A Origem da Diversidade Cultural da Humanidade

Elohim o Deus Criador
"Eis que o povo é um, e todos têm
uma mesma língua; e isto é o que
começam a fazer; e, agora, não
ha...

Nesta postagem estudaremos sobre a edificação da cidade e da popularmente conhecida Torre de Babel, pelos primeiros habitantes da terra no pós-dilúvio. A Origem da Diversidade Cultural da Humanidade é o tema da Lição 10 das Lições Bíblicas do 4º trimestre de 2015 para a Escola Bíblica Dominical.

Texto Áureo

“E o Senhor disse: Eis que o povo é um, e todos têm uma mesma língua; e isto é o que começam a fazer; e agora, não haverá restrição para tudo o que eles intentarem fazer.” (Gn 11:6)

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE

Gênesis 11:1-9

“E era toda a terra de uma mesma língua e de uma mesma fala.
E aconteceu que, partindo eles do oriente, acharam um vale na terra de Sinar; e habitaram ali.
E disseram uns aos outros: Eia, façamos tijolos e queimemo-los bem. E foi-lhes o tijolo por pedra, e o betume por cal.
E disseram: Eia, edifiquemos nós uma cidade e uma torre cujo cume toque nos céus, e façamo-nos um nome, para que não sejamos espalhados sobre a face de toda a terra.
Então desceu o Senhor para ver a cidade e a torre que os filhos dos homens edificavam;
E o Senhor disse: Eis que o povo é um, e todos têm uma mesma língua; e isto é o que começam a fazer; e agora, não haverá restrição para tudo o que eles intentarem fazer.
Eia, desçamos e confundamos ali a sua língua, para que não entenda um a língua do outro.
Assim o Senhor os espalhou dali sobre a face de toda a terra; e cessaram de edificar a cidade.
Por isso se chamou o seu nome Babel, porquanto ali confundiu o Senhor a língua de toda a terra, e dali os espalhou o Senhor sobre a face de toda a terra.”

COMENTÁRIO

INTRODUÇÃO

O capítulo 11 do livro de Gênesis descreve o recomeço da civilização na terra após o Dilúvio. Embora não nos foi deixado muitos detalhes de como teria sido o mundo antediluviano, sabemos que após a catástrofe mundial aconteceram profundas mudanças na continuidade da raça humana. Uma das mudanças mais significativas ocorreu nesse capítulo de Gênesis, onde Deus confunde a língua dos homens, para não entender um a língua do outro.

Um dos fatores que levaram a primeira civilização humana à depravação total foi o monolinguísmo. Entre os filhos imediatos de Adão e Eva, inexistiam fronteiras idiomáticas, culturais e geográficas. Eis porque os exemplos de Caim e Lameque alastraram-se logo por toda a terra.

       Na lição de hoje, encontraremos a família noética correndo o mesmo perigo. Temendo um novo dilúvio, e recusando-se a povoar a terra, puseram-se os descendentes de Noé a construir uma torre, cujo topo, segundo imaginavam, tocaria os céus.

       A fim de impedir a degeneração da segunda civilização, o Senhor confunde-lhes a língua, levando a linhagem de Sem, Cam e Jafé a espalhar-se pelos mais longínquos continentes.

       Deste episódio, surge a multiplicidade linguística e cultural da humanidade.

No final dessa lição, poderemos notar também que mais uma vez nossa geração não se diferencia tanto em relação àquela que tentou construir a famosa torre.

Ponto Central

  • O monolinguismo contribuiu para que a primeira civilização humana se tornasse uma civilização depravada e distante do Criador.
  • Um dos fatores que contribuíram para que a depravação da humanidade viesse a crescer de forma vertiginosa foi o monolinguismo. A terra havia sido purificada pelas águas do dilúvio, mas a semente do pecado estava em Noé e em seus descendentes. Não demorou muito para que o pecado se alastrasse novamente. Já que não havia impedimento quanto a língua, os homens cheios de soberba, e com um espírito de rebelião se unem para fazer um monumento que seria símbolo da sua empáfia. Deus não estava preocupado com a construção ou com o tamanho da torre, mas com a arrogância que dominava, mais uma vez o coração do homem. O Senhor abomina a altivez, o orgulho (Pv 6:17). Que venhamos guardar os nossos corações destes sentimentos tão nefastos.

