Porta de saída X Os perigos que confrontam a Igreja Evangélica

Mais do que em gerações anteriores, os jovens crentes entre 20 e 30 têm abandonado a fé.

Por Drew Dick

Momentos importantes fazem parte da jornada de todo jovem quando ingressa na idade adulta: a chegada à universidade, o começo da carreira, a compra do primeiro apartamento, o casamento e – no caso de muitos cristãos hoje em dia – o distanciamento da fé. Para cada vez mais rapazes e moças na faixa entre os 20 e os 30 anos, tudo o que se aprendeu ao longo de anos e anos de escola dominical infantil, atividades de grupos de adolescentes ou reuniões de oração da mocidade simplesmente parece perder o sentido diante da realidade da vida autônoma e suas múltiplas possibilidades. Motivos para tal esfriamento não faltam: o sentimento de liberdade pessoal, o convite aos prazeres antes proibidos, a ênfase exagerada na vida profissional e no próprio sucesso… Longe da tutela dos pais crentes, jovens que um dia eram vistos na igreja como promissores nas mãos de Deus vão, pouco a pouco, assumindo um estilo de vida mundano. E logo já não são nem um pouco diferentes de seus amigos que jamais estiveram num culto.

Não há, dizem, uma razão específica. O que se alega é um certo cansaço da vida religiosa ou a impressão de que a história do Evangelho, afinal de contas, não é tão verdadeira assim. Todo crente conhece pessoas nesta situação. E a quantidade de gente que deixa a igreja para trás tem aumentado – só no Brasil, segundo o último Censo, já há cerca de 14% de evangélicos confessos sem ligação formal com uma igreja. A tendência é mais aguda entre os jovens adultos, e não apenas por aqui. Na última edição da Pesquisa Americana de Identificação Religiosa, um fato chamou a atenção. A porcentagem de americanos que responderam “sem religião” praticamente dobrou nas últimas duas décadas, crescendo de 8,1% nos anos 90 para 15% em 2008. O estudo também observou que assombrosos 73% deles vêm de famílias religiosas – e quase dois terços foram descritos no estudo como “ex-convertidos”.

O resultado de outra pesquisa também foi expressivo. Em maio de 2009, no Fórum de Religião e Vida Pública, os cientistas políticos Robert Putnam e David Campbell apresentaram uma pesquisa descrevendo o fato de que jovens estão abandonando a religião em “ritmo alarmante”, cinco a seis vezes mais rapidamente do que anteriormente registrado. Fato é que a sociologia já descobriu que a migração para longe da fé cristã, por parte de jovens antes engajados na vida eclesiástica, é um fenômeno crescente. E uma resposta para este fato requer primeiramente uma análise de tal êxodo e o questionamento honesto das razões pelas quais ocorre. 

ABANDONO

O presidente do Barna Group, entidade cristã de pesquisas sediada na Califórnia (EUA), David Kinnaman, revela que cerca de 65% de todos os jovens de seu país afirmam ter feito um compromisso com Jesus Cristo em algum momento de suas vidas. Kinnaman entrevistou milhares de jovens para a elaboração de seu livro UnChristian. Segundo ele, a maior parte dos ‘não-cristãos’ da sociedade hoje é formada por gente que em algum momento frequentou igreja e serviu a Jesus. “Em outras palavras, eles são nossos antigos amigos, adoradores de outrora”, acentua.

Grande parte dos pesquisadores avalia que este dramático número de abandonos espirituais por gente na faixa dos vinte e poucos anos constitui, na verdade, uma etapa no curso da vida de quem chegou à conclusão que vale mais a pena dormir até tarde ou fazer outros tipos de programa aos domingos. O sociólogo Bradley Wright salienta que a tendência da juventude ao abandono da fé é uma característica do cristianismo contemporâneo. A questão do comprometimento moral parece estar na base do processo. Donos do próprio nariz, não poucos jovens de origem evangélica começa a mudar de hábitos, sendo mais abertos a novas experiências e menos refratários àquilo que, durante anos e anos, ouviram ser pecado.

Quando o rapaz ou a moça recém-saída da casa dos pais vai morar com o companheiro, ou encontra na faculdade amigos que fazem convites para noitadas, os conflitos entre a crença e o comportamento pessoal parecem ficar inconciliáveis. Cansados de lidar com o que lhes resta de uma consciência de culpa e relutantes em abandonar aquilo que têm como conquistas pessoais, eles preferem abandonar o compromisso cristão. Para isso, podem usar como argumentos o ceticismo intelectual ou a decepção com a igreja, mas estes são apenas motivos superficiais para esconder a razão principal. A verdade é que a base de crenças acaba sendo adaptada para corresponder às ações.

“Em alguns casos, o processo é gerado por uma decepção com a igreja, levando ao esfriamento”, aponta o pastor Douglas Queiroz, da Igreja Plena de Icaraí, em Niterói (RJ). Há dez anos, ele dedica seu ministério à juventude, aconselhando não apenas novos convertidos como gente que nasceu na igreja mas em algum momento abandonou a fé. “Eles não se identificam mais com a igreja da qual faziam parte”. Para Douglas, esse fenômeno pode ser atribuído, em parte, ao momento em que o jovem vive. Isso se dá pelo distanciamento que existe entre a igreja e a sociedade. O jovem de hoje, detentor de muita informação, não aceita esta relação ambígua, não suporta mais viver numa subcultura ou dentro de um gueto com postura, linguajar e pensamentos distantes do cotidiano”, comenta. Mas existem também, diz o pastor, situações em que não se trata exatamente de um esfriamento espiritual. “A pessoa simplesmente descobre que sua fé não existe, ou seja, nunca houve uma experiência individual. O jovem é cristão simplesmente porque nasceu num lar de crentes e cresceu indo à igreja.”

“PRATOS ATRATIVOS”

A diversidade de situações torna difícil resumir tudo no velho chavão da “rebeldia juvenil”. Aos 30 anos de idade, o ministro de adoração da igreja Casa da Bênção em Jardim Paulista (PE), Juliandreson Pimentel, conhece de perto esta realidade. Funcionário público e estudante de Direito, ele encontra tempo na agenda para trabalhar com jovens e acha que o trabalho tímido de formação nas igrejas está na raiz do esfriamento espiritual dos crentes nesta fase da vida. “Com uma conexão maior fora do ambiente eclesiástico, muitos jovens acabam cuidando mais de si mesmos, negligenciando o serviço de Deus”, comenta. Ao mesmo tempo, existem fatores comuns. Muitos afastamentos foram precipitados, como diz Douglas, por aquilo que aconteceu dentro da igreja, em oposição ao que acontece fora dela. Até mesmo os que adotaram um estilo de vida materialista ou uma forma de espiritualidade vaga demais para ser definida como cristã têm em comum, quase sempre, uma vivência de cristianismo superficial que efetivamente os afastou de uma fé autêntica.

O sociólogo Christian Smith e seus colegas pesquisadores examinaram a vida espiritual dos adolescentes americanos e perceberam que a maior parte deles pratica uma religião que pode ser descrita como “deísmo moralista e terapêutico”, que deixa Deus como o distante Criador que abençoa pessoas que são “boas e justas”. Assim, o objetivo central dessa divindade é ajudar os crentes a se tornarem felizes e a sentirem-se bem consigo mesmos. E como esses adolescentes aprenderam sobre esta forma de fé? Naturalmente, porque ela é ensinada de maneira explícita ou implícita em todas as fases da vida nas igrejas. Ela está no ar respirado pelos frequentadores de igreja, que buscam cultos amigáveis e pequenos grupos de pouco compromisso. Quando esta visão ingênua e utilitarista de Deus se une à realidade, não é surpreendente ver tanta gente saindo porta afora das igrejas.

