BIOGRAFIA – João Calvino

Breve Histórico de Calvino

O francês João Calvino nasceu em 1509 em Noyon, na França. As ligações de seu pai com o clero local deram ao menino valiosas oportunidades na área educacional. Frequentou a escola primária e secundária com os sobrinhos do bispo de Noyon e outras crianças de famílias destacadas. No início da adolescência, aos catorze anos, foi estudar em Paris; cursou filosofia e humanidades no Collège de Montaigu, ligado à Universidade daquela cidade. 

Sentiu-se atraído pelo humanismo, ou seja, a apreciação pela antiga cultura greco-romana. Dedicou-se ao estudo do latim, do grego, da teologia e dos autores clássicos, além de fazer cursos na área do direito. Através de parentes, amigos e professores, recebeu influências do novo movimento protestante, convertendo-se à fé evangélica por volta de 1533. Dedicou-se, então, ao estudo sistemático e aprofundado da Bíblia, publicando em 1536 a primeira edição de sua obra mais famosa, a Instituição da Religião Cristã, mais conhecida como Institutas. No mesmo ano, passou a residir em Genebra, na Suíça, cidade que recentemente havia abraçado o protestantismo. Após breve permanência ali, viveu por três anos em Estrasburgo (1538-1541), no sul da Alemanha, junto ao reformador Martin Bucer (1491-1551). Nesse período, pastoreou uma igreja constituída basicamente de franceses exilados e, também, lecionou na academia de Johannes Sturm (1507-1589). 

Em 1541 regressou a Genebra e ali passou o restante de sua vida. Desenvolveu prodigiosa atividade como líder eclesiástico, pastor, pregador e teólogo. Publicou uma imensa quantidade de escritos na forma de novas edições das Institutas (em latim e francês). A tradução dessa obra para o francês, em 1541, juntamente com outros dos seus muitos e belos escritos, contribuiu para modelar a língua francesa. Calvino também escreveu comentários bíblicos, tratados doutrinários e obras voltadas para a vida interna da Igreja.  

Entre seus escritos, temos volumosa correspondência que manteve com um grande número de pessoas ao redor da Europa, desde governantes até pessoas simples.  Seu relacionamento com as autoridades de Genebra, de início bastante tenso, passou a ser mais positivo nos anos finais de sua vida. 

Em 1559, tornou-se cidadão de Genebra, publicou a edição definitiva das Institutas e fundou a Academia de Genebra, embrião da futura universidade. Faleceu em 1564, aos 55 anos, em Genebra, na Suíça. Alister McGrath demonstrou, em sua biografia sobre Calvino, como o mito de “o grande ditador de Genebra” é enraizado em conceitos populares difundidos especialmente por afirmações sem fatos históricos que as apoiassem, mas que, não obstante, acabaram por moldar a visão de Calvino que hoje prevalece em muitos meios acadêmicos. 

No aspecto religioso, Calvino é considerado o pai da tradição protestante reformada, que engloba presbiterianos, congregacionais, uma parte dos batistas e parte do anglicanismo. Seus seguidores ficaram conhecidos, em geral, como reformados.  

Um quadro mais próximo aos registros históricos mostra que Calvino era um pastor atencioso, que visitou pacientes terminais de doenças contagiosas no hospital que ele mesmo havia estabelecido, embora fosse advertido dos perigos de contato. Além disso, tomou diversas atitudes que mudaram a vida social da cidade. Foi ele quem instou o conselho municipal de Genebra a afiançar empréstimos a baixos juros para os pobres. Genebra foi o primeiro lugar na Europa a ter leis especiais que proibiam: jogar detritos e lixo nas ruas; fazer fogo ou usar fogão num cômodo sem chaminé; ter uma casa com sacadas ou escadas sem que as mesmas tivessem grades de proteção; alugar uma casa sem o conhecimento da polícia; sendo comerciante, cobrar além do preço permitido ou roubar no peso e, também, estocar mercadorias para fazê-la faltar no mercado e assim encarecê-la (e isso se estendia aos produtores). 