I – A Torre de Babel

Em nenhum momento a Bíblia esclarece quanto tempo após o Dilúvio, aconteceram os relatos do capítulo 11 de Gênesis. Algumas pessoas encontram alguma dificuldade entre os capítulos 10 e 11 de Gênesis, pelo fato de no capítulo 10 já relatar uma divisão por línguas enquanto o capítulo 11 mostra o surgimento da diversificação de línguas.

A verdade é que esse foi apenas um método de organização e construção do texto utilizado pelo autor, onde no capítulo 10 ele enfatiza a descendência de Noé e as divisões geográficas, e no capítulo 11 ele mostra como ocorreram tais divisões com a dispersão da raça humana. Em resumo, o capítulo 11 antecede cronologicamente o capítulo 10. Existem também alguns interpretes que defendem que a ordem está correta (10 e 11), e acreditam que a confusão das línguas tenha ocorrido apenas dentro da história semita, porém essa posição não é muito aceita.

Não sabemos quanto tempo se havia passado desde que Noé saiu da arca até a construção da torre de Babel. De qualquer forma, seus filhos, Sem e Jafé, não puderam impedir seus descendentes de cair na apostasia de Cam.

1 – O monolinguismo

Como dissemos acima, existem alguns estudiosos que defendem a ideia de que a confusão das línguas tenha ocorrido apenas dentro da história semita. Eles entendem que o capítulo 11 pertence a uma seção do livro de Gênesis, dedicado aos semitas. Como consequência dessa interpretação, tal confusão das línguas teria originado diferentes dialetos apenas entre os semitas. Essa interpretação é bastante contestada. A interpretação mais aceita sobre o capítulo 11 de Gênesis é a de que a confusão das línguas teve um impacto total, ou seja, a humanidade estava concentrada ali, e que antes disso todos falavam o mesmo idioma, o que parece claro nos versículo 1 e 6. Não se sabe qual era o idioma inicial antes do relato desse capítulo e, embora alguns sugiram o hebraico, não existe fundamentação nenhuma para uma sugestão como essa. Abraão, ao deixar a sua terra natal, falava o arameu (Dt 26:5) que nos lábios de seus descendentes, sofreria sucessivas mudanças até transformar-se na belíssima língua hebréia. O interessante é que depois do cativeiro babilônico, os israelitas voltariam a usar o aramaico, inclusive Jesus (Mc 15:34).

Gênesis 11:1,6

“E era toda a terra de uma mesma língua e de uma mesma fala.

E o Senhor disse: Eis que o povo é um, e todos têm uma mesma língua; e isto é o que começam a fazer; e agora, não haverá restrição para tudo o que eles intentarem fazer.”

2 – Uma nova apostasia

Em Gênesis 1:28 podemos ver uma ordem direta de Deus para que o homem se espalhe e povoe a terra. Em Gênesis 9:1-7 Deus, mais uma vez, claramente repete a mesma ordem. Já em Gênesis 11:4, encontramos o típico comportamento desobediente do homem, se recusando a fazer a cumprir a vontade de Deus e, sem uma intervenção divina, toda obra do homem sempre foi e sempre será inimizade perante Deus.

Gênesis 11:4

“E disseram: Eia, edifiquemos nós uma cidade e uma torre cujo cume toque nos céus, e façamo-nos um nome, para que não sejamos espalhados sobre a face de toda a terra.”

Se por um lado o monolinguismo facultava a rápida disseminação do conhecimento, por outro, propagava com a mesma rapidez as apostasias da nova civilização. E, assim, não demorou para que a revolta, misturada ao medo, se tornasse incontrolável. Por isso, revoltam-se os descendentes de Noé contra Deus: “Eia, edifiquemos nós uma cidade e uma torre cujo cume toque nos céus e façamo-nos um nome, para que não sejamos espalhados sobre a face de toda a terra” (Gn 11:4).