Criado na igreja, o jovem Gabriel Santana Mariano, de São Paulo, fez esse percurso. Ele conta que o convívio com pessoas “do mundo”, como dizem os evangélicos, acabou colaborando para seu distanciamento da fé. “Os pratos que nos oferecem são bem atrativos”, diz. Os cultos saíram de sua rotina e hoje ele frequenta academias, festas e baladas. A mãe, diz Gabriel, continua orando por ele. “Se não fosse por isso, não sei como poderia estar hoje”, reconhece. Apesar de tudo, ele confessa que acredita e confia em Deus. “Sinto que sinto que não faço parte desse mundo”, revela. “Algo dentro de mim sente um grande vazio e, mesmo que eu tente me enganar, sei que isso é falta de uma comunhão com Deus.”

Os crentes, geralmente, adotam uma dentre duas reações igualmente prejudiciais em relação a alguém que abandonou a fé: tornam-se agressivos, com um discurso de julgamento, ou preferem não se envolver na questão. No encontro anual da Associação Americana de Sociologia, em 2008, um grupo de estudiosos da Universidade de Connecticut e da Universidade de Oregon relataram que “o maior papel dos cristãos no processo de abandono de fé foi amplificar dúvidas previamente existentes”. Os ex-cristãos relataram “dividir suas dúvidas com amigos ou familiares cristãos e receberem respostas triviais e superficiais”. Além de não possuir recursos apropriados para trabalhar com esse grupo, as igrejas, no geral, não sabem lidar bem com aqueles que estão em conflito com sua própria fé.

A crise de pessoas abandonando a fé também passa por outros níveis. Primeiramente, jovens adultos estão abandonando a religião em ritmo mais acelerado e em maior número do que jovens adultos das gerações anteriores, conforme estudos feitos nos EUA e ainda incipientes por aqui. Em segundo lugar, o argumento sobre fases da vida, por si só, não se sustenta. O jovem adulto de hoje não é o jovem adulto de antigamente; o de hoje permanece nesta fase por mais tempo. Casamento, carreira e filhos – a força sociológica primária que leva os adultos de volta ao compromisso religioso – são elementos hoje postergados para os vinte e poucos ou trinta anos. 

CAMINHO DE AMOR

Para Onésimo Pinto, pastor de jovens da Igreja Evangélica Bíblica Betel, de Recife (PE), os pais têm uma parcela de culpa no afastamento ou esfriamento da fé dos filhos: “Muitos educam os filhos de uma maneira, mas, na prática, vivem de outra. Então, os filhos aprendem dos pais a tapear e maquiar o cristianismo. O distanciamento acontece no momento em que eles têm acesso caminhos antes inacessíveis”. Segundo ele, esse hiato entre fé e comportamento acaba desestimulando os jovens, que não querem repetir o erro e preferem abrir mão da vida cristã. “Essa é a experiência que identificamos em muitas famílias”, atesta o conselheiro. No entanto, Onésimo também aponta a culpa da Igreja: “Infelizmente, falta um ensino doutrinário que fundamente a fé dos jovens. Muitas igrejas são mais clubes sociais, onde as pessoas vão para se encontrar e agendar programas, enquanto o estudo da Palavra praticamente não existe.”

Não há nada de errado com pizzas e videogames, nem com celebrações sensíveis ou pequenos grupos de pouco comprometimento que apresentam pessoas à fé cristã. Mas isto não pode substituir o discipulado sério e o ensino. Um lugar para começar é repensando como a Igreja e os evangélicos têm ministrado aos jovens. A tentação de se afastar da fé não é novidade. O apóstolo Paulo exortou a igreja em Éfeso sobre a necessidade de amadurecimento de cada cristão: “o propósito é que não sejamos mais como crianças, levados de um lado para o outro pelas ondas, nem jogados para lá e para cá por todo vento de doutrina e pela astúcia e esperteza de homens que induzem ao erro” (Efésios 4.14, segundo a Nova Versão Internacional).

Apesar dessa lacuna, grande parte dos pesquisadores insiste que este dramático número de abandonos espirituais durante os vinte e poucos anos não é uma situação alarmante. Em seu recente livro “Cristãos são hipócritas cheios de ódio…E outras mentiras que você já ouviu (inédito em português), o sociólogo Bradley Wright argumenta que estes números sobre a tendência da juventude ao abandono da fé é “mais um mito” do cristianismo contemporâneo. Ele lembra que os integrantes de cada nova geração são sempre observados com suspeita pelos mais velhos. Ao falar sobre a própria juventude, o autor se descreve como “um moço de cabelos compridos e camisetas diferentes” e destaca que os adultos daquela geração não tinham muita fé no futuro quando olhavam para adolescentes como ele.

Wright acentua que jovens adultos costumam abandonar a religião organizada quando deixam a casa dos pais, mas retornam quando formam sua própria família. Rodney Stark também pede cautela. O sociólogo da Universidade Baylor diz que dados de suas pesquisas reafirmam resultados de outros estudos, mas que isso não é motivo para alarde. “Jovens sempre foram minoria ao frequentar igrejas, em relação os mais velhos”, ele escreve. Stark é confiante ao dizer que os jovens retornarão. “Um pouco mais à frente, quando tiverem se casado e, principalmente, após a chegada dos filhos, eles se tornam mais frequentes na igreja. Isso acontece em todas as gerações”.

Em última instância, retornar ao aprisco após uma ausência de dois ou três anos é uma coisa – depois de uma década, contudo, é mais improvável. Além disso, há que se levar em conta que uma mudança tem ocorrido na cultura de maneira ampla. As gerações anteriores foram rebeldes por um momento, mas ainda assim habitavam uma cultura predominantemente judaico-cristã. Os jovens afastados de hoje encontram fora da igreja um caldo cultural que não favorece muito o retorno ao sagrado. Por isso, a necessidade é do lento, porém frutífero, trabalho de construir relacionamentos com aqueles que abandonaram a fé. Isto irá requerer de cada parte envolvida – pais e filhos, Igreja, conselheiros, educadores cristãos – o esforço de olhar além do ceticismo e enxergar a necessidade espiritual de cada um. Uma vez que cada queixa, história e demanda for ouvida e compreendida, certamente serão construídas pontes de confiança e o caminho de volta para casa será iluminada com amor. 

Drew Dyck é diretor de redação da revista Leadership Journal do grupo Christianity Today International, e é autor de Generation ex-Christian: Why young adults are leaving the faith . . . and how to bring them back (“Geração ex-cristã: Por que jovens adultos abandonam a fé… E como trazê-los de volta)

Cristianismo Hoje

Os perigos que confrontam a Igreja Evangélica

O Processo do desvio

Pv 14:14

“O que no seu coração comete deslize, se enfada dos seus caminhos, mas o homem bom fica satisfeito com o seu proceder.” 

       O cristão desviado é uma das ameaças mais sérias a assolarem a Igreja Evangélica hoje. Se quisermos realizar a missão de evangelizar o mundo antes da volta de Cristo, precisamos lidar com esse sério problema.

