BIOGRAFIA DOS PAIS POLEMISTAS OU NICENOS DA IGREJA (180 – 250 D.C.)

Diferentemente dos apologistas do segundo século, que procuraram fazer uma explanação e uma justificação racional do cristianismo para as autoridades, os polemistas empenharam-se em responder os desafios dos falsos ensinos heréticos, condenando veementemente esses ensinos e seus mestres.

Os pais desse grupo não mediram esforços para defender a fé cristã das falsas doutrinas surgidas fora e dentro da Igreja. Apesar de a maioria ter vivido no Oriente, os grandes polemistas vieram do Ocidente:

Irineu

Introdução

Bispo de Lyon e Polemista Anti-Gnóstico – Diferentemente dos Apologistas do segundo século que procuraram fazer uma explanação e uma justificação racional do Cristianismo para as autoridades, os Polemistas empenharam-se por responder ao desafio dos falsos ensinos dos heréticos, condenando veemente esses ensinos e seus mestres. Apesar da maioria dos Apologistas viverem no Oriente, os grandes Polemistas vieram do Ocidente, sendo Irineu um dos primeiros.

Enquanto os do Oriente usavam uma teologia especulativa dando mais atenção aos problemas metafísicos, os do Ocidente preocupavam-se mais com os desvios administrativos da Igreja, empenhando-se em formular uma resposta para os problemas desta esfera.

Os apologistas convertidos do paganismo, preocupavam-se com a ameaça à segurança da Igreja, especialmente com a perseguição. Os polemistas que tinham uma formação cultural cristã, preocupavam-se com a heresia e suas ameaças no seio da Igreja.

Seu Crescimento e Influência

Nascido em Esmirna, na Ásia Menor (Turquia), no ano 130, em uma família cristã, Irineu era grego e foi influenciado pela pregação de Policarpo, bispo de Esmirna. Anos depois, Irineu mudou-se para Gália (atual sul da França), para a cidade de Lyon, onde foi um presbítero em substituição do bispo que havia sido martirizado em 177.

Irineu também recebeu influência de Justino. Ele foi uma ponte entre a teologia grega e a latina, a qual iniciou com um de seus contemporâneos, Tertuliano. Enquanto Justino era primariamente um apologista, Irineu contribuiu na refutação contra heresias e exposição do Cristianismo Apostólico. Sua obra maior se desenvolveu no campo da literatura polêmica contra o gnosticismo.

 

Os Ensinos Heréticos do Gnosticismo

O gnosticismo, a maior das ameaças filosóficas, chegou ao máximo de sua influência ao redor do ano 150. Suas raízes estão fincadas nos tempos do Novo Testamento. Paulo parece ter enfrentado uma forma incipiente de gnosticismo em sua carta aos Colossenses. A tradição cristã associou a origem do gnosticismo com Simão, o mago, a quem Pedro teve que repreender duramente (At 8.9-24).

Irineu tornou-se o mais expoente escritor e defensor das Escrituras contra as Heresias Gnósticas na sua era. A palavra gnosticismo é um termo moderno que cobre uma variedade de seitas do segundo século que propagavam alguns erros em comum. O Gnosticismo era radicalmente diferente e contrário ao Cristianismo ortodoxo. Cada grupo tinha seus próprios escritos. Alguns desses ensinamentos falsos eram:

Crença em um Deus supremo o qual era totalmente remoto deste mundo.

Crença que o Deus supremo não tinha parte na criação, mas que este trabalho imperfeito foi realizado por uma deidade inferior à ele, identificando como o Deus do Velho Testamento.

Crença que a matéria era má, por isso o Deus supremo sendo espiritual e bom, não poderia criá-la.

Crença que entre o reino das trevas e o Deus supremo, existe uma hierarquia de seres divinos.Crença que o nosso corpo, sendo físico, é parte deste mundo, ele é mal; nossa alma é uma faísca divina que está presa ao corpo, ela é divina.

Crença que a salvação é o escape da alma deste corpo para o reino celestial.

Crença que para alcançar o Deus supremo é necessário que a alma ultrapasse o reino acima de nós, o qual é controlado pelas estrelas e pelos planetas.

Crença que a salvação vinha pelo conhecimento; gnosis (conhecimento).

A Grande Defesa do Teólogo Irineu

Em sua primeira obra, Adversus Haereses (Contra Heresias) escrita entre os anos 182 e 188, em Lyon, ele descreve a teologia da fé cristã em refutação aos ensinos heréticos gnósticos de Valentino e Marcion através das Escrituras. De muitos argumentos feitos por Irineu, três importantes podem ser ressaltadas:

A diferença do sistema gnóstico. Ele descreve a natureza burlesca de muitas de suas crenças.

