O APARECIMENTO DE UM CÂNON

       Por volta de 180, a Igreja de Roma compilou uma relação de livros, conhecidos agora como o Cânon Muratoriano. Embora o manuscrito existente seja fragmentário, parece que a lista original continha os quatro Evangelhos, treze cartas de Paulo, as três cartas de João, Judas e Apocalipse. Somente as cartas de Tiago e Hebreus estão definidamente ausentes. A heresia de Marcião é referida pelo nome e fala acerca de sua mutilação do Evangelho de Lucas. O nome, Cânon Muratoriano, vem de um bibliotecário, chamado Muratori, que descreveu o documento do oitavo século (fragmento) em Milão, Itália, no século dezoito.

       É interessante observar também que esse documento dá alguns princípios para a seleção e rejeição dos escritos. O primeiro, naturalmente, é a autoria apostólica. Os livros tiveram que ser escritos por um apóstolo ou por alguém estreitamente associado com ele. Um segundo princípio é a ortodoxia, seguida de perto pelo terceiro, a Antiguidade. Estes três princípios foram usados para determinar a legitimidade dos escritos que haviam sido colecionados pelas igrejas.

       Outras vozes começaram a se pronunciar acerca das coletâneas de suas igrejas também. Pelo menos três grandes homens do segundo século levantaram suas vozes para proclamar alguns escritos como verdade aceita e outros como espúrios. O valor de seu testemunho é que eles representam seções geográficas largamente separadas da igreja.

       Irineu (130 à 202 d.C) era da Ásia Menor, onde fora um discípulo de Policarpo. Ele foi para Roma por certo tempo e então se tornou Bispo de Lião na Gália. Seu predecessor, Potino, havia-se associado com cristãos dos dias apostólicos. Em sua obra principal, Contra as Heresias, ele é bem claro acerca do quádruplo Evangelho. Ele cita como sendo autorizados todos os livros do Novo Testamento, exceto Filemon, Tiago, II Pedro, II João e Judas. Ele colocou Hebreus numa posição sub-canônica. Contudo, aceitava “O Pastor de Hermas” como escritura. A omissão dos poucos livros pode Ter sido acidental, pois ele não dá uma lista “formal” daqueles que já reconhecia como escritura.

       Clemente de Alexandria (que morreu por volta de 215) escreveu comentários sobre todos os livros do Novo Testamento, segundo Eusébio. Clemente claramente distinguiu os quatro Evangelhos dos Evangelhos Apócrifos. Ele aceitava como escritura também: 1ª Clemente (carta de Clemente de Roma aos Coríntios), o Didaquê dos Doze Apóstolos, a carta de Barnabé, o Pastor de Hermas, o Apocalipse de Pedro e A Pregação de Pedro.

       Tertuliano (que morreu por volta de 220), de Cartago, na África, citou todos os livros do Novo Testamento, exceto 2ª Pe, 2ª e 3ª João e Tiago. Ele recusou-se a usar qualquer outro Evangelho que não os quatro que a Igreja reconhecia como inspirados e autorizados. Ele dizia que Barnabé escreveu o livro de Hebreus. Sendo o primeiro escritor cristão a usar o latim extensivamente, ele também foi aparentemente o primeiro a usar o termo “Novo Testamento” para a coletânea de escritos cristãos recebidos pelas igrejas.

       Deve ser levado em consideração o fato de que muitos dos cristãos primitivos não falavam nem aramaico nem grego. O povo da Síria falava o siríaco, e durante o segundo século os Evangelhos já haviam sido traduzidos para essa língua. Não há nenhuma evidência de que o restante do Novo Testamento existia durante aquela época, mas o silêncio não indica que os outros livros eram desconhecidos. De fato, as últimas traduções siríacas dão evidência de que aqueles outros livros eram conhecidos e haviam sido traduzidos.

       No Egito, a língua nativa era reconhecida como o cóptico. A igreja cóptica é muito antiga e há traços de traduções do segundo século. Embora os manuscritos existentes provenham de períodos posteriores, eles atestam a respeito de um texto mais antigo. Contudo, seria presunção insistir-se num Novo Testamento completo em cóptico durante o segundo século.