     A palavra desviar surgiu dos escorregões de Israel, que lembravam os de uma novilha. Eu já tive a oportunidade de ver isso acontecer em uma fazenda quando era pequeno: um animal começava a subir por uma encosta escorregadia, chegava até parte do caminho e, então, perdia a tração, deslizando até embaixo novamente, após muitas quedas e tentativas de se levantar. Às vezes, não conseguia mais erguer-se. Sem a intenção de ser zombeteiro, o profeta de Deus disse que Israel era como os animais que havia visto, tentando subir uma colina escorregadia. Eles se esforçavam muito e tentavam seguir adiante, mas escorregavam, regredindo tantos passos quanto haviam subido.

O coração inconstante

       Existem duas causas principais do desvio: a primeira é a inconstância do coração humano. Seria maravilhoso se pudéssemos permanecer como éramos, mas isso também seria algo extremamente condenável. Como nosso estado seria triste se não pudéssemos mudar! A habilidade de transformar nossas atitudes nos dá esperança.

       O chamado de Deus ao arrependimento gera uma mudança de um estado ruim para um melhor. Se não pudéssemos passar de uma condição a outra, seríamos moralmente estáticos e estaríamos condenados. Então, já que essa transição é possível, podemos passar do mal para o bem e nos acertarmos com Deus. Tornamo-nos bons, embora fôssemos maus. Santos, ainda que anteriormente profanos. Tal habilidade de passar de um estado a outro, transformando a nossa atitude, também pode ajudar a não nos desviarmos.

     O problema é que, em geral, as únicas atividades nas quais todos perseveram são aquelas em que a natureza as força a praticar – comer, beber, dormir, proteger a si mesmo, ou algum outro poderoso instinto interno. Enquanto a humanidade perdurar, o amor, o casamento e tudo mais continuarão a existir, já que estes são instintos profundamente arraigados a nossa espécie. Entretanto, aquilo que requer planejamento e um esforço cuidadoso e árduo torna-se fácil de abandonar.

       Muitos tendem a seguir o que é simples e natural. Exceto pelos impostos e outros deveres que somos forçados a cumprir por agentes externos, seja pela natureza ou pela lei, costumamos fazer somente aquilo de que gostamos bem como aquilo que nos parece natural. Esse é um solo fértil para o desvio. Alguém que esteja sob a intensa pressão do luto ou do medo pode voltar-se para Deus por algum tempo, mas o instinto de permanecer assim não está nele. Um impulso natural instiga-o a que tome a direção oposta. Ler a Bíblia e orar são atividades enfadonhas que demandam um esforço árduo; por isso, alguns se corroem aos poucos até se desviar.

       Se você fizesse uma pesquisa com todos os homens e todas as mulheres que, sob massiva evangelização, deram algum passo em direção a Deus, veria que já se esqueceram totalmente dEle. Eles vivem como senão existisse um Deus no céu. Estou dizendo: você ficaria surpreso e não se conformaria se visse todas essas pessoas em algum estádio, emparelhadas, lado a lado, como estátuas. Embora algumas tenham servido ao Senhor, ou até mesmo, tido um encontro com Ele, não durou. Isso se deve ao fato de que servir a Jesus Cristo é contrário à natureza humana. Por vontade própria, não perseveramos. A inconstância do coração leva o homem para o lado oposto, e, então, ele se desvia.

O coração mau 

       Outra condição de desvio é o mal inerente ao coração humano. A própria constituição do ser humano é contrária à bondade. Lembre-se de dois aspectos: se nós hoje fôssemos o que éramos originalmente, [seres] criados à imagem de Deus, sem pecado, seria perfeitamente natural servir ao Senhor, da mesma maneira pela qual os anjos no Céu e os serafins em volta do trono não têm dificuldade em fazê-lo. Nada pode afastá-los do Todo-Poderoso.

       Quando um ser é criado para servir a Deus, faz o que é tão adequado a sua natureza quanto um pato ao entrar na água. Essa ave segue a sua natureza, assim como os seres angelicais servem a Deus nas alturas. Se você e eu fôssemos o que deveríamos ser, seres sem falhas, manchas ou com a mácula do pecado, seríamos capazes de servir-lhe conforme os anjos, o que seria natural, fluindo de nós, tal qual uma fonte que jorra por causa da pressão subterrânea. No entanto, somos falhos.

       Um homem que se volta para ver o que Adão praticou reflete sobre como poderia estar agora, todavia o pecado roubou-lhe essa capacidade. O pecado tornou-se a nossa natureza. Portanto, quando oramos, isso não é natural. Todos nós sentimos o peso do salário do pecado quando dizemos Pai nosso, que estás nos céus (Mt 6:9). No entanto, se aquele erro não nos tivesse dominado, simplesmente alçaríamos nossas vozes e, como pássaros, cantaríamos louvores ao Senhor sem jamais nos afastarmos dEle nem esfriarmos.

       O desvio começa sempre no coração. Alguns culpam outras circunstâncias e dizem: “Foi por causa da minha vida familiar, do lugar onde eu trabalho. Por causa da minha escola. Foi porque eu fiquei doente ou porque tinha de trabalhar demais, ou porque não tinha tempo”. Todos esses são fatores externos, mas desviar-se inicia-se no interior.

       O Senhor sabe que o coração de um indivíduo está esfriando antes que a pessoa note. Esse alguém descobre isto depois de Deus. Então, a igreja o percebe, e, se assim continuar [a se desviar], o mundo toma conhecimento. [O processo] sempre ocorre nessa ordem. Quando o mundo descobre que um homem ou uma mulher se desviou e retrocedeu na sua fé, a igreja já o sabia antes do mundo, e o indivíduo, antes da igreja. Todavia, o Senhor já tinha conhecimento. Desviar-se tem a sua origem no coração humano.

O que passa no coração que está se desviando? 

       O que acontece com alguém cujo coração está se desviando? Inicialmente, começa a perder o interesse pelos assuntos de Deus e a voltar pouco a pouco aos seus hábitos antigos, praticando pecados mais complexos que os de antes. Aos poucos, perde o interesse pelo Senhor. Seu coração já não é mais tão ardente quanto há algumas semanas, meses ou anos, e o seu amor por Deus está se esfriando.

       Isso significa que está perdendo o interesse pela comunhão com o Senhor. Se você não está indo tão bem quanto antes, posso dizer-lhe com honestidade que vice é um desviado de coração. Se, antes, você amava orar, deveria fazer da mesma forma hoje. Todavia se não é como antes, a que outra conclusão podemos chegar?

       Se um médico pedir um hemograma completo e descobrir que o número de células sanguíneas do paciente está muito abaixo do normal, o que ele deve fazer? E ainda, se tornar a pedir outros exames e descobrir que a saúde do indivíduo está mesmo comprometida, o que ele deve dizer? Certamente, o doutor não cumprimentará o paciente, dizendo: “Encontro você no campo de golfe no sábado. Está tudo bem”. Quão tolo seria esse médico, além de trair sua profissão! Há somente algo a se fazer. Ele precisa declarar as suas descobertas e dizer: “Amigo, você não está tão bem quanto imaginava. Agora você precisa me escutar”. Então o médico prescreverá sugestões para que o paciente melhore a sua saúde. O ponto principal é que, após realizar alguns exames, o médico comunique ao paciente, honestamente, que há um problema.

       Desviar-se é perder a comunhão individual com Deus. Leia um velho hinário e você verá como os autores amavam ter esse relacionamento, muito aprazível a eles, com o Senhor. Fazemos tanto hoje em dia, que tudo nos distrai e toma todo o tempo que teríamos para estar unidos ao Pai, descansando diante dEle.

