BIOGRAFIA DOS PAIS APOSTÓLICOS DA IGREJA

O nome “pais apostólicos” tem sua origem na Igreja do Ocidente do século II. São chamados de “pais apostólicos” os homens que tiveram contato direto com os apóstolos ou, então, foram citados por alguns deles. Destacam-se entre os indivíduos que regularmente recebem esse título, Clemente de Roma, Inácio e Policarpo, principalmente este último, pois existem evidências precisas de que ele teve contato direto com os apóstolos. O termo foi empregado pela primeira vez em 1672 por J. B. Cotelier em sua obra de dois volumes Patres aevi apostolici.

Inicialmente o termo era aplicado a somente cinco obras: Epístola de Barnabé, Clemente de Roma, Inácio de Antioquia, Policarpo de Esmirna e o Pastor de Hermas. Posteriormente, Papias de Hierápolis e a Epístola a Diogneto foram incluídos. Recentemente foi incluída também a Didaquê.

Fica evidente que essa classificação não denota um grupo homogêneo de escritos. O Pastor de Hermas e a Epístola de Barnabé se assemelham na forma e conteúdo aos apócrifos do Novo Testamento. A Epístola a Diogneto, em função de seu propósito, pode ser colocada entre os escritos dos apologistas gregos. Enquanto que a Didaquê é um manual de regulamentações comunitárias, as cartas de Inácio refletem a solidariedade entre as Igrejas e corresponsabilidade do bispo local frente o cisma e as heresias. 1ª Clemente é uma intervenção da igreja de Roma nos problemas locais da igreja de Corinto.

O caráter dos Pais Apostólicos é pastoral, seu conteúdo e estilo estão mais relacionados aos escritos do Novo Testamento, especialmente as epístolas. Para Quasten “eles podem ser considerados como a conexão entre o tempo da revelação e o tempo da tradição, e como as mais importantes testemunhas da fé cristã” daquele período.

Seus autores viveram em partes diferentes do Império Romano como Ásia Menor, Síria e Roma, tendo escrito para suprirem necessidades específicas das igrejas em ocasiões especiais. O que é típico nesses escritos, Segundo Quasten, é seu caráter escatológico, apresentando a Segunda Vinda de Cristo como iminente. Por outro lado. A pessoa de Cristo recebe atenção especial lembrando-nos de sua relação íntima com os apóstolos. Eles não procuram ser uma exposição científica da doutrina cristã, ainda que seu relato cristológico seja uniforme e até mesmo apaixonado, como no caso de Inácio de Antioquia. Para eles Cristo é o Filho de Deus, preexistente, divino-humano e que participou da obra da criação do mundo.

Os Pais Apostólicos, portanto, marcam um período de transição e edificação da Igreja cristã.

1-Clemente de Roma (30-100)

Várias hipóteses já foram levantadas sobre Clemente para identificá-lo. Para alguns, ele pertencia à família real. Para outros, ele era colaborador do apóstolo Paulo. Outros ainda sugeriram que ele escreveu a carta aos Hebreus. Em verdade, as informações a respeito de Clemente de Roma vão desde lendárias a testemunhas fidedignas. Alguns pais, como Orígenes, Eusébio de Cesaréia, Jerônimo, Irineu de Lião, entre outros, aceitaram como verdadeira a identificação de Clemente de Roma como colaborador do apóstolo Paulo.

A principal obra de Clemente de Roma é uma carta redigida em grego, endereçada aos crentes da cidade de Corinto, mais ou menos no final do reinado de Domiciano (81-96) ou no começo do reino de Nerva (96-98). A epístola trata, principalmente, da ordem e da paz na Igreja. Seu conteúdo traz à tona o fato de os crentes formarem um corpo em Cristo, logo deve reinar nesse corpo a unidade, e não a desordem, pois Deus deseja a ordem em suas alianças. Traz, ainda, a analogia da adoração ordeira do Antigo Israel e do princípio apostólico de apontar uma continuidade de homens de boa reputação.

