ignorância deliberada, embotamento mental, bitolamento reflexivo, dogmatismo do saber são igualmente expressões do pecado. “Crer é também pensar” — bem afirmou conhecido teólogo.

Os riscos do pensar

Pensar é também um exercício perigoso. Os sistemas de poder políticos, econômicos e religiosos, em todas as épocas, elaboraram sua compreensão “oficial” das coisas (ideologia), que justificam suas existências, tantas vezes perversas. Questionar o pensamento “correto” ou “normal” e propor alternativas (utopias) é sempre entendido como atividade “subversiva”, resultando em prisões, torturas, censuras, ostracismo, degredo e morte. O pensamento nunca é neutro ou sem consequências.

O estado, a escola, a mídia, a igreja têm sido instrumentos de uma tarefa domesticadora, enquadradora na ordem (pecaminosa), mutiladora ou inibidora do pensamento. Afinal, o que foram (e são) as inquisições? A teologia da denominação, a ideologia do partido, a moral da sociedade nada mais são do que expressões localizadas do “pensamento único” e “correto” contra os desvios tidos como delituosos, heréticos ou imorais, mesmo que (e na maioria das vezes) a sua fonte seja a cultura e os sistemas, e não a revelação.

A filosofia originada entre os gregos foi um grande avanço na sistematização do pensamento humano. Se, por um lado, condenamos o delírio racionalista arrogante, não podemos deixar, por outro lado, de igualmente condenar o preconceito contra a filosofia (e as ciências humanas) nos círculos religiosos reacionários, que confundem ignorância com inocência e irracionalidade com santidade e se veem como donos da verdade.

Graças ao dom de pensar, temos hoje aviões e vacinas, rádios e democracias. Seria insano querer a volta à caverna e à tirania.

O cristão conhece suas limitações e condicionamentos, inclusive na tarefa de interpretar o texto sagrado e o mundo em que vive, o que o deveria conduzir à humildade e à escuta respeitosa do ponto de vista alheio.

Hereges ou profetas?

Na experiência pessoal, na dimensão subjetiva existencial, o pensamento pode ser fonte de bênção ou de maldição. Muitos são prisioneiros de sistemas fechados de pensamento (inclusive religiosos), elaborados com sentido em outras épocas, lugares e circunstâncias, e que agora afogam o seu superego (consciência inibidora), em razão de sua indevida sacralização. Muitos se acomodam em suas “gaiolas de ouro” do saber, que lhes dão falsa segurança e os poupa da dor e dos riscos do pensar alternativo libertador. Fazer escolhas é sempre doloroso, especialmente quando se escolhe diferentemente da maioria ou dos sistemas. Muitos se sentem confusos, dilacerados, desorientados, frustrados, culpados, perdidos, desajustados pelo incontrolável exercício do pensamento com ruptura.

As limitações dos que se sentem “infratores” nunca permitirão que percebam a grandeza de serem, muitas vezes, inovadores, criadores, revolucionários, construtores da história.

Os destinados a profetas, mas que se acham apenas hereges ou pecadores, sentem a compulsiva necessidade da autoflagelação, exibida em deprimentes espetáculos públicos, a necessidade do humilhante flagelamento corretor do grupo social, em ritos que os levam a uma nova aceitação na “normalidade”, quando voltam a conhecer a (in)felicidade e a paz volta a reinar por muitos e muitos anos…

Discernir é preciso. A providência, a graça, a cruz, o túmulo vazio nos libertaram das cavernas, da lei, das ideologias e dos sistemas, possibilitando a in-conformação criadora e o martírio como morte pela vida.

Em um mundo de arrogantes “ideias únicas”, como o neoliberalismo, o fundamentalismo e outros, Deus continua a levantar profetas do pensar, nem sempre dignos de sua vocação. Os condicionamentos, as fragilidades, os medos terminam por desqualificar seu cérebros inutilmente brilhantes da tarefa de “singrar novos mares” na vida e na história.

Ainda bem que Jesus pensou… e quão diferente…

Robinson Cavalcanti foi bispo da Diocese Anglicana do Recife e autor de, entre outros, A utopia possível; em busca de um cristianismo integral.

O dom de pensar e a servidão do pensamento – Edição 262 | Revista Ultimato

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Por que os cristãos devem usar suas mentes?

A primeira razão se apresentará a todo crente que deseja ver o evangelho proclamado e Jesus Cristo reconhecido no mundo todo. Trata-se do poder do pensamento humano na concretização de ações. A História está repleta de exemplos da influência que grandes idéias exercem. Todo movimento de poder teve a sua filosofia que se apossou da mente, inflamou a imaginação e capacitou a devoção de seus seguidores. Basta pensar nos manifestos fascista e comunista do século passado, na obra “Mein Kampf” de Hitler, de um lado, e no “Das Kapital” de Marx e “Pensamentos” de Mao, do outro. A. N. Whitehead resume isso da seguinte forma: Uma grande parte do mundo é atualmente dominada por ideologias que, se não completamente falsas, são estranhas ao evangelho de Cristo. Apregoamos “conquistar” o mundo para Cristo. Mas que espécie de “conquista” temos em mente? Certamente que não uma vitória baseada na força das armas.

Nossa cruzada cristã diferencia-se completamente das vergonhosas cruzadas da Idade Média. Observemos a descrição que Paulo faz dessa batalha: “Na verdade, as armas com que combatemos não são carnais, mas têm, a serviço de Deus, o poder de destruir fortalezas. Destruímos os raciocínios presunçosos e todo poder altivo que se levanta contra o conhecimento de Deus. Tornamos cativo todo pensamento para levá-lo a obedecer a Cristo”. Esta é uma batalha de idéias, a verdade de Deus vencendo as mentiras dos homens. Será que acreditamos no poder da verdade?

Não muito tempo depois que a Rússia brutalmente reprimiu a revolta húngara de 1956, o Sr. Kruschev referiu-se ao precedente dado pelo Czar Nicolau I, que comandara combate à revolta húngara de 1848.

Num debate sobre a Hungria, travado na Assembléia Geral das Nações Unidas, Sir Leslie Munro citou as observações feitas por Kruschev e concluiu seu discurso relembrando uma declaração feita por Lord Palmerston na Casa dos Comuns em 24 de julho de 1849, com respeito ao mesmo assunto. Palmerston tinha dito o seguinte: “As opiniões são mais fortes que os exercícios. Se fundadas na verdade e na justiça, as opiniões ao fim prevalecerão sobre as baionetas da infantaria, os tiros da artilharia e as cartas da cavalaria”… Deixando de lado exemplos seculares do poder do pensamento, passo agora a abordar algumas razões, mais propriamente cristãs, pelas quais devemos fazer uso de nossas mentes. Meu argumento agora é que nas doutrinas básica da fé cristã, doutrinas da criação, revelação, redenção e juízo, em todas elas está implícito que o homem tem um duplo e inalienável dever: o de pensar e o de agir de conformidade com o seu pensamento e conhecimento.

Crer é também pensar
John R. W. Stott

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Como vacinar em larga escala contra a COVID-19?

Gostei muito desse vídeo associado a logística de armazenamento, transporte e vacinação contra a COVID-19.

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Resumo dos acessos ao Blog

 

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       O mais importante é a dimensão do alcance das mensagens, isto sim é um indicativo de que as pessoas tem lido frequentemente os textos e tem se agradado.

       O Espírito de Deus afirma em:

Mt 7:16-29

“Por seus frutos os conhecereis. Porventura colhem-se uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos? Assim, toda a árvore boa produz bons frutos, e toda a árvore má produz frutos maus.

Não pode a árvore boa dar maus frutos; nem a árvore má dar frutos bons.

Toda a árvore que não dá bom fruto corta-se e lança-se no fogo.

Portanto, pelos seus frutos os conhecereis.

Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus.

Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas?

E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade.

Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras, e as pratica, assemelhá-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha;

E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e não caiu, porque estava edificada sobre a rocha.

E aquele que ouve estas minhas palavras, e não as cumpre, compará-lo-ei ao homem insensato, que edificou a sua casa sobre a areia;

E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e caiu, e foi grande a sua queda.

E aconteceu que, concluindo Jesus este discurso, a multidão se admirou da sua doutrina;

Porquanto os ensinava como tendo autoridade; e não como os escribas. “ 

Verdadeiramente, o blog  tem cumprido o seu propósito e alcançado números inimagináveis, pelo menos no meu entendimento,  ao tratar de assuntos relacionados ao reino de Deus.

Romanos 14:17

“Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo.”

       Entre outras coisas, um lugar de testemunho, de considerações pessoais, estudo bíblico e onde posso lançar textos e periódicos de autores conhecidos dos cristãos em geral e outros assuntos semelhantes.

Louvado seja Deus. 

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Lições da Liderança de Neemias

E sucedeu que, ouvindo eu essas palavras, assentei-me, e chorei, e lamentei por alguns dias; e estive jejuando e orando perante o Deus dos céus.” (Ne 1.4)

A igreja do século 21 necessita de líderes autênticos que se dediquem com afinco na obra do Senhor. Pode parecer sem sentido, em pleno século 21, buscarmos inspiração na lide­rança de um homem que viveu quase quinhentos anos antes de Cris­to, mas a igreja do Senhor Jesus, que se constitui dos que o aceitaram como Salvador, carece de modelos autênticos de liderança pautados nos princípios da sua Palavra. Neemias, então, é um dos grandes exemplos para os nossos dias. Neste capítulo apresentamos um resu­mo da sua liderança com base nos textos já comentados.

A ciência da administração oferece subsídios que podem ser apli­cados à liderança eclesiástica. Sem cair no tecnicismo, é possível exa­minar o que há de interessante nos compêndios de administração. Mas é na Palavra de Deus, a Bíblia Sagrada, que os líderes devem buscar a inspiração para exercer sua gestão à frente das igrejas locais. Muitos modelos de igreja têm sido formulados e divulgados em publicações e editoriais em todos os lugares. E vários desses modelos não pas­sam de modismos que surgem, mas que em poucos anos não se ouve mais falar neles. Quando se examinam tais propostas de organização de igrejas, verifica-se que não passam de tentativas de apresentar algo inédito no que diz respeito à administração eclesiástica.

Contudo, verificando as páginas da Bíblia, observamos modelos especiais de liderança que servem de referência para os que desejam conduzir a igreja local conforme a vontade de Deus. O livro de Nee­mias é um desses exemplos de administração que podem e devem ser valorizados. Não obstante tratar-se de uma experiência de liderança desenvolvida há tantos séculos, contém princípios e orientações de grande valor para os líderes atuais.

Deus sempre Tem alguém para Usar

Neemias era um desconhecido. De acordo com alguns padrões estabelecidos, somente as pessoas que estão em evidência podem ser usadas por Deus. Contudo, segundo os mandamentos bíblicos, Deus usa quem se coloca a sua disposição. Quando quer, chama alguém que não tem relevância aos olhos dos homens. Ainda que o cargo de copeiro, exercido por Neemias, fosse de alta confiança, sua ação restringia-se às paredes do palácio. Entretanto, por causa de seu ca­ráter e relacionamento com Deus, foi chamado de forma especial para uma grande missão.

Ele era desconhecido para os homens, incluindo seus compatrio­tas que se achavam em Jerusalém sofrendo os resultados da grande crise que se abatera sobre eles. Mas não era desconhecido de Deus. Diz o salmista: “Quem é como o Senhor, nosso Deus, que habita nas alturas; que se curva para ver o que está nos céus e na terra; que do pó levanta o pequeno e, do monturo, ergue o necessitado, para o fazer assentar com os príncipes, sim, com os príncipes do seu povo” (SI 113.5-8).

Ester era uma desconhecida. O rei Assuero, da Pérsia, tomado de um acesso de vaidade, resolveu exibir os dotes físicos e a beleza de sua esposa, Vasti, perante os convidados na festa nacional celebra­da com pompas e luxo. Como sua esposa recusou-se a desfilar como uma “miss”, foi destituída do trono. Para seu lugar foi determinado que se convocassem as mais belas moças do reino. Provavelmente, entre as “beldades” convocadas havia jovens ricas e de elevado nível de instrução. Entretanto, Deus entrou em ação e fez com que uma jovem simples, órfã, criada por um primo, fosse a escolhida pelo rei. A jovem Ester, ou Hadassa, foi usada por Deus não apenas para ser rainha (Et 2.17), mas para ser instrumento em suas mãos a fim de livrar o seu povo da destruição.

Davi era um simples pastor de ovelhas. Quando o rei Saul per­deu a bênção de Deus em sua vida por ter desobedecido ao profeta Samuel, Deus determinou que o profeta fosse a Belém escolher um substituto para o desviado monarca. “Então, disse o Senhor a Sa­muel: Até quando terás dó de Saul, havendo-o eu rejeitado, para que não reine sobre Israel? Enche o teu vaso de azeite e vem; enviar-te-ei a Jessé, o belemita; porque dentre os seus filhos me tenho provido de um rei” (1ª Sm 16.1). Quem seria o escolhido? Abinadabe? Samá? O que tivesse uma boa aparência?

Não. O escolhido foi o jovem Davi, o filho mais novo de Jessé, que cuidava das ovelhas de seu pai. Não era conhecido entre seus concidadãos. Sua vida era apascentar ovelhas nas campinas verde- jantes, às margens de fontes de água, cuidando do rebanho de seu pai. Mas Deus pôs os olhos nele e o escolheu para ser um dos maio­res reis de Israel. “Então, mandou em busca dele e o trouxe (e era ruivo, e formoso de semblante, e de boa presença). E disse o Senhor: Levanta-te e unge-o, porque este mesmo é. Então, Samuel tomou o vaso do azeite e ungiu-o no meio dos seus irmãos; e, desde aquele dia em diante, o Espírito do Senhor se apoderou de Davi. Então, Sa­muel se levantou e se tornou a Ramá” (1ª Sm 16.13).

Poderíamos também discorrer sobre José, o filho de Jacó. Odia­do pelos irmãos, vendido a desconhecidos, caluniado por uma mu­lher ímpia e lançado no cárcere, contudo exaltado por Deus para ser o governador do Egito e salvar o seu povo da fome. Por que não falar de Elias, que imaginou ser o único sobrevivente, mas Deus tinha sete mil para fazer sua obra? Falaríamos também de Elizeu, Amós, Obadias, Pedro, Tiago, João e os demais apóstolos que foram homens simples, mas com qualidades que agradavam a Deus. Esses exemplos nos mostram que quando Deus decide usar alguém Ele não precisa de “pistolão” ou ser famoso. Para Deus o que de fato importa é disponibilidade do indivíduo, como já foi dito anteriormente.

Neemias um Líder Integro

Ele tinha integridade espiritual. Antes de tomar qualquer de­cisão, ele buscava a Deus em oração. “E sucedeu que, ouvindo eu essas palavras, assentei-me, e chorei, e lamentei por alguns dias; e estive jejuando e orando perante o Deus dos céus” (Ne 1.4). Ele teve sensibilidade ao saber da realidade em que se encontrava seu povo. Ao tomar conhecimento da triste situação em que se encontrava Je­rusalém, ele não permaneceu como estava, como se nada estivesse acontecendo. Ele tomou uma atitude, que revela sentimento de inte­resse sincero e amor por seu povo.

“Assentei-me e chorei, e lamentei.” Neemias não tinha a cultu­ra machista do mundo ocidental que alardeia que “homem não cho­ra”. Ele interrompeu o que estava fazendo e aguardou o momento adequado, e assentou-se tomado de intensa emoção. Chorou e la­mentou a situação de seu povo. Não será isso o que está faltando em nossos dias? Homens de Deus que chorem e lamentem diante da situação trágica do nosso povo? Quando falamos “nosso povo”, referimo-nos à Igreja de Cristo em todo o mundo. O que estamos fazendo como líderes? Estamos chorando e lamentando pela Igreja? Em termos gerais, parece que não.

Ele tinha integridade moral. Dizem que três coisas podem der­rubar os líderes: dinheiro, sexo e poder. Ao observarmos a história e as experiências de Neemias como líder, não vemos qualquer referên­cia que desabone sua conduta.

1) Na área do dinheiro. Não obstante ter administrado recursos financeiros e patrimoniais na reconstrução dos muros de Jerusa­lém, não usou indevidamente das contribuições. Não foi deso­nesto, nem desviou recursos destinados à obra do Senhor para proveito pessoal. Quando percebeu os desmandos cometidos por administradores da obra, Neemias protestou: “Disse mais: Não é bom o que fazeis: Porventura, não devíeis andar no temor do nosso Deus, por causa do opróbrio dos gentios, os nossos inimigos? Também eu, meus irmãos e meus moços, a juro, lhes temos dado dinheiro e trigo. Deixemos este ganho. Restituí-lhes hoje, vos peço, as suas terras, as suas vinhas, os seus olivais e as suas casas, como também o centésimo do dinheiro, do trigo, do mosto e do azeite, que vós exigis deles. Então, disseram: Restituir-lhe-emos e nada procuraremos deles; faremos assim como dizes. Então, chamei os sacerdotes e os fiz jurar que fariam con­forme esta palavra” (Ne 5.9-12).

Silva acentua o caráter de Neemias como um líder exemplar: “Neemias não deixou que nenhuma tentação material, como a de fazer investimentos em terrenos, que lhe poderiam render boas rendas e dividendos, o desviasse de sua meta que era a tarefa de reconstruir o muro. Para isso Deus o houvera chamado e por isso ele teria que responder diante de Deus”.

2) Na área do sexo. À medida que lemos o livro de Neemias, não o vemos envolvido em relacionamentos ilícitos. Era comum os lí­deres buscarem muitas mulheres para si, pois a cultura da época permitia que o líder possuísse várias esposas e também concubinas, que lhe atendiam a qualquer hora em suas necessidades sexuais. Davi teve esposas e concubinas. Salomão perdeu-se ao formar um harém jamais visto na história de Israel. Contudo, Neemias soube portar-se como um verdadeiro líder, não se deixou levar pelos ins­tintos carnais buscando aproveitar-se dos prazeres do sexo. Hoje conhecemos dezenas de casos de líderes cristãos que se envolve­ram em escândalos sexuais corrompendo até menores de idade.