       O desvio reside no interior, os demais aspectos são apenas ferramentas externas do diabo. Quando o coração de um homem está desviado, o mesmo costuma ficar um pouco entediado. Se um cristão fervoroso e ardente deixa você entediado, ou, ainda, se quando está tomando um café ou um refrigerante com um pequeno grupo de amigos você se sente um pouco um tanto enfadado ou envergonhado quando alguém começa a falar de Deus, é melhor olhar para o próprio coração. Se conversar sobre o Senhor, sobre a Sua Palavra e a Sua obra no mundo começa a nos entediar, certamente estamos errados por dentro.

       Para ser o mais honesto e realista possível, devo dizer que alguns indivíduos são chatos religiosos. Eles têm um jeito de introduzir a religião nas situações mais apropriadas e fazem isso porque criaram esse hábito, não há sinceridade ou espontaneidade, agem apenas porque foram treinados assim, conforme uma foca adestrada. Contudo, se você fica entediado ou envergonhado quando um cristão sincero e alegre começa a falar de Deus, está do lado errado. Se consegue sentir-se enfadado com uma conversa espiritual (não estou falando de uma ladainha religiosa, que entediaria qualquer um), há algo de errado com o seu coração. O melhor a se fazer é admitir e reconhecer isso diante do Senhor.

       Outro sintoma diz respeito à presença de um espírito crítico com relação a maioria dos pregadores. Se não for Billy Graham, alguns preferem não ouvir ninguém. Quando um homem comum, bom e honesto sobe ao púlpito e traz uma mensagem simples, com alguns tropeços, mas que fala de Deus e de seus aspectos, eles dizem: “Ah, ele é só mais um”. Essas pessoas vão à igreja em pequeno número, mas não demonstram zelo ou entusiasmo algum, a menos que se trate de um pregador extraordinário. Quero dizer que poderíamos muito bem ser humildes e escutar qualquer um que tenha algo a declarar. Devemos orar do seguinte modo: “Deus, dê-me um coração tão sensível, a fim de que eu possa ser ajudado por qualquer pessoa”. Não estou falando em ser amparado por pregadores hipócritas e fingidos; ninguém pode ser ajudado por eles. Não busco o auxílio do qual preciso no diabo, mas sim, em qualquer homem de Deus honrado.

       Precisamos ter cuidado para não nos tornar profissionais demais e não desenvolvermos a tendência de criticar, sem piedade, as pessoas. Se a questão é tentar fazê-lo melhorar, é outro assunto. Se a tentativa está em elevar o padrão – estimular as pessoas a escrever, pregar, orar, obter melhor eloquência e ajudar o novo coral a elevar os seus padrões–, isso é perfeitamente apropriado. No entanto, se o desejo está apenas em censurar, não faço questão de ouvir. Se alguém escreve ou canta e é verdadeiro, então meu coração deve aquecer-se com a sua sinceridade se eu não estiver desviado.

     Se aqueles que entram nas igrejas em um domingo qualquer estão esfriando, ou se o seu coração não tem o que aparenta possuir, muitos pastores deveriam passar a tarde com a “boca no pó” chorando entre o pátio e o altar, clamando: “Ó, o que foi que eu fiz ou deixei de fazer para que o meu povo esteja nestas condições?”.

       Por intermédio de Salomão, está escrito; O que no seu coração comete deslize, se enfada dos seus caminhos, mas o homem bom fica satisfeito com o seu proceder.(Pv 14:14). Isso significa que o desviado logo se enfada de si mesmo. Como? Quando tenta orar e descobre quão pesado e envergonhado se sente ao tentar parecer piedoso. Ele é requisitado a orar e descobre quão pesado e envergonhado se sente ao tentar parecer piedoso. Ele é requisitado a orar e tenta demonstrar devoção, mas seu coração já quebrou a comunhão [com o Senhor] há muito. Assemelha-se a um instrumento prestes a ser ligado a uma tomada sem eletricidade. Ele se conecta por obrigação, mas nada acontece. Depois de algum tempo, todos se cansam disso e de seus testemunhos vazios, que são falsos, bem como as suas palavras, secas. Porém, ainda assim, ele não ousa parar de falar porque é reputado conforme um bom cristão.

       Muitos têm a fama de serem bons cristãos nas igrejas, e, então, quando quebram secretamente a comunhão com Deus, o fogo míngua e, praticamente, não sentem mais a presença do Senhor. Contudo, ainda assim, precisam manter a fachada; por isso, chegam até mesmo a se candidatar a cargos de diretoria na igreja, como líderes da mocidade, de coral, etc. Temo que tudo isso seja inútil, já que o interior se desviou. Quando Deus vê que nosso coração está escorregando e que nos recusamos a admitir isso, até mesmo quando estamos sozinhos, chegamos a um ponto em que, se disséssemos a verdade, teríamos de admitir estarmos entediados com Ele e com a religião, porém não procedemos assim, pois teríamos vergonha. Entretanto essa é a verdade.

       O que você acha que Deus pensa disso? No livro de Apocalipse, Jesus disse: tenho, porém, contra ti que abandonaste o teu primeiro amor (Ap 2:4 – ARA). Ele repreendeu aquela igreja porque viu que isso já estava acontecendo no segundo século. Exortou-os porque estavam perdendo sua afeição [pelo Senhor], mas não queriam admitir isso. Nenhum dos anciões da igreja em Éfeso que subia ao púlpito para pregar, diáconos que recolhiam as ofertas, ou membros da diretoria jamais ousaria se levantar e dizer: “Estou cansado de Deus. Estou enjoado de todo esse negócio”. Jesus denunciou: “Vocês não são mais fervorosos como costumavam ser. O seu sorriso não está ali. A sua respiração já não é tão calorosa. O tom de voz não é tão afeiçoado como antes. Tenho saudades disso. Vocês deixaram o primeiro amor”. Depois de algum tempo, todos se cansam de tentar manter as aparências religiosas com um testemunho vazio e de falar com cristãos entusiasmados com o Senhor e parecer gostarem da conversa.

       Muitos ficam entediados por frequentarem a igreja. Então, alguém lhes diz: “Não mande seus filhos para a escola dominical [sozinhos]. Saia da cama e leve-os [você mesmo]”. Então, determinam-se a seguir essa admoestação, o que é bom, eu me alegro com isso, mas seria muito melhor se eles apreciassem [o culto]. Eu já fui forçado a comparecer a reuniões religiosas às quais não desejava ir. Sabia que não havia nada ali para mim, bem como o que pudesse contribuir, mas era obrigado porque as circunstâncias me compeliam a fazê-lo. Se tivesse de realizar algo que não quisesse, logo eu me entediaria. Isso evidencia algo no qual não gosto de pensar.

       No que diz respeito às ofertas, alguns com o coração caloroso em Deus ofertam espontaneamente. Eles amam fazê-lo, ofertam com alegria porque doar é um prazer.

       Se eu fosse incrédulo, não entregaria o dízimo. Há pregadores que tentam pressionar as pessoas e mostrar que, se dizimarem, terão mais dinheiro. No entanto, todo esse esforço de baixo nível para induzi-las a ofertar não é uma atitude cristã, espiritual ou decente. Que tipo de pessoa você seria se trouxesse suas ofertas à casa de Deus, sabendo que isso o tornaria mais próspero do que se você não o fizesse? Sabendo que você terá mais do que se não devolver o dízimo? Isso é dizimar para ter mais. Que tipo de pessoa você seria?