Assim como Lutero e outros reformadores, ele defendeu a educação universal para todos os habitantes da cidade. É particularmente essa última contribuição de Calvino que queremos enfocar na presente Carta de Princípios.  

Calvino e a Educação 

Em 1536 Calvino apresentou um plano ao conselho municipal de Genebra que incluía uma escola para todas as crianças, na qual as crianças pobres teriam ensino gratuito. Era a primeira escola primária obrigatória da Europa. Em uma delas as meninas eram incluídas junto com os meninos. 

Calvino tinha um alvo muito claro quanto à educação. Ele desejava que os alunos das escolas de Genebra fossem futuros cidadãos da cidade, bem preparados “na linguagem e nas humanidades”, além da formação cristã e bíblica. O currículo que ele ajudou a elaborar tinha ênfase nas artes e nas ciências, além, obviamente, da ênfase nas Escrituras. Conforme nos diz Moore, “O principal propósito da universidade [de Genebra] era eminentemente prático: preparar os jovens para o ministério ou para o serviço no governo.” 

Essa preocupação de Calvino com a educação decorria de sua visão cristã de mundo. Entre os pontos de sua teologia que o impulsionavam à missão como educador, havia a concepção  do ser humano criado à imagem e semelhança de Deus, conforme análise de Héber Carlos de Campos: 

Em sua teologia sobre a imagem de Deus no homem, Calvino viu o ser humano como um ser que aprende inerentemente. Deus depositou no ser humano “a semente da religião” e também o deixou exposto à estrutura total do universo criado e à influência das Escrituras. Por causa dessas coisas, qualquer homem podia aprender, desde o mais simples camponês ao indivíduo mais instruído nas artes liberais. 

Outro ponto de suas convicções religiosas era o entendimento de que todo conhecimento vem de Deus, quer seja o conhecimento “sagrado” ou o “profano”. Calvino dispunha de uma visão ampla da cultura, entendendo que Deus é Senhor de todas as coisas e, por isso, toda verdade é verdade de Deus. Essa perspectiva amparava-se no conceito da “Graça Comum” ou “Graça Geral” de Deus sobre todos os homens. Ele diz: 

… visto que toda verdade procede de Deus, se algum ímpio disser algo verdadeiro, não devemos rejeitá-lo, porquanto o mesmo procede de Deus. Além disso, visto que todas as coisas procedem de Deus, que mal haveria em empregar, para sua glória, tudo quanto pode ser corretamente usado dessa forma? 

Calvino defendia que Deus havia agraciado todas as pessoas com inteligência, perspicácia, capacidade de entender e transmitir, indistintamente da sua fé e crença. Assim, desprezar a mente secular era desprezar os dons que Deus havia distribuído no mundo, até mesmo aos incrédulos, mediante a graça comum. 

A Academia de Genebra 

Não é de estranhar, à luz das convicções teológicas de Calvino, que ele tivesse seu coração voltado para a educação da população de Genebra e da Europa em geral. Desde 1541 encontramos registros da sua preocupação diária em como dar a Genebra uma universidade. Ele desejava criar uma grande universidade, contudo os recursos da República eram pequenos para isso. Assim, ele se limitou à criação da Academia de Genebra (1559), que o historiador Charles Bourgeaud (1861-1941), antigo professor da Universidade de Genebra, considerou como “a primeira fortaleza da liberdade nos tempos modernos”. 

No currículo, incluía-se o ensino da leitura e da escrita e cursos mais avançados de retórica, música e lógica. Conforme Campos nos diz em sua pesquisa, os alunos passavam do alfabeto à leitura do francês fluente, gramática latina e composição em latim, literatura grega, leitura de porções do Novo Testamento grego, juntamente com noções de retórica e dialética, com base nos textos clássicos. Não é sem razão que, diante da sua capacitação no latim, se dizia que meninos de Genebra falavam como os doutores da Sorbonne. 

