Pastor também é ovelha

Chamados por Deus para apascentar, os líderes Ministeriais também precisam ser cuidados, tendo apoio da família, da igreja e de outros pastores

Muitas vezes tidos como “super-heróis”, os pastores, afinal, também podem ser considerados como ovelhas? Sim, os líderes ministeriais estão sob o cajado do Senhor. E mais, eles têm fragilidades, dificuldades, medos, precisam de ajuda e da família e de compartilhar suas experiências a fim de desenvolver com plenitude seu trabalho.

Segundo o líder nacional do Ministério de Apoio para Pastores e Igrejas (Mapi), Gedimar de Araújo, pastor é “gente como a gente”. “Ele é ovelha quando enfrenta crise no casamento e não tem um grupo de apoio para receber ajuda. Também é ovelha quando enfrenta crise financeira e não pode se abrir com ninguém com medo de ser julgado. É ovelha quando fica emocionalmente fragilizado por problemas na igreja.

É ovelha quando se sente incapaz e mal preparado para um desafio ministerial novo. O único problema é que ele não pode se mostrar frágil para o rebanho, pois tem medo de perder o respeito ou de ser trocado por outro”. Ariovaldo Corrêa, coordenador do Mapi, afirma que o homem atrás do púlpito é uma ovelha, porém que nem sempre permite ser cuidada.

“Em virtude de suas necessidades, vulnerabilidades e lutas, o pastor é uma ovelha que corre riscos. Ele tem todas as fragilidades de uma ovelha comum, porém, sua situação é agravada pela sobrecarga (pensa que precisa se sacrificar pela igreja), pela vulnerabilidade (procurando se mostrar sempre forte, acaba não se protegendo como deveria) e pelo orgulho (por ser um líder, tem dificuldade em fazer amizade, trocar experiências e principalmente se abrir com outros colegas)”.

De acordo com o pastor Jorge Linhares, presidente da Igreja Batista Getsêmani, em Belo Horizonte, o pastor precisa ser pastoreado. “Com um mentor, ele torna-se melhor do que é, fica mais eficiente. Fazendo uma citação bíblica, enquanto Davi era pastoreado por Samuel, ele se tornou um matador de gigante. Grandes líderes que deixaram de ter mentores caíram”, disse. Gedimar afirma que por duas vezes a Bíblia, no Novo Testamento, ordena aos sarcedotes que cuidem de si mesmos antes de cuidar da igreja. “Porém, essa determinação é negligenciada pela maioria dos líderes, trazendo consequências terríveis para eles, para a família, para a igreja e até mesmo para o mundo.

A primeira passagem é em Atos 20.28, que diz: ‘Cuidem de vocês mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo os colocou como bispos, para pastorearem a Igreja de Deus, que Ele comprou com o Seu próprio sangue’. Perceba que é um mandamento sequencial, cuide de si e do rebanho. A segunda passagem é I Tm 4.16: ‘Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Continua nestes deveres; porque, fazendo assim, salvarás tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes’”.

Em geral, as dificuldades enfrentadas pelos líderes no dia a dia não são compartilhadas. De acordo com Gedimar, há “fortalezas” que os pastores erguem e que acabam reforçando sua solidão. “A autossuficiência, pois acreditam que não precisam de outras pessoas; o coração endurecido por feridas, por ter presenciado muito sofrimento ou pelos muitos estudos; o perfeccionismo, a fim de manter altas exigências para si mesmo e para outras pessoas; a entrega exagerada, quando perde sua individualidade; e a passividade, que o mantém livre das responsabilidades”, enumera.

AUTOSSUFICIÊNCIA

Numa pesquisa realizada no I Encontro de Pastoreio de Pastores da Aliança Brasileira de Pastoreio de Pastores (ABPP), em 2012, foi perguntado aos líderes ministeriais quais eram suas dificuldades ou impedimentos para experimentarem o pastoreio ou a mentoria em suas vidas. As cinco principais razões foram: dificuldade de confiar em colegas (88%), falta de tempo (68%), falta de motivação ou visão (49%), não entendimento como isso funciona (37%) e não sentimento da necessidade de se abrir (32%). “Precisamos superar essas barreiras para buscar ajuda. Nenhum pastor é autossuficiente. Salomão já nos ensinou sobre isso em Ec 4.7-12. É preciso vencer o medo de se expor e de receber ajuda.

