A Bíblia, suas traduções e edições

       A palavra Bíblia é de origem grega, e está na forma singular. O seu sentido, porém, é plural e significa, literalmente, livros. Isto, porque, na realidade, a Bíblia não é um só livro, mas uma coleção de livros ou uma pequena biblioteca, num só volume.

       A Septuaginta foi usada como base para diversas traduções da Bíblia. Héxapla é um termo usado para designar uma bíblia editada em seis versões. No sentido corrente, Vulgata é a tradução para o latim da Bíblia, escrita entre fins do século IV início do século V, por São Jerônimo, a pedido do Papa Dâmaso I, que foi usada pela Igreja Católica e ainda é muito respeitada.

Septuaginta

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A Septuaginta é uma tradução de alguns livros do hebraico para o grego. Foram traduzidos todos os livros canônicos da Bíblia hebraica, entretanto, com grandes diferenças em relação ao texto aceito por judeus e cristãos como canônico. Também estão traduzidos vários outros livros espúrios, ou apócrifos. A tradução da Septuaginta está envolta em lendas, entre as quais a mais famosa é a de que foi escrita por 72 sábios eruditos judeus (?), sendo 6 de cada tribo de Israel (?). Segundo a lenda ela teria sido escrita para compor o rol de livros da biblioteca de Alexandria, um populoso centro urbano, que à época (segundo ou terceiro século antes de Cristo, segundo esta mesma lenda), já era o centro mundial da intelectualidade helenística e pagã.

A esta tradução, que supostamente foi terminada ainda durante o reinado do macedônio Ptolomeu II Philadelphus (de 281 a.C. a 246 a.C.) foi dado o título de LXX, em algarismos romanos (?), significando o número setenta. É importante notar que não há qualquer confirmação para esta lenda, a qual se baseia em um único documento chamado “Carta de Aristeas”, documento este que está crivado de dados claramente fictícios e mitológicos, o que faz com que este escrito também conste da lista de livros apócrifos do Antigo Testamento.

Não há qualquer registro de um documento bíblico em grego, como tendo sido escrito em 250 a.C. Bem como, não há qualquer registro na história judaica de que tal esforço de tantos eruditos hebreus, que tivessem à época também conhecimento pleno do grego, e que tivessem se deslocado para Alexandria de modo a realizar tão grande tarefa. Algo assim teria sido, com certeza, digno de nota. Lembrando também que as dez tribos do norte estavam (como hoje ainda estão) perdidas, sem que se possa discernir sequer onde cada uma está, quanto mais selecionar-se 6 eruditos de cada uma delas, que conhecessem profundamente o hebraico e também o grego!

Os defensores desta lenda, quando pressionados a mostrar provas concretas de sua veracidade, apontam para a Hexapla de Orígenes (do 3º século depois de Cristo), contudo, deste trabalho pouco resta para se analisar, e entendendo-se a quinta coluna desta obra como sendo o texto original da Septuaginta veríamos vários livros apócrifos incluídos, livros estes que se tivessem sido traduzidos pelos supostos 72 sábios hebreus, o teriam sido antes mesmo de serem escritos, pois a data destes livros é claramente posterior à suposta tradução dos setenta. Pode-se concluir que se a quinta coluna realmente segue os manuscritos da Septuaginta, então ou ela foi uma tradução realizada pelo próprio Orígenes ou é de qualquer forma um trabalho posterior à alegada data da tradução da LXX.

Eusébio e Filo afirmaram que apenas o Pentateuco em grego existia à época de Jesus, e não todo o Antigo Testamento. Na verdade, encontramos hoje somente o papiro de Ryland # 458 contendo os capítulos de 23 a 28 de Deuteronômio. Mas, como este papiro é datado de 150 a.C. podemos concluir que provavelmente havia razão para que Eusébio e Filo afirmassem a existência do Pentateuco em grego à época de Jesus. Entretanto, mesmo sendo este o caso, como parece ser, dificilmente tal documento teria qualquer influência fora do seu habitat, ou seja, Alexandria e outras localidades onde o grego era a língua dominante, e teria menos influência ainda, ou melhor, não encontraria qualquer guarida, em Israel, junto a fariseus e zelotes que lutavam com todas as forças para manter sua religião e suas tradições intocadas. Este argumento é reforçado pelos achados de Qumram, a partir dos quais se conclui que o hebraico era língua conhecida e corrente à época do Senhor Jesus Cristo. Seja como for, as evidências de uma completa LXX existente e em uso à época de Jesus Cristo, são poucas e não conclusivas.

O mais provável é que uma tradução de todo o Antigo Testamento (ou uma revisão de um texto já existente??) do hebraico para o grego tenha sido concluída posteriormente (no decorrer do segundo século), usando inclusive como base o texto de passagens do Novo Testamento em grego para completar e facilitar a tradução dos versos do Antigo Testamento citados pelo Novo Testamento.

