A música na BÍBLIA

Introdução

A História Bíblica está repleta de referências ao canto, ao toque de instrumentos e ao uso da música no culto a Deus.

Através da história da nação judaica, a música foi intimamente relacionada com o culto. Assim como houve período quando o fervor religioso dos judeus aumentou e depois diminuiu, houve também períodos de retração musical, durante os quais a arte parece ter fenecido e caído no esquecimento. Nos períodos de avivamento religioso a música do culto progrediu num interesse sempre crescente.

Com a vinda de Cristo e da era cristã, a perseguição aos cristãos foi-se espalhando cada vez mais. Cultos públicos de adoração coletiva, praticamente não existiam. O uso geral da música quase desapareceu. Seu uso foi restringido a pequenos grupos que se reuniam às escondidas. As apresentações em massa, registradas no Velho Testamento, não mais existiam, porém o desejo inerente do povo cristão de expressar a alegria da salvação através de cânticos não pode ser esquecido. Os avivamentos da música nos anos que se seguiram contribuíram para reanimar cada vez mais os desejos latentes do povo, para outra vez “romper em cânticos”. A música de adoração tornou-se, mais do que nunca, estabilizada e universalmente aceita pelo povo e para o povo.

É interessante notar que somente o judaísmo e o cristianismo desenvolveram a Música no Culto, isto é, a arte musical atingiu nessas religiões um alto grau de espiritualidade. Além disso, as nações que abraçaram o cristianismo foram as que deram e dão ao mundo a melhor música, quer sacra ou mesmo secular ( ex. “negro spirituals”). Um novo Cântico, como nos diz a Bíblia, foi colocado no coração de cada povo.

I – Como era a música na Bíblia?

Foi por ordem de Deus que a música começou a ser usado no Culto (2ª Cr 29:25). Os filhos de Israel tinham uma ordenança divina para se reunirem na lua nova e apresentarem seus sacrifícios e sua adoração e estes forem feitos ao som da música. (Sl 81:1_4).

II – Como era executada?

Não há referência alguma na Bíblia de que a música tivesse sido usada na adoração ou culto, com o fim de ser apresentada ou apreciada como um fim em si ou deleite para os ouvidos. Atualmente é comum pensar-se que ela seja ENFEITE e que serve para “abrilhantar” ou “encher” o culto.

1 – Engrandecendo a Deus e reconhecendo os seus grandes atributos (como todos os salmos de louvor são exemplos).

Todos os cânticos Bíblicos possuem esses característicos:

Exemplos…

a)Cântico de Moisés(Ex 15)

“Cantarei ao Senhor porque triunfou gloriosamente”…

“A tua destra, Senhor, é gloriosa em poder”…

“Na grandeza da tua excelência derribas…”etc.

b)Cântico de Ana (1ºSm 2:1_10)

“O meu coração se regozija no Senhor…”.

“Não há Santo como o Senhor, porque não há outro além de Ti; e Rocha não há, nenhuma, como o nosso Deus.”

“O Senhor é o que tira a vida e a dá; faz descer a sepultura e faz subir.

c)Cântico de Maria(Lc 1:46_55)

“A minha alma engrandece ao Senhor…”

d)Cântico de Zacarias(Lc 1:67_79)

“Bendito seja o Senhor de Israel porque…”

 2 – Com humildade o reconhecimento da pequenez humana (como todos os salmos de confissão). Esse característico é encontrado em todos os cânticos bíblicos:

 a)Cântico de Moisés

“O Senhor é a minha força e meu cântico, Ele me foi por salvação; este é o meu Deus, portanto eu o louvarei.”

b)Cântico de Ana

“A minha força está exaltada no Senhor…”.

c)Cântico de Maria

“porque contemplou na humildade de sua serva o poderoso me fez grandes coisas… exaltou os humildes…”

d)Cântico de Simeão(Lc 2:28_32)

“Agora, Senhor, despede em paz teu servo…”.

        A humildade que revestia os filhos de Deus quando estes o louvavam é simplesmente impressionante. Colocavam-se em pé em atitude de respeito (2ª Cr 7:16) ou até prostrados, com o rosto em terra, reconhecidos da grandeza de Deus e da insignificância humana (2ª Cr 29:28) e (Nm 8:6).