3) Na área do poder humano. Uma vez alguém declarou: “Quer saber quem é o homem? Dê-lhe poder”. A experiência geral parece confirmar essa idéia. Há pessoas que quando são simples congregados ou membros comportam-se de forma éti­ca, respeitosa e séria. Entretanto, ao assumirem um cargo na administração da igreja local, mudam completamente. Muitos se esquecem dos princípios bíblicos e se corrompem. Determinado líder de uma grande igreja passou a usar o dinheiro dos dízimos e das ofertas para proveito próprio. Adquiriu ter­renos, casa, postos de gasolina, moeda estrangeira, veículos, e registrou-os em seu nome. Contudo, esse mesmo homem era radical com a questão dos costumes. Disciplinava os seus mem­bros, sobretudo os jovens, por qualquer deslize, mas era um cor­rupto. No entanto, Deus o fez cair do “trono”.

Neemias soube administrar o poder que lhe fora conferido por Deus para ser o líder da restauração dos muros da Cidade Santa. Neemias não se corrompeu. Lord Acton, historiador católico, fez a seguinte declaração: “O poder corrompe e o poder abso­luto corrompe absolutamente”. A história, portanto, confirma esse pensamento, pois grandes ditadores e líderes tornaram-se corruptos.

Neemias foi um exemplo de integridade no período em que ad­ministrou a reconstrução dos muros: “Também desde o dia em que fui nomeado seu governador na terra de Judá, desde o ano vinte até ao ano trinta e dois do rei Artaxerxes, doze anos, nem eu nem meus irmãos comemos o pão do governador. Mas os primeiros governadores, que foram antes de mim, oprimiram o povo e tomaram-lhe pão e vinho e, além disso, quarenta si­dos de prata; ainda também os seus moços dominavam sobre o povo; porém eu assim não fiz, por causa do temor de Deus” (Ne 5.14,15 – grifo nosso).

Eis a razão por que um homem de Deus não se corrompe no uso do seu cargo ou função: “Por causa do temor de Deus”. Se não houver esse temor, será grande a probabilidade da corrupção ad­ministrativa ou moral no desenvolvimento das funções eclesi­ásticas ou administrativas. Que Deus nos guarde desse péssimo exemplo.

4) Lição para os líderes de hoje. Com o crescimento dos evan­gélicos, grande parte dos líderes está comemorando. Entretanto, grandes ministérios parecem não se importar com os muros da moral e da ética arruinados. As portas espirituais estão queima­das em função do ecumenismo; o satanismo, por exemplo, tem boa aceitação nas altas esferas da sociedade. A corrupção está presente em todos os poderes do país. A pros­tituição e o homossexualismo já estão banalizados, isto é, as pessoas agem e reagem como se essas práticas fossem normais. Escândalos praticados por líderes evangélicos são divulgados, e nós não choramos e nem lamentamos diante de Deus. Ainda que pareça um jargão, podemos dizer que chorar é preciso! O pro­feta Joel também teve que chorar e exortar os sacerdotes de seu tempo por causa da calamidade espiritual de seu povo: “Cingi- vos e lamentai-vos, sacerdotes; gemei, ministros do altar; entrai e passai, vestidos de panos de sacos, durante a noite, ministros do meu Deus; porque a oferta de manjares e a libação cortadas foram da Casa de vosso Deus” (Jl 1.13).

Neemias valorizava a vida devocional. É de fundamental im­portância que o líder reserve em sua agenda momentos para o cultivo de sua vida devocional, pois dessa forma estreita sua comunhão com Deus. Neemias era um líder que cuidava da sua vida secular, mas também zelava por sua vida espiritual.

1) À oração. “E sucedeu que, ouvindo eu essas palavras, assen­tei-me, e chorei, e lamentei por alguns dias; e estive jejuando e orando perante o Deus dos céus” (Ne 1.4). Neemias sabia onde buscar o socorro ante os desafios da liderança. Há obreiros que são excelentes pregadores, ótimos cantores, mas são descuida­dos quanto à vida de oração. A oração é a base da vida ministe­rial ao lado da leitura bíblica.

O obreiro precisa orar todos os dias. Começar um dia de trabalho sem oração é correr um grande risco de enfrentar situações difíceis sem encontrar a solução para os elas. O exercício diário da oração é um reforço maravilhoso para a dinamização da igreja local. Há um ditado proferido nos púlpitos que declara: “Muita oração, muito po­der; pouca oração, pouco poder; nenhuma oração, nenhum poder”. A oração é a chave que abre as portas do sobrenatural quando o líder está buscando a unção do Espírito Santo. Neemias era homem de oração. Davi orava três vezes ao dia (SI 55.17); Daniel orava três vezes ao dia (Dn 6.10); Jesus orava diariamente (Mt 26.44a ). O salmista também tinha o costume de começar o dia orando e vigiando. Um hino antigo diz: “Bem de manhã, embora o céu se­reno pareça o dia a calma anunciar, vigia e ora o coração peque­no, que um temporal pode abrigar”. Segundo o Pr. David Young Cho, pastor da maior igreja pentecostal, o segredo para uma boa liderança está na oração, se possível, feita mais de uma vez ao dia. O obreiro que ora tem ao seu dispor a energia e o poder de Deus para desenvolver seu ministério.

2) O estudo da Bíblia Sagrada. No sétimo mês do ano, Ne­emias reuniu o povo, na praça principal da cidade, para ouvir a leitura da Palavra de Deus (Ne 8.1). “E Esdras, o sacerdote, trouxe a Lei perante a congregação, assim de homens como de mulheres e de todos os entendidos para ouvirem, no primeiro dia do sétimo mês. E leu nela, diante da praça, que está diante da Porta das Águas, desde a alva até ao meio-dia, perante homens, e mulheres, e entendidos; e os ouvidos de todo o povo estavam atentos ao livro da Lei” (Ne 8.2,3).

Neemias era homem de Deus dedicado à leitura e ao estudo da lei, por isso, estava entre os que ensinavam o povo a Palavra de Deus. Após a reconstrução dos muros ele percebeu que precisava reconstruir a vida espiritual do povo. “E leram o livro, na Lei de Deus, e declarando e explicando o sentido, faziam que, lendo, se entendesse. E Neemias (que era o tirsata), e o sacerdote Esdras, o escriba, e os levitas que ensinavam ao povo disseram a todo o povo: Este dia é consagrado ao Senhor, vosso Deus, pelo que não vos lamenteis, nem choreis. Porque todo o povo chorava, ouvindo as palavras da Lei” (Ne 8.8,9 – grifo nosso). Neemias era o tirsa­ta, ou seja, o governador da cidade. Seu tempo era ocupado nas atividades administrativas, legais e sociais. Mas ele não se descui­dava do cuidado com a Palavra de Deus. Para ensinar, ele gastava horas lendo e estudando a Palavra do Senhor.

3) Lição para os obreiros de hoje. Assim como Neemias, o obreiro precisa ler e estudar a Bíblia diariamente para que tenha o que transmitir à igreja. Os dias são maus, por isso há muitos motivos para que o obreiro dedique-se mais ao estudo da Palavra de Deus.

Meditação: O salmista tinha prazer em ler e meditar na Palavra de Deus: “Oh! Quanto amo a tua lei! E a minha meditação em todo o dia!” (SI 119.97). “Antecipei-me à alva da manhã e clamei; esperei na tua palavra” (SI 119.147). Thomas E. Trask: “Todos os dias, das cinco às sete da manhã, estudo a Bíblia e oro” (Trask, p. 17).

Prevenção: E necessário ter a palavra no coração para não pecar (SIl119.11).

Consolo: “Isto é a minha consolação na minha angústia, porque a tua palavra me vivificou” (SI 119.50).

Direção divina: “Lâmpada para os meus pés é tua palavra e luz, para o meu caminho” (SI 119.105).

Ordenamento ministerial: “Ordena os meus passos na tua pa­lavra, e não se apodere de mim iniquidade alguma” (Sl 119.133).

Espelhando-se em Neemias, o obreiro que lê a Bíblia diariamen­te torna-se sábio para dirigir o rebanho que lhe confiou o supremo Pastor.

O Obreiro e a Santificação

A vida espiritual do obreiro requer santificação, pois ela é condi­ção indispensável para chegar-se a Deus. Sem santificação ninguém verá o Senhor (Hb 12.14). Já vimos, no estudo do livro de Neemias, que ele era homem íntegro diante de Deus e do povo. A integridade é componente indispensável à santificação.

A santificação pessoal. Talvez seja uma das exigências que dê mais trabalho para ser alcançada. Normalmente, os obreiros en­volvem-se tanto com as tarefas eclesiásticas e ministeriais que se esquecem de cuidar da sua própria alma, e isso é um grande peri­go. Para santificação pessoal, o obreiro precisa considerar algumas coisas:

1) Apresentando-se a Deus. Antes de apresentar-se à igreja, às pessoas, o obreiro precisa ter consciência de que deve apresentar-se a Deus, e a Bíblia nos diz como devemos fazê-lo: “Procura apresen­tar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se enver­gonhar, que maneja bem a Palavra da Verdade” (2ª Tm 2.15).

2) O cuidado de si mesmo. “Tem cuidado de ti mesmo, e da doutrina…” (1ª Tm 4.16). Esse versículo enfatiza dois aspectos importantes na vida do obreiro. Primeiro, o cuidado de si mes­mo. Segundo, o cuidado com a doutrina. Esses dois cuidados precisam andar juntos, um não pode ser bem-sucedido sem o outro. O cuidado de si mesmo pode ser visto de modo abrangen­te. O obreiro precisa cuidar de sua vida espiritual, moral, social, familiar e financeira.

O cuidado com a doutrina refere-se ao zelo na ministração da Palavra e pelo fiel cumprimento da doutrina do Senhor. Para alcançar esse objetivo (esse cuidado), faz-se necessário que o obreiro seja disciplinado consigo e zeloso.

Como ter a santificação. O líder precisa desenvolver a santifi­cação, que é o processo para alcançar a santidade. De acordo com a Bíblia, podemos anotar alguns cuidados a serem observados:

1)  Andar em espírito (G1 5.16,17);

2) Não deixar o pecado reinar em nosso corpo (Rm 6.12; 1ªTs 4.3);

3)Mortificar    as obras do corpo (Rm 8.13);

4) Apresentar o corpo em sacrifício vivo e agradável a Deus (Rm 12.1);

5) Glorificar a Deus no corpo (1ªCo 6.19,20).

6) Conservar o corpo irrepreensível para a vinda do Senhor (1ªTs 5.23).

O apóstolo Paulo declara: “Falo como homem, pela fraqueza da vossa carne; pois que, assim como apresentastes os vossos membros para servirem à imundícia e à maldade para a maldade, assim apre­sentai agora os vossos membros para servirem à justiça para a santi­ficação (Rm 6.19). “Porque não nos chamou Deus para a imundícia, mas para a santificação” (1ªTs 4.7).

A santificação no ministério. O ministério pastoral é um dos maiores desafios na vida de um homem. É glorioso e espinhoso ao mesmo tempo. É agradável e pesado, de igual modo. Somos obreiros “chamados” e “separados” por Deus (Rm 1.5,6) para uma obra que muitos desejam, mas poucos possuem as características exigidas por Deus. Dentre essas características, a santidade apare­ce em destaque como condição indispensável para a realização da missão.

O grande problema do ministério é que o obreiro é um “vaso de barro” que pode se quebrar a qualquer momento, e que contém dentro dele um “tesouro” que lhe é entregue por Deus “para que a excelência do poder seja de Deus”, não do obreiro (cf. 2ªCo 4:7).Para que o vaso” (o obreiro) não se rache e não se quebre, é necessário que haja um exercício contínuo e permanente de santificação. Li o cuidado de si mesmo e da doutrina (cf. 1ªTm 4:16).

O adversário do ministério, o Diabo, está de plantão 24 horas por dia tentando derrotar obreiros, ministros e pastores. A santifica­ção do ministério exige do obreiro a crucificação com Cristo, e isso implica a crucificação do eu, de forma que tudo o que fazemos na igreja seja colocado em sacrifício santo e agradável a Deus no altar do serviço ao Senhor.

A santificação do ministério pode ser vista sob alguns ângulos das tarefas pastorais:

A santificação do ministério da palavra. Certamente, a mis­são do pastor é mais desenvolvida através da transmissão da Pa­lavra, da mensagem propriamente dita, para a igreja. Um obreiro, pastor ou líder, à frente do trabalho, precisa ter mensagens para transmitir ao rebanho. A verdadeira mensagem é aquela que vem de cima, que flui do Espírito de Deus para o espírito do mensagei­ro, e passa para a igreja, com unção e graça, de modo que todos são tocados pelo poder de Deus, transbordando em amor, temor e alegria espiritual.

Esse tipo de mensagem só pode existir se o obreiro buscar a pre­sença de Deus com oração e jejum. Certo pregador dizia que muitos lhe indagavam sobre o segredo de ter tanta unção para transmitir mensagens ao povo. Veja a sua resposta: “O segredo é que muitos oram cinco minutos para pregar uma hora; eu oro uma hora para pregar cinco minutos”.

Paulo, extraordinário pregador, não confiou em sua formação privilegiada aos pés de Gamaliel. Escrevendo aos coríntios, ele disse: “A minha palavra e a minha pregação não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração do Espírito e de poder” (1ªCo 2.4). Ele confiava na eloquência do poder, em vez de se firmar no poder da eloquência. O ministério da palavra é santificado por uma vida pessoal de devoção e adoração a Deus. Sem exageros, podemos dizer que o livro de Neemias é um verdadeiro manual de liderança para os que têm a tarefa de estar à frente de uma igreja ou de um departamento. As lições daque­le homem de Deus são válidas para a administração eclesiástica nos nossos dias, em que os desafios são cada vez maiores e mais difíceis de serem confrontados. Contudo, com a graça de Deus e a unção do Espírito Santo, é possível alcançarmos os objetivos da obra do Senhor seguindo os padrões de liderança que emanam de sua Palavra.

Reflexão

1.   Por que Neemias foi chamado para uma grande missão?

2.   Em que áreas Neemias foi íntegro? Nos dias atuais, os líderes estão preocupados com essas áreas de suas vidas?

3.   Qual era o cargo público de Neemias? Os cristãos que ocu­pam cargos públicos têm honrado a Deus?

4.   Como o ministério da palavra é santificado? A santificação ainda é necessária para o povo e para os líderes na igreja local? (Veja Hb 12.14; 1ªPe 1.15)

https://nascidodenovo.org/v4/artigos/neemias-pt-13-licoes-da-lideranca-de-neemias/

Lições Bíblicas – 4º Trimestre de 2011. Adulto CPAD – Neemias – Integridade e coragem em tempos de crise e o Livro de Apoio das Lições Bíblicas.

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Descanso de 15-09-2020 à 14-12-2020

Estarei agora descansando na liberação de novos documentos ou postagens durante os dias de 15-09-2020 à 14-12-2020. Provavelmente, neste ínterim realizando algumas correções ou aperfeiçoando o blog.

É tempo de descanso. Ao longo de mais de vinte (20) anos, tenho postado no blog. Outrossim faço sistematicamente a inserção de novos posts, a cada trinta dias. Considero-me bem aventurado, pois pessoas de várias partes do mundo tem acessado o blog, e se agradado dos textos.

Entendo que agora chegou o tempo de descansar novamente.

O blog “Sal da Terra e Luz do Mundo” tem cumprido o seu propósito.

São até o momento 228.213 visualizações, com 142.244 visitantes e aproximadamente 1491 documentos publicados e 385 hinos ou louvores em 514 documentos publicados até 14-09-2020.

Maiores detalhes, basta clicar no link abaixo:

https://saldaterraeeluzdomundo.wordpress.com/relatorios-de-impactos-em-geral/visitas-no-blog/

Ou seja, há muito conteúdo de cunho cristocêntrico disponibilizado.

Durante alguns meses não farei inserção de novos textos, pois reiniciarei as postagens a partir do dia 14/12/2020. Talvez faça pequenas correções nas postagens ou paginas, durante este período.

Neste ínterim quem acessar o blog poderá clicar em qualquer link, pois há muitos textos e temas diversos para edificação e ensino bíblico além destes hinos ou louvores, visto que há um link específico (https://saldaterraeeluzdomundo.wordpress.com/louvor-e-adoracao-2/), contendo em ordem alfabética estes diversos hinos ou louvores, entre outras coisas.

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Deveres Civis, Morais e Espirituais

https://pt.slideshare.net/lelojr01/deveres-civis-morais-e-espirituais-do-cristo

https://pt.slideshare.net/andrewdaiane/lio-10-deveres-civis-morais-e-espirituais-62613839

CPAD Vídeo

Lições Bíblicas – 2º Trimestre de 2016 – Maravilhosa Graça – O evangelho de Jesus Cristo revelado na carta aos Romanos

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Nunca antes neste país


Alderi Souza de Matos

Nunca antes na história nacional foram expostas tão abertamente as vísceras apodrecidas da desonestidade estatal, política e empresarial

Uma das características dos brasileiros é a constante preocupação em entender o seu país. Talvez em nenhum outro lugar do mundo se publiquem tantos livros que analisam e interpretam a história e a cultura nacional. Em especial, muitos se sentem desconcertados com as dificuldades que têm afligido a sociedade brasileira ao longo do tempo e se perguntam: O que houve de errado em nossa formação nacional? Por que não conseguimos superar males antigos e persistentes? Parece que estamos condenados a ocupar eternamente uma posição intermediária no cenário internacional: nem tão atrasados como muitas nações do terceiro mundo nem tão avançados como tantos países da Europa, Ásia e América do Norte.

Certamente, nossos males são fruto de um processo histórico e resultam das clamorosas deficiências da nossa formação ética, política e cultural. Um dos fatores mais negativos dessa triste herança é a realidade da corrupção. Entre suas causas está o individualismo tão arraigado desde o período colonial, que levou a uma progressiva erosão do interesse pela coletividade. Como afirma o jurista Calil Simão, “A corrupção social ou estatal é caracterizada pela incapacidade moral dos cidadãos de assumir compromissos voltados ao bem comum […] os cidadãos mostram-se incapazes de fazer coisas que não lhes tragam uma gratificação pessoal”.

