Lei e Graça

 

      A Palavra de Deus é composta pelo Antigo e Novo Testamentos, cujos conteúdos são compostos pela Lei e pelo evangelho, sendo que o Antigo Testamento não contém somente a Lei e vice-versa. O conteúdo da Lei e do Evangelho perpassa todo o conteúdo bíblico; há, no entanto, uma maior ênfase de conteúdos em cada um dos Testamentos respectivamente.

       A Lei serve como um condutor para um encontro com Cristo e sua graça (Gl 3:24). A Lei convence-nos, por sua impossibilidade de ser cumprida, de que não podemos alcançar a salvação sem a mediação de Cristo. Desse modo, a Lei tem sentido depreciativo para mostrar o estado daqueles que se justificam sob a Lei, quando se torna nossa própria justiça como mérito humano que impossibilita obter a salvação, somente alcançável pelo Evangelho da graça. A graça é superior à Lei. Paulo contrasta a superioridade do Espírito em relação à Lei (Gl 5:18) e afirma que morremos para a Lei (Rm 7:4; Gl 2:19). O escritor aos Hebreus salienta que a Lei tornou-se antiquada e imperfeita (Hb 8:6_7, 13), e João afirma que Cristo trouxe a graça e a verdade (Jo 1:17). “Que diremos, pois? É a lei pecado? De modo nenhum! Mas eu não conheci o pecado senão pela lei” (Rm 7:7). A Lei somente existe porque foi outorgada por causa do pecado e para apontar o pecado; por isso, a graça de Deus é superior à Lei, pois a graça de Deus é anterior ao pecado e à Lei.

       Pecado não é aquilo que necessariamente fere a Deus e nem aquilo que o destrona ou o diminui, mas, sim, tudo o que prejudica o ser humano de alguma forma; quando Deus define o que é pecado, Ele não define pensando nEle, mas, sim, no pecador. Logo, o papel da Lei é mostrar de antemão tudo aquilo que prejudica para que, assim, possamos defender-nos e evitar ser feridos. No entanto, não há como se defender de tudo o que faz mal, pois a natureza pecaminosa reside em nós. É nesse momento que a graça de Deus entra em ação.

       A Lei foi sinalizada no coração das pessoas pela própria natureza, e ela existe especialmente como consequência do pecado para delimitar a ética e a moral humana. Embora sinalizada no coração (Rm 2:14_15), ela precisou ser mais bem esclarecida por Deus utilizando-se de Moisés para descrevê-la de modo sistemático e ampliado. Já o evangelho é uma revelação nova do amor de Deus (Gl 1:12), tanto é que produz escândalo (1ªCo 1:23) e já era presente no Antigo Testamento, porém inteiramente revelado no Novo Testamento e especificamente na pessoa de Cristo, sendo a graça de Deus um elemento principal do evangelho. Lei e evangelho são complementares, embora com funções diferentes. Ambos podem virar legalismo quando servem para quantificar a obediência e a desobediência no ambiente religioso.

      O papel da Lei tinha um propósito material de preservar o homem do pecado e um propósito espiritual de mostrar quão terrível é o pecado (“Pela lei vem o conhecimento do pecado” (Rm 3:20)), e quão grande é a necessidade da graça para obter a salvação, pois é impossível cumprir a Lei (Rm 7:19; Tg 2:10), que é entendida como a vontade de Deus presente em todo o Antigo Testamento. Dessa forma, estamos sob a Lei Moral de Deus, no sentido que Ela continua representando nossos deveres e obrigações para com o Senhor e para com o nosso semelhante e, no sentido de que ela continua representando nossos deveres e obrigações para com o Senhor  para com o nosso semelhante e, no sentido de que ela, resumida nos Dez Mandamentos, representa o caminho traçado por Deus no processo de santificação efetivado pelo Espírito Santo (Jo 14:15). Nesse aspecto o papel do Espírito Santo é ajudar a cumprir a Lei. A própria Lei Moral de Deus é uma expressão de sua graça, representando a revelação clara de sua vontade santa, justa e boa (Rm 7:12).