O pastor cuida de todo mundo, mas geralmente ninguém cuida do pastor”, alertou Gedimar. Ele defende, ainda, que todo sacerdote precisa ser cuidado e pastoreado para não adoecer emocional, espiritual e ministerialmente. “A queda de muitos líderes e o abandono ministerial mostram que não podemos andar solitários. Somos um grupo de risco e precisamos buscar ajuda enquanto há tempo. A troca de experiência é saudável e necessária. Mas muitos pastores acabam tendo uma visão errônea sobre seus colegas.

Eles acabam vendo os outros pastores como concorrentes e não como companheiros de jornada. Temos muito que aprender uns com os outros, e o pastor que perde a capacidade de aprender vai parar de crescer. Para que essa troca de experiência possa acontecer de forma aberta e transparente, é preciso que se desenvolva um relacionamento comprometido e pessoal. Só assim os pastores terão coragem para trocar experiências vividas.

Por isso, indico que todo pastor tenha um grupo de pastores com o qual se reúne com freqüência desenvolvendo amizade e companheirismo”. Ariovaldo Corrêa concorda, afirmando que é preciso trocar experiências e receber o apoio dos colegas. “Assim como aconteceno mundo empresarial e profissional, o pastor também precisa admitir que não sabe tudo e que pode aprender muito com outros que têm a mesma função. A troca é uma alternativa muito interessante até para que se evite cair em certos problemas que se repetem muito na vida ministerial”.

MAIS APOIO

Além da mentoria, é fundamental o apoio das famílias e de uma equipe pastoral. Segundo Gedimar, há “círculos” ao redor dos líderes que sustentam seu ministério. “Todos eles são importantes para que o pastor seja saudável. A primeira estrutura é a familiar. Sem uma família saudável, o pastor não desenvolverá um ministério eficaz. A segunda estrutura é uma equipe pastoral saudável. Nenhum pastor é saudável sozinho, precisa de uma equipe de liderança ao seu redor. E a terceira estrutura é um grupo de pastoreio de pastores, onde ele possa receber cuidado e pastoreio para sua vida”.

A prova de que a estrutura familiar, o apoio da igreja e os estudos são importantes está no bom trabalho que vários sacerdotes desenvolvem. Eles, assim como os especialistas, indicam, estudam, dividem suas angústias e têm família e equipes pastorais ao seu lado.

O pastor Luciano Santos, presidente da Associação de Pastores de Vila Velha e titular da Igreja Batista Missão Avivada, em Cristóvão Colombo, Vila Velha, costuma dividir suas experiências e dificuldades. “Primeiramente, divido minhas angústias e medos com Deus. Minha esposa participa de todos os meus desafios também, atuando como uma auxiliadora legítima.

Outras pessoas também participam dos meus momentos: minhas filhas, meus pais, meu discipulador, meu mentor espiritual, minha sogra, minha irmã, meus pastores auxiliares, minha equipe de líderes e a igreja. É claro que não compartilho todas as minhas angústias com todos, mas para cada situação eu avalio quem tem maturidade para me ouvir, me entender e me instruir. Não camuflo meus desafios, pois as ovelhas não podem ter a impressão de que o pastor é alguém sem desafios”.

Marcelo Fraga, pastor da Igreja Batista Atos, em Santo Antônio, Vitória, está entre aqueles que seguem o caminho indicado por quem entende do assunto. E ressalta que, para enfrentar as dificuldades, divide sua vida em sete áreas e conta com a ajuda de mentores espirituais. “Tenho o hábito de pensar em minha vida em sete grandes áreas, que chamo de a ‘Roda da Vida Saudável’: Espiritual (QS), Emocional (QE), Físico (QF), Mental ou Intelectual (QI), Relacional (QR), Propósito (QP) e Ministerial (QM).