       Quando você perde a sua alegria, enfada-se de ofertar apenas por habito. Você se cansa após algum tempo, e eu oro para que isso ocorra o quanto antes, a fim de que você se mantenha satisfeito. Permaneça espiritualmente alegre e relaxe. Em Gálatas 6:1, Paulo nos diz: Irmãos, se algum homem chegar a ser surpreendido nalguma ofensa, vós, que sois espirituais, encaminhai o tal com espírito de mansidão; olhando por ti mesmo, para que não sejas também tentado. As palavras usadas aqui são termos médicos e significam que, quando um braço ou um ombro se desloca, é recolocado no lugar certo. Peço ao Senhor que nos faça o inestimável favor de examinar coração por coração, mente por mente e alma por alma – que Ele nos avalie com o seu termômetro espiritual. E, havendo qualquer esfriamento, que o encontre e nos cure.

       Lembre-se de quando Jesus olhou para Pedro. A Bíblia diz:E, virando-se o Senhor, olhou para Pedro, e Pedro lembrou-se da palavra do Senhor, como lhe havia dito: Antes que o galo cante hoje, me negarás três vezes.
E, saindo Pedro para fora, chorou amargamente.
(Lc 22:61, 62).

Não sei o que Jesus disse. Ele simplesmente olhou para Pedro. A mulher disse: “Você não é um dos seus seguidores?”, e Pedro respondeu: “Não”.

     Ela disse: “É o seu sotaque”.

       Ele respondeu: “Eu não o sou”. Ela tornou a insistir: “É, sim. Sua fala o trai”.

       Então, ele respondeu: “Eu não sou cristão. Estou fazendo algo que nenhum cristão faria”. E falou um palavrão. As suas ações diziam que, se ele agisse conforme um cristão, poderia ser preso com Jesus. Então, para provar que não era cristão, falou torpemente.

     Assim, ela finalmente concluiu; “Bem, está certo. Ele não é cristão”.

       Pouco antes de morrer, Jesus se voltou e olhou para aquele apóstolo de boca suja. Pedro não tinha muita instrução, mas era um gênio à sua maneira e, quando olhou para aquele rosto e viu os ferimentos, a dor, o sofrimento, o anelo e o amor, tudo aquilo foi demais para ele. Então, correu e ficou sozinho em algum lugar, e, com o rosto entre as mãos, chorou amargamente. A palavra grega indica uma torrente incontrolável de lágrimas, entretanto, Jesus nunca disse uma palavra. Ele apenas olhou para Pedro.

       Pergunto-me se o terno Jesus não olhará para você – somente um olhar, apenas isso. Como você responderá?

Que farás de Jesus Cristo?1

A.B. Simpson

Diante de Pilatos está Jesus,

Por todos deixado em aflição,

Pilatos pergunta à multidão…

– “Que farei de Jesus Cristo?”

 

Que farás de Jesus Cristo?

Responde, hoje, sim:

Diria um dia ao vê-Lo:

“Que fará Ele de mim?”

 

Em julgamento ainda está

O Nazareno em aflição,

E se repete a pergunta, então:

-“Que farei de Jesus Cristo?”

Será julgado por ti,

Ou recebido com gratidão?

E, mui alegre, dirás, então:

-“Aceito a Jesus Cristo!”

1 A versão utilizada nesta obra é a canção de número 158, de autoria de Frida Vingrem, do hinário Harpa Cristã.

Os Perigos de uma Fé Superficial – Desperte da letargia espiritual

A.W.Tozer – Graça Editorial

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3 respostas para Porta de saída X Os perigos que confrontam a Igreja Evangélica

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  2. Preciso ir à igreja?

    Família

    Cada vez mais pessoas acham desnecessário frequentar cultos.

    Escrito por De Marcos Simas e Carlos Fernandes

    Publicado em Especial

    Convertido ao Evangelho em 1980, o advogado carioca Hélio Vagner Zagaglia, hoje com 58 anos, foi membro de algumas igrejas evangélicas na maior parte desse período – e membro daqueles atuantes, de frequentar cultos quatro vezes por semana e participar de diversas atividades na esfera eclesiástica. Ao longo dessa caminhada, contudo, alguma coisa mudou em sua mente e no coração. “Depois de 30 anos naquela rotina, confesso que não tinha mais paciência com tudo relacionado ao ambiente religioso”, lembra. A decisão de sair da igreja não foi tão difícil, uma vez que surgiu a partir de convicções pessoais. “Na verdade, a escolha de não mais frequentar uma igreja, que tomei há uns dez anos, ocorreu após uma ampliação da compreensão do termo congregar. Pela simples leitura do Evangelho, entendi que isso, para Jesus, não é apenas ir à igreja”. Na opinião do advogado, qualquer lugar – “Seja o bar da esquina, o prédio do Fórum em que trabalho ou a praia onde surfo” – é propício à comunhão com Deus e junto àqueles que partilham da mesma fé. “O próprio Senhor afirmou que estaria presente quando dois ou três se reunissem em seu nome”, cita.

    Quanto às advertências que ouviu, na época, ele se sente tranquilo. “Essa história de que brasa fora do braseiro se apaga e que eu ficaria sem cobertura espiritual longe da igreja perdem sentido, diante da consciência de quem eu sou e de quem Jesus é para mim”, afirma Zagaglia. Ele faz questão de dizer que não tem nada contra a postura daqueles que acham fundamental congregar em uma igreja, no sentido convencional do termo; apenas, não sente mais necessidade disso. “Observo todas as práticas ditas como disciplinas espirituais muito mais agora do que antes – e creio que a razão disso não está em pertencer a uma igreja ou não, mas sim, em uma mudança de entendimento acerca dos significados de tais práticas pela leitura do Evangelho, que faço, por puro prazer, todos os dias.”

    O advogado Hélio é parte de um contingente de, pelo menos, 9,2 milhões de evangélicos brasileiros que não mantêm mais vínculos com nenhuma igreja. Os números, aferidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) referem-se ao Censo 2010 e está desatualizados –ainda assim, já representam quase 20% do total de evangélicos do país. A particularidade que chama a atenção dos estudiosos e líderes, além do gigantismo da cifra, é a mudança de perspectiva. Antes, o crente que saía da igreja era o chamado “desviado”, visto como alguém que cedera aos apelos do mundo, quase um apóstata. Agora, não: há cada vez mais pessoas que, como Zagaglia, não querem mais fazer parte dos róis de membros das organizações eclesiásticas porque não acham mais necessário, mas garantem continuar crendo na Bíblia e observando as condutas consideradas adequadas a um cristão. É gente que, simplesmente, não tem mais interesse em congregar – a creem que estão muito bem assim.

    “Apesar de eu não participar mais das atividades religiosas, nem concordar com maioria das doutrinas da igreja, não me considero afastado da minha relação com o divino. Não perdi minha fé”, afirma o designer industrial David Oliveira Silveira Junior, de 32 anos. Ele deixou para trás 25 anos de vivência na igreja onde fora nascido e criado e se pergunta por que precisaria continuar ali, observando liturgias e comportamentos que “não faziam mais sentido”. David explica que esse processo nunca foi premeditado. “Sendo filho de um pastor, eu só me percebi à vontade para sair quando senti que essa saída era justamente a vontade de Deus, por mais contraditório que isso parecesse.”

