Encontrando o equilíbrio

       Quando alguém entra em crise na igreja, o pastor geralmente procura ajudá-lo. O obreiro é um conselheiro nato, que escuta e ajuda os membros de sua igreja na solução dos seus problemas. Em casa, ele serve como coluna para a família, apoiando e escutando a esposa e os filhos. Porém, nos momentos de crise, quem o escutará?

       O medo de não ser aceito ou compreendido pelos colegas leva muitos a ficarem calados e guardarem consigo a sua dor e os seus conflitos. Os resultados podem ser drásticos para a sua saúde física e psíquica.

       O pastor Elienai Cabral, abordando sobre “Como vencer o esgotamento espiritual no ministério” (artigo publicado na Revista Obreiro – CPAD), faz a seguinte declaração:

“Inevitavelmente, existem muitos pastores deprimidos que temem buscar ajuda, porque não querem que suas igrejas tenham a imagem de pastores fracos, sujeitos a erros, carentes emocionalmente. Então escondem suas fragilidades, abafam seus gemidos interiores, por traz de máscaras de que tudo está bem e certinho; de que seus problemas estomacais, suas sinusites e enxaquecas são meras dificuldades orgânicas, e não emocionais. Quantos de nós sofrem a depressão e não conseguem dormir, têm alterações arteriais contínuas, não conseguem se alimentar direito. Alguns de nós têm uma história de vida que nunca foi contada a ninguém, mas que se desenvolveu ao longo da vida um estado de baixa-estima, de impotência, de medo, de ira, de ressentimento, de sentimento de culpa. E todas essas coisas negativas, se não forem tratadas, escravizam e acorrentam as suas vítimas.”

       Não seria a hora de as igrejas estabelecerem um núcleo de acompanhamento para pastores?

       Recorrer a um conselheiro ou a um pastor mais velho e experiente pode ser uma maneira de muitos problemas serem resolvidos. João Batista, nos momentos de solidão quando estava na prisão, também entrou em conflito. Ele tinha dúvidas se Jesus era realmente o Cristo.

       Veja, que o próprio João testificara acerca de Jesus, dizendo: “Eu vi o Espírito descer do céu como pomba, e repousar sobre ele. […]E eu vi, e tenho testificado que este é o Filho de Deus(Jo 1:32_34). Agora, ele já não tinha certeza do que havia pregado. 

       João, porém, não guardou isso consigo. Ele buscou resolver os seus conflitos e, imediatamente, chamou dois dos seus discípulos e enviou-os a Jesus. João precisava de uma resposta. Jesus respondeu: “… Ide, e anunciai a João o que tendes visto e ouvido: que os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e aos pobres anuncia-se o evangelho(Lc 7:22). João ouviu tudo o que já sabia; ele precisava apenas que alguém lhe confirmasse isso.

Precisamos entender que, como homem, possuímos limitações. Vivemos momentos de êxito e fracassos; prazer e dor; conquistas e perdas; abundância e escassez. Paulo mostra como aprendeu a lidar com essas situações:

Fp 4:11-13

“[…] aprendi a contentar-me com o que tenho.
Sei estar abatido, e sei também ter abundância; em toda a maneira, e em todas as coisas estou instruído, tanto a ter fartura, como a ter fome; tanto a ter abundância, como a padecer necessidade.
Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece” .   

       Se você estiver vivendo um momento de crise e conflitos, procure perceber o que o está fazendo entrar nessa situação. Para de esquivar-se. Admita que está com problemas e entenda que estes precisam ser solucionados.