O currículo da Academia enfocava não somente as artes e a teologia, como igualmente as ciências. Na mente do Reformador, não havia conflito entre fé e ciência na universidade. Ao contrário da visão educacional escolástica medieval, Calvino considerava que o estudo da ciência física tinha como propósito descobrir a natureza e seu funcionamento, pois Deus se revelava à humanidade por meio das coisas criadas, da natureza. Estudando o mundo, o ser humano acabaria por conhecer mais a Deus. A Academia veio a se tornar modelo para outras escolas da Europa. 

Em 1529, em obediência ao pai, trocou Paris por Orléans, e a Teologia pelo Direito. Depois de formado voltou à Paris e à Teologia. Começou uma fase de intensa colaboração com o reitor da Universidade de Paris, Nicolas Cop. Ao inserir trechos inteiros de Lutero em um discurso de reitor, foi acusado de herege. Em 1536, após redigir em latim, “Instituições da Religião Cristã”, onde reuniu as bases para o conjunto das doutrinas do Calvinismo, foi perseguido e teve que abandonar a capital francesa.

Persuadido por Guilherme Farel, francês que implantou a reforma de Zwinglio, um iniciador das revoltas contra a venda de indulgências por parte dos emissários do Papa Leão X, em Genebra, resolve permanecer na cidade. Em 1538, depois de ter frustradas suas tentativas de instaurar um governo teocrático, e de escrever “Artigos Sobre o Governo Local” e “Confissões de Fé”, é expulso de Genebra.

Em Estrasburgo, no Leste da França, começa a elaboração de uma constituição religiosa baseada nas “Instituições” e participa do congresso sobre religião como representante da cidade. Em setembro de 1547, retorna à Genebra a pedido das autoridades, para impedir a tentativa do cardeal de restaurar o catolicismo. Realiza na íntegra o governo civil, que tornou supérflua a hierarquia eclesiástica. Estabeleceu leis, abriu escolas e estimulou o comércio exterior, prega e ensina o calvinismo.

Genebra passa a ser o principal centro protestante da Europa. A consistência da moral foi implantada. Aos domingos ninguém podia ir ao teatro, nem jogar cartas, muito menos dançar. Até mesmo o trabalho nesse dia seria considerado crime. Nos quatro primeiros anos do rígido governo calvinista, contaram-se 58 execuções, e muitas penas severas foram aplicadas aos transgressores das leis.

João Calvino estabeleceu diversas reformas na Igreja, eliminou o ritual e a música instrumental da missa, despiu as igrejas de vitrais, quadros e imagens, reduziu o culto a um sermão entre quatro paredes nuas. Aboliu as comemorações da Páscoa e do Natal, e apagou todos os vestígios do sistema episcopal.

O Calvinismo, ao contrário do luteranismo, difundiu-se na Europa Ocidental. Na França, foi professado pelos huguenotes, na Escócia, pelos presbiterianos, na Inglaterra, pelos puritanos e na Holanda, pelos protestantes.

A Reforma e a Educação

Os cristãos reformados, a exemplo de Calvino, dedicaram-se igualmente a promover a educação, as artes e as ciências. Nunca viram a fé cristã como inimiga do avanço do conhecimento científico e do saber humano. 

Alister McGrath cita pesquisa feita por Alphonse de Candolle sobre a participação de membros estrangeiros na Academie des Sciences Parisiense, durante o período de 1666 a 1883, os primeiros séculos posteriores à Reforma protestante. Segundo McGrath, Candolle verificou que, 

… os protestantes excediam em muito a quantidade de católicos. Tomando como base a população [de Paris], Candolle estimou que 60 por cento dos membros [da Academie] deveriam ter sido católicos, e 40 por cento, protestantes; as quantias reais acabaram por ser de 18,2 por cento e 81,8 por cento, respectivamente. Embora os calvinistas fossem consideravelmente uma minoria, na parte sul dos Países Baixos, durante o século 16, a vasta maioria dos cientistas naturais dessa região foi proveniente desse grupo. 

 A mesma pesquisa mostrou que, na composição primitiva da Royal Society de Londres, a maioria dos seus membros era composta por reformados. Tanto as ciências físicas quanto as biológicas eram fortemente influenciadas pelos calvinistas durante os séculos XVI e XVII. Todos esses pesquisadores e cientistas, por sua vez, haviam sido influenciados pela Reforma Protestante, especialmente pela obra de João Calvino. 