O cansaço mental e emocional, que traz como consequência o cansaço físico,é mais frequente no meu caso. O ministério exige bastante da mente e das emoções em decorrência dos constantes desafios enfrentados e flutuações emocionais das atividades. Por isso, divido minhas inseguranças com minha esposa, Gabriella, e com três mentores: David Kornfield, que me acompanha desde 1998 e que me discipulou como um ‘pai espiritual’; Gedimar de Araújo, a quem considero um irmão mais velho e com quem compartilho minhas lutas e medos mais constantes; e Josué Campanhã, um tio para completar a ‘família’ e que me auxilia em decisões de liderança. Creio que todo pastor precisa ser pastoreado (Atos 20:28). O pastor, sendo bem cuidado, cuida bem de sua família e do rebanho”. Assim também é o pastor Simonton Araújo, presidente da Missão Praia da Costa, Vila Velha. “É muito bom contar com conselheiros, mentores e equipes. É uma grande estupidez não se abrir para ouvir. Diz a Palavra que ‘na multidão de conselhos é que há sabedoria’.

Trabalhamos com ministérios, e penso que é bom ouvir a opinião de cada grupo. Conto com aqueles que amam a igreja. Tenho uma enorme gratidão pelo pastor Oliveira Araújo”. Para Ariovaldo Corrêa, mais importante do que resolver os problemas é desenvolver um trabalho preventivo.

“Há muitas vidas e lares destruídos em virtude da corrida solitária dos sacerdotes. Eles nem imaginam os perigos que correm por optar em caminhar sozinho. O trabalho de convencer e encorajar o pastor a prover cuidado para si, sua família e liderança é muito difícil. Ainda existe muita desconfiança e medo. Quanto mais pudermos fazer para esclarecer e conscientizar, mais pastores serão saudáveis e firmes, e mais ovelhas serão salvas direta e indiretamente”.

 Pastoreio para pastores
– Aliança Evangélica e Aliança Brasileira de Pastoreio de Pastores (ABPP).

– Ministério de Apoio para Pastores e Igrejas (Mapi).

Entre os pastores que deixaram o pastorado antes dos 65 anos

Top 5 respostas: Por que você deixou o pastorado?

Por que você deixou o pastorado

Nota: Os pesquisados poderiam responder “todas as respostas se aplicam”.

Centenas de ex-pastores mais antigos dizem que estes eram os elementos cruciais desaparecidas das igrejas finais que levavam antes de sair do pastorado.

Um estudo recente da LifeWay Research aponta que formas de igrejas pode encorajar os pastores a permanecer no ministério, disse Ed Stetzer, diretor executivo da organização de pesquisa sediada em Nashville.

“Quase metade das pessoas que deixou o pastorado disseram que sua igreja não estava fazendo qualquer um dos tipos de coisas que poderiam ajudar”, disse Stetzer. “Ter documentos claros, oferecendo um descanso sabático, e ter pessoas para ajudar com casos de aconselhamento de peso são coisas importantes que devem estar no lugar.”

LifeWay Research entrevistou 734 ex-pastores seniores que deixaram o pastorado antes da idade da reforma em quatro denominações protestantes.

O problema começa cedo, a pesquisa indica, com 48 por cento dos ex-pastores dizendo que a equipe de pesquisa não descrever com precisão a igreja antes da sua chegada.

Suas igrejas não eram susceptíveis de ter uma lista de conselheiros para as referências (27 por cento), a documentação clara das expectativas da igreja do seu pastor (22 por cento), um plano sabático para o pastor (12 por cento), um ministério de aconselhamento leigo (9 por cento) , ou um grupo de apoio para a família do pastor (8 por cento). Quarenta e oito por cento dizem que sua igreja não tinha nenhuma delas.

A maioria espera conflitos a surgir, e fez 56 por cento discordarem sobre mudanças propostas, e 54 por cento dizem que experimentou um ataque pessoal significativo. No entanto, quase metade (48 por cento) dizem que a sua formação não prepará-los para lidar com o lado humano do ministério.

“Muitos programas de seminário nem sequer exigem cursos específicos que estão focados em teologia, línguas bíblicas, e pregação, que são importantes, mas quase metade dos pastores sentia despreparo para lidar com as pessoas que estavam se preparando no seminário para liderar e servir “, disse Stetzer.