Os ensinamentos que os gnósticos diziam ter recebido secretamente dos apóstolos, Irineu os desafiava argumentando que se os apóstolos tivessem um ensinamento especial a declarar, eles o teriam confiado às suas próprias igrejas, as quais fundaram. Ele mostrava como as igrejas estabelecidas pelos apóstolos, e seus dirigentes, os quais eram apontados pelos mesmos e seus sucessores, cresciam em todo o império, e permaneciam até a data, ensinando a mesma doutrina.

Defesa do Novo Testamento como canônico, em vista que o gnosticismo não cria nele, e possuía outras escrituras. No tempo de Irineu, o Novo Testamento era aceito cerca de como temos agora: os Evangelhos, Atos, Cartas de Paulo e outras epístolas. A carta aos Hebreus, Apocalipse e algumas epístolas compuseram o Novo Testamento alguns anos na frente.

A sua obra é composta de cinco volumes é são assim caracterizadas:

Livro I: Esboço histórico da seita gnóstica, apresentada em conjunto com uma declaração da fé cristã. Este volume é a melhor fonte de informação sobre os ensinos dos gnósticos. Era uma polêmica filosófica contra Valentino, o líder da corrente romana do gnosticismo.

Livro II: Crítica filosófica sobre o Gnosticismo. Nele, Irineu insiste na unidade de Deus em oposição a ideia herética da existência de um demiurgo distinto de Deus.

Livro III: Crítica bíblica sobre o Gnosticismo. Ele mostra como o Gnosticismo é rejeitado pela Bíblia e pela tradição mais significativa. Neste livro, Irineu dá ênfase à unidade da Igreja através da sucessão apostólica de líderes desde Cristo e de uma regra de fé.

Livro IV: Respostas ao Gnosticismo através das palavras de Cristo. Neste, Marcion, outro líder gnóstico, é condenado pela citação das palavras de Cristo que se opõem às suas propostas.

Livro V: Vindicação da ressurreição contra os argumentos gnósticos, os quais, segundo as ideias deles, reunia o corpo material mau com o espírito.

A Contribuição de Irineu à Igreja

Foi necessário a habilidade intelectual, a força espiritual deste polemista e o desenvolvimento de uma regra de fé e um cânon da Bíblia pela Igreja para superar a ameaça desse movimento ao Cristianismo. Irineu através da sua defesa do Evangelho, foi o primeiro a declarar os quatro Evangelhos como canônicos, ensinar acerca do reino milenar de Cristo na terra, defender o episcopado (pastorado) e as tradições teológicas da verdadeira Igreja ortodoxa. Ele também é chamado de “Pai dos dogmas da Igreja”, por formular os princípios da teologia cristã e exposição do credo da Igreja.

Não só Irineu, mas Polemistas como Tertuliano e Hipólito engajaram-se na controvérsia literária para refutar ideias gnósticas. Estes ensinos heréticos reapareceram, parcialmente, em doutrinas dos Paulicianos do século VII, dos Bogomilos dos séculos XI e XII, e dos Albingenses posteriores, no sul da França.

Irineu em comparação com outros pais da igreja grega que lhe precederam, era mais bíblico que filosófico. Ele foi o primeiro a escrever em sentido teológico para a Igreja. Segundo a história, ele foi martirizado em Lyon por volta do ano 200.

Tertuliano de Cartago (150-230)


Nasceu por volta de 150 d.C. em Cartago (cidade ao nordeste da África), onde provavelmente passou toda sua vida, embora alguns estudiosos afirmem que ele morasse em Roma. Por profissão sabe-se que era advogado. Fazia visitas com frequência a Roma, sendo que aos 40 anos se converteu ao cristianismo, dedicando seus conhecimentos e habilidades jurídicas ao esclarecimento da fé cristã ortodoxa contra os pagãos e hereges. Tertuliano foi o pai das doutrinas ortodoxas da Trindade e pessoa de Jesus Cristo. As doutrinas de Tertuliano a respeito da Trindade e da pessoa de Cristo foram forjadas no calor da controvérsia com Práxeas, que segundo Tertuliano, “sustenta que existe um só Senhor, o Todo-poderoso criador do mundo, apenas para poder elaborar uma heresia com a doutrina da unidade. Ele afirma que o próprio Pai desceu para dentro da Virgem, que ele mesmo nasceu dela, que ele mesmo sofreu e que, realmente, era o próprio Jesus Cristo”. Foi o primeiro teólogo cristão a confrontar e rejeitar com grande vigor e clareza intelectual essa visão aparentemente singela da Trindade e unidade de Deus. Ele declarou que se esse conceito fosse verdade, então o Pai tinha morrido na cruz e isso, além de ser impróprio para o Pai, é absurdo.