Nós podemos ver este fato claramente ilustrado no caso de Romanos 3:10-18, onde:

Na Septuaginta, os versos de Romanos 3:13-18 estão anexados ao final do verso 3 do Salmo 14 (acrescentando ao seu conteúdo original), e em seqüência, verso a verso, palavra por palavra, tal qual foram citados pelo apóstolo Paulo em Romanos. Neste exemplo podemos perceber com clareza que não é o Novo Testamento que cita a Septuaginta, mas sim, é a Septuaginta que cita o Novo Testamento, até porque não há um só manuscrito em hebraico que traga uma leitura sequer semelhante à da Septuaginta no Salmo 14:3, nem tampouco se encontra esta leitura em traduções antigas da Palavra de Deus como a Peshitta (antiga tradução para o siríaco).

Jerônimo, após ter comparado os manuscritos da Septuaginta com manuscritos em hebraico, afirma:

“Seria tedioso agora enumerar, as muitas adições e omissões que a Septuaginta fez, e todas as passagens que nas cópias das igrejas estão marcadas com cruzes e asteriscos [N.T.: símbolos que indicavam palavras que apareciam no grego e não no hebraico e vice-versa]. Os judeus geralmente riem quando ouvem nossa versão desta passagem de Isaías: ‘Bendito é aquele que tem sementes em Sião e servos em Jerusalém [Isaías 31:9].’ Em Amós também … Mas como nós devemos lidar com os originais em Hebraico nos quais estas passagens e outras como estas estão omitidas, passagens tão numerosas que reproduzi-las irá requerer livros sem conta?” – [Carta LVII de Jerônimo].

Diante de todos os fatos, é possível afirmar, com boa dose de certeza, que a Septuaginta é um texto posterior (com exceção feita ao Pentateuco), e é, em geral, não confiável, e que assim o foi desde o princípio. Não devendo, portanto, em momento algum, ser tomada como autoridade escriturística.

1-Controvérsia

       Há controvérsia quanto à veracidade de que a Septuaginta tenha mesmo existido como uma versão pré-cristã do Velho Testamento em grego, pois nunca foi encontrada nenhuma versão do Velho Testamento em grego datando antes de Orígenes (185 — 253 d.C). O Dr. H. D. Williams, vice-presidente da Dean Burgon Society publicou um estudo detalhado, no qual defende que a Septuaginta nunca existiu e não passa de um mito.

2-Criação do texto

       De acordo com o historiador judeu Flávio Josefo, sábios judeus traduziram a Torah para o grego koiné no séc. III a.C. Outros livros foram traduzidos ao longo dos dois séculos seguintes. Não é claro quando ou onde cada tradução foi realizada. Alguns livros podem inclusive ter sido traduzidos mais de uma vez, configurando diferentes versões e posteriormente revisados. A qualidade e o estilo dos diferentes tradutores também variavam consideravelmente de livro a livro, indo da tradução literal, à de paráfrase e à interpretativa. De acordo com a avaliação de um estudioso “o Pentateuco foi razoavelmente bem traduzido, mas o resto dos livros, especialmente os poéticos, foram em geral mal feitos e contém mesmo alguns absurdos”.

       A medida que o trabalho de tradução gradualmente progredia e novos livros eram adicionados à coleção, a abrangência da Bíblia grega passou a ficar um tanto indefinida. O Pentateuco sempre manteve a sua preeminência como a base do Cânon, mas a coleção de livros proféticos (a partir dos quais os Neviim foram selecionados) teve sua composição alterada por ter vários escritos hagiográficos nele incorporados.     Alguns dos escritos mais recentes, os chamados anagignoskomena, em grego, não estão incluídos no Cânon judaico. Dentre estes livros estão os Livros dos Macabeus e o Eclesiástico. Além disso, a versão da LXX de algumas obras, como o Livro de Daniel e o Livro de Ester, são mais longos do que aqueles encontrados no texto massorético. Alguns livros posteriores, como o Livro da Sabedoria, II Macabeus, entre outros, aparentemente já foram compostos em grego e não em hebraico.

       A autoridade do grupo mais extenso de “escritos”, a partir dos quais se formou o ketuvim, ainda não havia sido determinada. Algum tipo de processo seletivo deve ter sido empregado, uma vez que a LXX não inclui outros documentos judaicos bem conhecidos como o Livro de Enoque, o Livro dos Jubileus e outros escritos que atualmente são parte da Pseudepigrafia. Não é sabido quais foram os critérios usados para determinar o conteúdo da LXX além da “Lei e dos Profetas”, expressão usada muitas vezes no Novo Testamento.

 3-Nome e designação

       A Septuaginta tem seu nome vindo do latim Interpretatio septuaginta virorum (em grego: ἡ μετάφρασις τῶν ἑβδομήκοντα, transl.  hē metáphrasis tōn hebdomēkonta), “tradução dos setenta intérpretes”. O título latino se refere ao relato legendário contido na pseudepigráfica Carta de Aristeias em que o rei do Egito Ptolomeu II Filadelfo pede a setenta e dois sábios judeus que traduzam a Torah para o grego, com o fim de incluí-la na Biblioteca de Alexandria.