    Ele e muita gente não veem qualquer contradição entre jogar para escanteio uma das práticas basilares da fé reformada – a inclusão no corpo de Cristo através de sua expressão mais visível na terra, que é a Igreja – e seguir o caminho do Evangelho de forma independente. “Hoje, sinto-me mais próximo e conectado com a natureza da minha espiritualidade. Muito menos santo, muito mais humano”, completa. “Parte dos evangélicos têm adotado o Believing without belonging (“Crer sem pertencer”), expressão cunhada pela socióloga britânica Grace Davie sobre o esvaziamento das igrejas ao mesmo tempo em que se mantêm as crenças religiosas na Europa Ocidental”, destaca o doutor em Sociologia Ricardo Mariano, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Para ele, o aumento do número de protestantes e pentecostais que se dizem sem vínculo institucional é resultado tanto do individualismo como da “busca por autonomia diante de igrejas que defendem valores extemporâneos e exigem elevados custos de seus filiados.”

    “IGREJA CANSA”

    Os motivos podem ser os mais variados (problemas de relacionamento, desgaste com modelos eclesiásticos engessados e líderes autoritários, cansaço com o chamado ativismo religioso etc). Há, também, demandas mais sutis. “Noto que o comportamento dos cristãos, em particular o dos evangélicos, tem mudado bastante a esse respeito”, diz o psicólogo Antônio Carlos Volpi, que atende como voluntário na Associação Batista Beneficente e Missionária do Ceará. A prioridade, ali, são os atendimentos voltados à ação social, mas ele conta que também conversa com muitos crentes que lhe contam porque desistiram de frequentar igrejas. “Quase todos falam de um esgotamento de expectativas, um ‘fim de linha’ sem um motivo específico. Quando desenvolvemos o diálogo, percebemos que são pessoas que não têm mais objetivos na vida cristã comunitária – e, diante das novas abordagens mais individualistas da fé, não se constrangem em seguir esse caminho espiritual independente”. Desse modo, continua Volpi, a figura de um pastor, ou líder, perde sua importância. “Eles dizem que podem buscar a Deus sem intermediários ou aparatos litúrgicos. É difícil refutar um argumento desses”, reconhece.

    Mas, se o termo “igreja” deriva do grego ekklesia, que pode ser traduzido como “ajuntamento de pessoas”, “assembleia” ou, ainda, “chamados para fora”, fica difícil concordar com aqueles que defendem que a verdadeira Igreja de Cristo está dentro de cada um de nós, como diz a gerente de vendas Ágatha Nascimento. Ela é uma das várias pessoas ouvidas pela reportagem acerca da necessidade, ou não, de o cristão fazer parte de uma igreja. Depois de se converter na Igreja do Nazareno do Castelão, em Fortaleza (CE), há 12 anos, ela passou por outras denominações. Agora, segue o Evangelho sem carteirinha de membro, mas com o que declara uma fé “inabalável” em Jesus. “Posso fechar a porta do meu quarto e falar direto com o Pai”, argumenta, citando uma célebre passagem bíblica onde Jesus destaca o poder da oração. “Posso cantar louvores e meditar na Palavra em casa, com minha família. Sinceramente, não me sinto obrigada por Deus a fazer parte de uma congregação. Sinceramente, tenho uma fé mais forte do que muita gente que está lá.”

    Em que pese a declaração Extra ecclesiam nulla salus (“Fora da Igreja, não há salvação”), de Cipriano de Cartago, por volta do ano 250 da Era Cristã, as reuniões em templos só começaram a surgir a partir da conversão do imperador romano Constantino, no século 4, quase 300 anos depois que o Cristianismo surgiu. Até então, era nas casas, no campo e até nas catacumbas que os seguidores de Jesus se reuniam em seu nome – isso, quando podiam se encontrar, tal era a perseguição que sofriam. No mais das vezes, a fé era vivida e praticada individualmente ou, no máximo, no seio familiar. E, se a verdadeira adoração – aquela, “em espírito e em verdade” – pode ser feita em qualquer lugar, conforme afirmou o Filho de Deus, a experiência transcendental da fé prescinde do ajuntamento de fiéis. Isso, contudo, não anula a essencialidade da igreja, muito pelo contrário, no entender do pastor, missionário e escritor Sandro Baggio. Ele é um dos coordenadores do Projeto 242, uma igreja de perfil informal e alternativo em São Paulo, com marcada vocação para as manifestações artísticas e a atuação comunitária. “Esse cansaço com a igreja é verdadeiro. A igreja, muitas vezes, cansa, mesmo!”, admite.

    Para ele, o excesso de programações, cultos, treinamentos e atividades, além da expectativa de que todos estejam engajados em tudo, o tempo todo, como demonstração de seu compromisso com a visão da igreja e seu vigor espiritual, cedo ou tarde leva ao esgotamento espiritual. “O que mudou foi que muitos, uma vez cansados com sua experiência de pertencimento a uma igreja local, passaram a interpretar que a fé cristã pode ser vivida solo. Isso é um tremendo equivoco, quando comparado ao ensino bíblico. Não há, em local algum das Escrituras, um projeto de espiritualidade que não esteja engajado com uma comunidade de fé. O cristão sem igreja é fruto do individualismo da cultura ocidental.”

    Em suas apurações e entrevistas para elaboração do livro Feridos em nome de Deus (Editora Mundo Cristão), a jornalista Marília de Camargo Cesar encontrou gente que abandonou os bancos da igreja depois de serem exploradas, manipuladas e desrespeitadas por líderes inescrupulosos ou teologias equivocadas. “Porém”, avalia, “muitos que não sofreram com tais experiências saem porque acreditam poder cultivar uma comunhão individual com Cristo, sem necessidade de participar de cultos e celebrações formais”. Marília, que é evangélica, reconhece que pode parecer muito confortável buscar a Deus na solitude. “Ali, somos só nós e Deus, sem conflitos indesejáveis com terceiros.”

    Mas, são justamente esses conflitos e a necessidade de se compartilhar realidades distintas e dividir os fardos, orando e lutando uns pela fé dos outros, que leva o crente ao que Paulo chamou de “desenvolvimento” da salvação, ela diz. “Muitos dos que saem das igrejas passam a se reunir em pequenos grupos, onde a Palavra é ensinada e uns oram pelos outros. É uma alternativa bastante saudável e, eu diria, quase a mesma coisa que frequentar uma igreja”. A autora, porém, entende que participar de uma igreja ou pequeno grupo é essencial para a caminhada do cristão. “É somente nesse ambiente de contato com pessoas diferentes que nós podemos ser lapidados, amadurecer e crescer no conhecimento da Palavra do Senhor.”

    RELAÇÃO FRÁGIL

    O cientista social Ricardo Bitun, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, de São Paulo, lembra que no protestantismo, historicamente, o pertencimento a uma igreja sempre foi algo básico e muito valorizado. A confissão denominacional fazia parte da consciência cristã do indivíduo, estando ligada à sua identidade espiritual. “O caminho do exercício de uma fé solitária, ou a busca por um algo novo espiritual que o indivíduo não encontra mais na igreja, é tentador e encontra eco em nossa cultura moderna”, opina Bitun, que também é pastor da Igreja Evangélica Manaim, em São Paulo. Porém, esse novo jeito de ser Igreja, não necessariamente através de vínculos de pertencimento, envolve certos perigos, conforme alerta. “Se pensarmos na igreja apenas como o local físico onde nos reunimos, cantamos, temos relacionamentos pessoais e ouvimos pregações, domingo a domingo, mais cedo ou mais tarde nos decepcionaremos com sua rotina”.