2-Inácio de Antioquia (??-117)

Mesmo sendo de Antioquia, seu nome, Ignacius, deriva-se do latim: igne: “fogo”, e natus: “nascido”.

Conforme seu nome sugere, Inácio era um homem nascido do fogo, ardente, apaixonado por Cristo. Segundo Eusébio, após a morte de Evódio, que teria sido o primeiro bispo de Antioquia, Inácio fora nomeado o segundo bispo dessa influente cidade.

Inácio escreveu algumas epístolas às comunidades cristãs asiáticas: à igreja de Éfeso, às igrejas de Magnésia, situada no Meander, à igreja de Trales, às igrejas de Filadélfia e Esmirna e, por fim, à igreja de Roma. O objetivo da carta a Roma era solicitar que os irmãos não impedissem seu martírio, o que aconteceria durante o reinado de Trajano (98-117).

Antioquia

Foi fundada por volta do ano 300 a.C., por Seleuco Nicátor, com o nome de Antiokkeia, (cidade de Antíoco). Tornou-se capital do império selêucida e grande centro do Oriente helenístico. Conquistada pelos romanos por volta do ano 64 a.C., conservou seu estatuto de cidade livre e foi a terceira cidade do Império depois de Roma e Alexandria (no Egito), chegando a abrigar 500 mil habitantes. Evangelizada pelos apóstolos Pedro, Paulo e Barnabé, tornou-se metrópole religiosa, sede de um patriarcado e centro de numerosas controvérsias, entre elas, o arianismo, o monofisismo, o nestorianismo. Era considerada a igreja-mãe do Oriente.

3-Policarpo (69-159)

Sobre sua infância, família e formação, não temos informações precisas, contudo há documentos históricos sobre ele. Graças a alguns testemunhos fidedignos, podemos reconstruir sua personalidade. Foi discípulo do apóstolo João, amigo e mestre de Irineu, tendo ainda conhecido Inácio, sendo consagrado bispo da igreja de Esmirna. Quanto aos seus escritos, o único que restou desse antigo pai da igreja foi a sua epístola aos filipenses, exortando-os a uma vida virtuosa de boas obras e a permanecerem firmes na fé em nosso Senhor Jesus Cristo. Seu estilo é informal, com muitas citações do Velho e do Novo Testamentos.

Faz, ainda, 34 citações do apóstolo Paulo, evidenciando que conhecia bem a carta desse apóstolo aos filipenses, entre outras epístolas de Paulo. Há, também, os depoimentos de Eusébio e Irineu, relatando a intimidade de Policarpo com testemunhas oculares do evangelho. Segundo Tertuliano, Policarpo teria sido ordenado bispo pelas mãos do próprio apóstolo João.

O martírio de Policarpo

O martírio de Policarpo é descrito um ano depois de sua morte, em uma carta enviada pela Igreja de Esmirna à Igreja de Filomélio. Esse registro é o mais antigo martirológio cristão existente. Diz a história que o pro-cônsul romano, Antonino Pius, e as autoridades civis tentaram persuadi-lo a abandonar sua fé, quando já avançado em idade, para que pudesse ser livre.

Ele, entretanto, respondeu com autoridade: “Eu tenho servido a Cristo por 86 anos e ele nunca me fez nada de mal. Como posso blasfemar contra meu Rei que me salvou? Eu sou um crente!”.

4-Barnabé (Chipre, século I d.C.Salamina, c. 61 d.C.)

Barnabé (Chipre, século Id.C.Salamina, c.61 d.C.) foi um dos primeiros cristãos mencionados no Novo Testamento. Seus pais, judeus helênicos lhe deram o nome de José (em grego bizantino Ιὠσης), mas quando ele vendeu todos os seus bens e deu o dinheiro aos apóstolos em Jerusalém, eles lhe deram um novo nome, Barnabé, que parece originar-se do aramaico בר נביא, que significa “(o filho do) profeta”. No entanto, o texto grego do Atos dos Apóstolos 4:36 explica o nome como υἱός παρακλήσεως (hyios paraklēseōs), que significa “filho da exortação/consolação”.