Cipriano(200 – 258) Polemista anti-novaciano de Cartago

Tharsius Caecilius Cyprianus. Converteu-se em 246 d.C. e já em 249 d.C. foi nomeado bispo de Cartago, no Norte da África.

Durante dez anos ele conduziu seu rebanho através da perseguição do Imperador Décio, uma das mais cruéis. Foi também o grande sustentáculo moral e espiritual da cidade, quando esta foi atacada por uma epidemia. Além disso, escreveu e batalhou pela unidade da Igreja.

Seu nome está ligado a uma grande controvérsia a respeito do batismo e da ordenação efetuada por hereges. No entender de Cipriano, estas cerimônias eram inválidas, pelo fato dos oficiantes estarem em desacordo com a ortodoxia e, portanto, deveriam ser rebatizados e reordenados todos que entrassem pela verdadeira Igreja. Estevão, Bispo de Roma, discordou e isto gerou um cisma, uma vez que Cipriano além de rejeitar a autoridade do bispo romano, convocou um concílio no Norte da África para resolver a questão.

Seus escritos consistem em tratados de caráter pastoral e de cartas, 82 ao todo, das quais 14 eram dirigidas para ele mesmo e as restantes tratavam de questões de sua época.

Morreu como mártir, decapitado em 14 de setembro de 258 d.C, durante a perseguição do imperador Valeriano.

 

Panteno (Sicília, ? – Alexandria, 200), ou Pantaenus em latim

Foi um filósofo e teólogo cristão do século II. Foi o fundador da Escola Catequética de Alexandria, também chamada de Didaskaleion, em 190 dC. Esta escola, a primeira do gênero no mundo, se tornou muito influente durante o Cristianismo primitivo e no desenvolvimento da teologia cristã.

Vida e obras

Educado na doutrina estoica, vivendo em Alexandria. Converteu-se ao Cristianismo e procurou conciliar a nova fé com a filosofia grega. Seu mais famoso estudante, Tito Flávio Clemente, também conhecido como Clemente, o descreveu como “a abelha sícula“). Ele viria a substituí-lo posteriormente na direção da escola. Clemente havia sido discípulo de outros seis professores antes de conhecer Panteno. Quando o encontrou, disse: “Encontrei finalmente aquilo que procurava” [carece de fontes].

Embora nenhum escrito de Panteno tenha sobrevivido, seu legado é conhecido hoje por causa da influência da Escola Catequética no desenvolvimento da teologia cristã, em particular nos primeiros debates sobre a interpretação da Bíblia, sobre a Trindade e a Cristologia. Ele foi o principal defensor de Serapião de Antioquia pelos seus atos contra a influência do Gnosticismo.

Além de seu trabalho como professor, Eusébio relata que Panteno foi, por um tempo, um missionário, viajando a lugares tão distantes quanto a Índia, onde, de acordo com Eusébio, ele encontrou comunidades cristãs utilizando o Evangelho de Mateus que lhes havia sido deixado em cartas em hebraico, supostamente deixadas pelo apóstolo Bartolomeu em pessoa (e que pode ter sido o Evangelho dos Hebreus). Isto pode indicar que os cristãos sírios, utilizando a versão siríaca do Novo Testamento, já tinham evangelizado partes da Índia no século II dC. Certamente a mais antiga igreja indiana deriva de missões siríacas e utilizava Bíblias nesta língua. Porém, alguns autores sugeriram que devido às dificuldades de Panteno com a língua dos Cristãos de São Tomé (um grupo antiquíssimo de cristãos no sudoeste da Índia[a]), ele pode ter interpretado incorretamente uma referência a Mar Thoma (Bispo Tomé), que é quem atualmente as igrejas siríacas acreditam ter evangelizado a Índia, como Bar Tolmai (o nome hebraico de Bartolomeu). Outros dizem que Eusébio pode ter confundido a Índia com a Arábia ou a Etiópia, como já tinham feito outros autores gregos.