       Conforme afirmado acima, Tertuliano de Cartago foi o primeiro escritor cristão a usar o latim extensivamente. Sabe-se, todavia, que Jerônimo terminou a Vulgata no quarto século (o Novo Testamento em 390 e o Velho Testamento em 405), porque os manuscritos mais antigos, em latim, precisavam de revisão. Seria bem lógico presumir que Tertuliano teve acesso ao seu “cânon” tanto em grego como em latim e talvez em cóptico.

CANONICIDADE

Com este post se responde quais são os livros bíblicos, por que são sessenta e seis? Trinta e nove no Velho e vinte e sete no Novo Testamento? Por que não mais ou por que não menos? Começando a responder a esta:

“A Bíblia é uma coleção de escritos detentores de autoridade infalível para a fé e vida da igreja. A Palavra “Cânon” é derivada semítica “Qanû; ugarítico”, no hebraico a palavra é “Qâneh” é empregada no velho Testamento sempre no sentido literal. Significa “cana ou balança”. No grego “Kanôn” é derivada da raiz hebraica. No português a palavra Cânon é derivada da palavra grega que sofre transformação no latim. Secularmente a palavra é usada desde Homero (Séc. IX a.C.), e significa qualquer coisa que é segurada junta a uma outra que sirva para medi-la ou esticá-la. Na matemática, história e astronomia, tal palavra equivalia a tabelas, listas de datas e de números. Já na gramática também significa uma regra; na arte, significa pauta; na arquitetura haste, e na literatura uma lista de obras que pertenciam a um determinado autor. Mesmo a palavra sendo usado em vários sentidos em preservou o seu conceito de “regra, modelo”. Sendo assim, a palavra cânon fundamentalmente significa junco, de onde vem o sentido figurado de vara de medir ou régua. Daí deriva o sentido geral de norma ou padrão e, por fim, lista ou rol. Aplicado a Bíblia, cânon refere-se à lista de escritos reconhecidos pela igreja cristã como única regra de fé e prática. (artigo do pastor George Emanuel, intitulado: “A canonicidade da Bíblia”, fonte: http://www.webartigos.com/artigos/a-canonicidade-da-biblia/16852/).

 TESTES DE CANONICIDADE

        Em primeiro lugar é importante lembrarmos que certos livros já eram canônicos antes de qualquer teste lhes ser aplicado. Isto é como dizer que alguns são inteligentes antes mesmo de se lhes ministrar uma prova. Os testes apenas provam aquilo que intrinsecamente já existe. Do mesmo modo, nem a Igreja nem os Concílios Eclesiásticos jamais concederam canonicidade ou autoridade a qualquer livro; o livro era autêntico ou não no momento em que foi escrito. A Igreja ou seus concílios reconheceu certos livros como Palavra de Deus e, com o passar do tempo, aqueles assim reconhecidos foram colecionados para formar o que hoje chamamos Bíblia. Que testes a Igreja aplicou?

  1. Havia o teste da autoridade do escritor. Em relação ao Antigo Testamento isto significava a autoridade do legislador, ou do profeta, ou do líder em Israel. No caso do Novo Testamento, o livro deveria Ter sido escrito ou influenciado por um apóstolo para ser reconhecido. Em outras palavras, deveria Ter a assinatura ou a aprovação de um apóstolo. Pedro, por exemplo, apoiou Marcos e Paulo a Lucas.
  2. Os próprios livros deveriam dar alguma prova intrínseca de seu caráter peculiar, inspirado e autorizado por Deus. Seu conteúdo deveria se demonstrar ao leitor como algo diferente de qualquer outro livro para comunicar a revelação de Deus.
  3. O veredicto das Igrejas quanto à natureza canônica dos livros era importante. Na verdade houve uma surpreendente unanimidade entre as primeiras igrejas quanto aos livros que mereciam lugar entre os inspirados. Embora seja fato que alguns livros bíblicos tenham sido recusados ou questionados por uma minoria, nenhum livro cuja autenticidade foi questionada por um número grande de igrejas veio a ser aceito posteriormente como parte do Cânon.

        Cânon, finalmente, é o corpo de escritos havidos por únicos possuídos de autoridade normativa para a fé cristã, em contraste com escritos que não o são, ainda que contemporâneos.

 BIBLIOGRAFIA:

APOSTILAS COMPLETAS DO VT E NT SEMINÁRIO BETEL

https://asescrituras.wordpress.com/2011/11/12/2-3-canonicidade/

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