  • Faça uma autoavaliação e, se for preciso, procure compartilhar suas dificuldades com alguém idôneo e de sua confiança.
  • Saia do casulo e verá que Deus deseja falar com você. Entenda que é só Ele, que nos conhece melhor do que ninguém, pode, por intermédio do Espírito Santo, ajudá-lo a enfrentar e superar as dificuldades, desde que você decida mudar.
  • Faça as mudanças necessárias, procurando encontrar equilíbrio emocional e espiritual para desempenhar bem o ministério que Deus lhe deu e também cuidar do rebanho que o Senhor confiou a você.
  • Busque ajuda quando se fizer necessário. Descubra a razão dos seus problemas e tente solucionar todos os seus conflitos. O apóstolo João escreveu, dizendo: “Amado, desejo que te vá bem em todas as coisas, e que tenhas saúde, assim como bem vai a tua alma”(3ª Jo 1:2).
  • Procure compreender a si mesmo e você será capaz de compreender o outro. Resolva primeiramente seus conflitos interiores para não subir ao púlpito cheio de tensões e medos ou, então, carregado de uma visão estereotipada, preconceituosa, impondo ao rebanho aquilo que você nem mesmo consegue viver ou fazer.

       Devemos descer do pedestal e reconhecer o fato de que somos frágeis e, como obreiros, estamos sujeitos a quebrar como vasos de barro. Assim aconteceu a Davi – um homem segundo o coração de Deus (Sl 89:20). Ele reconheceu sua fragilidade e buscou a misericórdia de Deus:

Sl 51:4,9-11 

Contra ti, contra ti somente pequei, e fiz o que é mal à tua vista[…] Esconde a tua face dos meus pecados, e apaga todas as minhas iniquidades. Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito reto. Não me lances fora da tua presença, e não retires de mim o teu Espírito Santo”.

       O líder não é um solitário, e sim um indivíduo interdependente. Ele não tem apenas uma causa, mas também um grupo – um grupo de pessoas em que ele está investindo. A prova de uma liderança não está efetivamente no que o líder faz, mas sim naquilo que os outros fazem como resultado de suas ações. Assim como diz o ditado: “tal pastor, tal rebanho”.

       Suas ovelhas não têm apenas mente, mas também coração e vontade. Alcançá-las plenamente significa levá-las ao equilíbrio total entre o pensar, o sentir e o agir. Uma das grandes virtudes de um líder é a capacidade de levar o rebanho a esse equilíbrio (Lc 2:52). Mas como isso será possível se o próprio obreiro não tiver alcançado esse equilíbrio?

       A vida do obreiro refletirá precisamente no comportamento do rebanho. Pastor é aquele que mostra o caminho, planeja, dá informações, conduz, guia, dirige o curso das ovelhas acompanhando-as, avaliando-as, recompensando-as, entre outras coisas.

       Definir normas não constitui  a essência do ministério pastoral. Todo obreiro precisa de um bom líder. Ordenar, gerir, chefiar, embora sejam atribuições importantes da sua função, não são sinônimos de liderança.

       Liderança é a arte de influenciar pessoas. É a capacidade de ajudar o grupo a atingir os seus objetivos ou a satisfazer as suas necessidades. É fazer com que as pessoas ajam de forma efetiva.

       O verdadeiro líder é aquele que tem capacidade para motivar ou inspirar os outros a segui-lo.

       O pastor precisa ter controle sobre todas as áreas da sua vida. O bom obreiro possui uma vida exemplar, dinâmica e disciplinada. Sua vida deve ser submetida ao controle soberano do Espírito Santo (Gl 5:22). Como líder, ele deve ser um exemplo consistente. Nenhuma outra forma de ensino é tão eficaz como essa (Fp 3:17). O líder deve considerar os seus problemas como fatores potenciais para o crescimento. A adversidade pode significar avanço (Fp 3:13,14).

       Portanto, dedique algum tempo para meditar, para pensar. Busque no Senhor orientação consistente (Pv 3:5_; Rm 14:5). Reconheça que Deus é a sua fortaleza. Se você se considerar pequeno e incapaz para realizar a sua tarefa, irá tornar-se precisamente isso (Nm 13:33). Mas, se confiar no Senhor, verá que Ele está do seu lado para ajudá-lo e fortalecê-lo.

Bibliografia:

Psicologia Pastoral

Jamiel de Oliveira Lopes

CPAD

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