Particularmente grave é a corrupção no âmbito da administração pública, que desvia somas gigantescas dos orçamentos estatais e afeta diretamente o bem-estar dos cidadãos, principalmente os mais carentes. A esse terrível mal também se dá o pomposo nome de patrimonialismo, ou seja, a diluição dos limites entre o patrimônio público e o privado. Referindo-se aos corruptos da sua época, já dizia no século 17 o famoso padre Antônio Vieira: “Os outros ladrões roubam um homem; estes roubam cidades e reinos”. Essa distorção maléfica e perniciosa tem estado presente na vida do país desde os seus primórdios, desde a implantação do governo geral na Bahia em meados do século 16.

Diante dessa realidade aparentemente imutável, cuja tônica foi sempre a impunidade, a sociedade brasileira está atônita com a Operação Lava Jato, iniciada em março de 2014, a maior investigação sobre corrupção realizada até hoje no Brasil. Nunca antes na história nacional foram expostas tão abertamente as vísceras apodrecidas da desonestidade estatal, política e empresarial. Essa operação reúne as ações coordenadas de três importantes órgãos públicos: a Polícia Federal, o Ministério Público Federal e a Justiça Federal do Paraná, cuja vara criminal tem como titular o célebre juiz Sérgio Moro. Os números são impressionantes: cerca de 150 inquéritos policiais, quarenta ações penais, quase quinhentas pessoas e empresas sob investigação, 120 prisões em caráter preventivo. Os recursos desviados sobem a bilhões de reais, que poderiam estar sendo usados na saúde, na educação, na segurança pública, na infraestrutura.

O que os cristãos têm a ver com tudo isso? Muito a ver, pois, em primeiro lugar, eles são cidadãos e devem se interessar pelos rumos de sua sociedade. Além disso, as Escrituras têm muita coisa a dizer sobre o assunto, a começar pelo fato de que dois conjuntos de valores sempre devem andar juntos: de um lado, a justiça, a misericórdia, a solidariedade e o altruísmo; do outro lado, a verdade, a integridade, a transparência e a honestidade. A literatura sapiencial e os profetas do Antigo Testamento exaltam os governantes que não somente são solidários com os pobres, mas também agem com probidade e lisura (ver Sl 72.4, 12-14; Sl 101.1, 3, 7).

As investigações e os procedimentos judiciais inéditos em curso estão revelando com maior clareza e profundidade a malversação de recursos públicos existente em amplos setores da vida nacional: grandes empreiteiras pagam propinas a políticos e a funcionários graduados de estatais em troca de contratos e privilégios, sendo o dinheiro sujo utilizado tanto para aumentar os patrimônios pessoais desses indivíduos quanto para financiar partidos políticos e campanhas eleitorais. Tudo em prejuízo da boa administração, das boas práticas de gestão, da eficiência na solução dos problemas do país.

Adicionalmente, as realidades atuais do cenário brasileiro mostram a falácia de se tentar fazer justiça social sem uma adequada sustentação econômica e sem transparência e lisura no trato da coisa pública. Precisamos de governantes que sejam, sim, atentos aos clamores da sociedade, principalmente dos excluídos, dos marginalizados, promovendo a justa distribuição das riquezas e oferecendo os serviços necessários para uma vida digna. Porém, isso nunca pode ser feito ao mesmo tempo em que são toleradas ou estimuladas algumas das práticas mais condenáveis da história nacional.

Os processos judiciais resultantes da Operação Lava Jato enchem de esperança os brasileiros que aspiram por um país mais íntegro, sejam eles cristãos ou não. Porém, ainda é uma incógnita qual será o desfecho de tais procedimentos. Devemos acompanhar atentamente como irão se comportar os magistrados das instâncias superiores e verificar se as penas aplicadas irão realmente corresponder à gravidade dos delitos. Como cidadãos, precisamos pressionar os legisladores a aprovarem leis anticorrupção mais rigorosas e eficazes. Finalmente, com o nosso voto, devemos afastar da vida pública políticos e partidos que não têm demonstrado compromisso com a verdade, a integridade e a lei, que agem segundo a máxima de que os fins justificam os meios.

Alderi Souza de Matos é doutor em história da igreja pela Universidade de Boston e professor no Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper. É autor de “Erasmo Braga”, o “Protestantismo e a Sociedade Brasileira”, “A Caminhada Cristã na História” e “Fundamentos da Teologia Histórica”.

Artigos de sua autoria estão disponíveis em http://www.mackenzie.com.br/historia_igreja.html.

https://www.ultimato.com.br/revista/artigos/359/nunca-antes-neste-pais

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Quero lhe conhecer. Qual a importância ou aplicação do blog em sua vida? Pode ser anonimo.

Fique a vontade para escrever algo, quer seja um elogio ou mesmo critica. Toda critica construtiva será sempre bem-vinda. É um tipo de feedback. Outrossim, o irmão(ã), pastor(a), evangelista, missionário, obreiro, etc… fique a vontade caso queira enviar uma foto ou imagem sua, igreja, localidade onde habita. Pretendo mais a frente inserir uma live bastante concisa com algumas imagens atualizadas minhas. Isto é bom. O objetivo sempre é estreitar o relacionamento interpessoal, ainda que seja a distância.

Por uma questão de segurança atualmente, o WordPress (local onde foi criado o blog) não oferece a opção de envio de imagens ou fotos. Como alternativa, peço que o envio de arquivos como fotos ou imagens seja feito por e-mail, isto é, que me enviem tudo para um destes respectivos e-mails, obviamente indicando quem está enviando:

1)rfbarbosa1963@gmail.com

2)fernandespetrobras@hotmail.com.

Ficarei grato, caso faça isto.

Pb Ricardo Fernandes Barbosa

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Como será a igreja evangélica brasileira de 2040?

Saiu nos jornais o resultado de uma pesquisa do IBGE com dados interessantes sobre a realidade evangélica no Brasil. O dado que mais nos chamou a atenção é o que diz respeito à categoria evangélica que mais cresce: o “evangélico sem igreja”. A maior parte desse grupo não é de evangélicos “nominais” (os que se autodenominam evangélicos, mas não frequentam uma igreja); antes, é composta pelos que se consideram evangélicos, mas não se identificam com denominação alguma. Longe de ser “nominal” ou “não praticante”, o evangélico sem igreja talvez frequente várias igrejas sem se definir por uma; ou pode ser que assista a uma igreja durante alguns meses, antes de passar facilmente a outra. Com isso, não chega a se sentir assembleiano ou batista ou presbiteriano ou quadrangular. Existe, então, um setor crescente de pessoas que se identificam como evangélicas, mas não como pertencentes a uma determinada denominação·. 

Há também outra tendência que logo vai aparecer. Ainda não temos os resultados religiosos do Censo de 2010, mas as pesquisas recentes indicam que a porcentagem de evangélicos continua crescendo — não no ritmo dos anos 90 (que foi inteiramente excepcional), mas voltando ao ritmo de crescimento que caracterizou os anos 50, 60, 70 e 80. Contudo, esse crescimento um dia vai parar. Tal afirmação não é uma questão de “falta de fé”! Mesmo estatisticamente, nenhum processo de crescimento pode durar para sempre. Percebemos, pelas tendências atuais, que o fim do crescimento evangélico no Brasil pode não estar distante. De cada duas pessoas que deixam de se considerar católicas, apenas uma passa a se considerar evangélica. Além disso, evidentemente, a Igreja Católica não está a ponto de desaparecer. Fenômenos como a Canção Nova e outros testemunham disso; ou seja, há formas de catolicismo que arrebanham muita gente. É verdade que o catolicismo continua diminuindo numericamente, mas principalmente entre adeptos nominais ou de vínculo fraco. Existe um núcleo sólido que não está desaparecendo e que constitui, provavelmente, em torno de 25 a 30% da população. Pelas tendências atuais, será difícil que os evangélicos, que hoje são em torno de 20%, passem de 35% da população·. 

Tudo isso significa que logo vivenciaremos uma nova fase da religião evangélica no Brasil. Estamos desde os anos 50 na fase do crescimento rápido. (Antes dos anos 50 as igrejas não cresciam tanto.) Crescimento rápido significa que a igreja média tem poucas pessoas que nasceram evangélicas, mas muitas que se converteram inclusive que acabaram de se converter. Essa situação é privilegiada sob muitos aspectos, mas também tem certas implicações. Quando terminar a fase do crescimento rápido — provavelmente nas próximas duas ou três décadas –, haverá outro perfil em uma igreja média: mais pessoas que “nasceram na igreja” e menos que se converteram ou que acabaram de se converter. Com isso,  muitas coisas mudarão. O perfil de liderança eclesiástica exigida mudará. O crescimento rápido privilegia certo tipo de líder: o que tem um ministério capaz de atrair novos membros. Isso, claro, é muito importante, e sempre haverá espaço para esse tipo de líder. Porém, com a estabilização da igreja, haverá mais espaço para outras modalidades de liderança. E, como sabemos pelo Novo Testamento, os ministérios na igreja são múltiplos e variados. Não devemos ter uma linha de montagem de líderes cristãos com todos exatamente iguais. Temos de abraçar a variedade de ministérios e de tipos de líder evangélico. 
 

Por que no futuro uma variedade de tipos de líder será ainda mais importante? Quando as igrejas crescem muito, a exigência é fazer bem o bê-á-bá, pois há sempre pessoas novas chegando. Entretanto, quando há uma comunidade estabilizada numericamente, com mais pessoas com muito tempo de vivência evangélica, outras exigências ganham força. “Entre a conversão e a morte, o que tenho de fazer? Como desenvolvo a minha fé? Como devo crescer nas mais variadas áreas? O que significa ser discípulo de Cristo em todas as dimensões da vida? O que a fé evangélica tem a dizer sobre as questões que agitam a sociedade?” Haverá, então, mais exigência por um ensino variado e por pessoas que saibam falar para a sociedade em nome da fé evangélica. Precisaremos de pessoas preparadas nas mais diversas áreas de interface com a sociedade; portanto, precisaremos de ministérios cada vez mais diversificados. Esse tipo de líder não aparece da noite para o dia, pois a formação leva tempo. O carisma e o autodidatismo não bastam nesses casos·. 

Além disso, será cada vez mais importante a questão da transparência: primeiro, porque é uma demanda do próprio evangelho e, segundo, porque (queira Deus!) o Brasil de 2040 terá uma democracia mais limpa e transparente. Os líderes evangélicos do futuro precisarão ter vida pessoal capaz de ser examinada. Haverá menos tolerância para o líder inacessível e opaco, que vive atrás das máscaras. Em vez disso, uma liderança mais exposta e vulnerável será exigida. E as técnicas não ajudam nisso. O que produz esse tipo de líder é um profundo processo de formação pessoal, que leva tempo. 

Se não houver pessoas à altura, é possível que, quando terminar o crescimento rápido, em vez de uma comunidade evangélica estabilizada em torno de 35% durante gerações e com um efeito benéfico profundo na vida do país, haja um decréscimo na porcentagem de evangélicos. A curva numérica que agora ascende rapidamente pode cair de forma igualmente rápida. O evangélico ingênuo, que acha que isso nunca poderá acontecer, desconhece a história da igreja cristã, pois isso aconteceu algumas vezes em outros países. Se não tivermos um olhar para o futuro, para perceber os desafios de amanhã e nos preparar hoje para eles, a probabilidade é que esse declínio aconteça. 

Portanto, o primeiro desafio de hoje em função do futuro é formar um leque de tipos de líder, com ministérios variados, mas sempre humildes e com vidas transparentes. E o segundo desafio é a recuperação da Bíblia. A identidade evangélica não deve estar ligada meramente a uma tradição que se chama evangélica. Antes, ser evangélico significa a vontade de ser verdadeiramente bíblico, em todas as dimensões da vida com Cristo. E a Bíblia é um grande país, um terreno vasto, que precisamos conhecer por inteiro. Todavia, perdemos muito o sentido de ser bíblico. É raro hoje ouvir sermões verdadeiramente embasados na Bíblia. São mais comuns aqueles que nem sequer partem da Bíblia, ou aqueles em que o pregador lê um texto bíblico para depois falar de outro assunto. É incomum a interação séria com o texto bíblico, em que se deixa o texto falar para depois se fazer as aplicações para a vida pessoal, comunitária e social. É raro porque é difícil. Esse tipo de mensagem requer formação, preparo, pensamento, meditação. Via de regra, na fase atual do crescimento rápido, é mais fácil não fazer tudo isso, se preocupar apenas em ter uma igreja cheia.

Em um futuro próximo, porém, esse enfoque será cada vez mais necessário. Se não recuperarmos a capacidade de interagir com o texto bíblico, de deixá-lo falar a nós e, a partir disso, tirar as implicações individuais, eclesiásticas e nacionais, nos mostraremos irrelevantes. Assim, é possível que a curva decline logo após a estabilização, pois a capacidade de estudar e ensinar a Bíblia é algo que não se constrói da noite para o dia. É necessário exigirmos de nossos líderes que ensinem a Palavra, que interajam profundamente com o texto bíblico, que não fujam! Contudo, o bom ensino na igreja precisa também ser complementado pela leitura individual. É fundamental adquirir menos livros água com açúcar ou triunfalistas e mais leituras que nos embasem biblicamente. 

O processo, portanto, tem de começar com os membros comuns exigindo uma melhor qualidade de ensino e de literatura. A nova liderança para fazer frente aos desafios de 2030 e 2040 só vai surgir se houver uma demanda articulada a partir dos membros das igrejas. 

Dentro do tema da recuperação da Bíblia, insisto na centralidade dos Evangelhos. Comenta-se que a fé evangélica se tornou prisioneira da cultura religiosa da barganha. Ora, uma das maneiras de superar a cultura da barganha é incentivar a dedicação a uma causa (como fazem os movimentos políticos mais ideológicos). O problema, neste caso, é a persistência ao longo do tempo, a capacidade de continuar dedicado a ela durante décadas e apesar dos contratempos. Porém, existe uma outra maneira de combatermos a cultura religiosa da barganha: encantando-nos com a figura de Cristo, com a humildade amorosa de sua figura humana retratada nos quatro Evangelhos. O melhor antídoto para a cultura da barganha é o fascínio por Cristo, que advém do estudo sério dos Evangelhos.
 

A igreja evangélica brasileira de 2040 precisará, portanto, de líderes mais diversos nos seus dons, profundos no seu conhecimento e sabedoria e transparentes nas suas vidas; e precisará ter redescoberto o verdadeiro sentido de ser evangélico, que é a vontade de ser profundamente bíblico em toda a nossa existência. Esses dois requisitos existirão se a igreja de hoje tomar as medidas necessárias.

 Paul Freston, inglês naturalizado brasileiro, é professor colaborador do programa de pós-graduação em sociologia na Universidade Federal de São Carlos e professor catedrático de religião e política em contexto global na Balsillie School of International Affairs e na Wilfrid Laurier University, em Waterloo, Ontário, Canadá.

http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/333/como-sera-a-igreja-evangelica-brasileira-de-2040#extras

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Eleição e Predestinação

TEXTO ÁUREO

Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor, e nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade” (Ef 1.4,5).

VERDADE PRÁTICA

Segundo a sua presciência, Deus elegeu e predestinou para a salvação os que creriam e perseverariam na fé em Cristo Jesus.

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE

Efésios 1.4-12.

4 — como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele em amor,

5 — e nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade,

6 — para louvor e glória da sua graça, pela qual nos fez agradáveis a si no Amado.

7 — Em quem temos a redenção pelo seu sangue, a remissão das ofensas, segundo as riquezas da sua graça,

8 — que Ele tornou abundante para conosco em toda a sabedoria e prudência,

9 — descobrindo-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito, que propusera em si mesmo,

10 — de tornar a congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra;

11 — nele, digo, em quem também fomos feitos herança, havendo sido predestinados conforme o propósito daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade,

12 — com o fim de sermos para louvor da sua glória, nós, os que primeiro esperamos em Cristo;

OBJETIVO GERAL

Informar que Deus soube de antemão, por meio de sua presciência, quais pessoas creriam e que, em Cristo, seriam predestinadas a receber bênçãos espirituais.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Abaixo, os objetivos específicos referem-se ao que o professor deve atingir em cada tópico. Por exemplo, o objetivo I refere-se ao tópico I com os seus respectivos subtópicos.

  • I. Esclarecer a diferença bíblica entre eleição e predestinação;
  • II. Explicar como ocorreu a eleição divina desde antes à fundação do mundo;
  • III. Constatar que a predestinação bíblica retrata as bênçãos concedidas aos eleitos.

INTERAGINDO COM O PROFESSOR

Eleição e predestinação são termos importantes no estudo sobre a doutrina da salvação. Por isso é preciso estudá-los detidamente a fim de apresentar uma aula com bom embasamento doutrinário no sentido de edificar a vida dos nossos alunos. A doutrina da Eleição em Cristo é gloriosa. Nele, fomos eleitos para a salvação e predestinados a desfrutar das mais ricas bênçãos espirituais. Que essa maravilhosa certeza seja uma verdade no coração dos nossos alunos. Que cresçamos mais no conhecimento da Palavra de Deus e na maturidade da fé.

COMENTÁRIO

INTRODUÇÃO

A eleição e a predestinação são termos importantes na compreensão da doutrina da salvação. Esses vocábulos ligados entre si elucidam o plano divino de salvar os pecadores. Nesta lição abordaremos os conceitos bíblicos e a interpretação pentecostal referente à eleição e à predestinação.

PONTO CENTRAL

A eleição é segundo a presciência de Deus.

I. ELEITOS PARA UMA VIDA SANTA E IRREPREENSÍVEL

A dádiva da eleição precede a nossa existência. Antes da fundação do mundo, Deus planejou salvar e capacitar para uma vida de santidade os que Ele elegeu de antemão.

1. A Eleição divina. 

Primeiramente, a eleição é um “ato soberano de Deus em graça”. Deus não tem a obrigação de escolher ninguém, visto que todos são igualmente pecadores, merecendo assim a condenação. Em segundo lugar[…], eleição é Cristocêntrica – “pelo qual escolheu em Jesus Cristo”. A eleição do indivíduo ocorre somente em união com Jesus Cristo pela fé. Não existe eleição fora de Cristo[…] a eleição contempla “aqueles que de antemão sabia que o aceitariam”. A compreensão da relação entre a eleição e a presciência de Deus é sumamente importante para o entendimento adequado da doutrina.

