Teologia da Prosperidade

Resolvi postar estes documentos, ao ver a abrangência do tema nos diversos segmentos cristãos, considerando o cisma do oriente em 1054 d.C., o cisma do ocidente, chamado grande cisma, datado entre 1378 e 1417 d.C.  e a reforma protestante em 1517 d.C.

O “Expositor Cristão”, órgão oficial da Igreja Metodista do Brasil, chama a atenção da liderança denominacional, na edição de agosto de 2012, para o que o jornal diz ser “distorções contemporâneas”.
 
Paulo de Tarso Lockmann, bispo da Primeira Região Eclesiástica, afirma: “Hoje, há tentativas de transformar a fé cristã numa religião de negação do sofrimento, de exaltação, de prazer e de prosperidade. Mas o cristianismo, embora considere alegria, prazer e prosperidade frutos da vida cristã, não tem vergonha da cruz. Pelo contrário, não foge da cruz, mas a assume a cada dia.”
 
Pastores e pastoras “sentem-se pressionados a adotar prédicas contrárias à tradição metodista [e demais igrejas evangélicas históricas] por entender que podem conquistar mais ‘audiência’, o que resulta numa ‘guerra de concorrência que mais parece comercial do que evangélica’. O pastor Fernando Cezar, da Terceira Região, acrescenta que “há um claro investimento em personalismo e manipulação de sentimentos”. Wesley do Nascimento, da Quarta Região, explica: “Buscamos ferramentas e métodos e nos esquecemos de que quem dá o crescimento à igreja é o próprio Deus”. A triste verdade é que estamos atrás de algo que funcione: “Não estamos interessados no que é certo, mas no que produz resultados; não buscamos princípios, mas vantagens, e as necessidades do mercado determinam a pregação e o estilo de vida dos pastores e pastoras”.
 
O professor do programa de pós-graduação da Universidade Metodista de Piracicaba, Ely Barreto César, aponta para um grave perigo: “Se lemos a Bíblia como consumidores que esperam o tempo todo receber bênçãos pessoais, corremos o sério risco de não enxergar o Deus missionário, interessado na felicidade e salvação de todos por ele criados”. Perde-se a visão do Deus missionário quando procuramos basicamente “os nossos interesses, a nossa salvação pessoal, as bênçãos [a] que julgamos ter direito como seguidores de Jesus” — acrescenta o professor.
 
O editorial da referida edição do “Expositor Cristão” declara que por causa das “distorções contemporâneas” o ofício pastoral tem sido relacionado com líderes em busca de reconhecimento, aplausos e promoções. Porém, “certamente não são estes a quem o Senhor procura para confiar sua soberana obra”.

X

A Assembleia dos Bispos, realizada em Aparecida, SP, em maio de 2011, pronuncia-se contra a pregação de que a salvação é sinônimo de prosperidade material. Embora não cite nome nem de pessoas nem de grupos, percebe-se que o alvo são as igrejas neopentecostais. E, quem sabe, alguns setores do próprio catolicismo. Os parágrafos seguintes foram retirados do “Comunicado Mensal” (órgão oficial da CNBB), ano 60, nº 636, páginas 44, 47 e 58.
 
Nestes tempos de agudo apelo ao individualismo hedonista e de fortíssimo consumismo, nos deparamos com o surgimento de propostas religiosas que dizem oferecer o encontro com Deus sem o efetivo compromisso cristão e a formação de comunidade. Desaparece, então, a imagem de Deus Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, cujo zelo por suas criaturas é atento com as aves do céu, com os lírios do campo ou com um único fio de cabelo. Surge a imagem do Deus da troca, do negócio, dando a impressão de que ele se encontra mais preocupado com o que pode lucrar através de pedidos e reivindicações, notadamente dos que sofrem.
 
Os critérios que regem as leis do mercado, do lucro e dos bens materiais regulam também as relações humanas, familiares e sociais, incluindo certas atitudes religiosas. Crescem as propostas de felicidade, realização e sucesso pessoal, em detrimento do bem comum e da solidariedade. Não raras vezes, o individualismo desconsidera as atitudes altruístas, solidárias e fraternas.
 
O discípulo missionário observa, com preocupação, o surgimento de certas práticas e vivências religiosas, predominantemente ligadas ao emocionalismo e ao sentimentalismo. Oportunistas manipulam a mensagem do evangelho em causa própria, incutindo a mentalidade da barganha por milagres e prodígios, voltados para benefícios particulares, em geral vinculados aos bens materiais. Excluindo-se a salvação em Cristo, que passa a ser apresentada como sinônimo de prosperidade material, saúde física e realização afetiva. Surge uma experiência religiosa de momentos, rotatividade, individualização e comercialização. Já não é mais a pessoa que se coloca na presença de Deus, como servo atento, mas a ilusão de que Deus pode estar a serviço das pessoas.
 
Infelizmente, em meio a tantos ruídos, também podemos constatar que a Bíblia, algumas vezes, não é usada como luz para a vida. Ao contrário, é instrumentalizada até mesmo para o engodo. Cabe ao discípulo missionário não se abater diante de tamanha manipulação da Escritura.
Revista Ultimato edição nº339 – Novembro-Dezembro 2012
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