Na área de educação, especificamente, destaca-se a obra de João Amós Comênio, um moraviano que recebeu alguma influência reformada em sua formação. Em 1611 ingressou na Universidade de Herborn, em Nassau, um dos centros de difusão da fé calvinista, sendo aluno do teólogo calvinista Johann H. Alsted (1588-1638). Em 1613 foi admitido na Universidade de Heidelberg (Alemanha), onde estudou teologia. Aqui também havia forte influência calvinista. Comênio ficou conhecido por sua obra Didática Magna, publicada há 300 anos. Produziu, além disso, uma obra vastíssima ligada especialmente à educação (mais de 140 tratados). Sua obra Didática Magna é considerada o primeiro tratado sistemático de pedagogia, de didática e de sociologia escolar. Nessa obra, Comenius defende que a educação, para ser completa, deve contemplar três áreas: instrução, virtude e piedade. Sua visão educacional, influenciada pela Reforma, atinge a dimensão intelectual, moral e espiritual do ser humano. 

No período que antecedeu a Guerra Civil nos Estados Unidos, os Reformados que para lá tinham ido, partindo da Europa, haviam construído dezenas de colégios e universidades. E isso numa época de poucos recursos financeiros e econômicos. 

Não podemos deixar de citar que muitas das maiores e melhores universidades do mundo foram fundadas por Reformados. A Universidade Livre de Amsterdam, por exemplo, uma das melhores do mundo, foi fundada em 1881 pelo reformado holandês Abraão Kuyper, que mais tarde se tornou Primeiro Ministro da Holanda. A princípio, a universidade era aberta somente para os cristãos reformados e era financiada por doações voluntárias. Mais tarde, em 1960, abriu-se ao público em geral e passou a ser financiada como as demais universidades holandesas, embora ainda retenha as suas tradições e valores reformados. 

A Universidade de Princeton, também considerada uma das melhores do mundo, foi fundada em 1746 como Colégio de Nova Jersey. Seu fundador foi o Governador Jonathan Belcher, que era congregacional, atendendo ao pedido de homens presbiterianos que queriam promover a educação juntamente com a religião reformada. Atualmente, é reconhecida como uma das mais prestigiadas universidades do mundo, oferecendo diversos graus em graduação e pós-graduação, mais notavelmente o grau de Ph.D.. Está classificada como a melhor em muitas áreas, incluindo matemática, física e astronomia, economia, história e filosofia. 

A conhecida Universidade de Harvard foi fundada em 1643 pelos reformados, apenas seis anos após a chegada deles na baía de Massachussets, nos Estados Unidos. Sua declaração da missão e do propósito da educação, sobre a qual Harvard foi erigida, foi redigida da seguinte maneira: 

Cada estudante deve ser simplesmente instruído e intensamente impelido a considerar corretamente que o propósito principal de sua vida e de seus estudos é conhecer a Deus e a Jesus Cristo, que é a vida eterna, (João 17.3); consequentemente, colocar a Cristo na base é o único alicerce do conhecimento sadio e do aprendizado. 

A Universidade de Yale, uma das mais antigas universidades dos Estados Unidos, foi fundada na década de 1640 por pastores reformados da recém formada colônia, que queriam preservar a tradição da educação cristã da Europa. Essa é a universidade americana que mais formou presidentes dos Estados Unidos. Em seu alvará de funcionamento concedido em 1701 se diz: 

…que [nessa escola] os jovens sejam instruídos nas artes e nas ciências, e que através das bênçãos do Todo-poderoso sejam capacitados para o serviço público, tanto na Igreja quanto no Estado. 

Ainda hoje, nos Estados Unidos, existem centenas de escolas de ensino superior confessionais, associadas a instituições credenciadoras. No Brasil, os Reformados trouxeram importantes contribuições para a educação, com a fundação de escolas e universidades e a influência nos meios educacionais. 