Embora quase dois terços (63 por cento) passou mais de uma década como um pastor, finalmente mudou-se mais para outra função ministerial diferente do pastor sênior (52 por cento), mas 29 por cento para o trabalho sem ministério.

Quarenta por cento dizem que deixou o pastorado por causa de uma mudança na chamada. Eles também citam questões como conflitos igreja (25 por cento), o burnout (19 por cento), finanças pessoais (12 por cento) e questões familiares (12 por cento).

  • Síndrome de Burnout (Alto índice de estresse)

Com o mercado competitivo, ter estresse é normal e até nos ajuda a tomar decisões no trabalho e na vida pessoal. “Em certa quantidade pode ser positivo e mesmo necessário”, avalia Marine Meyer Trinca, psicóloga da Medicina Preventiva do Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE). Entretanto, se isso é uma constante, principalmente quando chega a hora de entrar na empresa, a questão pode ser um pouco mais séria. No fim da década de 60, estudiosos previram a nova doença, classificada como síndrome de burnout.

Caracterizada por ser o ponto máximo do estresse profissional, pode ser encontrada em qualquer profissão, mas em especial nos trabalhos em que há impacto direto na vida de outras pessoas. É o que acontece, por exemplo, com profissionais da saúde em geral, jornalistas, advogados, professores e até mesmo voluntários.

O termo burnout significa que o desgaste emocional danifica os aspectos físicos e emocionais da pessoa, pois, traduzindo do inglês, burn quer dizer queima e out exterior.   Embora já se venha falando sobre o assunto há décadas, no Brasil as discussões em torno da síndrome tornaram-se mais fortes nos últimos anos.

Síndrome de Burnout.png

Pessoas com a síndrome apresentam sintomas como fadiga, cansaço constante, distúrbios do sono, dores musculares e de cabeça, irritabilidade, alterações de humor e de memória, dificuldade de concentração, falta de apetite, depressão e perda de iniciativa.

Essa soma de mal-estar pode levar ao alcoolismo, ao uso de drogas e até mesmo ao suicídio. No dia-a-dia, a pessoa fica ainda arredia, isolada, passa a ser irônica, cínica e a produtividade cai. Muitas vezes, o profissional acredita que a melhor opção seja tirar férias; entretanto, quando volta, descansado, retoma a postura anterior.

“A pessoa tende a adoecer mais porque o sistema imunológico está comprometido. Há casos de pessoas que saíram de férias, descansaram e estavam bem, mas, ao voltar ao trabalho, apresentaram os sintomas novamente”, explica Ana Maria Teresa Benevides Pereira, psicóloga e autora do livro Burnout: Quando o trabalho ameaça o bem-estar do trabalhador (Casa do Psicólogo).

Caminhos para o bem-estar

Para detectar a síndrome, deve-se fazer um exame minucioso e analisar se os problemas enfrentados estão relacionados ao ambiente de trabalho ou à profissão. O ideal é procurar um especialista no tema e fazer exames psicológicos. É necessário avaliar se é o ambiente profissional que causa o estresse ou se são as atitudes da própria pessoa que passam a ser o estopim.

Existem três focos durante o tratamento psicoterápico: a relação com a profissão, o ambiente de trabalho e o trabalho com foco nos sintomas – por exemplo, a dificuldade de concentração.

Junto à terapia, os especialistas aconselham melhorar a qualidade de vida, prevenir o estresse, garantir boa saúde física, dormir e alimentar-se bem, praticar atividades físicas e manter hobbies e interesse pela vida social.

“Essas coisas estão inter-relacionadas”, disse Stetzer. “Se você está queimando fora as chances, surge um conflito que não vai responder bem, e que vai piorar o conflito.”

Aqueles que deixam vs. aqueles que ficam

Quase toda a linha, os antigos pastores relatam visões mais negativas do que pastores atuais que responderam às mesmas perguntas há vários meses.