       Se Deus não tivesse intervindo a situação ficaria  mais insustentável do que no período anterior ao Dilúvio.

3 – Um monumento à soberba humana

O símbolo da desobediência e soberba que controlava aquela civilização era uma torre “cujo cume toque nos céus”. Não fica claro no texto se aquelas pessoas tinham medo de uma nova inundação, mesmo conhecendo a promessa de que Deus nunca mais castigaria a terra com um Dilúvio. Seja como for, o que o texto esclarece é que eles desobedeceram a Deus, e confiaram em seus próprios avanços tecnológicos.

Apesar das garantias divinas de que não haveria outro dilúvio, os filhos de Noé buscavam agora concentrar-se num lugar alto e forte. Entregando-se ao medo, acabaram por erguer um monumento à soberba e à rebelião.

A ordem do Senhor àquela gente era clara: espalhar-se até os confins da Terra. Quando não a obedecemos, edificamos dispendiosas torres, onde a confusão é inevitável. Cada um fala a sua língua, e ninguém se entende mais.

SUBSÍDIO DIDÁTICO

  • “Os descendentes de Sem povoaram as regiões asiáticas, desde as praias do Mediterrâneo até o oceano Índico, ocupando a maior parte do território de Jafé e Cam. Foi entre eles que Deus escolheu seu povo, cuja história constitui o tema central das Sagradas Escrituras.
  • Os descendentes de Cam foram notavelmente poderosos no princípio da história do mundo antigo. Constituem a base dos povos que mais relações travaram com os hebreus, seja como amigos, seja como inimigos. Eles estabeleceram-se na África, no litoral mediterrâneo da Arábia e na Mesopotâmia.
  • Os descendentes de Jafé foram os povos indo-europeus, ou arianos. Embora não tivessem sobressaído na história antiga, tornaram-se nas raças dominantes do mundo moderno”.
  •  Decorridos 120 anos depois do dilúvio, os habitantes de Sinar começaram a construir uma torre, para talvez, formalizarem algum culto idólatra. Mas Deus confundiu-lhes a língua que falavam, dispersando-os em seguida. Daí em diante, a torre passou a ser conhecida como Babel que, em hebraico, significa “confusão”. É bem provável que a torre de Belus, na cidade de Babilônia, haja sido a culminação de Babel. Constituía-se ela numa pirâmide quadrada de oito pisos, cuja base media mais de um quilometro de circunferência (Gn 10:10; 11:9).

II – Confusão de Línguas

1 – Uma cidade à prova d’água

O objetivo principal daquelas pessoas era a construção de uma cidade muito bem estruturada que mantivesse toda a humanidade integrada (Gn 11:4). Essa cidade ficava em um vale nas terras de Sinar e, juntamente com a cidade, começaram a edificar uma torre bastante imponente. Naquela região não havia pedras para servirem de tijolo, e nem cal para ser usado como massa. Por isso o material usado foi a argila para fazer tijolos, e o betume para servir como uma massa. Ninrode foi o homem que assumiu a liderança daquele povo. Saiba quem foi Ninrode.

A engenharia dos descendentes de Noé era bastante avançada. De início, projetaram uma cidade epicentro seria uma torre que, segundo imaginavam, arranharia o céu (Gn 9:4). Aquele lugar se tornaria uma fortaleza impenetrável, mas independentemente dos planos dos homens, Deus lhes frustraria os objetivos e cumpriria sua vontade espalhando-os pela terra.

       Em seguida, preparam o material: tijolos bem queimados e betume. O seu objetivo era construir uma cidade a prova d’água. Se houvesse algum dilúvio, escalariam a torre, e tudo estaria bem. Na verdade, não queriam cumprir o mandato cultural que o Senhor confiara ao patriarca: povoar e trabalhar a terra (Gn 9:4).