Em Atos 14:14, ele está listado à frente de Paulo, “Barnabé e Paulo”, e ambos são chamados ἀπόστολοι , translit. apostoloi, apóstolos “. Se Barnabé foi um apóstolo ou não tornou-se uma questão política importante, que foi debatida na Idade Média. Ele está listado entre os Setenta Discípulos.

É considerado como santo e apóstolo, tanto pela Igreja Católica como pelas Igrejas Ortodoxas, sendo liturgicamente comemorado em 11 de Junho.

5-Papias de Hierápolis (70 a 140 d.C. )

Papias foi um escritor do primeiro terço do século II e um dos primeiros líderes da igreja cristã, canonizado como santo. Eusébio de Cesareia o chama de bispo de Hierápolis (atualmente Hierápolis-Pamukkale, Turquia), que fica a 22 km de Laodiceia e Colossos (ver Colossenses 4:13). Ireneu diz que ele foi companheiro de Policarpo, consequentemente discípulo do apóstolo João. Conforme a tradição ele foi martirizado junto com Policarpo (155 d.C.).

Suas Interpretações dos Provérbios do Senhor (a palavra “ditos” é logia) em cinco livros teria sido uma das principais autoridades no início da exegese das palavras de Jesus, alguns dos quais são registrados no Evangelho de Mateus e no Evangelho de Lucas. Entretanto, o livro não sobreviveu e só é conhecido através de fragmentos citados em escritores posteriores, como Ireneu em Contra as Heresias e mais tarde por Eusébio em História Eclesiástica, a primeira história de sobrevivência da Igreja primitiva. Homem curioso, Papias foi o primeiro a investigar as origens dos cristianismo.

Vida e obra

Segundo Ireneu, Papias teria deixado algumas informações a respeito de João, que o apóstolo continuou ensinando Cristo após a ressurreição e que Ele teria prometido um reino terrestre próspero, de paz e abundância. Pápias foi um entusiasmado milenarista e influenciou toda a sua geração acerca dessa doutrina.1 Eusébio de Cesareia, por ser contra a ênfase milenarista de Papias, tentou desfigurar de todos os modos a figura deste homem, questionando inclusive a sua capacidade intelectual.

Infelizmente a obra de Pápias sobreviveu apenas nas citações de Eusébio e Ireneu e desapareceu por volta de 1341 dos catálogos da Biblioteca de Estames, um mosteiro cisterciense. Ele foi um dos biografados por São Jerônimo em sua obra De Viris Illustribus (Sobre Homens Ilustres – capítulo 18).

 6-Hermas (Final do séc. I e iníc. do II)

MINISTÉRIO: Roma

ESCRITOS: O Pastor

FATOS MARCANTES:

  • Contemporâneo de Clemente.
  • Escreveu sobre visões e parábolas.
  • Talvez tenha sido escravo.
  • Provavelmente era judeu.

Autor de “O Pastor”, um livro escrito entre 88 e 97 d.C. em Patmos, perto de Éfeso. Padre da Igreja. Tal como o “Evangelho de Barnabé”, este seu livro defendia, a nível formal, isto é, de linguagem – numa altura em que o aparato terminológico à disposição dos primeiros escritores cristãos era ainda insuficiente para expressar condignamente o Deus revelado por e em Jesus Cristo – a Unidade Divina, defendendo que o cristianismo era indubitavelmente uma religião monoteísta.

Segundo parece, Hermas escreveu “O Pastor”, por volta da mesma ocasião em que João Evangelista estava a redigir seu evangelho, embora alguns historiadores defendam que este tenha sido escrito posteriormente. No entanto não há opiniões divergentes no que diz respeito ao fato de Hermas não ter conhecido nenhum dos quatro Evangelhos incluídos no Novo Testamento. Alguns acreditam que Hermas se inspirou no “Evangelho segundo os Hebreus”.