Essa conceituação fundamenta-se nas Escrituras Sagradas, e tal interpretação foi defendida por grandes parcelas dos Pais da Igreja e, no período da Reforma Protestante, foi sustentada por Jacó Armínio e boa parcela dos primeiros reformadores do século XVI. Mais tarde, em 1619, essa compreensão foi condenada pelos calvinistas por ocasião do Sínodo de Dort. E, apesar de a interpretação de Armínio ter sido ferozmente combatida pelo calvinismo, atualmente cerca de 80% dos evangélicos são de confissão soteriológica arminiana.

Eleição traz a ideia de escolha. Aos Efésios (1.4), Paulo menciona três aspectos dessa escolha: (1) Em quem fomos escolhidos? Em Jesus, por isso ela é Cristocêntrica; (2) Em que tempo se deu essa escolha? O tempo é dito como “antes da fundação do mundo”; (3) E qual a finalidade? Para que fôssemos “santos e irrepreensíveis”. Donald Stamps, editor da Bíblia de Estudos Pentecostal, afirma que a eleição de pessoas ocorre somente em união com Jesus Cristo e que ninguém é eleito sem estar unido a Cristo pela fé. O teólogo arminiano Henry Clarence Thiessen menciona três pontos importantes dessa doutrina bíblica da Eleição divina:

Esse entendimento da maioria dos cristãos também é a compreensão do pentecostalismo clássico. Além disso, o conceito de eleição entre os pentecostais “inclui previsão de Deus quanto aquilo que o homem irá fazer com a sua própria liberdade, mas depende, para sua realização, da graça soberana de Deus”. Nesse sentido, não há nenhum conflito entre a soberania de Deus e a liberdade humana. Outro detalhe a ser considerado na eleição é o seu aspecto corporativo, que inclui os indivíduos em associação com o corpo de Cristo, a Igreja. Eis a posição da Declaração de Fé das Assembleias de Deus: 

Deus elegeu a Igreja desde a eternidade, antes da fundação do mundo [Ef [Ef 1:4], segundo a sua presciência [1ªPe 1.2; 2ªTs 2:13]. O Senhor estabeleceu um plano de salvação para toda a humanidade […] (Tt 1:2); pois essa é a sua vontade [1ªTm 2:3,4]. Assim como Deus não elegeu uma nação já existente, mas preferiu criar uma nova a partir do patriarca Abraão [Gn 12:2], o Senhor Jesus Cristo, da mesma forma, criou um novo povo formado por judeus e gentios (Ef 2:14[1ªCo 12:13]).

Esse enunciado atesta que a eleição é corporativa. Significa que e eleição em Cristo é, primeiramente coletiva, ou seja, trata-se da eleição de um povo, a igreja (1:4,5,7,9; 1ªPe 1:1; 2:9). Efésios menciona a eleição no plural: “nos elegeu”(1:4). Em toda a Epístola, os eleitos são tratados em conjunto: um corpo(1:23), um povo (2:14), uma família (2:19), um edifício (2:20_22) e a Igreja (3:10, 5:23ss). A Epístola assinala que Deus elegeu de antemão um conjunto de pessoas para a salvação, a Igreja. Nesse caso, “o foco da eleição não é o indivíduo, mas o grupo, o corpo, a Igreja, formada por todos aqueles que creram em Cristo e permanecerão até o fim”.

Desse modo ratifica-se que a eleição é corporativa (coletiva) e também cristocêntrica – pois somente é “eleito” quem estiver em Cristo. Esse também é o parecer de Donald Stamps, editor geral da Bíblia de Estudo Pentecostal: “[…] a eleição é coletiva e abrange o ser humano como indivíduo, somente à medida que este se identifica e se une ao corpo de Cristo, a igreja verdadeira”.

2. As condições da eleição. 

Bíblia de Estudo Pentecostal ensina que a eleição para a salvação em Cristo é oferecida a todos (Jo 3.16; 1ªTm 2.4-6), e torna-se uma realidade para cada pessoa de acordo com seu prévio arrependimento e fé (2.8; 3.17). Entretanto, esse meio não é meritório e ninguém pode cumpri-lo sem a graça de Deus. Desse modo, fomos eleitos por iniciativa divina por causa da graciosa Obra de Cristo e não pelas nossas obras (2.8-9).

A declaração arminiana afirma que “Cristo, o Salvador do mundo, morreu por todos e por cada um dos homens, de modo que obteve reconciliação e remissão dos pecados por sua morte na cruz, porém, ninguém é realmente feito participante dessa remissão, exceto os crentes. Esse entendimento equivale a acreditar na revelação contida na Bíblia Sagrada, isto é, que Deus amou o mundo e enviou o seu filho “para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3:16). A Declaração de Fé das Assembleias de Deus corrobora com esse ensino bíblico:

Por isso, o Pai enviou o seu amado filho Jesus Cristo [1ªJo 4:9] para morrer em nosso lugar [1ªCo 5:7], providenciando-nos uma salvação, eterna, completa e eficaz [Hb 5:9]. O evangelho contempla a todos e a ninguém exclui: “Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens” (Tt 2:11). Por conseguinte a salvação está disponível a todos os que creem [Jo 3:15, 16]. Sim, todos nós, sem exceção, podemos ser salvos através dos méritos de Jesus Cristo, pois todos nós fomos criados à imagem de Deus.

A doutrina calvinista, no entanto, discorda que Cristo morreu por todos. Para os seguidores de Calvino, “a expiação é limitada”, ou seja, Cristo morreu somente por alguns – apenas para os eleitos. Nessa visão, o sacrifício de Cristo é diminuído, e o calvário torna-se mera formalidade, uma vez que a salvação não está disponível a todos. A partir desse pressuposto, os calvinistas defendem que a eleição é “incondicional”. Conforme Calvino asseverou, significa acreditar que Deus elegeu uns para a salvação outros para a perdição.

Contrariando esse ensino calvinista, a Bíblia Sagrada apresenta cerca de 80 textos comprobatórios que apontam para a “expiação ilimitada” – a morte de Cristo em favor da salvação de todos os homens, e não somente para alguns (Is 53:6; Mt 11:28_30; 18:14; Jo 1:7;1:29; 3:16,17; 6:51; 12:47; Rm 3:23_24; 5:6; 5:15; 10:13; 1ªTm 2:3_6; 4:10; Tt 2:11; Hb 2:9; 2ªPe 3:9; 1ªJo 2:2; 4:14, etc.). Outro aspecto doutrinário refere-se ao ensino em que a eleição para a salvação é “condicional”, e não “incondicional”. Eleição condicional significa que Deus escolhe por meio das condições que ele próprio estabeleceu. Por isso, são eleitos somente aqueles que preenchem estas condições, e não de um modo arbitrário (incondicional). John Wesley (1703-1791), pregador anglicano, discordava do sistema calvinista, que transformava a eleição do Deus de amor em eleição de um Deus tirano e insensível para com os pecadores.

O ensino arminiano explica, como já dito, que “por meio da presciência divina, Deus sabe desde a eternidade, quais indivíduos creriam e perseverariam na fé, e a essas pessoas Deus elegeu”. Isso, portanto, não implica entender como calvino, ou seja, que Deus tenha elegido uns para a vida e outros para danação, porque segundo as Escrituras, Ele não quer “que alguns se percam, senão que todos venham arrepender-se” (2ªPe 3:9). Desse modo, ratifica-se que tanto a expiação ilimitada como a eleição condicional foram estabelecidas pelo próprio Deus.

Assim, a condição mais elementar para a salvação é estar em Cristo (Ef 1:1_4). Isso implica em ratificar que a eleição é cristocêntrica, isto é, ninguém é eleito sem estar unido a Cristo. A eleição torna-se uma realidade para cada pessoa consoante o seu prévio arrependimento e fé (2:8; 3:17). Entretanto esse meio não é meritório, e ninguém pode cumpri-lo sem a graça de Deus. Desse modo, fomos eleitos por iniciativa divina por causa da graciosa obra de Cristo, e não pelas nossas obras (2:8_9).

3. Vida Santa e irrepreensível. 

Paulo enfatiza que a eleição tem a finalidade específica de sermos “santos e irrepreensíveis diante dEle” (1.4). Nesse aspecto, o vocábulo grego hagios (santo) significa “separado do pecado” (1ªPe 1.15,16); o adjetivo grego amõmos (irrepreensível) expressa algo “sem defeito” ou “inculpável” (Fp 2.15). Os termos apontam para a santificação, isto é, o mais alto padrão ético e moral de vida para agradar a Deus, que nos elegeu em Cristo (5.1-3).

Nesse sentido, a eleição condicional (daqueles que atendem ao chamado divino) predestina (o destino desses escolhidos) para uma vida afastada do pecado e da conduta ilibada. O uso paulino dos termos “santo e irrepreensível” evidencia que as palavras mutuamente se correspondem e complementam-se. O ser santo denota um estado de pureza interior que reflete no ser irrepreensível – uma condição de pureza externa. O apóstolo reitera que fomos criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas” (2:10 NAA).

Portanto, não se pode conceber que os salvos em Cristo ainda possam viver na prática do pecado (1ªJo 3:6; 5:18).

4. A nova vida dos eleitos. 

O tema é apresentado com exortações contra a velha conduta, tais como: mentira, furto, palavras torpes, amargura, ira e cólera (4.22,25, 28,29,31). E ainda severas advertências contra a fornicação, impureza, avareza e embriaguez (5.3,15,18). A finalidade é apresentar a Deus uma “igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga… mas santa e irrepreensível” (5.27). Não obstante, somente o Espírito Santo capacita o crente para esse novo estilo de vida (Gl 5.22-25). Trata-se, portanto, de um processo contínuo de santificação até a glorificação final no dia de Cristo (2ªCo 3.18).

Nessa nova vida, segundo a Revelação das Escrituras, o crente salvo deve pautar as suas atitudes segundo a moral bíblica, baseada na integridade, e não de acordo com o contexto social em que se está inserido. Foi nesse diapasão que Paulo apresentou o primeiro contraste entre a nova e a velha vida: “Pelo que deixai a mentira e falai a verdade cada um com o seu próximo” (4:25). Esse ponto é nevrálgico para o autentico cristão que sempre dirá a verdade, ainda que a mentira possa trazer-lhe alguma vantagem pessoal ou favorecer a coletividade.

Na sequência de orientações para o viver em Cristo, Paulo faz severas advertências contra a prostituição, a impureza, a avareza e a embriaguez (5:3,15,18). O propósito é apresentar a Deus uma “igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga[…], mas santa e irrepreensível” (5:27). Não obstante, ratifica-se que somente o Espírito Santo capacita o crente para esse viver (Gl 5:16_25). Trata-se de um processo contínuo até a glorificação final no dia de Cristo (2ªCo 3:18).

Desse modo, um crente fiel não só deve fazer a diferença, como também o seu comportamento deve ser referencial para a sociedade, como resultado, velhos hábitos são abandonados, condutas reprováveis são descartadas,, e nítidas mudanças comportamentais são percebidas. Assim, aqueles que desenvolvem “a nova natureza de Cristo adquirem caráter que não somente perdura, como também transforma”.

SÍNTESE DO TÓPICO (I)

A eleição ocorre por iniciativa do próprio Deus, por causa da Obra de Cristo, sem mérito humano.

SUBSÍDIO DIDÁTICO—PEDAGÓGICO

O que é Eleição? Quais as condições da eleição bíblica? O que se espera da nova vida dos eleitos? A necessidade de se ter uma vida santa e irrepreensível é um dos propósitos da eleição? Essas são algumas perguntas que você pode fazer para introduzir a lição, mais especificamente, o primeiro tópico. O tema desta lição é muito importante para uma compreensão bíblica adequada acerca do desdobramento do milagre da salvação na vida do crente. Por isso, prepara-se para essa aula e, com o auxílio das perguntas anteriores, estimule a classe a refletir sobre a importância do assunto. Deixe claro que Deus nos elegeu em Cristo para a salvação, bem como para viver uma vida santa e irrepreensível.

II. PREDESTINADOS PARA FILHOS DE ADOÇÃO

A palavra “predestinar” mostra que o destino dos eleitos foi feito na eternidade.

1. A predestinação

O termo grego proorizõ , traduzido como predestinação (1.5a), é formado pelo vocábulo oridzõ que significa “determinar” e pela preposição pro que indica algo feito “antes”, ou seja, predestinar significa literalmente “determinar antes”. A Bíblia de Estudo Pentecostal esclarece que a predestinação se aplica aos propósitos de Deus inclusos na eleição. Que a eleição é a escolha feita por Deus, “em Cristo”, de um povo para si mesmo (1.4), e que a predestinação abrange o que acontecerá ao povo escolhido por Deus (1.5). Por conseguinte, nossa Declaração de Fé ensina que a predestinação dos salvos é precedida pelo conhecimento prévio de Deus daqueles que diante do chamamento do Evangelho recebem a Cristo como seu Salvador pessoal e perseveram até o fim (Rm 8.29,30). Logo, foi vontade de Deus reconciliar os pecadores e torná-los seus filhos (1.5b).

Esse conceito ratifica que a predestinação não se refere à escolha de alguns para a salvação e de outros para a perdição. Não significa que Deus predestinou alguns para amá-lo e outros para desprezá-lo, ou, na melhor das hipóteses a ser indiferente à Ele. O ensino onde Deus aleatoriamente salva uns e condena os demais não é coerente com o testemunho bíblico. Nas escrituras, a salvação – com já enfatizado – é um chamado universal a toda humanidade (Is 45:21ss; Jo 7:37ss; Ap 22:17).

Não se trata de uma dádiva concedida arbitrariamente para alguns e negada para outros. A salvação é uma benção disponível a todos que cumprirem a condição de crer em Cristo (Mc 16:16; Jo 17:20; Rm 9:33; 10:11; Fp 1:29; 1ªTm 1:16; 1ªPe 2:6). Isso indica que Cristo morreu por todos e por cada um, todavia nem todos serão salvos, não por um ato arbitrário de Deus, mas por não preencherem as condições divinamente estabelecidas. Deus concedeu ao ser humano o livre-arbítrio; logo a oferta da salvação pode ser recusada (Jo 7:16,17).

Apesar de sobejarem textos bíblicos acerca dessa verdade, João Calvino, em uma interpretação particular em sua obra A Instituição da Religião Cristã – conhecida também como Institutas – define predestinação de forma absolutamente determinista:

Chamamos predestinação ao decreto eterno de Deus pelo qual determinou o que fazer de cada um dos homens. Porque Ele não os cria com a mesma condição, mas antes ordena a uns para a vida eterna, e a outros, para a condenação perpétua. Portanto, segundo o fim para o qual o homem é criado, dizemos que está predestinado à vida ou à morte.

Na Bíblia Sagrada, ao contrário da teologia de Calvino, a pré-destinação não abrange a condenação eterna de ninguém (2ªPe 3:9). Conquanto eleição e predestinação sejam intrinsecamente ligadas, elas não são a mesma coisa. Outro equívoco da teologia determinista é tratara predestinação como sendo dupla, isto é, tendo dois lados: a salvação e a condenação. Reiteramos que a Bíblia somente se refere a predestinação em relação aos salvos em Cristo. Conforme assevera Donald Stamps, “a predestinação abrange o que acontecerá ao povo de Deus – todos os crentes genuínos em Cristo.

Na eleição, Deus definiu como condição o crer em Cristo (eleição condicional); já na predestinação, Deus planejou o destino e as benesses dos crentes em Cristo que atenderam o chamado divino. No plano divino, a predestinação dos escolhidos, dentre outros, possui três objetivos específicos: (1)Serem filhos por adoção em Jesus Cristo; (2)Serem herdeiros com Cristo (1:11); e (3)Serem conforme a imagem de Cristo(Rm 8:29).

2. Filhos por adoção. 

Paulo é o único escritor do Novo Testamento que emprega o termo “adoção” (Rm 8.15,23; 9.4; Gl 4.5; Ef 1.5). Essa prática não fazia parte do sistema legal judaico, mas era comum entre os romanos e perfeitamente conhecida entre os gregos. Assim, o apóstolo enfatiza que foi agradável a Deus inserir, no plano da salvação, a adoção dos eleitos como filhos “segundo o beneplácito da sua vontade” (1.5b). Ele ainda assinala que o amor foi o que moveu o Pai a nos adotar (2.4,5). Se noutro tempo éramos estranhos e inimigos de Deus, agora estamos reconciliados com Ele em Cristo e somos Seus filhos (Cl 1.21; Rm 8.17). Essa posição nos é imerecida, contudo, aprouve ao Pai fazê-la assim (Mt 11.26). Nessa perspectiva, Mathew Henry apresenta a seguinte compreensão:

A predestinação se refere às bençãos para as quais estão destinados [os eleitos], especialmente a benção que nos predestinou para filhos de adoção. Era o propósito de Deus que no devido tempo chegássemos a ser seus filhos adotivos, e dessa forma tivéssemos o direito a todos os privilégios e à herança de filhos […]. O que enaltece essas bençãos é o fato de serem produto do desígnio eterno.

3. Os privilégios da adoção. 

Deus criou o ser humano para estar em comunhão com Ele, mas o pecado rompeu com essa dádiva (Gn 1.26; 3.23,24). Entretanto, em Cristo, o Pai reconciliou-se com os homens, adotando os escolhidos (1.5). Nesse sentido, o apóstolo Paulo usa uma analogia da adoção na sociedade romana, em que o filho adotado recebia o direito ao nome e aos bens de quem o adotava. Igualmente, na filiação divina, Deus predestinou as bênçãos de um novo nome e de uma nova imagem — a imagem de Cristo — aos eleitos (Rm 8.29; Ap 2.17). Então, Deus concede a redenção e a remissão de pecados (1.7,8) e restabelece a comunhão com o pecador, dando-lhe o direito de clamar “Aba, Pai” (Gl 4.6), isto é, o direito de ter intimidade com o Pai. Isso significa que passamos a ser herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo (Rm 8.17), das promessas a Abraão (Gl 3.29) e da vida eterna (Ef 3.6; Tt 3.7). Tendo sido aceitos por Deus, fomos transformados em filhos para Seu louvor e glória (1.6).