2 – A torre que Deus não viu

Aos olhos dos homens, a torre parecia alta. Mas, à vista de Deus, nada era. Ironicamente, o Altíssimo teve de baixar à terra para vê-la: “Então, desceu o Senhor para ver a cidade e a torre que os filhos dos homens edificavam” (Gn 11:5).

       Assim são os projetos firmados na vaidade humana. Aos nossos olhos, muita coisa; à vista de Deus, tolas pretensões. Se o Senhor não tivesse intervindo, a segunda civilização tornar-se-ia pior do que a primeira (Gn 11:6). Nenhum limite seria forte o bastante para conter aquela gente, que já começava a depravar-se totalmente.

É importante dizer que a expressão Torre de Babel não aparece nos relatos do Antigo Testamento, porém ficou popularmente conhecida assim. Essa torre seria um tipo de centro e ponto de reunião daquela cidade. Podemos notar também o elemento antropomórfico na descida de Deus para ver a cidade e a torre que os homens estavam edificando.

3 – Quando ninguém mais se entende

Por isso mesmo, o Senhor decreta: “Eia, desçamos e confundamos ali a sua língua, para que não entenda um a língua do outro” (Gn 11:7). Nascia ali, na planície de Sinear, o multilinguismo.

       Como ninguém mais se entendia, os descendentes de Noé foram apartando-se uns dos outros, e reagrupando-se de acordo com a sua nova realidade idiomática. Os filhos de Sem formaram uma grande família linguística, da qual se originaram o aramaico, o moabita, o árabe e, mais tarde, o hebraico. O mesmo fenômeno deu-se entre as linhagens de Jafé e Cam. É bem provável que Pelegue tenha nascido nesse período (Gn 10:25).

       Apesar da confusão da linguagem humana, Deus permitiu que os idiomas conservassem evidências de um passado, já bastante remoto, quando todos os seres humanos falavam uma só língua.  

O versículo 7 do mesmo capítulo 11 do livro de Gênesis descreve com clareza o surgimento da variedade de idiomas. A confusão das línguas foi um juízo da parte de Deus sobre os homens que trouxe confusão, frustração e dispersão.

SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO

 “A história nos conta que, em assembleia, os novos habitantes de Sinar tomaram uma decisão totalmente fora da vontade de Deus. O propósito da ação é claro. Queriam fama (Gn 11:4). E desejavam segurança: “Para que não sejamos espalhados sobre a face de toda a terra”. Ambas as metas seriam alcançadas somente  pelo empreendimento humano. Não há dúvida sobre a ingenuidade das pessoas. Não tendo pedras, fabricaram tijolos de barro e depois queimaram bem. Viram a utilidade do betume abundante na área e o usaram como argamassa.

    O interesse principal desse povo não estava numa torre, embora também houvesse a construção de uma cidade. A torre ia alcançar os céus. Nada é dito sobre um templo no topo da torre, por isso não está claro se a torre era como os zigurates que houve na Babilônia.

O paganismo está indiretamente envolvido nesta história, pois havia um ímpeto construtivo em direção ao céu e o único e verdadeiro Deus foi definitivamente omitido de todo  planejamento e de todas as etapas. Mas Deus não estava inativo. O julgamento de Deus logo veio. Para demonstrar que a unidade humana era superficial sem Deus, Ele introduziu confusão de som na língua humana. Imediatamente estabeleceu-se o caos. O grande projeto foi abandonado e a sociedade unida, sem temor de Deus, foi despedaçada em segmentos confusos. Em hebraico, um jogo de palavras no versículo 9 é pungente. Babel significa ‘confusão’ e a diversidade de línguas resultou em balbucis ou fala ininteligível”. 

CONHEÇA MAIS

A Torre de Babel

         “Como a humanidade, descendendo novamente de uma única família, tornou-se tão dividida? A história da Torre de Babel explica. Deus introduziu idiomas que dividem o povo como um ato de julgamento quando os descendentes de Noé tentaram arrogantemente alcançar os céus. O capítulo 11 de Gênesis nos mostra os descendentes de Sem, a linha da qual surgiram Abraão e, em última análise, Cristo.”