    “A Igreja, embora não nos salve, é capaz de nos proporcionar os meios da graça. Quem se agrega ao noivo, que é Cristo, não pode deixar de achegar-se à sua noiva, a Igreja”, defende o pastor e escritor Claudionor de Andrade, consultor teológico da Casa Publicadora das Assembleias de Deus. No Credo dos Apóstolos, ressalta, há um trecho que chama a atenção de todos quantos o leem: “Creio na comunhão dos santos”. Claudionor destaca, ainda, a passagem de Atos 2, segundo a qual os primeiros cristãos estavam sempre juntos e perseveravam, unânimes, no templo, e um dos textos mais citados quando se questiona o valor da igreja: “Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações, e tanto mais quanto vedes que o dia se aproxima” (Hebreus 10.25).

    “Não creio, sinceramente, que os crentes que escolhem sair da igreja estão abandonando o Senhor”, reconhece o presbítero André Luis Garcia Sanchez. “O que percebo é que o tempo e a solidão promovem certo esfriamento da fé, das práticas espirituais, do serviço ao Senhor e ao próximo. Essas brechas fazem com que muitos que tentam viver uma fé longe do corpo de Cristo sofram e até abandonem o Evangelho, em algum momento”. Autor do blog Esboçando ideias e de estudos bíblicos que veicula pela internet, além de professor da Escola Bíblica Dominical em sua congregação, a Igreja Presbiteriana Bela Jerusalém, em Ribeirão Preto (SP), Sanchez tem contato com muitas pessoas – inclusive, aquelas que tentam substituir a comunhão na igreja por assistir cultos online, fazer ação social ou manter contatos eventuais com outros crentes, em ambientes extra-eclesiásticos. “Nossa experiência tem mostrado certa fragilidade nesse tipo de ação.”

    Em seu livro Gente cansada de igreja (Hagnos), o doutor em História e pastor batista Israel Belo de Azevedo aborda a falta de compromisso, um dos traços da pós-modernidade, como um dos motivos que leva o cristão a deixar sua igreja. “Isso tem a ver com a crise de modelos que vivemos. Uma das marcas do nosso tempo, afinal de contas, é a ausência de compromisso”. Desde 1999, ele pastoreia a Igreja Batista Itacuruçá, uma congregação de classe média no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro. Vez por outra, é procurado por alguém que demonstra o interesse em sair da comunidade. “Ouço justificativas as mais diversas, desde a busca por novas experiências pessoais, expectativas não atendidas e até dificuldade de adequação a determinadas categorias, além de certo desânimo”, enumera. “Penso que cabe a cada um fazer sua própria avaliação e nem sempre colocar a responsabilidade pelo afastamento nos outros”. Israel Belo enfatiza que a Igreja, mesmo essa que temos visto no século 21, é o meio que Deus escolheu para fazer conhecidas sua multiforme sabedoria e sua vontade ao mundo. “Ela tem uma tarefa, e é preciso que fique atenta ao exercício dessa tarefa. Somente assim, a Igreja vai manter sua razão de ser perante os que estão fora – e, também, para os que estão dentro dela.”

    “Eu já fui uma dessas pessoas cansadas de ir à igreja”, testemunha o técnico em mecânica automotiva Joberson Lopes, de 38 anos. Criado na Assembleia de Deus em Brasília, ele começou a se perguntar, por volta dos vinte anos de idade, se valia à pena continuar ali. A imagem pregada lá, de um Deus mau e dominador, além de uma série de “baboseiras religiosas”, como o rigor excessivo em usos e costumes, tirou seu foco. “Preferi ficar em casa ate achar um lugar coerente com minhas convicções”. O tempo e o amadurecimento se encarregaram de mudar sua ótica. “Por eu ter passado por esse caminho, posso dizer que precisamos entender o que é ser Igreja e perceber as diferenças entre ela e a institucionalização religiosa.”

    Hoje vivendo na Califórnia (EUA), ele trabalha junto a adolescentes mexicanos pela agência Jovens com Uma Missão (Jocum), depois de ter passado por várias cidades brasileiras e feito missões até na Tanzânia. Joberson, a mulher e os dois filhos frequentam agora a Free Evangelical Church, na cidade de Hamilton. “Muitas pessoas deixam de ir à igreja com motivos coerentes, mas optam pela solução errada”, pontua. “Prezo liberdade e admiro o livre arbítrio, e creio que há pessoas que podem ter plena fé e comunhão com o Senhor sem a necessidade de participar, toda semana, de cultos na igreja. Eu já vivi um tempo assim. O perigo disso é quando somos enganados por nós mesmos, sem percebermos que não conseguimos, sozinhos, manter a disciplina de procurar o Jesus que amamos. Assim, vamos nos afastando, lentamente, de uma comunhão saudável e proveitosa com Deus.

    Entrevista com Faustino Teixeira

    Para o doutor em Teologia e professor no Programa de Pós-graduação em Ciência da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora (MG) Faustino Teixeira, a contestação aos modelos convencionais de Igreja é um fenômeno global. Para ele, a multiplicação e diversificação das instituições acarreta, em última análise, mudanças perceptíveis na noção de pertença religiosa – inclusive, a decisão do fiel de não permanecer ligado a uma igreja. “É possível, e viável, que uma vida espiritual madura e autêntica possa ser vivida igualmente em caminhos alternativos”, aponta. O intelectual conversou com CRISTIANISMO HOJE:

    CRISTIANISMO HOJE – Na sua opinião, quais os motivos pelos quais tantos evangélicos, atualmente, se afastam da Igreja, optando por viver a própria fé de maneira individual?

    FAUSTINO TEIXEIRA – Esta questão da crise das instituições religiosas não é um traço particular brasileiro. O que se verifica é algo singular: uma multiplicação e diversificação das instituições portadoras de sentido e, ao mesmo tempo, uma menor fidelidade a elas. São mudanças bem perceptíveis no campo das filiações tradicionais. De fato, há um cansaço crescente com respeito às instituições tradicionais, uma certa “desafeição” com respeito aos caminhos mais oficiais. Os “evangélicos não determinados” já representam hoje, no Brasil, um percentual de 21,8% do contingente evangélico, algo em torno de 5% de toda a população brasileira. São evangélicos que não se enquadram nos canais tradicionais, sendo chamados por alguns de “evangélicos genéricos”, ou “evangélicos sem igreja”. É algo que indica uma diversificação na própria pertença evangélica.

    A recente e crescente contestação aos chamados modelos convencionais de igreja tem adquirido contornos de pós-modernidade, mas pode-se dizer que é fenômeno essencialmente contemporâneo?

    As religiões continuam marcando sua presença, não tenho dúvida sobre isso, mas agora de forma distinta, com metamorfoses bem evidentes. E, ao lado das religiões, vemos o crescimento de espiritualidades laicais, que não se encaixam no tradicional perfil religioso. A sede de espiritualidade é, talvez, um dos fenômenos mais característicos de nosso tempo. Ela traduz uma resistência viva aos caminhos da modernidade, pontuada pelo anonimato, pela aceleração impressionante, acompanhada de individualização e burocratização. O avanço da modernidade não produziu um recuo da religião, mas uma outra forma de exercício da dinâmica religiosa. As religiões permanecem, bem como as espiritualidades – em estado crescente –, transformando-se sob o impacto da individualização e da globalização. Como lembrou o historiador francês Frédéric Lenoir, a busca pelas respostas a um mundo de incertezas permaece acesa, mas não mais como no passado, “no seio de uma tradição imutável ou mediante um dispositivo institucional normativo”.

    Os cristãos que, simplesmente, optaram por seguir sua caminhada de fé longe da igreja se perguntam para quê precisam dela. A seu ver, ela não é mais necessária nesse contexto atual?