Jerônimo, aparentemente confiando totalmente nas evidências de Eusébio (História Eclesiástica), escreveu que Panteno visitou a Índia “…para pregar Cristo aos brâmanes e filósofos em sua obra De Viris Illustribus. É improvável que Jerônimo tenha tido alguma informação sobre a missão de Panteno à Índia que seja independente de Eusébio. Jerônimo afirmou ainda que, quando ele escreveu, havia muitos textos de Panteno ainda existentes.

Panteno é venerado como santo pela Igreja Católica e pela Igreja Copta, festejado em 7 de julho, pelos católicos, e no dia 22 de julho, pelos coptas.

 

 Clemente de Alexandria (nascido Tito Flávio Clemente, em latim Titus Flavius Clemens; c. 150 – c. 215)

Foi um membro notável da Igreja de Alexandria e um de seus mestres mais ilustres. Ele foi professor de Orígenes. Seus ensinamentos mais característicos são a insistência sobre a similaridade entre a fé cristã comum e a ciência, assim como sua interpretação alegórica do Antigo e Novo Testamento e sua defesa da Tradição.

 Orígenes(185-254)

Nasceu de pais cristãos em 185 ou 186 da nossa era, provavelmente em Alexandria. Escritor cristão de vasta erudição, de expressão grega. Estudou letras e aprendeu de cor textos bíblicos, com seu pai, que foi morto por ocasião da repressão do imperador Setímio Severo às novas religiões. O bispo de Alexandria passou a Orígenes a direção da Escola Catequética, sendo então sucessor de Clemente. Estudou na escola neo platônica de “Ammonios”. Viajou a Roma, em 212, onde ouviu ao sábio cristão Hipólito. Em 215 organizou em Alexandria uma escola superior de Exegese Bíblica. Devido ao seu vasto conhecimento viajava muito e ministrava ao público nas igrejas.

O fato de se haver castrado por devoção, lhe criou dificuldades com alguns bispos, que contrariavam o sacerdócio dos eunucos. Em 232 se transferiu para Cesaréia, na Palestina, onde se dedicou exaustivamente aos seus estudos. Sobreviveu aos tormentos de que foi vítima sob o Imperador Décio (250-252). Posteriormente a esta data morreu em Tiro, não se sabendo exatamente quando.

Foi considerado o membro mais eminente da escola de Alexandria e estudioso dos filósofos gregos.

 Hipólito de Roma

Foi o mais importante teólogo do século III d.C. na Igreja antiga em Roma , onde ele provavelmente nasceu.

Fócio o descreveu em sua Biblioteca (cód. 121) como sendo um discípulo de Irineu, que acredita-se ter sido discípulo de Policarpo e, pelo contexto da passagem, supõe-se que o próprio Hipólito assim se considerava. Porém, é duvidoso se esta afirmação de Fócio seja verdadeira.

Ele entrou em conflito com os papas de sua época e parece ter sido líder de um grupo cismático como um bispo rival de Roma. Por isto, ele é considerado como o primeiro Anti papa. Ele se opôs aos bispos de Roma que afrouxaram as regras de penitência para acomodarem um grande número de novos convertidos da religião pagã. Porém, muito provavelmente ele já estava reconciliado com a Igreja quando morreu como mártir.

Ele é a pessoa que à quem usualmente chamamos de Santo Hipólito. Porém, iniciando no século IV d.C., várias lendas surgiram sobre ele, identificando-o como um padre do cisma novaciano ou um soldado convertido por São Lourenço. Ele também é muitas vezes confundido com um mártir de mesmo nome.

Martírio

Na perseguição aos cristãos do imperador Maximino Trácio, Hipólito e Ponciano foram exilados juntos em 235 d.C. para a Sardenha e é muito provável que lá, antes de sua morte, ele tenha se reconciliado com seus adversários em Roma, pois já sob o Papa Fabiano (236 – 250 d.C.) seu corpo e o de Fabiano foram trazidos para Roma. Pelo Catalogus Liberianus é possível verificar que em 13 de agosto, provavelmente de 236 d.C., eles foram enterrados em Roma, sendo Hipólito no cemitério na Via Tiburtina e Ponciano, nas Catacumbas de São Calisto. Este documento também indica que, por volta de 255 d.C., Hipólito já era considerado um mártir cristão e lhe atribui a posição de padre e não a de bispo, mais uma indicação de que antes de sua morte ele já tinha sido recebido novamente no seio da Igreja.

http://www.sepoangol.org/biogra-p.htm

http://www.cacp.org.br/quem-foram-os-pais-da-igreja/

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

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