III – A Multiplicidade Linguística e Cultural

O episódio da torre de Babel criou diversas fronteiras entre os descendentes de Noé: linguísticas, culturais e geográficas.

1 – Linguísticas

Da barreira idiomática, surgiu a noção de nacionalidade, responsável pela criação de países e reinos. Só os impérios, geralmente antagônicos a Deus, buscam unificar o que o Senhor separou em Sinear (Dn 3:7). A multiplicidade linguística dos povos oprimidos, porém, torna inviável tal unificação, ainda que possa ser considerada “duradoura”, como foi o império romano.

       Já imaginou se toda a humanidade falasse o russo ou o alemão? Homens como Stalin e Hitler teriam certamente dominado toda a terra.

As diferenças linguísticas separaram não apenas aquele povo, mas também todas as gerações posteriores. Ainda hoje, com todo o avanço tecnológico, o idioma é a principal barreira entre as pessoas de diferentes países.

2 – Culturais

Consequentemente acompanhando as diferenças linguísticas, vieram as profundas diferenças culturais. A diversidade linguística trouxe também a diversidade cultural. Cada povo, uma língua, uma cultura, e costumes bem característicos. Tais fatores tornam inviável um Estado totalitário mundial. O governo do Anticristo, aliás, reinará absoluto por apenas 42 meses(Ap 13:5). Logo após, será destruído.

3 – Geográficas

Após a confusão das línguas do capítulo 11, não restavam mais alternativas ao homem a não ser espalhar sobre a terra, estabelecendo assim as divisões geográficas.

Acrescente-se a essas dificuldades as fronteiras naturais: rios, mares, montanhas, vales, etc. Cada povo com o seu território. Deus sabe o que faz.

Conclusão

A Origem da Diversidade Cultural da Humanidade

Desde o princípio o homem tenta uma espécie de unificação. O evento descrito no capítulo 11 não deixa dúvida sobre essa ambição. O maior problema disso tudo é que inevitavelmente os propósitos humanos são contra os propósitos de Deus. Nas planícies de Sinar o homem tentou edificar uma torre, cujo cume chegasse até o céu.

Nossa civilização não fica atrás daquela civilização. Por trás da construção da cidade e da torre existe um instrumento que conhecemos muito bem: a tecnologia. O propósito deles era que seus nomes fossem perpetuados em uma civilização unificada e, logo cedo, já se percebe o uso da tecnologia para propósitos egoístas e contrários a Palavra de Deus.

Quanto a nós, vivemos na era da globalização, do maior avanço tecnológico que a humanidade já viu, todos estão conectados, unificados e, de certa forma, controlados. Muitos estão adotando a tecnologia como religião, uma religião cujo homem é um deus. Mas isso é cumprimento da palavra de Deus, antes do fim a ciência chegaria a um nível nunca visto e, talvez, ninguém melhor do que nós conseguiu compreender até agora o que Deus disse na segunda parte do versículo 6, quando Ele avisa que aquilo era apenas o começo, e que não haveria mais limites para o que o homem planejaria fazer.

Gênesis 11:6

“[…] e isto é o que começam a fazer; e agora, não haverá restrição para tudo o que eles intentarem fazer.”

O episódio de Babel não impediu a proclamação do Evangelho, pois no Pentecostes, “todos foram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem” (At 2:4). A Palavra de Deus, atualmente encontra-se em quase todas as línguas. O que parecia maldição fez-se benção para todos os povos.

 Revista CPAD – Lições Bíblicas – 2015 – 4º Trimestre – Gênesis, O Princípio de Todas as Coisas 

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Uma resposta para A Origem da Diversidade Cultural da Humanidade

  1. A cultura, esta nossa inimiga

    Bráulia Ribeiro

    Hospedados numa casa de duas missionárias, ao lado de um lago do rio Purus, eu me perguntava se não estávamos cometendo um pecado contra os índios que tentávamos servir. A casa era um barraco de madeira, sem banheiro nem água encanada, com dois quartos minúsculos, uma sala sem móveis e uma cozinha com fogão, uma mesinha simples e uma bacia com água à guisa de pia. Porém, estávamos cercados de barracos indígenas sem parede, com telhados de palha e chão de tronco de palmeira, apenas um pouco acima do solo lamacento das margens do lago. A etnia Paumari do Amazonas aprende a nadar antes de aprender a andar e vive em total simbiose com o lago e o majestoso rio Purus.