Aprofundando a comparação com a adoção civil, os adotados em Cristo tornam-se “povo de propriedade exclusiva de Deus” (1ªPe 2:9, ARA), eleitos segundo a presciência de Deus Pai para a obediência a Cristo (Rm 6:16; 16:26; 2ªCo 10:5; 1ªPe 1:2). Prosseguindo nessa simetria, Deus predestinou os eleitos às bençãos de um novo nome e uma nova imagem – a imagem de Cristo (Rm 8:29; Ap 2:17). A redenção e a remissão de pecados são concedidas (1:7,8), e a comunhão é restabelecida com a intimidade de clamar “Aba, Pai” (Gl 4:6). Passamos a ser herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo (Rm 8:17) das promessas a Abraão (Gl 3:29) e da vida eterna (Tt 3:7; Ef 3:6). E, tendo sido aceitos por Deus, fomos transformados em filhos para o seu louvor e glória (Ef 1:6. Nesse aspecto, a abrangência da filiação tem uma dimensão simultaneamente presente e futura:

Essa maravilhosa filiação em Cristo, bem como os benefícios que dela advém, já pode ser desfrutada no tempo presente e será plena por ocasião da segunda vinda do Senhor. A condição para fazer parte desse glorioso evento é estar em Cristo. A filiação também abrange deveres com o Pai e com a família de Cristo – Igreja (Hb 12:7_16).

SÍNTESE DO TÓPICO (II)

Em seus decretos eternos, Deus predestinou os eleitos em Cristo a serem filhos por adoção e herdeiros de todas as bênçãos espirituais.

SUBSÍDIO TEOLÓGICO

“A predestinação genuinamente bíblica diz respeito apenas à salvação, sendo condicionada à fé em Cristo Jesus, estando relacionada à presciência de Deus. Portanto, a predestinação dos salvos é precedida pelo conhecimento prévio de Deus daqueles que, diante do chamamento do Evangelho, recebem a Cristo como o seu Salvador Pessoal e perseveram até o fim. A predestinação do crente leva-o a ser conforme a imagem de Cristo; assim sendo, todos somos exortados a perseverar até o fim: ‘aquele que perseverar até ao fim será salvo’ (Mt 24.13). A graça divina tanto salva quanto nos preserva a alma neste mundo corrupto e corruptor. A fé antecede a regeneração: ‘Porque pela graça sois salvos por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus’ (Ef 2.8); ‘Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado’ (Mc 16.16); ‘Se, com a tua boca, confessares ao Senhor Jesus e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dos mortos, serás salvo’” (SOARES, Ezequias (Org.). Declaração de Fé das Assembleias de Deus. 1ª Edição. RJ: CPAD, 2017, pp.110,111).

III. A SUBLIMIDADE DO PROPÓSITO DIVINO NA PREDESTINAÇÃO

A excelência da predestinação está na provisão de bênçãos espirituais aos eleitos pela vontade divina em Cristo e por seu incalculável amor.

1. Predestinação e salvação. 

O Soberano Deus não predestinou incondicionalmente pessoa alguma à condenação eterna, mas deseja que todos se arrependam e convertam-se de seus maus caminhos (At 17.30). Nas seis vezes que a palavra aparece no Novo Testamento (At 4.28; Rm 8.29,30; 1ªCo 2.7; Ef 1.5,11), nenhuma delas faz referência a condenação de pecadores. Portanto, não houve uma dupla predestinação em que Deus decretou e escolheu que uns vão para o céu e outros para o inferno. Nossa Declaração de Fé assevera que a predestinação bíblica diz respeito apenas à salvação, sendo condicionada ao arrependimento e à fé em Cristo Jesus segundo a presciência divina (1.4,5; 1ªPe 1.2). John Wesley, na sua obra Predestinação Calmamente Considerada, faz objeção à idéia de Calvino da predestinação arbitrária de alguns para a perdição:

A respeito daquele que, sendo capaz de livrar milhões da morte apenas com um sopro de sua boca, se recusasse a salvar mais do que um dentre cem e dissesse: “Eu não faço porque não o quero”, como exaltaremos a misericórdia de Deus se lhe atribuirmos tal procedimento?

Como Deus pode ser considerado um justo juiz se Ele condena o réu previamente? Como pode ser considerado benigno se Ele julga com parcialidade, permitindo que pelo mesmo erro, uns sejam absolvidos e outros condenados? Dessarte, se existe uma predestinação para condenação, então de que adianta a pregação? Nesse sistema, os que não são escolhidos estão fadados à danação, quer a Palavra seja pregada, quer não. A única resposta plausível, em conformidade com os atributos divinos, está em perceber o equívoco na interpretação de João Calvino e considerar a presença de equidade e igualdade no julgamento dos pecadores.

Por conseguinte – novamente – , reafirmamos pedagogicamente que predestinação não pode ser considerada dupla, isto é, não está relacionada com a condenação, mas diz somente respeito àqueles que são salvos, sendo condicionada à fé em Cristo Jesus e a presciência divina (1:4,5; 1ªPe 1:2). Essa interpretação está assim expressa no Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento: “A questão da predestinação não significa Deus decidindo antecipadamente quem será salvo ou não, mas decidindo antecipadamente o que planeja que os eleitos, em Cristo, sejam ou venham a ser”. Esse também é o parecer da Declaração de Fé das Assembleias de Deus:

O Soberano Deus não predestinou incondicionalmente pessoa alguma à condenação eterna, mas, sim, almeja que todos, arrependendo-se, convertam-se dos seus maus caminhos: “Mas Deus, não tendo em conta os tempos da ignorância, anuncia agora a todos os homens, em todo lugar, que se arrependam” (At 17:30). predestinação genuinamente bíblica diz respeito apenas à salvação […] A predestinação do crente leva-o a ser conforme à imagem de Cristo (Rm 8:29_30), assim sendo somos todos exortados a perseverar até o fim: “aquele que perseverar até o fim será salvo” (Mt 24:13).

Diante dessas exaustivas citações e reiteradas afirmações quanto ao conceito bíblico da eleição e da predestinação, os salvos em Cristo devem resistir e fazer objeção a qualquer ensino contrário à revelação contida nas Escrituras Sagradas. Os dogmas elaborados pelo pensamento humano não podem sobrepor-se, em hipótese alguma, à autoridade da Palavra de Deus.

2. Predestinação e o amor. 

Antes de Deus criar qualquer coisa, o seu plano de redimir a humanidade e de definir o destino dos crentes estava estabelecido (1.4,5). Por conseguinte, a Bíblia mostra que a redenção divina não foi uma medida de emergência; ao contrário, era o plano imutável do amor de Deus desde sempre (2ªTs 2.13; 2ªTm 1.9). Aqui consiste a sublimidade dos propósitos eternos em prover a salvação: o amor de Deus (Jo 3.16, 1ªJo 4.10,19). Foi por amor que Ele nos elegeu e nos predestinou em Cristo (Rm 8.29, Ef 1.4,5). Isso implica dizer que a salvação, como “favor imerecido”, provém do amor de Deus (2.4,8). Não obstante, os que se achegam a Cristo não são coagidos, mas atraídos a Ele (Jo 12.32).

Acerca desse amor presente tanto na eleição quanto na predestinação, o Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal registra o seguinte:

A generosidade de Deus para conosco é concretizada pela nossa união com o seu muito amado Filho. Podemos dizer que o amor de Deus por seu único Filho o motivou a ter muito mais filhos – cada um dos quais seria igual a seu Filho (Rm 8:28_30) por estarem em seu Filho e por serem moldados à sua imagem.

Foi por amor que fomos eleitos por Deus e predestinados em Cristo (Rm 8:29; Ef 1:4,5). Isso implica dizer que o “favor imerecido”, a fé necessária para crer e o uso do livre-arbítrio para responder ao chamado, tudo isso provém do amor de Deus (2:4,8). Não obstante, os que se achegam a Cristo não são coagidos, mas atraídos a Ele (Jo 12:32).

SÍNTESE DO TÓPICO (III)

A predestinação não se refere à condenação, mas a salvação de pecadores. O ato de prover a salvação está diretamente relacionado ao amor de Deus.

SUBSÍDIO TEOLÓGICO

“O verbo ‘predestinar’ ( proorizo ) ocorre seis vezes no Novo Testamento, uma vez em Atos (4.28) e nas outras cartas de Paulo (Rm 8.29,30; 1ªCo 2.7; Ef 1.5,11). Esse verbo significa ‘decidir antecipadamente’ e se aplica ao propósito de Deus compreendido pela eleição. A eleição é Deus escolhendo ‘em Cristo’ um povo para si mesmo, e a predestinação diz respeito ao que Deus planejou, antecipadamente, fazer com aqueles que foram escolhidos. Dessa forma, a questão da predestinação não significa Deus decidindo antecipadamente quem será salvo ou não, mas decidindo antecipadamente o que planeja que os eleitos, em Cristo, sejam ou venham a ser. Deus predestinou como os eleitos (isto é, aqueles que estão sendo salvos em Cristo) deveriam ser: em primeiro lugar, conforme a semelhança de seu Filho (Rm 8.29) e em seguida serem chamados (8.30), justificados (8.30), glorificados (8.30), santos e irrepreensíveis (Ef 1.4), adotados como seus filhos (1.5), redimidos (1.7), para o louvor de sua glória (1.11,12), aqueles que receberiam o Espírito Santo (1.13), destinatários de uma herança (1.14) e serem criados para realizar as boas obras (2.10)” (ARRINGTON, French L.; STRONSTAD, Roger (Eds.). Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Volume 2. RJ: CPAD, 2017, pp.396,397).

CONCLUSÃO

Cristo morreu por todos e por cada um dos pecadores. Desde a eternidade, segundo a sua presciência, em Cristo, Deus elegeu e predestinou os que creriam e perseverariam na fé a viver em santidade, receber a filiação divina e a desfrutar de todas as bênçãos espirituais divinamente estipuladas.

SUBSÍDIOS ENSINADOR CRISTÃO

ELEIÇÃO E PREDESTINAÇÃO

Nesta semana, estudaremos sobre a Eleição e a Predestinação. Veremos que, em Cristo, fomos eleitos para a salvação e predestinados a desfrutar das bênçãos espirituais preparadas por Deus aos eleitos em Cristo. Nesse sentido, a lição tem o objetivo geral de informar que Deus soube de antemão, por meio de Sua presciência, quais pessoas creriam e que, em Cristo, seriam predestinadas a receberem essas bênçãos. Nesse aspecto, você deve trabalhar pontos bem específicos: (1) esclarecer a diferença entre eleição e predestinação; (2) explicar como ocorreu a eleição divina desde antes da fundação do mundo; (3) constatar que a predestinação bíblica retrata as bênçãos concedidas aos eleitos. Basicamente, esses são os assuntos que permearão a lição.

Resumo da lição

Toda lição culminará para mostrar que a eleição é segundo a presciência divina. Esse é o ponto central do assunto. Sendo isso em mente, você desenvolverá o primeiro tópico mostrando que a eleição para a salvação ocorreu por iniciativa de Deus em Cristo Jesus e não por causa da obra humana. Nesse sentido, nós destacamos aqui o amor de Deus pelo pecador.

Distinguindo a eleição da predestinação, no segundo tópico você deve desenvolver o conceito de predestinação mostrando que o Altíssimo predestinou os eleitos para serem filhos por adoção, serem feitos à imagem de Cristo e serem herdeiros das bênçãos espirituais. Aqui, deve fi car claro que na Bíblia não existe a ideia de uma dupla predestinação, onde Deus decretaria que uns fossem para o céu e outros para o inferno.

Logo, se a predestinação não se refere à condenação eterna, o terceiro tópico reafirma essa verdade mostrando que ela está ligada diretamente à salvação e que esse ato está diretamente ligado ao amor de Deus.

Uma dica importante

Os termos “eleição” e “predestinação” são importantíssimos para serem bem dominados a fim de que você tenha segurança quando for expor a lição. Por isso, sugerimos algumas obras para a sua consulta e preparo: (1) Bíblia de Estudo Pentecostal; (2) livro “Arminianismo Puro e Simples”; (3) livro “Arminianismo — A Mecânica da Salvação”; (4) obra “Teologia Sistemática: uma Perspectiva Pentecostal”; (5) e o “Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento”. Essas obras são editadas pela CPAD. Portanto, prepare-se bem.

Lições Bíblicas CPAD – 2º Trimestre de 2020 – Adultos – A Igreja Eleita – Redimida pelo Sangue de Cristo e Selada com o Espírito Santo da Promessa

Livro de Apoio das Lições Bíblicas CPAD – 2º Trimestre de 2020 – Adultos – A Igreja Eleita – Redimida pelo Sangue de Cristo e Selada com o Espírito Santo da Promessa

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O ensino de ciências para os que não pretendem ser cientistas

       A missão de todo professor é a de preparar bem as novas gerações para o mundo em que vivem e convivem, mas também para o mundo em que irão viver. Mas, como o mundo atual muda rapidamente, também a escola necessita estar em contínuo estado de atenção para se adaptar a essas mudanças e construir um ensino, tanto em conteúdo quanto em metodologia, coerente com a evolução dessas mudanças. Se as aulas que ministramos assim não se colocarem, é natural que os alunos se sintam entediados e busquem conquistar por outros meios os conhecimentos que consideram essenciais para compreender o mundo em que irão viver.

       Não são poucos os estudantes brasileiros que, a exemplo de seus colegas de outros países, assumem o chamado “paradoxo de Ícaro”, afastando-se dos ensinamentos propostos pelos professores por acreditar em outras fantasias e, ao querer aplicá-las á sociedade, destruírem-se pelo derretimento de suas bases. Isso vale para qualquer disciplina do currículo escolar e não vale menos para Ciências, seja para os anos iniciais, seja em aulas do Ensino Médio.

      Por essas razões, todo ensino necessita continuar prescrito a todos, sempre se pensando que quem aprende deverá se formar como uma “pessoa comum” que irá necessitar de relativamente poucos conhecimentos específicos para sua ação no mundo do trabalho e das relações interpessoais, compreendendo, ainda que superficialmente, algumas bases essenciais e os fundamentos presentes nos objetivos do ensino de Ciências. É por essa razão que, quando se fala no bom ensino para todos, é importante definir qual a essência dos conteúdos conceituais, das competências e habilidades que são imprescindíveis para uso fora da escola, seja qual for a profissão que no futuro o aluno irá exercer. Uma coisa é se discutir o que “entra” nos exames vestibulares, e outra, mais importante, que uso se fará do saber específico futuros médicos, administradores, engenheiros ou outros profissionais de qualquer área, formados no Ensino Superior ou não.

       Essas considerações impõem a todos os professores, seja qual for a disciplina que ensinam, algumas e inadiáveis novas funções. Por exemplo:

  • Selecionar, entre todos os saberes de Ciências existentes, aqueles que possam ser úteis aos alunos em cada um dos diferentes níveis de sua educação. Uma coerente “leitura” do mapa mundial, a percepção da identidade de cada país e de seus compromissos com valores globais, o sentimento cívico de que preservar o ambiente é garantir também aos ainda não nascidos igual direito de usufruto da terra e da natureza que desfrutamos. Também o sentimento de que a busca da paz mundial sempre deve se sobrepor a interesses específicos da cada nação são itens que, estudados em Ciências, mostram-se imprescindíveis a todos os lugares.

       É bem verdade que na maior parte das vezes os livros didáticos usados pelos professores já organizam essa seleção, mas é importante, não esquecer que essas obras são preparadas para todo o país ou para toda a grandeza de uma região geográfica e que, desta forma, existe necessária mudança e adaptação no conteúdo específico que se ensina. O ensino de Ciências para os que pensam ser cientistas profissionais é relativamente mais simples, pois basta mostrar as grandes linhas e diversidades das Ciências para que o aluno as selecione a seu gosto e vocação.

  • Conhecer em profundidade o que o aluno sabe e dentro de qual esfera cultural cresceu e cresce, para ajustar o que necessita a aprendizagem que efetivamente pode ampliar. Um aluno que provém de uma família razoavelmente culta, e que está habituada a leituras e a programas eruditos, possui uma prontidão de aprendizagem diferente de outros que, egressos de famílias culturalmente carentes, não cresceram desafiados a pensar e a conviver com outras culturas.
  • Partir do pressuposto que se deve “ensinar o programa”, seja qual for o nível cultural do aluno, constitui tolice pedagógica que cansa o professor e esmaga os resquícios da autoestima de alguns mais limitados.
  • Hoje já não pode mais ser assim e, por este motivo, e importante refletir e experimentar sobre os saberes que possam ser suficientes ao aluno para atuar no mundo que encontram à porta da escola. Mais do que nunca, é essencial que se recomende que seja sempre preferível saber pouco e bem, a cérebros entupidos de teorias carentes da lógica ou significação. Impossível esquecer que atualmente os mecanismos computacionais e de memórias permitem alunos que, sabendo pouco e bem, disponham de uma bagagem eletrônica volumosa em informações.
  • A aprendizagem permanente é ferramenta essencial a todos, e, por este motivo, é impossível se abrir mão da finalidade de se ensinar o aluno a aprender. Assim, o ensino de Ciências deve ser imprescindível ferramenta para que o aluno, independente de sua série ou nível, aprenda a pesquisar, argumentar, possuir uma visão sistêmica dos fatos, administrar formas e tipos diferentes de pensamentos, a cessar novas informações relacionando-as ao que sabe e ao que busca saber e, sobretudo, saber se socializar no vasto conceito a que esse verbo se refere.
  • Outro tema essencial para qualquer disciplina escolar é a introdução, quanto antes, no pleno domínio da computação, não somente para busca de informações, mas para um uso específico desse instrumento em todas as utilizações possíveis.
  • Finalmente, é sempre desejável que em Ciências, todos os alunos possam dominar e usufruir as competências e habilidades discriminadas no quadro seguinte:
Realizem leitura compreensiva Domínio integral da leitura escrita, lidando com seus símbolos e signos e beneficiando-se da compreensão integral e significação dos textos lidos.  
Dominem múltiplas linguagens. Ampliem a capacidade de expressão na argumentação oral e escrita e no uso de outras linguagens, como o desenho, a mímica, a interpretação de gráficos etc.
Desenvolvam a capacidade de solucionar problemas. Sintam-se estimulados para resolver problemas, seguindo raciocínio lógico e abstrato e sabendo expressar de forma diversificada os problemas solucionados ou pesquisados.
Saibam utilizar habilidades operatórias. Desenvolvam habilidades para compreender, interpretar, relacionar, conhecer, analisar, comparar e sintetizar dados, fatos e situações ligados a significação dos saberes escolares no cotidiano.
Conquistem uma visão integradora e sistêmica. Compreendam um fato ou fenômeno em todas as suas dimensões e saibam administrar as muitas redes de relações sociais que envolvem o viver e o conviver.
Alcancem capacidade de argumentação e diálogo. Exercitar e dominar estratégias de argumentação e valorizar o diálogo, a negociação positiva e as relações interpessoais.
Desenvolvam a iniciativa e criatividade. Possam estabelecer linhas de procedimentos que instigam a iniciativa e a criatividade e associar essas capacidades aos conteúdos escolares.
Conquistem a capacidade de pesquisar e acessar  informações. Aprendam a localizar, acessar, selecionar, classificar, contextualizar e usar melhor as informações disponíveis.
Desenvolvam plenamente a capacidade crítica. Descubram o sentido positivo da crítica, visando o domínio da cidadania e descobrindo meios e processos para se trabalhar e respeitar o pluralismo.
Desenvolvam a capacidade de cooperação e socialização. Aprendam o verdadeiro sentido da cooperação nas relações interpessoais, desenvolvendo a empatia e compreensão do outro e sabendo trabalhar solidariamente.