LifeWay Research entrevistou 1.500 pastores seniores em igrejas evangélicas e historicamente negras em março de 2015, cerca de 1% deixar o pastorado cada ano para fins que não a morte ou aposentadoria como razões.

Stetzer advertiu que os dois estudos não são diretamente comparáveis. O estudo inicial envolveu todas as igrejas protestantes evangélicas e negras, mas apenas quatro denominações forneceram listas de ex-pastores para a pesquisa de acompanhamento. Além disso, a pesquisa anterior foi realizada por telefone, enquanto os ex-pastores foram pesquisados online.

“Embora as populações não sejam idênticas, o que fazemos notar as respostas de pessoas que deixaram o pastorado são piores”, disse Stetzer. “Ou pastores atuais estão pintando um quadro róseo que não descreve totalmente a realidade, ou aqueles que saem do pastorado estão em uma posição menos saudável. Provavelmente há verdade a ambos.”

Pastores antigos e atuais concordam que o trabalho é exigente: 84 por cento dos pastores atuais e 83 por cento dos ex-pastores dizem que se sentem de plantão 24 horas por dia, enquanto 48 por cento de cada grupo dizem que as exigências do ministério, muitas vezes se sente como mais do que eles podem suportar.

Por outras medidas, no entanto, as diferenças podem ser gritantes:

21% dos pastores atuais vs. 49% dos ex-pastores acreditam que sua igreja tem expectativas irrealistas.

35% dos pastores atuais vs. 62% dos ex-pastores relatam sentirem-se isolados.

89% dos pastores atuais vs. 68% dos ex-pastores sentem-se livres para dizer não a expectativas irrealistas.

92% dos pastores atuais vs. 61% dos ex-pastores acreditam que a sua congregação fornece verdadeiro estímulo para a sua família.

94% dos pastores atuais vs. 74% dos ex-pastores dizem que consistentemente proteger tempo para a família.

Ex-pastores também são menos propensos do que os pastores atuais para relatar um cônjuge entusiasmado, tirar um dia de descanso semanal, e para trabalhar na prevenção de conflitos. Eles são mais propensos a se preocupar com a segurança financeira de sua família e para ficar frequentemente irritado com as pessoas na igreja.

As igrejas em que eles servem olhar muito diferente, de acordo com as pesquisas. Pastores atuais relatar suas igrejas é mais de duas vezes mais provável que os dos ex-pastores para oferecer um plano sabático e uma lista de conselheiros para as referências, mais de três vezes mais probabilidade de ter um ministério leigo aconselhamento e um documento listando expectativas do pastor, e mais de quatro vezes mais probabilidade de ter um grupo de apoio pastor.

“Muitas das lacunas são evitáveis. Uma combinação de seminários, universidades, pessoal, denominacionais, e até mesmo ministérios fora colocando suas cabeças juntas e buscando a Deus sobre a melhor forma de apoiar os pastores.”

http://lifewayresearch.com/2016/01/12/former-pastors-report-lack-of-support-led-to-abandoning-pastorate/

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Do livro “Anatomia da pregação”.

Identificando os aspectos relevantes para a pregação de hoje.

David L. Larsen

Editora Vida.

“Que o Sr nosso Deus, levante homens, pastores que sejam persuasores e não manipuladores.”

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2 respostas para Pastor também é ovelha

  1. Pastores: vasos de barro

    Alonso S. Gonçalves, pastor na Igreja Batista Central em Pariquera – Açu – SP

    A relação de Paulo com a Igreja em Corinto foi tensa em alguns momentos. O apóstolo sofria constantemente “ataques” por parte da comunidade que tinha preferências por outros líderes e deixava isso bem claro. Em II Coríntios, Paulo enfrenta uma crise ministerial com a Igreja, e podemos dimensionar isso em alguns trechos da Carta.

    As acusações que faziam ao apóstolo afetavam a sua vida e ministério. Em relação à sua vida, “diziam” que o apóstolo andava com pessoas “mundanas” (II Coríntios 10.2) e o acusavam de não ser de Cristo (II Coríntios 10.7). Quanto ao seu ministério, a sua pregação era questionada e ele passa a ser considerado um “mau” pregador (II Coríntios 11.6). A comparação com Apolo era inevitável e pessoas da comunidade faziam questão de acentuar as diferenças entre os dois. Ainda no capítulo 11 (versículo 16), Paulo é tratado como um louco (a frona einai), ou seja, alguém insano.