 3 – Reverentemente

a)Os salmos nos falam da “santidade que convém à casa do Senhor” (Sl 93:5) ou da solenidade dos instrumentos de louvor (92:3).

b)Os profetas recomendam o silêncio  na casa de Deus: Hb 2:20; Zc 2:13; Sf 1:7.

c)O apóstolo Paulo exortou a Igreja de Corinto que fizesse tudo com decência e ordem, principalmente no culto ( 1ºCo 14:26_40).

d)O ambiente é importante: A “formosura do santuário” e a “beleza da santidade” nos foram ensinados através da construção do tabernáculo. (Ex 35:35-36:1).

e)O povo de Israel quando louvava a Deus, fazia ouvir “uma só voz (2ªCr 5:13). Havia muita uniformidade e harmonia de espírito. Não havia vozes que se destacavam, salientes e exibicionistas.

É preciso muita união de voz e de espírito para que o louvor seja reverente.

4 – Com inteligência e compreensão das palavras.

(1ª Co 14 e 15) (Sl 47:6_7).

5 – Com idoneidade

Era uma música treinada e eficiente. Não havia improvisação. Os responsáveis pela música na Casa de Deus eram “instruídos no canto” e “todos eles mestres”. ( 1ªCr 25:6_7).

Quem executava a Música

     Músicos, Cantores, e Instrumentistas.

 1 – Eram levitas – Os levitas eram da tribo de Levi, e receberam de Deus o ministério do culto divino. Eram separados, obreiros de tempo integral. Schaff-Herrog nos diz: “Dos trinta e oito mil levitas, quatro mil foram separados para servir ao Senhor com instrumentos musicais feitos por Davi”. Observamos que os chefes levitas eram citados como músicos: “Quenenias, chefe dos levitas, estava encarregado dos cânticos, e os ensinava, porque era hábil”. (1ªCr 15:22) (1ª Cr 16:4_5). “Designou dentre os levitas, os que haviam de ministrar diante da arca do Senhor, e de celebrar e louvar ao Senhor e de lhe agradecer, a saber: Asafe, o chefe, Zacarias, o segundo depois dele, Jeiel, Semiramote, Matitias, Eliabe, Benaías, Obede-Edom e Jeiel, com alaúdes, e harpas, e Asafe, com símbalos que soavam alto”. (1ª Cr 16:4_5).

Alaúdes – instrumento de corda semelhante ao bandolim ou ao alaúde da Idade Média.

Harpas – tinham os nomes de “Nebhel” também traduzido como “saltério”. O Kinner mencionado pela primeira vez em (Gn 4:21) mais parecido com a lira. Seu som era “agradável” e “doce” Sl 81:2. (“a suave harpa”) (Isaías 24:8) e Ez 26:13. O Kithnos (Dn 3:5) também traduzido por harpa.

Címbalos – Mesiltayim ou Tseltslim (2ª Sm 6:5 e Sl 150:5). Traduzida por címbalos que indica que eram de vários tipos. “címbalos sonoros” e “címbalos altissonantes”.

Outros instrumentos

Shophar ou Karen – corneta primitivamente feita com chifres de carneiro e depois metal. É traduzida por trombetas.

Chatsotscrah – trombeta  reta ao contrário das curvas. As duas trombetas que Moisés havia feito para os sacerdotes do Tabernáculo eram de prata.

Havia também muitos outros instrumentos como flautas, tambores, gaitas, etc.

Uma curiosidade: “selá” – palavra que aparece nos Salmos indica um descanso ou pausa em que os instrumentos tocam um interlúdio.

Um Interlúdio na música, trata-se de uma pequena composição geralmente para órgão de caráter improvisatívo que ocorre entre outras peças musicais como hino, salmo ou cantata. No caso da peça ser orquestral, o interlúdio surge para preencher o intervalo entre dois atos (ópera).

       Os músicos bem como os cantores além de separados por Deus, e consagrados (números 8:5_14), eram obreiros de tempo integral (1ªCr 9:33), eram pagos pelo seu trabalho (Nm 18:21) (Nm 12:47) e usavam paramentos ( 1ªCr 15:27) (2ª Cr 5:11_12).