    No meu modo de ver, a saída essencial está na busca de uma nova espiritualidade, que saiba conjugar com sabedoria o humus profético e a vida espiritual. Não creio, sinceramente, que o único caminho seja o da vinculação institucional. É possível, e viável, que uma vida espiritual madura e autêntica possa ser vivida igualmente em caminhos alternativos. A vida espiritual é essencial, e que possa ser vivida de maneira cada vez mais holística, integrando o ser humano nessa linda cadeia da vida, em todas as suas formas. Mais importante que a declaração de crença ou ou exercício de exclusividade na pertença religiosa é a disposição dialogal e a capacidade de acolhida do mundo da alteridade.

    Crer sem pertencer

    São muitos os motivos alegados por aqueles que já não veem na igreja nenhuma essencialidade à sua vida espiritual. Por outro lado, quem não abre mão da frequência regular aos cultos e atividades eclesiásticas faz questão de ressaltar a importância disso para a saúde da fé. CRISTIANISMO HOJE conversou com algumas pessoas sobre o assunto:

    “Um dos motivos pelos quais optei pela caminhada cristã fora da igreja foi o alto custo financeiro imposto aos membros das comunidades cristãs. A liderança, neste quesito, não admite discutir o assunto. As regras mudaram: ao invés da fé genuína, o que se exige é uma filiação quase clubista. A instituição não pode tomar o lugar da Igreja, corpo místico de Cristo, nem sufocá-la. Hoje, fora da igreja, posso dizer que vivo minha fé de forma tão intensa quanto na época em que congregava. Minha vida espiritual ficou menos mística e mais racional, mas igualmente verdadeira e sincera”

    Edina Cabral, 56 anos, comerciante, que durante mais de 25 anos foi membro de uma igreja evangélica do Rio de Janeiro

    “Não entendo como um crente em Jesus pode escolher o caminho solitário, longe da comunhão dos santos. É claro que as igrejas têm problemas, mas as pessoas que alegam isso não se afastam de suas famílias ou locais de trabalho – os quais, certamente, também têm muitos problemas. Para mim, quem age assim não quer admitir que precisa voltar à prática do primeiro amor, que sempre acontece dentro de uma igreja”

    Ricardo Augusto Morais, 28 anos, técnico em informática em membro da Igreja Metodista Wesleyana

    “A instituição religiosa não é a Igreja, nem ao menos a representa. O corpo de Cristo se compreende não pelo conjunto, mas pelo que está entre cada indivíduo. Exerci o cargo de pastor batista durante 16 anos. Hoje, vivo a ideia de servir ao Salvador e me conecto a ele pela semeadura do Evangelho durante a caminhada da vida, com os pés no chão e longe das manifestações humanas centralizadas ou descentralizadas. Mantenho comunhão com irmãos que também são Igreja, pois faço separação entre esta e a instituição. Sigo a simplicidade do mesmo caminho que foi sugerido por Cristo, na via de Emaús”

    João Ruth, 48 anos, é jornalista, apresentador de TV e mora em Cotia (SP)

    “Respeito a experiência com Cristo de cada um, já que a conversão é um fenômeno que deve ser vivido individualmente. Posso falar por mim – e, na minha opinião, é impossível viver uma vida cristã, em sua plenitude, longe da igreja e dos irmãos na fé. Conheço muitas pessoas que entraram por esse caminho e depois voltaram machucadas ou com a fé muito abalada. Sinceramente, não aconselho isso a ninguém. Se nenhuma igreja nos serve, o problema está em nós mesmos”

    Washington Luiz C. Junior tem 32 anos e é membro da Igreja Apostólica Renascer em Cristo, em São Paulo, desde a adolescência

    “Quando a pessoa começa a se sentir autossuficiente em sua fé, passa a criticar tudo. A igreja e os seus membros já não servem mais, pois se sentem em um ‘outro patamar’ espiritual. A igreja tem seus problemas, mas é através dela que chegamos ao conhecimento do Evangelho. Ela nos fortalece na fé e nos estimula a seguir nos caminhos de Deus”

    Maria Luiza Freitas Xavier, professora, crente da Assembleia de Deus em Porto Alegre (RS)

    “Eu nunca saí da igreja, mas passei por longo período de crise dentro dela. Precisei encontrar um novo jeito de viver a igreja. Além disso, entendi que as piores coisas do mundo, assim como as melhores, podem ser encontradas nela. Só que eu também descobri que as coisas mais belas do ponto de vista existencial – mudanças radicais de vida, para melhor – acontecem com maior intensidade na igreja. Por isso, ela recuperou, na minha cabeça, seu lugar de agência de transformação no mundo”

    Marson Guedes é psicólogo e membro da Igreja Batista da Água Branca, em São Paulo

    “Sou cristã e não preciso ir à igreja para continuar seguindo a Cristo. Antes, não pensava assim; só que, a certa altura, tudo aquilo – a estrutura toda, as cobranças financeiras, a pressão por um envolvimento que eu já não queria mais – perdeu o sentido. Quando parei de frequentar os cultos, muitos dos chamados irmãos da fé, que eu tinha como amigos, cortaram relações comigo, como se eu pudesse lhes transmitir algo contagioso. Não sou mais membro de nenhuma igreja, embora, de vez em quando, visite algumas. Jesus continua sendo o Senhor de minha vida. Não sei se, um dia, voltarei a ser membro de uma igreja, mas hoje eu e minha família não sentimos a menor falta disso”

    Sônia Rafaella Tourinho da Rocha, 33 anos, é autônoma e foi membro da Igreja Pentecostal da Rocha Eterna, em Campos (RJ), de onde saiu depois de exercer o cargo de evangelista e diaconisa

    “No meu ponto de vista, ficar em casa não torna ninguém afastado da fé, mas é perigoso porque a pessoa pode acabar criando um evangelho próprio. Considero importante frequentar a igreja não só pelo fato da manutenção da fé como, também, pelo convívio com um conjunto de pessoas diferentes. Assim, temos de nos adaptar uns aos outros e, juntos, aprender a seguir a Cristo, apesar de nossas diferenças”

    Natan Chagas, 28 anos, é auxiliar operacional e membro da Igreja Missionária Evangélica Filadélfia, com sede em Curitiba (PR)

    “Não frequento mais uma igreja evangélica. O que vivi e aprendi nela constituiu uma base sólida para minha fé. E só. Agora, estou em busca de uma relação com Deus livre de formalidades, regras, aparatos estereotipados. Cansei de me dedicar e sustentar sistemas que, muitas vezes, só servem a interesses e vaidades pessoais. Quem disse que ministério de louvor, departamentos disso e daquilo e pastores são indispensáveis? Quem disse que os melhores relacionamentos pessoais acontecem dentro da igreja? Sei que há milhões de pessoas boas e sinceras dentro das igrejas. Mas o meu Jesus, aquele que me salvou, está acima disso tudo”

    Alexandre Faria de Araújo foi membro da Igreja Ministério Apascentar de Nova Iguaçu (RJ)

    Porta de saída

    – 87% dos brasileiros se declaram cristãos

    – 22,2% (cerca de 45 milhões de pessoas) da população brasileira são evangélicos

    – 9,2 milhões deles se dizem “sem vínculo denominacional”

    Fonte: IBGE

    http://cristianismohoje.com.br/materias/especial/igreja-para-que

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  3. rfbarbosa1963 disse:

    Resolvi acrescentar o texto “Os perigos que confrontam a Igreja Evangélica” de Tozer, apesar de ser longo, porém complementa “Porta de saída”. Vale a pena ler e meditar.

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