    As críticas são sintetizadas por Paulo (II Coríntios 10.10): “Pois dizem: As cartas dele são duras e fortes, mas sua presença pessoal é fraca, e sua pregação não impõe respeito. Quanto à sua pregação, quando olhamos o texto (grego), o correto seria desprezível (exouqenhmenoz).

    Não é por acaso que II Coríntios é considerada uma Carta chorosa (II Coríntios 2.4). Quando o apóstolo fala sobre sua condição pastoral, prefere usar o exemplo do barro (4.1-7). Diante de todas as críticas, Paulo se vê como alguém que precisa legitimar o seu ministério e enfrentar os seus acusadores. Isso ele faz e reconhece, como alguém fora de si (capítulo 12), mas percebe que não vale muito a pena. Há pessoas que ignoram argumentos quando eles não corroboram o que pensam.

    Paulo está lidando com pessoas que não o reconhecem como um “vaso de barro”. Ele está trabalhando com pessoas que apostam na autossuficiência do apóstolo. Para esses acusadores, o apóstolo não poderia demonstrar fraqueza e Paulo faz questão de mencionar a sua fraqueza (12.5).

    É indubitável o amor de Paulo pela Igreja. Mas, esse amor não estava alicerçado nas estruturas que alguns da comunidade queriam ver em evidência na vida de Paulo. O amor que Paulo expressa pela Igreja dava-se na comunhão de ideais e, principalmente, na proposta do Evangelho. Ele quer se mostrar com humanidade à comunidade e, para isso, recorre ao tema do vaso, que é feito de barro.

    O chamado para o ministério, de acordo com Paulo, se dá porque Deus o convoca baseado na Sua misericórdia. Nesse sentido, não se trata de méritos ou diplomas, mas de entender o chamado e atender aos critérios de Cristo. Há uma responsabilidade para tratar o Evangelho, mesmo correndo um sério risco de não ser ouvido, de não ser atendido. Paulo era consciente disso.

    Mas se o vaso é de barro, há pessoas que gostam de esmagar potes

    Há pessoas que se apegam às estruturas e tornam a vida de seus pastores difíceis, não acompanhando o pastor na condução da Igreja por diferentes razões, algumas delas Paulo enfrentou em Corinto, como preferir a companhia de pessoas que ainda estão “fora” da comunidade ou até mesmo recusar a instrução pastoral por meio da pregação bíblica.

    Pastor é feito de barro

    Uma pesquisa realizada pelo pastor Lourenço Stélio Rega (Diretor da Faculdade Teológica Batista de São Paulo) alguns anos atrás (Não há intenção aqui de atualizar os dados), trouxe números preocupantes sobre o Ministério Pastoral. Destacamos alguns aspectos dessa pesquisa:
    • 16% o treinamento recebido no seminário pouco tem servido no ministério;
    • 8% se pudessem deixaria o ministério e procuraria outro meio de sobrevivência;
    • 13% acreditam que o exercício do pastorado empobrece a vida familiar;
    • 78% não estão satisfeitos com a autodisciplina no uso do tempo;
    • 77% não estão contentes e satisfeitos com o tempo que investem na vida devocional;
    • 51% têm de 1 a 5 amigos de verdade (49% não têm?);
    • 9% não têm nenhum amigo de verdade;
    • 38% não têm desenvolvido uma perspectiva de vida para daqui a cinco anos;
    • 30% se sentem mais inferiorizados hoje do que no passado. Se pudessem voltar atrás mudariam muita coisa na vida e ministério;
    • 10% afirmam que a Igreja já foi responsável por desastres na família do pastor;
    • 88% têm facilidade em perdoar os que ofendem

    Esses dados revelam que pastores não são feitos de ferro ou de aço, mas de barro. O vaso de barro quebra, racha, mas se reconstrói, se refaz nas mãos de Deus (à exemplo do profeta Jeremias). O barro demonstra a fragilidade do pastor e evoca compreensão das ovelhas para com o seu pastor.