Em São Paulo, o Mackenzie é fruto da visão educacional dos reformadores. Fundado por missionários calvinistas, declara-se uma instituição de ensino orientada pelos valores e princípios da fé cristã reformada conforme encontrados na Bíblia. A identidade confessional do Mackenzie atravessou diversas fases em sua história, mas nunca foi deixada de lado ou negada. Hoje, o Estatuto e o Regimento que ordenam a existência e o funcionamento da Universidade deixam clara essa identidade. Como escola de origem reformada, o Mackenzie busca a excelência na educação e a formação integral de seus alunos, a partir de uma visão cristã de mundo. O excelente desempenho da Universidade e das Escolas Mackenzie nas avaliações oficiais, por si só, demonstra que é possível conciliar uma cosmovisão cristã com ensino de qualidade. 

 Conclusão 

As iniciativas pioneiras de Calvino em Genebra na área da educação lhe valeram, conforme destaca o historiador Philip Schaff, o título de “fundador do sistema escolar comum”. O prédio “João Calvino”, situado na Rua da Consolação, onde funciona a alta administração do Mackenzie em seu campus Itambé, é um tributo à visão educacional do Reformador. Em sua principal entrada há uma placa bem visível a todos os que entram no Mackenzie, contendo palavras de Jesus que bem resumem essa visão: “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (Evangelho de João 8.32). 

 Dr. Augustus Nicodemus Lopes

Chanceler da Universidade Presbiteriana Mackenzie

http://www.mackenzie.com.br/ano2007000.html

https://www.ebiografia.com/joao_calvino/

 

Para participar da união com Cristo precisamos da Palavra e do Espírito. Não se trata apenas do conhecimento intelectual da Palavra de Deus, mas da habitação real dela em nós, e isso é realizado pelo Espírito Santo.

Ricardo Barbosa de Sousa é pastor da Igreja Presbiteriana do Planalto e coordenador do Centro Cristão de Estudos, em Brasília.

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10 respostas para BIOGRAFIA – João Calvino

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  2. União com Cristo

    União com Cristo

    O reformador João Calvino, nas suas “Institutas da Religião Cristã”, apresenta, entre outros, um tema caro e central para a espiritualidade cristã: a união com Cristo. Ele afirma: “Portanto, para que nos transfira os benefícios que ele recebeu do Pai, é necessário que ele se faça nosso e habite em nós”. Temos nesta afirmação de Calvino duas grandes verdades espirituais: a primeira diz respeito a receber todos os benefícios que Cristo recebeu do Pai; a segunda envolve a habitação de Cristo em nós.

    Deixe-me começar pela segunda afirmação. Os capítulos 13 a 17 do Evangelho de João são conhecidos como “a conversa no Cenáculo”. Nesta conversa, Filipe pergunta: “Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta” (14.8). A resposta de Jesus é a chave para entender o princípio da união com ele: “Quem me vê a mim vê o Pai” (14.9). Jesus segue explicando a Filipe que ele está no Pai e o Pai está nele, porque as palavras do Pai são as palavras do Filho e as obras que este faz são as mesmas obras do Pai. Por isso, quem vê o Filho, vê o Pai. A mesma palavra é o princípio que revela a união eterna do Pai com o Filho.

    Este mesmo relacionamento que o Filho tem com o Pai e o Pai, com o Filho é estendido aos discípulos: “Naquele dia, vós conhecereis que eu estou em meu Pai, e vós, em mim, e eu, em vós” (14.20). De que forma isso é possível? Jesus responde: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada” (14.23). O princípio é o mesmo: a palavra. O Filho eterno vive e age pela palavra do Pai. Os discípulos guardam a palavra do Filho e por ela vivem, e, por meio da palavra, o Pai e o Filho fazem sua habitação em nós; dessa forma, participamos da comunhão divina. Permanecemos em Cristo somente quando permanecemos na palavra. Quando nossa mente, nossos desejos e vontades forem moldados pela palavra de Cristo, viveremos como Cristo e a vontade de Deus será a nossa vontade, os desejos de Deus, os nossos desejos, e, assim, teremos o que Paulo chama de “a mente de Cristo”.