Não existe qualquer dúvida que o professor de Ciências não estará violando nenhuma regra sagrada em optar por bons livros ou apostilas didáticos, mas é essencial que encare esses recursos como instrumento auxiliar de sua pratica pedagógica, e não como depósito de verdades indiscutíveis para que o aluno se force a aprendê-las. Aprender ciências significa também aprender a duvidar, saber comparar, dispor de lucidez para analisar, de serenidade para sintetizar e de coragem para aplicar, e esses fundamentos devem ser mostrados em todas as séries para todos os alunos.

CIÊNCIAS E DIDÁTICA

COLEÇÃO COMO BEM ENSINAR

EDITORA VOZES

 

 

 

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Talmude doutrinas, costumes e tradições judaicas

Talmude (em hebraico: תַּלְמוּד, transl. Talmud significa estudo) é uma coletânea de livros sagrados dos judeus, um registro das discussões rabínicas que pertencem à leiética, costumes e história do judaísmo. É um texto central para o judaísmo rabínico.

O Talmude é a fonte de onde se deriva a lei judaica. Os judeus ortodoxos estão na obrigação de segui-lo como regra de fé e prática. Contém o Halakhah, que são decretos legais e preceitos acompanhados de discussões elaboradas em virtude das quais os juízes chegaram às suas decisões. No Talmude toma-se a posição que a Lei de Moisés precisa ser adaptada às condições sempre mutáveis de Israel. A maior parte da discussão, no Talmude, assume a forma de diálogos. O diálogo introduz perguntas e procura as causas e as origens.

O Talmude tem dois componentes: a Mishná, o primeiro compêndio escrito da Lei Oral judaica; e o Guemará, uma discussão da Mishná e dos escritos tanaíticos que frequentemente abordam outros tópicos.

O Mishná foi redigido pelos mestres tanaítas (Tannaim), termo que deriva da palavra hebraica que significa “ensinar” ou “transmitir uma tradição”. Os tanaítas viveram entre o século I e o século III d.C. A primeira codificação é atribuída ao Aquiba (50 d.C. – 130 d.C.), e uma segunda, ao Rabi Meir (entre 130 d.C. e 160 d.C.), ambas as versões tendo sido escritas no atual idioma aramaico, ainda em uso no interior da Síria.

Os termos Talmud e Guemará são utilizados freqüentemente de maneira intercambiável. A Guemará é a base de todos os códigos da lei rabínica, e é muito citada no resto da literatura rabínica; já o Talmude também é chamado freqüentemente de Shas (hebraico: ש”ס), uma abreviação em hebraico de shisha sedarim, as “seis ordens” da Mishná.

O Talmude, numa edição moderna impressa

Para entender o talmude devemos entender a sua formação. Os relatos antigos remetem que a Bíblia, mas na época apenas o velho testamento, separado em livros, e com o principal conjunto de livros chamados de Torá, que significa a lei, foi escrito por Moisés, e ditado e inspirado por Deus.
Com a formação do reino de Israel, formaram-se sacerdotes com a ideia de unificar as ideias sobre os textos bíblicos.
Como isso acontece? Podemos ver isso, por exemplo, com a igreja Católica, que tendo a bíblia, cria livros e regras interpretativas chamadas doutrinas da igreja católica, que coloca a opinião ou pareceres de seus líderes “notáveis”, no mesmo nível e autoridade das Escrituras Sagradas que nós os protestantes repudiamos, pois consideramos a Bíblia como única regra de fé e conduta.

Em média todas as igrejas criam suas doutrinas, baseadas em um conglomerado de pastores, ou líderes de sua igreja, e quase sempre quem não aceita tais doutrinas geradas por sua igreja é excluído ou deixado fora de posições na igreja.
E assim foi a formação do talmude, uma compilação de ideias doutrinárias geradas por líderes da religião judaica.
O talmude compreende várias tradições do Judaísmo, mas o sistema de ideologia remete-se a séculos antes de Cristo.
Nos textos de Mateus 15:3_9, encontramos que Jesus referia que as tradições anulavam os mandamentos. Neste caso Jesus referia que era mais valia ajudar a sanar a dificuldade dos pais, do que dar dinheiro para o santuário, e deixar os pais perecerem.
Assim tanto o talmude como vários livros doutrinários, costumam ter algumas normas que não tem o vínculo do amor, e muitos delas beiram a Esotérico.

História

Lei oral

Originalmente, o estudo acadêmico do judaísmo era oral. Os rabinos expunham e debatiam a lei (isto é, a Torá) e discutiam o Tanakh sem o benefício das obras escritas (além dos próprios livros bíblicos), embora alguns possam ter feito anotações privadas (meguilot setarim), por exemplo, a respeito das decisões de cortes. A situação mudou drasticamente, no entanto, principalmente como resultado da destruição da comunidade judaica no ano de 70 d.C., e os consequentes distúrbios nas normas legais e sociais judaicas. À medida em que os rabinos foram forçados a encarar uma nova realidade — principalmente a de um judaísmo sem um Templo (para servir como centro de estudo e ensino) e de uma Judeia sem autonomia — surgiu uma enxurrada de discursos legais, e o antigo sistema de estudos oral não pôde ser mantido. Foi durante este período que o discurso rabínico passou a ser registrado na escrita. A primeira lei oral registrada pode ter sido na forma dos Midrash, na qual a discussão haláquica está estruturada como comentários exegéticos sobre o Pentateuco. Uma forma alternativa, porém, organizada pelos tópicos de assuntos, em vez dos versos bíblicos, tornou-se dominante por volta do ano 200 d.C., quando o rabino Judá HaNasi redigiu a Mishná (משנה).

A lei oral estava longe de ser monolítica ,variando enormemente entre diversas escolas. As duas mais famosas eram a Escola de Shammai e a Escola de Hillel. No geral, todas as opiniões, mesmo as não-normativas, eram registradas no Talmude.

Mishná

Mixná ou Míxena, também chamada de Mishná, é uma compilação de opiniões e debates legais. As declarações contidas na Mixná são tipicamente concisas, registrando as opiniões breves dos rabinos debatendo algum tópico, ou registram apenas um veredito anônimo, que aparentemente representava uma visão consensual. Os rabinos registrados na Mixná são chamados de Tannaim.

Na medida em que suas leis estão ordenadas pelo assunto dos tópicos, e não pelo conteúdo bíblico, e a Mishná discute cada assunto, individualmente, de maneira mais extensa que os Midrash, e inclui uma seleção muito maior de assuntos haláquicos. A organização da Mishná tornou-se, desta maneira, a estrutura do Talmude como um todo. Porém nem todos os tratados da Mishná possuem uma Guemará correspondente. Além disso, a ordem dos tratados do Talmude difere, em muitos casos, da do Mishná.

“A Míxena judaica, uma coleção de ensinos e de tradições rabínicos, é um tanto mais explícita. Credita-se sua compilação ao rabino Judá, o Príncipe, que viveu no segundo e no terceiro séculos EC. Parte da matéria da Míxena relaciona-se claramente às circunstâncias anteriores à destruição de Jerusalém e do seu templo, em 70 EC. No entanto, certo perito diz a respeito da Míxena: “É extremamente difícil decidir que valor histórico devemos atribuir a qualquer tradição registrada na Míxena. O espaço de tempo, que talvez tenha contribuído para obscurecer ou distorcer as lembranças de épocas tão diferentes; as sublevações políticas, as mudanças e as confusões resultantes de duas rebeliões e de duas conquistas romanas; os padrões prezados pelo partido dos fariseus (cujas opiniões a Míxena registra), que não eram os do partido dos saduceus . . . — estes são fatores a que se deve dar o devido peso na avaliação do caráter das declarações da Míxena. Além disso, há muita coisa no conteúdo da Míxena que se encontra num ambiente de discussão acadêmica travada só pela discussão, (conforme parece) com pouca pretensão de registrar usos históricos.” (The Mishnah [A Míxena], traduzida para o inglês por H. Danby, Londres, 1954, pp. xiv, xv) – In Estudo Perspicaz das Escrituras, Volume 2 publicado pelas Testemunhas de Jeová.

Baraita

Além da Mishná, outros ensinamentos tanaíticos eram correntes na mesma época, e por algum tempo depois. A Guemará frequentemente se refere a estas declarações tanaíticas, para compará-los àqueles contidos na Mishná e para apoiar ou refutar as proposições dos Amoraim. Todas estas fontes tanaíticas não-mishnaicas são denominadas de baraitot (singular baraita, ברייתא – literalmente “material de fora”, se referindo às obras externas ao Mishná).

Guemará

Nos três séculos que se seguiram à redação da Mishná, os rabinos de Israel e da Babilônia analisaram, debateram e discutiram aquela obra. Estas discussões foram a Guemará (גמרא). A palavra significa “completude”, em hebraico, do verbo gamar (גמר), “completar”, “aprender”. A Guemará se focaliza principalmente na elucidação e elaboração das opiniões dos Tannaim. Os rabinos do Guemará ficaram conhecidos como Amoraim (no singular Amora, אמורא).

Boa parte da Guemará consiste de análises legais. O ponto de partida para a análise é, costumeiramente, uma declaração legal existente em determinada Mixná. A declaração é então analisada e comparada com outras declarações, numa troca dialética entre dois disputantes (frequentemente anônimos, por vezes metafóricos), que são chamados de makshan (“questionador”) e tartzan (“respondendor”). Outra função importante da Guemará é identificar a base bíblica correta para determinada lei apresentada na Mishná, assim como o processo lógico que a conecta com outra: esta atividade era conhecida como talmud, muito antes da existência do Talmude como texto.

Estas trocas formam os componentes básicos da Guemará; o nome dado a cada passagem é sugya (סוגיא; plural sugyot). Uma Sugya costumeiramente contém uma elaboração cuidadosamente estudada e detalhada de uma declaração mishnaica.

Em determinada sugya, declarações escriturais, tanaíticas e amoraicas, são trazidos para reforçar as diversas opiniões. Ao fazê-lo, a Guemará levanta discordâncias semânticas entre os Tannaim e os Amoraim (frequentemente direcionando o ponto de vista para uma autoridade mais antiga, no sentido de como ele teria respondido a questão), e comparando as visões mishnaicas com as passagens da Baraitá. Raramente os debates são encerrados formalmente; em muitos casos, a palavra final determina a lei prática, embora existam diversas exceções a este princípio.

Halachá e Hagadá

O Talmude contém um material vasto, que aborda assuntos de naturezas muito diversas. Tradicionalmente, as declarações talmúdicas podem ser classificadas em duas categorias amplas, as declarações haláquicas e hagádicas. As declarações haláquicas são aquelas que se relacionam diretamente com as questões da prática e lei judaica (Halachá), enquanto as declarações agádicas são aquelas que não tem qualquer conteúdo legal, sendo de natureza mais exegéticahomiléticaética ou histórica.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Talmude

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Apostilas Completas NT_Seminário Betel

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O Cristo eterno é tanto Juiz como Salvador

Jo 5:26,27

“Porque, como o Pai tem a vida em si mesmo, assim deu também ao Filho ter a vida em si mesmo;
E deu-lhe o poder de exercer o juízo, porque é o Filho do homem.”

       É somente por causa da encarnação que Deus, em sua sabedoria e graça, pode levar toda a humanidade ao ponto da responsabilidade de prestar contas. É algo com o qual podemos tanto nos alegrar quanto temer. Isto capacita o Senhor a levar toda a humanidade ao tribunal do Juízo.

       Independente do lugar que você ocupa no mundo, você irá deparar-se com o conceito de julgamento, com detalhes variantes. O conceito básico de julgamento ou juízo é simplesmente quê seres humanos são moralmente responsáveis por prestar contas. A base dessa responsabilidade é o fato de termos a vida derivada do outro, e não de nós mesmos. Tendo em vista que nossa vida provém do Criador, temos responsabilidade moral para com Aquele que nos concedeu essa dádiva. O Pai, como a Bíblia nos ensina, tem a vida em Si mesmo, portanto, ninguém pode julgá-lo. Deus não é derivado, Ele é o original. Por conseguinte, a Palavra diz: Porque, como o Pai tem a vida em si mesmo, assim deu também ao Filho ter a vida em si mesmo (Jo 5:26), de modo que ninguém pode julgar o Filho. O Filho é do Pai apenas. Disso deriva o conceito de juízo universal; embora sejamos livres para fazer escolhas morais, temos necessidade de prestar contas por essas escolhas a alguma autoridade.

       Usei a palavra livres e a expressão temos necessidade, e uma parece cancelar a outra. Todavia não existe nada inconsistente aqui. Os homens são livres para fazer suas escolhas morais, mas também sentem necessidade de prestar contas a Deus por seus atos. Isso os faz livres e vinculados, porque estão vinculados a julgamento e à prestação de contas pelos atos praticados no corpo.

       Em um dos seus ensaios, Ralph Waldo Emerson desenvolve a ideia de que não existe um julgamento futuro. Tudo é julgado, sentenciado, recompensado ou punido hoje. Para ilustrar ele disse: “O ladrão rouba apenas de si mesmo”. Naturalmente, essa não é a crença universal nem do Antigo Testamento, tampouco o ensino do Novo Testamento e da Igreja. Foi tramado na cabeça de um homem famoso, que viveu em Concord, Massachusetts (EUA).

Conceitos inadequados sobre juízo

       Como qualquer um poderia esperar, há muitos conceitos errôneos e inadequados sobre juízo. Novamente, quando você tem duas ou mais pessoas reunidas, terá pelo menos dois ou três conceitos sobre juízo. É como o texto do antigo Testamento, que revela: Cada um fazia o parecia direito aos seus olhos (Jz 17:6b). Deixe-me nomear alguns conceitos de juízo que são populares, mas inadequados.

       O primeiro conceito é o da operação da lei da compensação. Tomo algo do meu bolso esquerdo e o coloco no bolso direito. Tudo o que você faz em uma direção tem de ser contrabalançado por algo na direção oposta.

       Outro conceito inadequado de juízo é que somos responsáveis por prestar contas à sociedade.  Seguramente, existe bastante verdade nisso, mas é parcialmente verdade. Quando fazemos algo contrário, devemos prestar contas à sociedade. No entanto, também somos responsáveis para com Deus e temos de prestar contas a Ele por nossas ações. Muito disso tem a ver com a opinião pública, que é o que julga; na verdade, já julgou as coisas que você faz. Prova do que estou dizendo me foi apresentada há anos.

       Certa vez, andando pela rua, um garoto ficou olhando para mim. Geralmente, sou simpático com as crianças, mas fiquei preocupado naquele dia. Quando me aproximei dele a uma distância que dava para ouvi-lo ele me disse: “Oi cara de picles”. Ele já me havia definido. Eu tinha cara de picles e era responsável perante a sociedade humana pelo próprio formato do meu rosto. Não fiquei zangado com ninguém, mas ele, evidentemente, achou que eu não era tão entusiasmado quanto parecia. Ele achou que devia provocar-me um pouco, e foi o que ele fez. Então somos responsáveis diante da sociedade por tudo o que fazemos.

       Há muitas maneiras de prestarmos contas à opinião pública. Simplesmente dirigir na estrada faz com que as pessoas concluam que você é um bom motorista e uma boa pessoa ou que você é um motorista descuidado — um ou outro. Seus vizinhos o julgarão como um bom ou mau vizinho com base na opinião pública.

       Outro conceito inadequado de julgamento é o de termos de prestar contas à lei humana. Desde a heterogênea população de Nova Guiné até a cultura mais industrializada da Inglaterra, dos EUA e da França, todas as nações estabelecem leis. As nações esperam que essas leis sejam respeitadas e mantidas; do contrário, os transgressores sofrem as consequências.

       Alguém pode apontar para outro que desrespeite a lei. Aqui está uma pessoa que não cumpre a lei, a fim de ganhar dinheiro. Rouba um banco, a fim de obter dinheiro para pagar os impostos ou algo mais. Ele está cumprindo uma lei e desrespeitando a outra para ganhar dinheiro. Assim, o fora da lei age dessa forma apenas em certos detalhes. Ele respeita a maioria das leis, mas desrespeita uma para proveito ou conveniência pessoal. Um fora da lei nunca é feliz, porque presta contas à lei enquanto a desrespeita e é infeliz mesmo quando a está burlando.

        Outro conceito inadequado de julgamento é o da responsabilidade de o homem prestar conta de si mesmo. De acordo com esse conceito, todas as pessoas ficam em pé diante do tribunal do juízo da sua própria razão e consciência, no qual seriam o juiz e o júri. A base é a ideia de relatividade dos costumes, que está sendo ensinada em muitas das nossas universidades hoje. Simplificando, esse princípio diz que cada homem é uma lei para si mesmo. Nada é realmente mau ou bom. Bom é tudo o que trouxer aprovação social, e mau é o que acarreta desaprovação. Algo pode ser bom hoje e mau amanhã.