2 –  Os Corais

a)Coro de Davi – organizado por ele. Três cantores eram designados para tocar os címbalos; 8, os saltérios; e seis, as Harpas. Seis sacerdotes sopravam os tambores diante da arca de Deus. Temos mencionado o nome diretor do coro – Quenanias – encarregado de treinar e dirigir o coro a orquestra e a congregação.

b)Coro de Salomão organizado por Davi   “Quatro mil eram porteiros, e quatro mil louvavam ao Senhor com instrumentos que eu fiz, disse Davi, para com eles oferecer louvores” ( 1ªCr 23:5). 

c)Coro de Zorobabel – organizado após o exílio. “E tinham duzentos cantores e cantoras” (Esdras 2:65).

d)Coro de Neemias (Neemias 12:27_28) “Ajuntaram-se os filhos dos cantores…”

e)Coro Celestial – O maior coro descrito na Bíblia, visto por João, na sua visão de Patmos (Ap 14:2_3) “E ouvi uma voz do céu, como a voz de muitas águas e como a voz de um grande trovão; e a voz que ouvi era como de arpistas, que tocavam as suas arpas. E cantavam um cântico novo diante do trono, e diante dos quatro seres vivos e dos anciãos; e ninguém podia aprender aquele cântico senão os cento e quarenta e quatro mil, aqueles que foram comprados da terra.”

Conclusão

A)  A música de culto e adoração precisa ser distintamente diferente da música secular para ser digna oferta de louvor a Deus e não evocar pensamentos seculares e irreverentes.

B)   A música em si, sem o texto, precisa ser reverente e religiosa. Deve ser artística e bem executada.

C)    Sua finalidade é:

1-Louvar e engrandecer a Deus.

2-Divulgar suas maravilhas.

3-Expressar nossa gratidão, confissão e orações.

4-Criar ambiente religioso reverente e próprio para a comunhão com Deus.

D) A ostentação, a exibição de habilidades técnicas e floreados, como fim em si, são próprios para o Teatro.

E) O louvor deve ser orientado e dirigido por pessoas idôneas e feito com inteligência e compreensão.

Canticos de Romagem para os dias de hoje

       Os Cânticos de Romagem, Cânticos dos Degraus ou Cânticos de Peregrinação são aqueles quinze salmos que faziam um grupo entre os capítulos 120 e 134.

       Os peregrinos de Israel iam a Jerusalém algumas vezes por ano para a celebração das festas solenes. Enquanto seguiam nos ruidosos e coloridos ajuntamentos, esses salmos eram contados.

A.W. Tozer

“A adoração é a razão plena para a existência do homem. Ela é o motivo para o qual nascemos e, do mesmo modo, nascemos de novo.”

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Uma resposta para A música na BÍBLIA

  1. rfbarbosa1963 disse:

    Resolvi reproduzir na totalidade o editorial do Jornal Batista CXIV Edição 47, devido a similaridade do tema.