O Pastor” foi aceito e profusamente usado pelos seguidores iniciais de Jesus, que consideravam Hermas como um profeta. Perto do final do século II d.C. ele era mesmo aceito como parte do Novo Testamento por Clemente de Alexandria; Orígenes também o aceitou como um livro sagrado e por isso foi incluído no fim do “Codex Sinaiticus”, em uso nos meados do século IV d.C. Tertuliano aceitou-o no início, mas depois veio a repudia-lo quando se tornou Montanista.

Esta obra foi escrita em meados do segundo século por Hermas, entre 142 e 155 d.C.

Foi um dos escritos mais considerados da antiguidade cristã; por muito tempo, tida como inspirada, inclusive alguns a colocavam no Cânon do NT. As frequentes referências que se encontram dela em várias obras do período patrístico, demonstram a alta estima em que era tida. A obra era muito usada no cristianismo primitivo para instruir aqueles que acabavam de entrar na Igreja e queriam ser instruídos na piedade, como podemos comprovar no início do século IV no testemunho de Eusébio.

Após larga difusão, especialmente, no Oriente, nas Igrejas gregas, inspirado para uns, apenas útil para todos e até mesmo recusado por outros, o Pastor foi, definitivamente, colocado entre os apócrifos após o Concílio Ecumênico de Hipona em 393, onde a Igreja definiu o catálogo bíblico.

Trata-se de uma obra longa, com 114 capítulos dispostos em 3 partes: 5 visões, 12 mandamentos e 10 Parábolas.

A preocupação central de Hermas não é doutrinário-dogmática, mas moral. Seu argumento principal é a necessidade de penitência indo ao encontro da misericórdia divina. O leitor notará que o conceito de penitência, isto é, meios de santificação do homem, corresponde aos Sacramentos da Igreja. A Eclesiologia em Hermas, domina a idéia de que a Igreja é uma instituição necessária para a salvação. Quanto a Cristo, Hermas não emprega nenhuma vez, ao longo de sua obra, os termos Jesus Cristo, ou Logos. Chama-o de Salvador, Filho de Deus e Senhor. A Cristologia de Hermas suscitou dificuldades, pois segundo sua obra, há duas pessoas em Deus: Deus Pai e Deus-Espírito-Filho.

7-Didaquê ou Ensino dos Doze Apóstolos (início do II século).

Temas: Manual de Instrução para a Igreja; ensino ético, problemas litúrgicos, profetas, oficiais e questões disciplinares.

O texto chegou até nós pelo códice Hierosolymitanus, copiado em
1056 e descoberto em Jerusalém e publicado pelo metropolita grego de Nicomédia Filoteo Bryennios em 1833. Segundo César Mazanares, há disputa quanto a datação. Entre 50-70 (Audet); 70-90 (Adam); 100-150 (Quasten). Alguns chegaram a considerá-lo um escrito canônico.
A obra é dividida em 16 capítulos. 1-10 = Conteúdo litúrgico; 11-15 = disciplina eclesial. O cap. 16 trata da Segunda vinda de Cristo.
Descreve o batismo como sendo praticado por imersão, embora traga a primeira referência ao batismo por efusão, praticado em caso de necessidade. O batismo era limitado aos adultos e somente os batizados podiam participar da ceia.
A eucaristia (ceia), celebrada aos domingos e após a confissão de pecados era coletiva e litúrgica. Era considerada o sacrifício (Thysia) de Malaquias 1.10, se bem que essa afirmação não implicava um conteúdo sacrificial da celebração senão a crença de que o louvor e a oração substituíram todo tipo de sacrifício.
Não há qualquer menção a um episcopado monárquico, como em Inácio; os líderes são simplesmente chamados de bispos (supervisores) e diáconos (como em Fp 1.1). Há abundantes referências a profetas itinerantes. Daí a importância da escatologia, que acentua a aparição dos falsos profetas e do anticristo como sinais antecessores da segunda vinda de Cristo (parousia).

http://www.icp.com.br

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

http://revhelio.blogspot.com.br/2011/02/os-pais-apostolicos-102004.html

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