       Esse é, provavelmente, o pior conceito de toda a sociedade. Porque, se for verdade, então haveria tantos códigos morais quanto os seres humanos, e cada um seria sua própria testemunha, seu promotor, juiz, júri e carcereiro. É tão estúpido, que raramente merece alguma consideração, mas nunca subestimo a capacidade humana de confundir as coisas. Qualquer um com eloquência pode convencer as pessoas a crer em qualquer coisa. Naturalmente, esse é o âmago de todas as seitas que surgiram no decurso dos anos.

       Como um homem pode ser responsável por prestar contas a si mesmo? Se for verdade, como isso termina? Alguém poderia dizer: “Ele é responsável por prestar contas à sua consciência”. Posso ver um argumento aqui, mas depois, a minha pergunta seria: a quem a consciência dele presta contas? Como é possível que eu seja meu próprio promotor, minha própria testemunha, meu próprio carcereiro e carrasco? Sei que parece muito erudito, místico, muito poético e ilusório, mas, quando você considera isso, é simplesmente ridículo. É um conceito de julgamento absolutamente inadequado, porque nunca conheci alguém que fosse exigente consigo mesmo e condenando-se. A maioria das pessoas é muito condescendente consigo. Sei que, se eu fosse meu juiz, júri, promotor e carrasco, perderia meu machado. Seguramente, não cortaria minha própria cabeça. Não teria coragem de fazer isso.

Responsável por prestar contas a Deus

       Compreendendo Deus do jeito que Ele é revelado nas escrituras, fica bastante claro que ele não deixará que os homens prestem contas ao seu ego. Ademais, Ele não fará com que você e eu prestemos contas à lei ou à sociedade. Devemos prestar contas, definitivamente, ao Único que nos deu a vida. Creio que seja a ausência dessa atitude que produz cristãos frágeis e alquebrados e igrejas que não têm sentido em si mesmas.

       A verdade simples é que a sociedade não pode alcançar-nos na esfera do nosso ser, no ponto em que somos mais vitalmente responsáveis por prestarmos contas a Deus e a nós mesmos. Como ser humano, presto contas à opinião pública e à lei da Terra. Por outro lado, também sou responsável por prestar contas a mim mesmo e ao meu Deus. A sociedade não pode interferir nisso, e as leis da Terra e a opinião pública vão somente até um ponto. Há verdade nelas, mas não a completa. Existe algo além delas.

       Tome por exemplo um homem que cometa suicídio. Ele apanha uma espingarda, mira na cabeça e estoura seu cérebro. Naquele ponto, ele não presta contas à opinião pública ou a lei da Terra. Ultrapassa isso e, agora, tem de prestar contas à autoridade mais elevada, porque, uma vez tendo morrido, a sociedade não pode puni-lo.

       Há muitas situações na sociedade e na lei humana com as quais não podemos lidar. Jesus entendeu isso quando disse: Ouvistes que foi dito aos antigos: Não cometerás adultério. Eu porém, vos digo que qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar já em seu coração cometeu adultério com ela (Mt 5:27,28). A lei dos judeus podia lidar com o adultério, mas, quanto à luxúria do coração, não podia tocá-la.

       Essa espécie de falta de sentido tem invadido até mesmo nossas igrejas. Quando uma igreja se afasta da verdade e dá as costas para a autêntica Palavra de Deus, começa a estabelecer as próprias leis. Ouvi falar de uma igreja, outrora sólida e pregadora da Bíblia, a qual anunciou que, em determinada manhã de domingo, o tópico do sermão do reverendo seria sobre úlceras pépticas. Bem, imaginar o que isto tem a ver com a Bíblia e com Deus me deixa confuso. Se ficasse muito tempo naquela congregação, provavelmente eu desenvolveria uma úlcera péptica. É surpreendente ver a que profundidade caímos e como somos tolos quando nos tornamos uma lei para nós mesmos.

       Na cidade de Detroit, nos Estados Unidos, há alguns anos, o letreiro na frente de uma igreja anunciou que, na manhã do domingo seguinte, às 10:45 hs, o “grande” Ver. Fulano de Tal pregaria sobre o tema Quem Matou Cock Robin1. Como o reverendo sabia quem era o criminoso era a dúvida de todos.

       Um anônimo provérbio antigo diz: “Aqueles a quem os deuses querem destruir, primeiro, eles o fazem loucos”. O julgamento de Deus começará com a Igreja. Quando deixarem de crer no julgamento divino, não será possível saber qual o próximo passo da Igreja ou para onde irá. Foi a crença na capacidade do homem de prestar contas ao seu Criador que fez os Estados Unidos grandiosos um dia.

      Um dos grandes líderes americanos foi o senador Daniel Webster2; sua sobrancelha volumosa e seus olhos flamejantes costumavam encantar o Senado, quando ele ficava em pé e conversava com os parlamentares, não com sarcasmos ou observações engraçadas. O senado naqueles dias não era composto de comediantes despreparados, mas de estadistas fortes e nobres, que carregavam nos ombros o peso de uma nação.

       Alguém perguntou: “Sr Webster, o que o senhor considera o pensamento mais sério que já passou pela sua mente?”. Ele respondeu; “O pensamento mais solene que já passou pela mente é a responsabilidade de prestar contas ao meu Criador”. Homens que falavam dessa forma não podiam ser corrompidos e comprados nem tinham de se envergonhar caso suas chamadas telefônicas fossem gravadas. Eles não ficavam tão preocupados com o que as pessoas pensavam quanto com o fato de que tinham de prestar contas a Deus.

Nosso justo Juiz

       A fim de que alguém julgue a humanidade, certos critérios devem ser estabelecidos; afinal, não é qualquer um que pode fazê-lo. Além disso, essa pessoa deve ter autoridade para executar o julgamento necessário. Outro critério seria que aqueles que fossem assim julgados prestassem contas ao juiz. Alguma espécie de relacionamento precisa ser estabelecida.

       Um grupo de homens estabelece uma lei há muito tempo. As pessoas são então julgadas hoje com base em leis estabelecidas há muitos anos, sem conhecerem realmente quem as regulamentou. Não é dessa maneira no Reino de Deus. De acordo com a Bíblia, o juiz tem de julgar os que devem prestar contas a ele mesmo. Não apenas por causa da lei imposta por outros, mas moral e vitalmente, em vez de pura e simplesmente no aspecto legal. Para ser um juiz justo da humanidade, a autoridade tem de possuir uma variedade de qualidades ou atributos (Sl 139:23,24  e Jr 17:9,10).

Onisciente

       O Juiz com o qual temos de lidar tem todo o conhecimento. Ele é onisciente. Para que esse juiz julgue corretamente, não existe espaço para erro. Em nosso sistema judiciário, muitos juízes têm cometido erros porque não dispõe de todas as provas necessárias. A justiça humana faz o seu melhor, mas porque não é de todo sábia, comete erros. Inclusive algumas pessoas estão na prisão hoje e cumprem sentenças durante a vida toda por causa de um erro.

       Quanto ao Onipotente, Ele nunca julgará alguém com informação parcial. O Senhor não comete erros nem permite que qualquer erro ou falta de informação interfira na situação. O juiz que nos julga deve ser o que tem tolda a sabedoria. Portanto, temos de eliminar Paulo, o apóstolo, Moisés, o que entregou a Lei, e até mesmo Elias. Esses foram homens bons, mas foram apenas homens e só possuíam conhecimento e sabedoria finitos. O Deus que nos julga é o Juiz que tem sabedoria infinita e é onisciente.

      No que diz respeito a julgar uma alma que viverá por toda eternidade, não há espaço para erros. O Juiz da humanidade terá de ser Aquele que nunca precisará do testemunho de uma terceira parte. Em uma audiência comum, são necessárias testemunhas; o juiz senta-se solenemente e ouve os depoimentos. A testemunha diz: “Vi que ele fez isso, ouvi quando ele disse aquilo”, e, se a testemunha estiver mentindo, o juiz é enganado. Mas o juiz da humanidade não depende do testemunho dos outros.

       Jesus Cristo disse: Eu não posso de mim mesmo fazer coisa alguma. Como ouço, assim julgo; e o meu juízo é justo, porque não busco a minha vontade, mas a vontade do Pai que me enviou” (Jo 5:30). O critério básico para julgar toda a humanidade é, portanto, o conhecimento perfeito e completo.

Imparcial

       Outro critério entra em cena. O juiz deve ser absolutamente imparcial e desinteressado, sem levar qualquer benefício pessoal no caso.

       Muitos juízes têm sido rigorosos nos julgamentos por causa da proximidade das eleições ou porque a opinião pública estava fortalecendo-se. Os jornais os pressionavam e, para salvar a carreira política deles, deram um veredito severo ou abriram mão de uma decisão. Suas motivações foram escondidas e falsas. O Filho de Deus diz que Seu julgamento é justo, porque Ele não busca a sua vontade, mas a do Pai. Cristo pode ser o Juiz porque ele está diretamente ligado ao caso e, ainda assim, é desinteressado, não tendo nada a ganhar ou perder pelo seu julgamento. Mais uma vez, toda a glória pertence a Deus.

Compreensivo

       Outro critério importante para qualificar o juiz é a compreensão solidária. Eu não gostaria de ser julgado por algum arcanjo que nunca derramou uma lágrima, nem por um serafim que nunca sentiu dor, tampouco por um querubim que nunca conheceu a tristeza, o desapontamento ou a aflição humanos. Para ser juiz dos seres humanos, é preciso ser um deles. Jesus disse que o Pai deu ao Filho poder para executar o julgamento porque ele é um Filho do homem. Sendo assim, ele não pode ser o Advogado nas alturas, o Salvador no trono do amor, mas também o Juiz que Se assenta no trono.

       Com isso estabelecido, todas as falsas acusações são eliminadas. Então, não haverá como se esquivar, queixar-se, lamentar, chorar e dizer: “Senhor, Tu não me entendeste”. Ele entende, sim. Porque Se tornou um de nós e andou entre nós. Nunca houve uma lágrima que Ele não tivesse compartilhado, uma dor que ele não tivesse sofrido, uma tentação que não tivesse chegado até Ele nem uma situação de crítica que Ele não tivesse enfrentado.

       Isso nos leva ao Juiz supremo de toda a humanidade, o Único que Se qualifica para essa função. Esse é Jesus, porque é o Filho do homem; ele tem autoridade para executar o julgamento. Cristo qualifica-Se com todas as alegações para ser o Juiz da humanidade. As lágrimas que derramou, as dores que sofreu e a tristeza que suportou fizeram dEle não apenas um juiz justo, mas também um juiz da humanidade, que é compreensivo e sensível. Sua presença na humanidade é o nosso julgamento presente sobre o pecado. E disse-lhe Jesus: Eu vim a este mundo para juízo, a fim de que os que não veem vejam e os que veem sejam cegos (Jo 9:39).

Tanto Salvador como Juiz

       Essa é uma doutrina bíblica bastante incompreendida. Há muitas doutrinas importantes negligenciadas pelos mestres da Bíblia de hoje, como a que diz que Jesus Cristo é o juiz da humanidade, mas o Pai não julga o homem. “E quando o Filho do homem vier em sua glória, e todos os santos anjos com ele, então se assentará no trono da sua glória;
E todas as nações serão reunidas diante dele, e apartará uns dos outros, como o pastor aparta dos bodes as ovelhas;”
 (Mt 25:31, 32).

      Quando o Juiz da humanidade vier, terá os ombros e o rosto de um homem, o homem Cristo Jesus. Deus concedeu-lhe autoridade para julgar a humanidade, de modo que Ele é tanto o Juiz quanto o salvador do homem. Isso me faz amá-lo porque Ele é o meu Salvador, e temê-lo porque Ele é o meu Juiz.

       Infelizmente, o Jesus barato que está sendo pregado hoje por muitos homens não é Aquele que virá para julgar o mundo. Esse Cristo pintado, de plástico, que não tem fundamento nem justiça, mas é um amigo agradável e condescendente com todos, se esse for o único Cristo, então podemos fechar nossos livros, trancar nossas portas e abrir uma padaria ou um estacionamento nos prédios em que funcionam nossas igrejas.

      O Cristo popular que está sendo pregado hoje não é o de Deus, Nem o da Bíblia, nem Aquele com quem teremos de lidar no final. O Cristo de que tratamos tem olhos como chamas de fogo. Seus pés são como latão reluzente, e da Sua boca sai uma aguda espada de dois fios (veja Ap 1:14_16). Ele será o Juiz da humanidade. Você pode deixar seus amados nas mãos dEle, sabendo que: (1)Ele mesmo sofreu; (2) Ele conhece tudo; (3)nenhum erro é cometido por Ele e (4) não pode haver insucesso da justiça, porque Ele conhece tudo o que pode ser conhecido.

       Foi dito certa vez, como uma reflexão posterior, que Jesus não precisava que alguém testemunhasse do homem, porque Ele sabia o que estava no homem: “Não vos maravilheis disto; porque vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz.
E os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida; e os que fizeram o mal para a ressurreição da condenação.”
 (Jo 5:28, 29).

       Essa saída dos sepulcros será pelo convite do próprio Filho de Deus. Como comandante do exército, Ele o fará ficar em pé para o julgamento, que sedará com base no tipo de vida que as pessoas levaram neste mundo. Essa é outra doutrina esquecida, mas ela está aqui. Os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida, e os que fizeram o mal, para a ressurreição da condenação. Esse é o Juiz de todos!

       Teremos de lidar com nosso Senhor, o Juiz com os olhos flamejantes. Não podemos escapar. Podem dar de ombros e afastá-lo em uma nuvem de fumaça, mas todos devem voltar a lidar com Ele no final. Tenha certeza disto: ou Ele será Salvador agora ou Ele irá julgar. A doçura e a simpatia do Salvador de agora serão deixadas de lado quando a justiça e a severidade do Juiz vierem à frente. Sem anular um dos papéis, Ele exercitará ambos, de tal modo que Cristo é tanto Senhor e o Juiz dois homens como o Salvador deles.

       Isaac Watts, em seu hino Not all the blood of beasts [Nem todo o sangue das feras, tradução livre], ilustra essa mesma verdade: 

Nem todo o sangue das feras

Mortos nos altares judeus

Poderia dar paz à consciência culpada

Ou lavar sua mancha.

 

Mas Cristo, o Cordeiro celestial,

Leva todos os nossos pecados;

Um sacrifício de nome mais nobre

E de sangue mais rico do que o delas.

 

Minha fé colocaria a sua mão

Na cabeça querida de Jesus,

Enquanto me ponho como penitente

E confesso o meu pecado.

 

Minha alma olha para trás

E vê os fardos que Ele levou sobre Si,

Quando pendurado no madeiro maldito,

E sabe que a culpa dela ali estava.

Crendo nós nos rejubilamos

Por vermos removida a maldição

 

Bendizemos o Cordeiro com voz alegre

E cantamos Seu amor, que sangra.

       No Antigo Testamento, os pecadores iam até o sacerdote e diziam; “Pequei e trago um cordeiro”, ou alguma oferta. Então, os pecadores colocavam a mão na cabeça do animal e o matavam, e o sacerdote espargia o sangue sobre o altar. Dessa forma, seriam perdoados do pecado que tivessem cometido.

       Neste momento, aqueles que não querem Jesus como juiz devem reavaliar sua posição e pensar seriamente nEle como Salvador e se colocar como penitentes, ou se ajoelhar como tal e confessar seus pecados. “Minha alma olha para trás e vê os fardos que Ele levou sobre Si, quando pendurado no madeiro maldito? “Àquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus.” (veja 2ª Co 5:21). Ressalto do hino de Watts: “Crendo, nós nos rejubilamos por vermos removida a maldição” (veja Gl 3:13,14).

       Tenho visto essa canção editada e revirada. Algum editor instruído e sofisticado que não gostava da palavra maldição removeu-a. ele a consertou, mas não a cantarei. Canto esta aqui: Crendo, nós nos rejubilamos, por vermos removida a maldição. Qual maldição? A maldição da quebra da Lei. A maldição do pecado. Bendizemos o Cordeiro com voz alegre e cantamos seu amor, que sangra. Que maravilhoso é tudo isso! Que maravilha é essa canção de triufo! Que canção cheia de Teologia, significado e Evangelho! O sangue de Cristo fez e está fazendo o que o sangue de bodes não conseguiu fazer.

       Qual deles Ele será para você: Salvador ou Juiz? Ele será um ou outro. Se for o primeiro, não será o segundo. De minha parte, não posso dar-me ao luxo de encará-lo como meu juiz. Preciso ter o seu sangue protetor e olhá-Lo como meu Salvador agora. Ele sabe muito sobre mim para que eu me apresente descaradamente na Sua presença e deixe que ele me julgue.

       As escrituras falam-nos de alguns que mandaram seu pecado embora antes do julgamento. Você pode mandar seus pecados embora antes do Grande dia; eles podem ser julgados, liquidados e descartados agora, enquanto você ainda está na Terra. O Salvador cobrirá seus pecados. Como disse um irmão mais idoso; “Se Jesus cobriu nossos pecados quando entregou sua vida, eles foram expostos, mas Cristo os cobriu com sua morte. Pela sua morte, Ele colocou para sempre os meus pecados onde eles não podem ser encontrados, por causa do sangue da eterna Aliança”.

       Olhe para trás e veja o fardo que Jesus levou, coloque a mão sobre a Sua cabeça santa e confesse seus pecados. A maldição será removida, e você poderá dizer; “Crendo, eu me rejubilo por ver removida a maldição”. “Bendigo o Cordeiro com voz alegre a canto Seu amor, que sangra”.

1Cock Robin é um personagem de uma canção popular inglesa.

2Daniel Webster (1782 —1852) foi um político estadunidense e senador por Massachusetts durante o período que antecedeu a Guerra Civil. Inicialmente, ganhou destaque regional por meio de sua defesa dos interesses marítimos da Nova Inglaterra. (Fonte: Wikipédia) 

E Ele Habitou entre nós – Ensinamentos do evangelho de João

A.W. Tozer

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O messias do antigo testamento versus o Cristo do novo

Jo 1:29, 30

“No dia seguinte João viu a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.
Este é aquele do qual eu disse: Após mim vem um homem que é antes de mim, porque foi primeiro do que eu.”
 