    Deixe-me considerar agora a primeira parte da afirmação de Calvino: “Para que nos transfira os benefícios que ele recebeu do Pai”. O reformador reconhece que a vida, crucificação, ressurreição e ascensão de Jesus nos concederam os mesmos benefícios que o Filho Eterno recebeu do Pai. Veja o que Jesus afirma aos seus discípulos: “Aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço e outras maiores fará porque eu vou para junto do Pai” (14.12). E mais: “Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer” (15.5). Como é possível para nós, discípulos de Cristo, fazer o que ele fez e, até mesmo, coisas maiores? O que significam estes frutos que só podem ser produzidos por meio de Cristo? São estes os benefícios que Cristo recebeu do Pai e que são transferidos a nós em nossa união com ele.

    Jesus promete o Consolador, o Espírito Santo. Se, por um lado, nossa união com Cristo existe por causa da palavra, por outro, a presença e o poder da palavra só são reais pela ação do Espírito. O Espírito Santo é o Espírito da verdade, que irá nos conduzir “a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido […] Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar” (16.13-14). O Espírito Santo vem da parte de Deus para tornar essa união possível e real. Da mesma forma que o Filho não tem uma palavra que seja sua — ele fala daquilo que ouve do Pai –, o Espírito, também, transmite o que o Filho nos ensinou e nos ajuda a guardar a palavra do Filho, assim como o Filho guarda a palavra do Pai.

    Para participar da união com Cristo precisamos da Palavra e do Espírito. Não se trata apenas do conhecimento intelectual da Palavra de Deus, mas da habitação real dela em nós, e isso é realizado pelo Espírito Santo. Dessa forma, como afirma Calvino, os benefícios que o Filho recebeu do Pai tornam-se nossos. Calvino expressa da seguinte maneira essa realidade: “Portanto, a íntima ligação da Cabeça e membros, a habitação de Cristo em nosso coração — a união mística — estão em harmonia conosco em elevado grau de importância; assim, pois, Cristo, tendo sido feito nosso, torna-nos participantes com ele nos dons, nos quais ele está dotado” (“Institutas”).

    • Ricardo Barbosa de Sousa é pastor da Igreja Presbiteriana do Planalto e coordenador do Centro Cristão de Estudos, em Brasília. É autor de, entre outros, A Espiritualidade, o Evangelho e a Igreja e Pensamentos Transformados, Emoções Redimidas.

    http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/366/uniao-com-cristo

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  3. rfbarbosa1963 disse:

    Numa época em que “missão” era a linguagem para descrever o relacionamento da trindade e a doutrina católica da sucessão apostólica impedia a reforma da igreja, não nos surpreendemos com o fato de que João Calvino, de modo semelhante aos outros reformadores, não falasse de “missões” e pouco aproveitasse da “Grande Comissão” para encorajar o avanço da igreja pela Europa e além. Entretanto, é erro grosseiro concluir que ele não possuía um senso agudo da necessidade “missionária”. E não só possuía como também o advogava intensamente, primeiro, pelo exemplo da sua própria pessoa ao assumir o desafio de liderar o movimento protestante de Genebra em direção a outro país; segundo, por meio do preparo e envio missionário de outros por toda a Europa e até ao Novo Mundo; e, acima de tudo, por meio dos seus escritos onde expunha a chegada do reino de Cristo e a necessidade consequente da pregação da Palavra de Deus pela igreja, como principal instrumento de Deus para a salvação dos eleitos. 
     
    Assim, não é exagero afirmar, que a medida que a teologia bíblica que enfatiza o “missio Dei” por meio do “regnum et missio Christi” forma o ponto de partida para a melhor missiologia contemporânea, João Calvino pode facilmente receber a distinção de ser o “pai da missiologia contemporânea protestante”.

    Timóteo Carriker

    É teólogo, missionário da Igreja Presbiteriana Independente, capelão d’A Rocha Brasil e surfista nas horas vagas. Pela Ultimato, é autor de A Visão Missionária na Bíblia e Trabalho, Descanso e Dinheiro. É blogueiro da Ultimato.

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