    A música em nossas vidas

    A música é, sem dúvida, a mais fina e sublime de todas as artes e a mais significativa de todas as expressões humanas. A música tem o poder singelo de influenciar atitudes – acalmar temperamentos revoltosos, modificar estados de humor e em certos casos até transformar conceitos e filosofias. As reações do homem à música podem ser divididas em três classes: física, emocional e intelectual. Sabe-se que estas reações são inter-relacionadas e interagidas, e que elas não poderiam ser completamente separadas.
    A reação tipicamente física à música é notada pelo aumento da pulsação, da respiração e a tendência de uma movimentação corporal, como bater o pé, bater palma, acompanhar com o corpo e a cabeça o ritmo percebido. Essas são as reações físicas mais comuns à música.
    Na emoção, não se discutem as reações tão prontamente. Alguém que tenha experimentado a emoção do medo sabe perfeitamente do que estou falando. Contudo, como pode ser descrito? Quantas vezes nos expressamos assim: “Meu coração quase soltou pela boca” ou “Minhas mãos estão geladas e suando”. A reação emocional se mantém sem explicação. Toda emoção forte precisa ser experimentada para que seja completamente entendida.
    Toda pessoa que experimenta um contato com a música tem, sentindo por meio da emoção a força de sua comunicação. Um simples fragmento melódico que conhecemos nos leva, muitas vezes, a um passado tão remoto que jamais poderíamos experimentar ou lembrar a não ser estimulados por uma experiência com determinada melodia. Assim, pode ser uma brincadeira de criança da qual nos lembramos ao ouvirmos a música. Essas emoções podem ser de alegria, tristeza, regozijo, etc. É interessante notar que não é apenas lembrança, mas também a emoção daquela época.
    A reação intelectual é aquela que vem pelo conhecimento musical, não somente do ponto de vista histórico, mas também estrutural e estilístico.
    O envolvimento, o “background” cultural e o treinamento específico são fatores condicionantes da apreciação musical. De acordo com essas condições, a música pode evocar nas pessoas respostas físicas, emocionais e intelectuais.
    Pensando neste aspecto das reações do homem aos estímulos da música, seria interessante lembrarmos: “Cantai louvores a Deus, cantai louvores; cantai louvores ao nosso Rei, cantai louvores. Pois Deus é o Rei de toda a terra; cantai louvores com salmo” (Sl 47.6-7). “Que fazer, pois? Orarei com o espírito, mas também orarei com o entendimento; cantarei com o espírito, mas também cantarei com o entendimento” (I Co. 14.15). “Cantai ao Senhor um cântico novo, cantai ao Senhor todos os moradores da terra” (Sl 96.1).
    A música do povo de Israel consistia em cantos de louvor, gratidão, instrução, experiência pessoal e até celebração de fatos históricos. Já existiam cantores, corais, instrumentistas, professores, regentes e compositores. O livro de Salmos é o primeiro hinário do povo judeu. O rei Davi nomeou os levitas como responsáveis pela música no templo e também pela liturgia dos cultos da época, como diz I Crônicas 16.4-7). Na dedicação do templo de Salomão, a música foi esplendorosa, de acordo com o que diz II Crônicas 5. 13-14). Naquela ocasião, não resta a menor dúvida de que a música trouxe ao povo um profundo sentimento de certeza da presença de Deus.
    Em vários e significantes momentos do Novo Testamento, nos deparamos com a música cumprindo um importantíssimo papel. No Evangelho de Lucas, por exemplo, três belíssimos cantos marcam a presença da música: Canto de Maria, o Canto de Zacarias e o Canto de Simeão.
    É impossível pensar em música sem lembrar-se de Deus. A música é a voz que fala ao coração humano e o mais rápido veículo da vontade, da emoção, do sentimento que nascem do Criador em direção à sua criatura.
    Tudo na natureza é harmônico, como se uma grande partitura tivesse sido criada para que cada nota, cada semifusa fosse uma pequenina parte daquele conceito excepcional que une homem, animais, plantas, astros. Tudo se coordena, como se não houvesse maestro. As notas se sucedem, entrelaçam-se, arpejam-se em uma organização que revela o grande espírito que as reuniu.
    Que Deus permita que usemos esta harmonia em nossos cultos para conduzir o seu povo à edificação, cheios de bom exercício teológico, e temperados com três ingredientes que melhorarão a acidentada relação entre música e adoração; fervor reverente, sentido de comunhão solidária, e obediência sincera ao Senhor. Fervor reverente, para que não esqueçamos que estamos diante de Deus e que não podemos esconder nosso sentimento. A música ajudará a aquecer nossos corações guardando o sentido de respeito festivo. Comunhão solidária, para sensibilizar-nos à realidade do corpo de Cristo que somos. A música deverá ser colaboradora do amor e da paz, os verdadeiros alicerces entre os cristãos. E obediência sincera, para sair do culto e viver o que confessaram nossos lábios, mesmo que esta obediência nos custe sofrer no meio de um mundo idólatra. A música nos recordará a Palavra de Cristo, Palavra de vida, justamente em meio à luta contra as forças da morte.

    Ery Herdy Zanardi,
    presidente da AMBB
    Adaptado

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