       Um dos registros mais bonitos que eu conheço nas Escrituras é o de como João Batista, com toda a Palestina ouvindo, atingiu um momento da vida em que disse: “Minha obra terminou, e Aquele que eu antecedi chegou. Devo diminuir, e Ele deve crescer. Eu desapareço e, agora, ele brilha em todo o seu esplendor” (Jo 3:30).

       João Batista estava prestes a sair do cenário para não mais brilhar. Ele havia dito muitas coisas sobre Aquele que viria, mas ainda não o tinha visto. É um erro acreditar que João e Jesus estavam familiarizados um com o outro, embora fossem parentes. Se estavam familiarizados um com o outro, João Batista não tinha a mais remota ideia de que Jesus era Aquele sobre quem estava pregando. O profeta havia dito muitas vezes sobre Aquele que viria e coroou todo o seu discurso, afirmando: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.

       O que aquilo significava para um judeu? Você teria de ser judeu, comum histórico de compreensão da religião judaica, para seu coração ser atingido pelo raio de sol brilhante que os atingiu, quando João Batista disse: Eis o cordeiro de Deus.

       Eles conheciam a história de Abel, o jovem que sacrificou o primogênito de suas ovelhas ao Senhor. O fogo divino caiu, e Deus testificou a Abel que aceitara a sua oferta (Gn 4:4). Conheciam a história de Abraão preparando seu sacrifício (Gn 22:7_14). Estavam perfeitamente familiarizados com aquele da Páscoa imolado para a salvação da humanidade e com aquela longa linhagem de sacerdotes que ofereciam cordeiros, ano após ano, naquela ocasião. Quando João disse: Eis o cordeiro de Deus, foi como se dissesse: “Agora que estamos na base da coluna, acrescentamos Este. Todos os cordeiros que já passaram, desde o primeiro cordeiro de Abel até o presente, recebem seu cumprimento no Cordeiro de Deus”.

       O cordeiro de Abel, de Abraão, de Isaque, de Judá e o cordeiro da Páscoa foram apresentados por homens. Agora, no entanto, vem o cordeiro que ninguém mais pode apresentar. Ele é o cordeiro do Deus Todo-Poderoso, a Soma e a Conclusão de todos os cordeiros que já foram ou estão para ser. Essa é a soma plena, introdutória, do que todos os cordeiros queriam dizer durante séculos. Isto deve ter significado algo maravilhoso para os judeus: eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo (Jo 1:29b).

       João Batista testifica: este era aquele de quem eu dizia: o que vem depois de mim é antes de mim, porque foi primeiro do que eu (v. 15b). Nessa passagem, existe um pequeno artifício de linguagem contraditória que deve ser anulado. “O que vem depois de mim”, no tempo, “é antes de mim”, em honra, porque Ele estava antes de mim na hierarquia. Este é aquele que vem após mim (v.27a), isto é, “Eu vim primeiro e como um arauto anunciando o que vem depois de mim. Mas o que veio depois de mim no tempo me procede em honra, porque Ele está antes de mim na hierarquia e é o próprio Filho de Deus”.

       Naturalmente, o grande problema foi como Ele seria identificado. Multidões estavam sendo batizadas. Então, como Aquele que viria seria reconhecido? Para provar que era o Messias, ele tinha de passar por certos por certos testes rígidos. Tinha de nascer da semente de Abraão. Ninguém podia reivindicar ser o Filho de Deus ou o Salvador da humanidade – o Messias de Israel – e não ser alguém da semente de Abraão.  Era preciso ser capaz de ter uma linhagem que remontasse a Abraão. De outra forma, se não pudessem provar que ele não era o Cristo, ele não conseguiria provar que era.

       As exigências estreitavam-se ainda mais; ele tinha de ser nascido da semente de Isaque e Jacó. Jacó. Jacó teve 12 filhos, e o messias teria de vir por intermédio de um único homem, Davi. Não apenas tinha de ser nascido da linhagem de Abraão por intermédio do rei Davi, mas também nascer em um tempo aproximado. Se tivesse nascido 300 anos antes, como foi Buda, não serviria.  Se tivesse nascido de um árabe ou de um japonês, não serviria, porque teria perdido o elemento da linhagem.

       Então, o Salvador precisava nascer em determinado país. Não era um país importante aos olhos do mundo – apenas um pequeno país inserido, de algum modo empurrado entre os continentes –, mas, se ele tivesse nascido em outro lugar, Roma, Egito ou Índia, por exemplo, não serviria. Tinha de nascer naquele pequeno país.

       Além de tudo isso, Sua terra natal também tinha de ser designada com precisão em um lugar real; uma pequena cidade que não tivesse mais do que uma estalagem. As Escrituras são muito específicas e dizem que não havia lugar para Ele na estalagem (Lc 2:7). Não é possível ir a Nova Iorque ou Chicago, por exemplo, e dizer que não havia acomodação de hotel. Você poderia dizer: “Não consegui quarto em nenhum hotel”, já que há vários estabelecimentos desse tipo.

       Na pequena Belém de Judá, foi falado que não havia acomodação para Ele na estalagem. Só havia uma estalagem, e eles raramente faziam uso dela. Porém, aconteceu que precisaram usar uma naquela ocasião, por causa de um decreto de César Augusto. Então, Jesus teve de nascer naquela cidadezinha (Lc 2:1_7).

      Se estivéssemos encarregados do nascimento do Messias, nós O teríamos feito nascer em Roma, por ser a cidade eterna, ou então O teríamos feito nascer em Atenas, certamente, por ser a cidade dos pensadores. Teríamos escolhido uma capital de algum modo grande e importante o suficiente para se impor na consciência humana.

       Deus trabalha de modo silencioso, quieto e modesto. Ele está virando o mundo ‘de cabeça para baixo’, mas faz isso tão silenciosamente que ninguém percebe. Seu Messias nasceu na pequena Belém de Judá. Vale ressaltar que as cidades de Judá não eram muito grandes; somente Jerusalém podia ser considerada uma megalópole. “E tu, Belém Efrata, posto que pequena entre os milhares de Judá, de ti me sairá o que governará em Israel, e cujas saídas são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade.”
 (Mq 5:2).

       João Batista conhecia tudo isso, mas ainda não bastava. Muitos homens nascidos da semente de Abraão estavam vivendo naquela época. Homens descendentes do Leão de Davi estavam vivendo naquele tempo. Não sei se havia algum nascido em Belém, mas pode ter existido.

       Quando Jesus se apresentou às margens do Jordão, houve algo diferente acerca do homem, mas não uma diferença suficiente. João olhou para, sentiu-se inferior e disse: ”Não acho certo batizar você. Acho que você deve batizar-me”. Ele ainda não sabia quem era Aquele homem, e nosso Senhor disse: “Porque assim nos convém cumprir toda a justiça” (Mt 3:15b).

       Quando Jesus foi batizado, o Espírito Santo desceu sobre Ele, e João disse: E eu não o conhecia, mas o que me mandou a batizar com água, esse me disse: Sobre aquele que vires descer o Espírito, e sobre ele repousar, esse é o que batiza com o Espírito Santo. (Jo 1:33). Assim, Jesus passou por todos aqueles rígidos testes.

E Ele Habitou entre nós – Ensinamentos do evangelho de João

A.W. Tozer

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Sua busca, nosso resgate

Jo 6:2

“E grande multidão o seguia, porque via os sinais que operava sobre os enfermos”.

       Quando você vê Jesus nos evangelhos, geralmente Ele está rodeado de gente. Houve uma exceção, quando Ele se retirou e foi com os seus discípulos ao monte. Isso foi típico dAquele que veio andar entre os homens para ser o Salvador da humanidade.

       Aceitamos tantas coisas como naturais na Bíblia e não reservamos tempo para perguntar sobre elas. Com isso, deixamos de adquirir a ajuda que nos seria dada se fizéssemos a pergunta: “Por que Ele estava constantemente com as pessoas?”. A pergunta torna-se mais vívida quando percebemos que toda lógica está contra Ele estar com Elas. Observe quem Ele era e quem eram elas. Você verá que a lógica e o senso comum, a expectativa baseada na razão, estariam do outro lado. Esse era o Jesus, que João descreveu tão cuidadosamente para nós no primeiro capítulo, como sendo o Verbo que Se fez carne (Jo 1:14). Antes do princípio e no princípio, Ele era Deus, e ainda é Deus; da eternidade, Ele tinha contemplado Deus e Ele mesmo tinha recebido a adoração dos poderes celestiais.

SUA BUSCA, NOSSO RESGATE

       Jesus levou nossa tristeza, nossa dor, nossos pecados, nosso futuro e nosso destino e carregou-os no seu coração e sobre os Seus ombros, e não houve retorno a partir disso (Is 53:5_6). Ele deixou a Terra, mas não deixou a humanidade; Ele levou a sua humanidade junto de Si para a Divindade, e ambos estão à direita de Deus. O irmão mais velho tinha vindo resgatar os irmãozinhos.

       Alguém uma vez me censurou por dizer no rádio que Jesus foi o nosso grande Irmão. Ele disse que eu nunca deveria ter falado isso. Não discuti, mas não deixei de dizer que a Bíblia relata que ele é o Primogênito entre muitos irmãos (veja Rm 8:29). Os irmos foram perdidos, mas o primogênito veio e os encontrou. Em outras palavras, o Pastor veio aqui buscar Suas ovelhas.

       A razão diz ao pastor: “Por que você está aqui nas trevas entre as sarças? Olhe para a sua veste, está rasgada. Por que existe um arranhão no seu queixo e outro na sua mão? Por que você está aqui? A noite está descendo, há feras ai fora”. A lógica diz: “Você não devia estar aqui. Daqui a 3 km, há uma cabana. Naquela cabana, então sua mulher e seu três filhos, todos esperando por você. Há uma chaleira no fogão, leite na caneca, o jantar esperando. Por que você está aqui?”. E ele diria: “Em alguma caverna, estão as ovelhas, e é por isso que eu estou aqui”.

       É toda a razão e toda lógica de que preciso. Os filósofos dizem que um homem  deve voltar para casa à noite. Voltar para onde existe uma cama, uma mesa e um calor suficiente. A lógica diz que Deus não podia estar aqui, mas Ele estava. O Pastor veio para o rebanho. Onde mais o Pastor encontraria as ovelhas? Se as ovelhas pudessem chegar até Ele, não seria necessário ele ter vindo. Porém, como não podiam ir até Ele, Ele veio até elas. A maravilha da encarnação foi mais do que uma proposição teológica. Foi um ato altamente emocional.

       A razão diz: “Por que o Santíssimo estaria entre os mais pecadores? Por que o Altíssimo estaria entre os inferiores? Por que o Deus da glória estaria entre homens da vergonha?”.

       Ele nunca responde. Ele diz que uma ovelha está perdida e que Ele a está buscando. Isso é tudo! Nenhuma das redimidas soube como foi profunda a água pela qual Ele atravessou ou como estava escura a noite que o Senhor passou para encontrar Sua ovelha perdida. “No deserto, Ele ouviu seu grito; doente, desesperada e pronta para morrer”. Assim escreveu Elizabeth Clephane1, no hino The ninety and nine [As noventa e nove]:

Havia 99 seguras

No abrigo do rebanho,

Mas uma estava fora, nos montes,

Longe dos portões de ouro,

Longe do cuidado meigo do Pastor,

Longe do cuidado meigo do Pastor,

Longe do cuidado meigo do Pastor.

Senhor, tu tens aqui 99,

Não são suficientes para Ti?

Mas o Pastor respondeu:

“Essa minha ovelha afastou-se de Mim,

E, embora a estrada seja difícil e íngreme,

Vou ao deserto encontrar minha ovelha,

Vou ao deserto encontrar minha ovelha”.

Mas nenhuma das resgatadas soube

Como eram profundas as águas atravessadas,

Nem como estava escura a noite

Que o Senhor passou

No lugar em que encontrou Sua ovelha perdida.

No deserto, Ele ouviu seu grito;

Doente, desesperada e pronta para morrer,

Doente, desesperada e pronta para morrer.

Senhor, de onde são essas gotas de sangue por todo o caminho,

Que marcam uma trilha na montanha?

Foram derramadas por uma que se afastou,

Antes que o Pastor a trouxesse de volta.

Senhor, por que Tuas mãos estão assim arranhadas e dilaceradas?

Foram perfuradas esta noite por muitos espinhos,

Foram perfuradas por muitos espinhos.

E pelos montes, por tempestades violentas,

E no alto do abismo pedregoso,

Levantou-se um brado feliz do portão do céu:

“Alegrem-se! Encontrei minha ovelha!”

E os anjos ecoavam ao redor do trono,

Alegrem-se, porque o Senhor traz de volta os Seus!

Alegrem-se, porque o Senhor traz de volta os Seus!

 

Jo 3:16

“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.”

Você pode pesquisar as bibliotecas do mundo inteiro e investigar todos os livros em todas as línguas, mas nunca encontrará um texto que se compare a João 3:16. Mesmo que você reúna as grandes mentes de todos os filósofos, pensadores e escritores desde o princípio dos tempos e os coloque juntos em uma sala, todos os seus talentos combinados não conseguiriam produzir um texto que signifique tanto para a humanidade. Não digo isso de modo descuidado, mas afirmo ponderadamente e com grande convicção, depois de uma vida inteira lendo, pensando e orando.

A.W. Tozer

1Elizabeth Clephane (1830-1869) foi uma autora escocesa de diversos hinos cristãos.

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A Maravilha e o Mistério da Identificação do Cristo

A.W. Tozer

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Olhe para a santidade

Jo 14:10_11

“Você não crê que eu estou no Pai e que o Pai está em mim? As palavras que eu digo não são apenas minhas. Ao contrário, o Pai, que vive em mim, está realizando a sua obra.

Creiam em mim quando digo que estou no Pai e que o Pai está em mim; ou pelo menos creiam por causa das mesmas obras.”

      Se aprendemos algo com a História, sabemos que nenhuma nação se levantou acima da sua religião. Não acho que seja muito difícil provar essa afirmação. Quer a nação seja pura ou impura, superior ou inferior, ela depende da espécie de religião que tem.

       Durante um tempo, pode parecer que uma nação seja maior do que a sua religião. Pode, inclusive, ter uma religião inferior e, mesmo assim, atingir altos níveis. Nas qualidades que dizem respeito ao melhor da nossa humanidade, nenhuma nação conseguiu levantar-se acima da sua religião. …

       Uma segunda coisa é que nenhuma religião subiu mais alto do que seu conceito de Deus. Isso é o mais vital que pode ser conhecido sobre qualquer igreja, qualquer homem e nação. Toda religião, elevada ou não, pura ou impura, nobre ou pagã, depende totalmente do que ela pensa sobre Deus.

       Existiram no passado religiões pagãs que, embora não fossem cristãs – não eram redimidas –, conseguiram ter uma sociedade e alguma espécie de adoração pagã estáveis porque tinham um conceito elevado de Deus. Se tiverem um deus básico, terão uma religião básica. Se tiverem um Deus superior, terão uma religião elevada.

       Estou falando das religiões que não crêem em Jesus como o Salvador. Tem havido grandes religiões, mas todas elas têm sido dependentes do seu conceito de Deus. Um conceito elevado do altíssimo significa que todos os homens lutarão por coisas mais elevadas e farão o melhor que puderem, mesmo que estejam fora de Cristo e não tenham nascido de novo. Embora não sejam redimidos, tentarão algo melhor, se seu conceito de Deus for mais elevado.

OLHE PARA A SANTIDADE

       A terrível paródia com a qual nos deparamos hoje é o cristianismo sem santidade. Se você diz que aceita Jesus, mas leva uma vida desregrada, você não aceitou Jesus coisíssima nenhuma. Você é um homem iludido, pois não é melhor do que quando não tinha ouvido falar de Deus. As primeiras qualidades do cristianismo são santidade, pureza e retidão de vida, de pensamento e de aspirações. Temos um cristianismo hoje sem santidade. O Filho de Deus foi um Filho santo, o Pai é o Pai santo no Céu, e o Espírito Santo é o Espírito Santo. Nossa Bíblia é a Bíblia Sagrada, santa, e a Igreja é chamada da santa. O Céu é santo, e os anjos também são santos. Por conseguinte, devemos levar a sério a doutrina bíblica da espiritualidade e da santidade. As igrejas evangélicas resvalaram, de certa forma, para a sujeira.

       Jesus amava a todos. Ele os amava de um modo tranqüilo, sereno e maravilhoso. As pessoas iam até Ele, e isso tornava aqueles teólogos fariseus tão malignos quanto o diabo. Eles deveriam se perguntar por que as pessoas não iam até eles. Não os seguiam porque não encontravam calor humano. Um pássaro, por exemplo, sempre irá para o lado quente do telhado no começo da primavera. Uma codorniz costumava voar ao redor da casa na fazenda quando período de neve se findava. Você poderia andar pelo lado do monte onde estava a neve e não encontraria nenhum pássaro. No entanto, se subisse o monte e descesse onde o sol estava brilhante, encontraria uma ninhada de filhotes de codornizes esperado pelo calor. Todos gostam do sol quente quando está frio. Jesus atraia as pessoas porque ele era Deus andando ao redor, agindo como Deus em amor. As pessoas não iam com os fariseus porque estes não tinham amor. Eram fogo extinto no fogão. Ninguém quer ficar ao redor do fogão quando o fogo se apaga.

       Muitos não conhecem a alegria que costumávamos ter na fazenda, no inverno. Ligávamos um pequeno fogão a lenha arredondado até que estivesse bem quente, a ponto de ficar vermelho como um tomate. Você vinha meio congelado, esquentava as costas na cadeira e punha os pés naquela proteção ao redor do fogão. Não era tão quente, não a ponto de queimar os sapatos. Nenhum aparelho moderno podia superar aquele prazer tão simples. Hoje em dia, colocam-se saídas de ar quente embutidas na parede e fazem toda espécie de sistema de aquecimento. É mais conveniente, admito, mas falta graça, de alguma maneira. Você não pode simplesmente se encantar por um aparelho.

       Ninguém vai ao fogão quando o fogo se extingue. Jesus tinha amor em seu coração, e o amor é sempre quente. O amor é sempre atrativo. As pessoas vão às igrejas onde existe calor. Vão até os cristãos que são amigáveis.     

E Ele Habitou entre nós – Ensinamentos do evangelho de João

***A importância do conceito adequado a respeito de Deus***

A.W. Tozer

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