    O meu entendimento missiológico dizia-me que a cultura era formada principalmente pelas técnicas, pelos instrumentos, rituais e programas que determinavam a adaptação de um agrupamento humano a seu meio ambiente. Cultura é não só o que vestimos, o que comemos, como comemos, como amamos e como andamos, mas também o que pensamos sobre o que vestimos e sobre como comemos, amamos e andamos.

    Na antropologia de Boas e Strauss, que me influenciou, a cultura tem um forte significado material e implica a submissão humana aos preceitos funcionais que a governam. A cultura se traduz no que se vê e é tão frágil quanto o estilo de vida indígena. Se as circunstâncias materiais mudam, a cultura morre. Por isso, defende-se nessa tradição antropológica o isolamento das tribos. Melhor isolar para que não se “contaminem”. Se forem “contaminados” pela polinização cultural, deixam de ser quem são.

    Os pesquisadores dessa linha estavam sempre interessados no passado, na vida tradicional, e até mesmo criaram um conceito chamado de “presente histórico”, que congelava as culturas num estado atemporal. À sombra da mesma ideia da “kultur”, depois de Lausanne desenvolvemos uma missiologia do respeito, mas algumas ideias chegando quase à idolatria da cultura, confundindo o valor das gentes com o valor das cores, comidas e danças das gentes. Eu não me atrevia nem mesmo a pensar que os Paumari poderiam querer um dia morar diferente. Casebre flutuante lutando contra a enchente do rio seria parte essencial do jeito Paumari de ser.

    Trabalhei com indígenas “de verdade” — do tipo pelado que caça de arco e flecha — e com aqueles cercados pelo estilo de vida e desafios das cidades. Concluí que a cultura humana é mais que sua dimensão material. Sou tão brasileira morando no exterior, como o era morando no Brasil. Cultura são as gentes, suas histórias, suas memórias; cultura é um conjunto de acervos intangíveis. É a narrativa épica, é o conteúdo emocional que só existe se existir o povo. De “blue jeans” ou de tanga, carrego na alma a marca da minha cultura.

    Sou defensora ferrenha da missão que se encarna, que se empobrece, que se desnuda. Porém, creio também que para além dela temos de ser a missão que empodera para que se vença a pobreza, a missão que educa para que as gentes se dispam de aspectos perniciosos de suas culturas, mas continuem sendo elas mesmas.

    O sociólogo Robert Woodberry1 fez uma descoberta extraordinária e que enfraqueceu o mito do missionário ocidental “destruidor” de culturas. Com abundância de quadros de estatísticas e quatorze anos de pesquisa, ele percebeu que o fator que separou países da África que hoje se afundam na miséria e em governos tirânicos daqueles que experimentam a liberdade democrática foi um só: missionários protestantes que se empenharam em pregar um evangelho que transformasse as culturas onde trabalharam.

    Que a nova geração de missionários recupere a iconoclastia do evangelho e o desrespeito que este amor tem por aquilo que não é amor. A cultura digna de ser preservada é a cultura que transmite e nutre o amor.

    Nota
    1. Woodberry, Robert D. 2012. “The Missionary Roots of Liberal Democracy.” “American Political Science Review”, n. 106 (2).

    • Bráulia Ribeiro trabalhou na Amazônia durante trinta anos. Hoje mora em Kailua-Kona, no Havaí, com sua família, e está envolvida em projetos de tradução da Bíblia nas ilhas do Pacífico. É autora de Chamado Radical e Tem Alguém Aí em Cima?. Acompanhe mais conteúdo no blog pessoal de Bráulia.

    http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/347/a-cultura-esta-nossa-inimiga

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