       A Lei coloca a todos sob a maldição do pecado. É ela quem avilta e mostra a crueldade do pecado e as consequências da desobediência. A Lei é boa (Rm 7:16; 1ªTm 1:8) porque quer evitar a ruína humana apontando-lhe o caminho certo a seguir, mas é impossível cumpri-la. Deus utiliza-se de sua misericórdia para tolerar o pecado e ofereceu o seu Filho manifestando a sua graça para perdoar e permitir que a humanidade possa, através de Cristo e por seus méritos, satisfazer as exigências da Lei, impossíveis de serem cumpridas. A Lei oferece a salvação (seu cumprimento), e essa é a parte boa da Lei, mas também a condenação (a incapacidade de cumpri-la), e essa é a perdição que a Lei traz ao homem. A violação da Lei, tanto por transgressão quanto não conseguir cumpri-la, traz inevitáveis consequências punitivas, tendo como fim a morte (Rm 6:23).

       Desobedecer à Lei traz implicações sérias ao ser humano, não necessariamente por ela possuir algum valor ou dignidade inerente, mas porque desobedecê-la implica em atacar a própria natureza de Deus. Por esse motivo, o legalismo é uma afronta a Deus, pois a Lei deve ser entendida como um meio de relacionar-se pessoalmente com Deus, e não uma norma fria superior a Ele mesmo. Não apenas a obediência cega à Lei é legalismo, mas também toda regra humana, ou usos e costumes, que se estabelecem como superiores ao evangelho da graça e obscurecem-na (Gl 1:3ss).

       A Lei, vocábulo procedente da palavra grega nomos, é a imposição de regras e normas para convívio pacífico e justo entre as pessoas; ela ainda cumpre um propósito divino de expressar a bondade de Deus com vista satisfação humana através de uma ética comum. Dessa forma, a desobediência à Lei implica em desobedecer ao próprio Deus porque a Lei é uma transcrição da essência moral de Deus. Esse é o motivo das consequências drásticas ao ser humano que desobedece à Lei.

       A Lei tem a função teológica de revelar-nos como pecadores, acusando-nos diante de Deus e colocando-nos em ira, juízo e condenação; tem também  a função pedagógica de conduzir-nos a Cristo para sermos justificados pela fé. Revelando a desgraça  pecado, somos conduzidos à extrema necessidade do perdão e da graça divina, representando uma ponte que nos conduz a Cristo.

       Como Deus é amor e para não prejudicar a raça humana com a impossibilidade de cumprir a Lei, Ele, desde sempre, teve suas ações regidas por sua bondosa gratuidade, o que chamamos de graça, que Paulo denomina de “o escândalo do evangelho”. Assim morremos para a Lei com Cristo, embora ela não tenha sido anulada, pois Jesus é tudo em todos (Cl 3:11), inclusive a Lei, pois a cumpriu. Dessa forma, não é mais a Lei de Moisés que tem valor final, mas é o “vocês ouviram o que foi dito […]mas eu lhes digo […]” (Mt 5:22,28, 32, 34, 39, 44 – NTLH) de Jesus proferido no Sermão do Monte, ou seja, a Lei do amor e da Ética do evangelho suplanta a Lei de Moisés. O próprio Jesus afirmou que a “A Lei e os Profetas duraram até João; desde então é anunciado o Reino de Deus” (Lc 16:.16a). Por isso, Paulo escreveu “Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei; e da graça tendes caído” (Gl 5:4).

       O Deus apresentado pelo Antigo Testamento é fruto de uma revelação progressiva dEle ao homem, e, em muitos casos, Ele é  mostrado como sendo um Deus que exige méritos para abençoar, pois boa parte da Teologia do Antigo Testamento é meritória. Por isso, o Novo Testamento aponta para o fato de que o Antigo Testamento foi suplantado pelo Novo , embora não tenha sido abolido nem rejeitado, sendo o evangelho a solução definitiva para a redenção da humanidade. Paulo afirmou que “o fim da lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê” (Rm 10:4). Ela “nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo, para que, pela fé, fôssemos justificados. Mas, depois que a fé veio, já não estamos debaixo de aio” (Gl 3:24_25).

       Para compreender melhor a importância e a relevância do evangelho da graça, precisamos atentar para o que o autor aos Hebreus escreveu: “Mas agora alcançou ele ministério tanto mais excelente, quanto é mediador de um melhor concerto, que está confirmado em melhores promessas. Porque, se aquele primeiro fora irrepreensível, nunca se teria buscado lugar para o segundo. […]Dizendo novo concerto, envelheceu o primeiro. Ora, o que foi tornado velho e se envelhece perto está de acabar” (Hb 8:6_7,13).

A Obra da Salvação – Jesus Cristo é o caminho, a verdade e a vida – Livro de Apoio das Lições Bíblicas do 4ºT 2017 Adulto CPAD

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