Nosso protesto contra o quebrantamento

      Hoje em dia, muitas pessoas acreditam que podem fugir de Deus, resistir ao seu chamado, e viver por conta própria. Acreditam que podem pecar e escapar da punição de Deus. Estão errados. Um preço deve ser pago por se rebelarem contra Deus.

       Rebeldia não é algo exclusivo daqueles que participam de marchas de protesto, dos que estão envolvidos com o terrorismo ou fugindo de casa. Cada um de nós possui um pouco de rebeldia dentro de si, que se manifesta de formas diferentes. Algumas vezes não desejamos ceder, outras não aceitamos recuar ou não queremos ter nossas vontades quebradas por Deus. Essa pontinha de rebeldia em nós se ressente e resiste a Deus.

       O profeta Jonas se recusou a ser quebrantado ou a se render à vontade dele.

       Quando Deus chamou Jonas para ir à cidade de Nínive, e alertar as pessoas sobre a sua iniquidade, ele foi para Jope e embarcou em um navio para Társis, uma cidade a cerca de três mil e duzentos quilômetros na direção oposta (Jonas 1:1-3).

       Jonas não quis fazer o que Deus queria, e tentou fugir e se esconder. Essa tática não funcionou para Jonas. E também não funciona para nós. 

Como podemos fugir de Deus?

       Pare um pouco e considere a futilidade de tentar fugir de Deus. Como você vai fugir quando tudo que existe – tudo que está vivo, todos os lugares, não somente neste globo mas em todo o Universo – sempre está perpetuamente na presença de Deus? Somente alguém que está tentando se enganar pode pensar que consegue fugir de Deus ou se esconder de sua presença.  Fugir de Deus é como tentar fugir de seu próprio coração. Você não pode se separar dele e permanecer vivo.

       Quando Deus começa a nos segurar mais firmemente – mostrando determinadas situações, circunstâncias e ministérios – frequentemente tentamos escapar. Somos iguais a Jonas. Podemos não estar sendo chamados para ir à Nínive, mas em quase todos os casos de quebrantamento, inicialmente procuramos resistir a ser e fazer o que Deus deseja que sejamos e façamos. Sempre procuramos formas de escapar.

       Vou situar-nos na história de Jonas. Nínive era uma grande cidade localizada a cerca 800 quilômetros a nordeste de Jerusalém. Era a capital do império assírio, conhecida por sua beleza, grandeza, majestade e poder. Os ninivitas eram habilidosos guerreiros conhecidos por suas atrocidades e torturas. No tempo de Jonas, os Assírios conquistavam as pequenas nações que estavam a seu redor; era apenas uma questão de tempo que Israel fosse atacado. Jonas sabia disso, e se viu em situação muito desconfortável quando Deus o chamou para ir a tal lugar pregar a punição de Deus a pessoas tão perigosas.

       Na essência, Deus estava pedindo a Jonas para ir até os seus inimigos e pregar o arrependimento. Jonas queria ver os ninivitas punidos, não salvos (Jonas 4:1_3). Ele preferiria morrer a ver seus inimigos arrependidos de seus maus caminhos e perdoados por Deus! Jonas era tão hostil e bravo com os assírios que desejou desobedecer a Deus e morrer em sua desobediência. Ele foi para Jope e comprou uma passagem para Társis, uma cidade que acredita-se estar localizada onde atualmente é a Espanha.

       Alguma vez Deus requereu algo e você respondeu: “Senhor, faço mais tarde, mas não agora”? Algumas vezes nossa rebeldia parece dizer: “Senhor, eu sei o que está dizendo para eu fazer, mas acho que encontrei uma forma melhor de realizar isso”. A não ser que estejamos dispostos a escolher obedecer a Deus explícita e imediatamente, estamos em rebelião.

Nossa rebeldia tem como consequência resposta imediata

       Deus responde imediatamente a nossos atos de rebeldia. Ele manda tempestades em nossas vidas, assim como fez com Jonas. Pouco depois que ele embarcou no navio e começou a sua viagem para Társis, uma violenta tempestade se formou e o barco estava prestes a afundar. A tripulação começou a atirar coisas para fora do navio, numa tentativa de aliviar o peso e conseguir escapar da tempestade. Jonas estava dormindo no interior do navio. Ele se estava se empenhando ao máximo para não somente fugir de Deus, mas também para ignorá-lo.

       O capitão finalmente foi até Jonas e o acordou, dizendo: “Como você pode estar dormindo? Acorde e clame ao seu Deus! Talvez ele nos veja e não morramos”. Não existe registro de que Jonas tenha ao menos sussurrado a Deus. A tempestade continuava a aumentar.