       Uma versão posterior da lenda, narrada por Fílon de Alexandria, afirma que apesar de os tradutores terem sido mantidos em salas separadas, todos eles produziram versões idênticas do texto em setenta e dois dias. Apesar desse relato ser historicamente implausível, sua redação traz à tona e desejo dos sábios judeus da época de apresentar a tradução como divinamente inspirada. Uma versão desta lenda é encontrada no Tratado Megillah do Talmude Babilônico (páginas 9a-9b), que identifica especificamente quinze traduções pouco usuais feitas por eruditos. Somente duas dessas traduções são encontradas no texto da LXX que chegou até nós.

4-Edições impressas

        Todas as edições impressas da Septuaginta são derivadas de três antigas cópias.

       A Editio princeps é a Bíblia Poliglota Complutense, baseada em manuscritos atualmente perdidos, é considerada bastante próxima aos mais antigos manuscritos.

       A edição mais importante é a romana ou sistina, que reproduz exclusivamente o Codex Vaticanus Foi publicada pelo Cardeal Caraffa, com a ajuda dos vários peritos, em 1586, autorizado pelo Papa Sisto V, para ajudar nas revisões em preparação da Vulgata Latina, requisitada pelo Concílio de Trento.   

       Na perda dos manuscritos  originais, podemos ver a providência de Deus, porque, se fossem existentes hoje em dia documentos originais da letra de Moisés, Davi, Isaias, Daniel, Paulo ou João, o coração humano é tão suscetível à superstição, que seriam eles adorado, como foi a serpente de metal nos dias de Ezequias (2ª Re 18:4), anulando assim o seu propósito.

       A falta dos originais não nos deve assustar, nem nos deixar inseguros diante das suspeitas que muitas vezes nossos interlocutores levantam quando querem colocar a Bíblia sob suspeição, porque sabe-se que existe milhares de manuscritos gregos e hebraicos copiados dos originais, espalhados pelo mundo. Estes manuscritos datam desde a primeira metade do segundo século, data dos papiros mais antigos, e do quarto século para os unciais, escritos em letra maiúscula sobre pergaminho (pele de cabrito especialmente preparada). Quando as primeiras Bíblias foram impressas havia mais de 2000 destes manuscritos. Hoje, existem muitos milhares. Este número é suficiente para estabelecer a genuinidade e a autenticidade da Bíblia.

Héxapla

        Aplica-se, mais especificamente, a edição do Velho Testamento por Orígenes, onde há seis colunas:

  • Hebraica;
  • do hebraico transliterado em grego;
  • versão de Áquila de Sinop
  • versão de Símaco, o ebionita;
  • Septuaginta
  • versão de Teodócio de Éfeso

O trabalho original atualmente está perdido, mas há fragmentos que foram publicados em diversas edições, como a de Frederick Field em 1875.

 Vulgata

               Nos seus primeiros séculos, a Igreja serviu-se sobretudo da língua grega. Foi nesta língua que foi escrito todo o Novo Testamento, incluindo a Carta aos Romanos, de São Paulo, bem como muitos escritos cristãos de séculos seguintes.

       No século IV, a situação já havia mudado, e é então que o importante biblista São Jerônimo traduz pelo menos o Antigo Testamento para o latim e revê a Vetus Latina.

       A Vulgata foi produzida para ser mais exata e mais fácil de compreender do que suas predecessoras.     Foi a primeira, e por séculos a única, versão da Bíblia que verteu o Velho Testamento diretamente do hebraico e não da tradução grega conhecida como Septuaginta. No Novo Testamento,   São Jerônimo selecionou e revisou textos. Ele inicialmente não considerou canônicos os sete livros, chamados por católicos e ortodoxos de deuterocanônicos. Porém, seus trabalhos posteriores mostram sua mudança de conceito, pelo menos a respeito dos livros de Judite, Sabedoria de Salomão e o Eclesiástico (ou Sabedoria de Sirac), conforme atestamos em suas últimas cartas a Rufino. Chama-se, pois, Vulgata a esta versão latina da Bíblia que foi usada pela Igreja Católica Romana durante muitos séculos, e ainda hoje é fonte para diversas traduções.

              A denominação Vulgata consolidou-se na primeira metade do século XVI, sobretudo a partir da edição da Bíblia de 1532, tendo sido definitivamente consagrada pelo Concílio de Trento, em 1546. O Concílio estabeleceu um texto único para a Vulgata a partir de vários manuscritos existentes, o qual foi oficializado como a Bíblia oficial da Igreja e ficou conhecido como Vulgata Clementina.

       Após o Concílio Vaticano II, por determinação de Paulo VI, foi realizada uma revisão da Vulgata, sobretudo para uso litúrgico. Esta revisão, terminada em 1975, e promulgada pelo Papa João Paulo II, em 25 de abril de 1979, é denominada Nova Vulgata e ficou estabelecida como a nova Bíblia oficial da Igreja Católica .

Origem:

APOSTILAS COMPLETAS NT_Seminário BETEL

Wikipédia, a enciclopédia livre.

http://www.luz.eti.br/es_livrosapocrifos-parte1.html

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