    Clique para acessar o OJB_24.pdf

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  2. A crise do púlpito e a crise da igreja

    Por René Padilla

    Os últimos anos viram o florescimento, em círculos evangélicos, de uma inegável preocupação com uma maior coerência entre o reconhecimento de Jesus Cristo como Senhor e a missão da igreja. Se a autoridade de Cristo se estende sobre toda a criação, o povo que confessa seu nome é chamado a relacionar sua fé com a totalidade da vida humana. Nada que afete o homem e sua história está isento da necessidade e da possibilidade de se colocar em submissão a Cristo, e nada, portanto, está fora da órbita do interesse cristão e missional. A missão integral é uma consequência lógica da soberania universal de Jesus Cristo.

    Crise no pulpito

    Crise no púlpito

    A partir dessa perspectiva, a missão da igreja não pode se restringir à pregação dos rudimentos do evangelho. Está orientada pelo propósito de Deus, que se cumprirá em seu devido tempo, de unir sob o domínio de Cristo todas as coisas, tanto no céu como na terra (ver Ef 1.10). Consequentemente, rejeita a dicotomia entre o secular e o sagrado e se constitui no fermento que leveda toda a massa. Isto não nega, claro, a importância da pregação. O que nega é que esta possa se limitar ao objetivo de “ganhar almas” e aumentar o número de membros nas igrejas evangélicas. Cumpre seu objetivo quando se coloca a serviço da missão integral, quando é portadora das boas novas do reino de Deus, quando ecoa aquele que diz: “Faço novas todas as coisas”.

    Na Declaração Evangélica de Cochabamba, que surgiu da primeira conferência da Fraternidade Teológica Latino-americana (1971), se afirmou que “o púlpito evangélico está em crise […] A mensagem bíblica tem indiscutível pertinência para o homem latino-americano, mas sua proclamação não ocupa entre nós o lugar que lhe corresponde”. Desde então, aconteceram mudanças surpreendentes no povo evangélico em todo o continente. Por exemplo, sua participação na política nacional em vários países. Em relação à pregação, no entanto, persiste o generalizado problema da improvisação e da superficialidade. A crise do púlpito é ao mesmo tempo uma causa e um sintoma da crise da igreja. É causa porque não se pode esperar que sem o cultivo da Palavra a igreja dê seus melhores frutos: a uma pregação pobre corresponde uma vida eclesiástica igualmente pobre. É sintoma porque a matriz dos pregadores é a igreja: as debilidades e carências que afetam a esta necessariamente repercutem nos portadores de sua mensagem.

    Devido à relação descrita, a renovação da pregação é inseparável da renovação da vida e da missão da igreja. O objetivo da pregação, como o da própria igreja, é que o evangelho do reino penetre em todas as esferas da vida humana, tanto em nível pessoal como comunitário, e que a glória de Deus em Jesus Cristo se manifeste em todas as esferas da sociedade. A renovação da vida e da missão da igreja será genuína caso contribua para a realização desse objetivo, para o qual terá que começar pela renovação do entendimento a que faz referência o apóstolo Paulo em Romanos 12.2.

    Só uma pregação que leve muito a sério a Palavra de Deus e a relacione com a situação socioeconômica, cultural e política que nos rodeia servirá para modelar uma igreja cujos membros amem a Deus com todo o coração, com toda a alma, com toda a mente e com todas as forças, e ao próximo como a si mesmos. A pregação cumpre seu propósito quando esconde o pregador atrás da cruz de Cristo e busca diligentemente o crescimento na prática do amor a Deus e ao próximo em todas as dimensões da vida daqueles que a escutam.

    Traduzido por Wagner Guimarães.

    Texto publicado originalmente na edição 364 da revista Ultimato.

    • C. René Padilla é fundador e presidente da Rede Miqueias, e membro-fundador da Fraternidade Teológica Latino-Americana e da Fundação Kairós. É autor de Missão Integral – O reino de Deus e a igreja. Acompanhe seu blog pessoal.

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