       Quando nos rebelamos contra Deus, alguns podem vir até nós e questionar o que estamos fazendo. Se isso acontece em sua vida, ouça aqueles que estão querendo avisá-lo do perigo em que se encontra!

       Recentemente ouvi a história de um homem que começou a namorar uma mulher logo após a morte de sua esposa. Essa mulher tinha dois filhos fora do casamento e havia se casado e divorciado duas vezes. Sua reputação não era boa. Quanto mais aquele homem se aprofundava nessa relação, mas seus amigos e parentes diziam: “Ela não é a mulher certa para você”. Ele ignorou todos os avisos.

       Um dia, a mulher insistiu para que ele passasse a escritura de sua casa em seu nome, como prova de amor. Quando ele se recusou, ela começou a gritar e bater nele. Tentando se defender, segurou firmemente os braços dela, o que provocou alguns hematomas. Ela chamou a polícia e ele foi preso por agressão.

       Isso fez com que ele recobrasse os sentidos. Ele admitiu posteriormente: “Eu estava em completa rebelião contra Deus”. Ele tinha me dito para não me envolver com essa mulher, mas eu estava com raiva dele por causa da morte de minha esposa, meu amor de infância com quem eu fora casado por mais de trinta felizes anos. Ignorei o conselho de meus amigos. Agora estou pagando o preço.

       Felizmente, ele se arrependeu de sua rebeldia antes que qualquer estrago permanente tivesse acontecido, tanto com ele quanto com seus filhos.

       A situação de Jonas não se resolveu tão bem. Os marinheiros finalmente concluíram que aquela tempestade deveria ser uma punição a alguém a bordo. Eles tiraram a sorte para ser quem tinha trazido a tempestade. Colocaram pedras dentro de um saco – uma preta e outras brancas. Cada pessoa tiraria uma; quem pegasse a preta seria considerado culpado. Obviamente, quem retirou a pedra preta foi Jonas. Os marinheiros perguntaram: “Quem é você?”.

       Jonas respondeu: “Sou um hebreu e adoro ao Senhor, o Deus dos céus, que fez o mar e a terra”.

       “O que devemos fazer com você para que o mar se acalme?”

       Jonas respondeu: “Peguem-me e joguem-me no mar, e ele se acalmará. Sei que é por minha culpa que essa tempestade atinge vocês” (veja Jonas 1:8_12). Mesmo encarando águas violentas e ventos poderosos, Jonas ainda estava resoluto: preferia morrer a pregar a mensagem de arrependimento aos seus inimigos.

       Os marinheiros se mostraram relutantes em fazer o que Jonas disse. Eles estavam fazendo tudo para voltar à terra, mas o mar estava ficando ainda mais violento. Finalmente, clamaram ao Senhor, pedindo que Ele não os castigasse, e jogaram Jonas ao mar. Esperando no mar agitado, estava um grande peixe que, segundo a Bíblia, Deus providenciara. Não sei que tipo de peixe era – pode muito bem ter sido uma baleia, já que existem baleias grandes o suficiente para engolir pequenos carros. O fato é que Deus proveu o grande peixe para engolir Jonas. Ele permitiu que ele sobrevivesse dentro daquele peixe. Por mais que tentasse, não conseguia morrer. Deus tinha um propósito que ainda não havia sido completado. Ele estava em um processo para quebrantá-lo, não mata-lo. Deus não queria Jonas morto mas vivo e pregando em Nínive!

       Ao fim de três dias e três e três noites dentro do peixe, Jonas orou ao Senhor. Fez uma oração de um homem que estava rendendo-se ao quebrantamento. Ele declarou a Deus que tinha um voto, que era o de ser profeta do Senhor, e faria o que Ele queria (Jonas 2:1_9).

       Jonas finalmente estava submetendo sua vontade totalmente a Deus. Ele se rendeu completamente. A Bíblia diz: “E o SENHOR deu ordens ao peixe, e ele vomitou Jonas em terra firme” (Jonas 2:10).

       Jonas foi para Nínive. Ele andou pela cidade durante três dias proclamando: “Mas quarenta dias e Nínive será destruída”.

       Jonas não espalhou as palavras de Deus com amor. Ele esta apenas sendo obediente. Tinha entregado sua vontade a Deus, mas não sua atitude. Falou com raiva, não com compaixão ou misericórdia. Estava disposto a fazer o que Deus tinha mandado fazer, mas dentro de seu coração não queria ver o povo convertido. Seu motivo estava errado, mesmo sabendo que suas palavras eram corretas.

       A vontade de Jonas estava quebrantada e submetida a Deus. Agora Deus agia sobre a atitude dele.

       Os ninivitas, para decepção de Jonas, receberam sua mensagem. Eles creram em Deus rapidamente – todos eles, do maior ao menor – e se vestiram de saco, como sinal de arrependimento. Até mesmo o rei de Nínive desceu de seu trono, tirou suas vestes reais, vestiu uma roupa de saco e sentou-se sobre o pó. Ele decretou que nenhuma pessoa deveria ser comer ou beber, mas se vestir de saco e clamar urgentemente a Deus. Ele disse: “Cubram-se de pano de saco, homens e animais. E todos clamem a Deus com todas as suas forças. Deixem os maus caminhos e a violência. Talvez Deus se arrependa e abandone a sua ira, e não sejamos destruídos” (Jonas 3:8,9).

       Deus estava usando os ninivitas como uma ferramenta para atuar na vida de Jonas, mas também estava utilizando Jonas nas vidas dos ninivitas. Entretanto, ao contrário de Jonas, os ninivitas responderam rapidamente ao processo de quebrantamento. Eles se arrependeram imediatamente. E a Bíblia diz: “Tendo em vista o que eles fizeram e como abandonaram os seus maus caminhos, Deus se arrependeu e não os destruiu como tinha anunciado” (Jonas 3:10).

       O quebrantamento dos ninivitas estava completo. O trabalho na vida de Jonas ainda não. Jonas ainda preferia morrer ao invés de viver sabendo que os ninivitas tinham se arrependido e haviam sido perdoados. Ele ainda permanecia com raiva de Deus e dos ninivitas. Deus lhe perguntou: “você tem direito de estar com raiva?”.

       Jonas não respondeu a pergunta. Ao invés disso, sentou-se em um lugar ao leste da cidade e esperou para ver o que acontecia. Numa tentativa de lidar com Jonas, o Senhor mais uma vez proveu uma lição – uma planta cresceu rapidamente para dar-lhe sombra. Mas na tarde do outro dia, uma lagarta atacou a planta até que ela secasse. Quando o sol nasceu, um vento oriental muito quente veio sobre Jonas e ele quase desmaiou. Ao invés de ficar agradecido a Deus pela planta, ou compreender a lição que envolvia a lagarta e o vento, Jonas ainda dizia: “Para mim seria melhor morrer do que viver”.

       Mais uma vez, Deus perguntou: “Você tem alguma razão por estar tão furioso por causa da planta?” Jonas respondeu: “Sim, tenho! E estou furioso a ponto de querer morrer”.

       Essa foi a última frase que Jonas disse a Deus, pelo menos que sabemos. A história termina com Deus dizendo: “Você tem pena dessa planta, embora não a tenha podado nem a tenha feito crescer. Ela nasceu numa noite e numa noite morreu. Contudo Nínive tem mais de cento e vinte e cinco mil pessoas que não sabem nem distinguir a mão direita da esquerda, além de muitos rebanhos. Não deveria eu ter pena dessa grande cidade?” (Jn 4:10,11).

       A Bíblia não dá resposta a Jonas. Não temos nenhuma indicação se Jonas teve algum ministério posterior. Aparentemente, Deus não poderia usar Jonas até que ele tivesse uma transformação em seu coração, assim como também submetesse sua vontade à vontade de Deus. E Jonas se recusava a fazer isso.

       Este tipo de atitude não se limita apenas a história de Jonas. Repete-se diariamente. Recentemente, ouvi a história de um homem que tinha recebido o chamado de Deus para a pregação. Ele tinha um excelente emprego em uma grande companhia, e decidiu que pregaria, mas ainda manteria seu emprego, pois seu salário era muito bom. Justificava a situação dizendo que poderia usar o dinheiro para se sustentar, e assim nenhuma igreja precisaria pagar um salário para ele.  Ele somente tinha se submetido parcialmente à vontade de Deus.

       Esse homem perdeu seu emprego e sua família. Sua vida inteira desmoronou ao seu redor. Finalmente, resolveu dizer: “Farei do seu modo Senhor”. Deus restaurou sua família. Ele se matriculou em um seminário quando tinha quarenta anos e ingressou no ministério. Agora tinha uma vida muito mais completa, mais do que imaginou que poderia ter, apesar de ganhar bem menos dinheiro. Sua esposa e filhos estão felizes e apoiam completamente seu ministério. De acordo com suas próprias palavras, pela primeira vez na vida sua vida tinha um significado.

A BÊNÇÃO DO QUEBRANTAMENTO

CHARLES STANLEY

EDITORA ATOS

 

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