Deus se importa com a gestante

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Maria aparece de surpresa. “Ó de casa!”, chama, batendo palmas e pousando no chão o peso da sacola. 

 O cachorro late e Isabel volta-se para Zacarias. “Quem será a esta hora?” As palmas voltam e o cachorro torna a latir. Num esforço desajeitado, ela se ergue da cadeira e, acariciando a estranha barriga de seis meses, no corpo já bem mais andado, diz ao marido: “Vá ver quem é”. Ele segue devagar e ela balbucia, espiando pela janela: “Eu conheço essa menina…”. 

Lá fora o cachorro silencia e uma conversa parece querer ganhar forma. “Eu sou Maria”, diz a moça. “Somos meio parentes. O senhor conhece a minha família; esteve lá em casa quando eu era pequena”. 

 Então cai a ficha. Zacarias volta-se para a mulher, como que pedindo socorro, e ela percebe que foi um erro pedir que ele abrisse o portão. Da janela, a cena é de dar risada: Maria, sem jeito, fita a sacola no chão; o cachorro late e o velho mudo segura o portão, gesticulando algo que nem ele mesmo entende… 

 E assim as duas mulheres se encontram. Toda a cena é ocupada por estas duas mulheres, que se abraçam chorando. Um choro que parece não existir. A moça chora uma gravidez contida e um mistério que cresce em seu ventre. Isabel deixa as lágrimas correrem pelo rosto, como a lavar anos de uma difícil, silenciosa e conturbada convivência com a ausência de filhos. Mas suas lágrimas têm também o sabor da revelação, e por isso um sorriso se abre em seu rosto – e com ele Maria é recebida. 

 O momento é sagrado. O tempo parece ter parado. O que acontece é muito mais do que se vê. Duas grávidas se abraçam e são os seus ventres que falam. Quando as palavras saem da boca de Isabel, já os ventres pronunciaram os seus “aleluias”.

 “Ouvindo esta a saudação de Maria, a criança lhe estremeceu no ventre; Então Isabel ficou possuída do Espírito Santo. E exclamou em alta voz: Bendita és tu entre as mulheres e bendito o fruto do teu ventre. E de onde me provém que me venha visitar a mãe do meu Senhor? Pois, logo que me chegou aos ouvidos a voz da tua saudação”, a criança estremeceu de alegria dentro em mim.”(Lc 1.41-44)

 A Bíblia está cheia de textos grávidos. Grávidos de significado e ternura. Eles nos alcançam em diferentes momentos, trazendo mistério e significado à nossa vida. Assim é com Maria e Isabel. Uma é jovem ainda. A gravidez, em si, não lhe é problema, mas tem um sentido profundo e difícil; ela está grávida por revelação de Deus e carrega no ventre a revelação maior de Deus na pessoa de seu filho. A outra já tem o ventre murcho e a gravidez lhe pesa, mas ela a vive numa felicidade adolescente, celebrando a bênção de ser mãe.

 Assim são as coisas. Gravidez em menina-moça e gravidez em mulher madura. Gravidez que desliza pelos meses como a água desliza com graça no leito do rio. Gravidez que parece um mar revolto, requerendo cuidado e acompanhamento. Deus as conhece todas, com todas se ocupa e a todas trata como gestoras de vida. 

 O Objetivo do Milênio para o qual olhamos neste artigo coloca em pauta a melhoria da saúde das gestantes: reduzir em três quartos, entre 1990 e 2015, a taxa de mortalidade materna. Diante deste objetivo, volto à palavra de Deus e me pergunto: como Deus se relaciona com a mulher grávida? Então me vejo diante do abraço de Maria e Isabel. É claro que a Bíblia não é um manual de cuidado da gestante, mas nela se vê claramente um Deus com um sentido de santidade para com a vida e, portanto, para com a gestante. Aliás, é interessante notar como na Bíblia, em diferentes ocasiões, a vida nasce do encontro da fertilidade de Deus com a esterilidade humana. A própria Isabel, como relata Lucas, é estéril e Deus lhe promete uma gravidez especial. É assim que ela dá a luz João. 

 Deus, sendo o autor da vida, acompanha a gravidez com zelo e carinho. Isso se manifesta, ora em pessoas como Isabel, carregando com dificuldade uma gravidez inesperada, mas bem-vinda, ora em pessoas como Maria, que, grávida em plena adolescência, busca sentido para essa gravidez em sua vida. 

 A gravidez pode acontecer em circunstâncias diversas e variadas; algumas são felizes e outras, trágicas e dramáticas. Diante de algumas Deus sorri, diante de outras ele chora. Quando a futura mãe é cercada de cuidados e afetos e a gravidez se desenvolve com saudável expectativa e normalidade, Deus sorri satisfeito. Quando o feto não cresce porque a mãe passa fome, Deus sente fome com ela. Quando o bebê se desenvolve de forma anormal porque a mãe não recebeu os cuidados médicos necessários, Deus balança a cabeça em desaprovação. Quando a mãe morre no parto porque foi abandonada na maca de um hospital superlotado ou acometida de uma infecção hospitalar, então Deus deixa claro que não é isso que ele deseja. Ele busca homens e mulheres que queiram expressar um outro compromisso de vida com as gestantes e seus filhos. 

 É por isso que, como parte da comunidade de Deus, nós celebramos e afirmamos as metas deste Objetivo do Milênio buscando formas pelas quais mulheres grávidas se abracem e celebrem a gestação da vida.

 Objetivos do Milênio

1. Acabar com a fome e a miséria

2. Educação básica e de qualidade para todos

3. Igualdade entre sexos e valorização da mulher

4. Reduzir a mortalidade infantil

5. Melhorar a saúde das gestantes

6. Combater a aids, a malária e outras doenças

7. Qualidade de vida e respeito ao meio ambiente

8. Todo mundo trabalhando pelo desenvolvimento 

 • Valdir Steuernagel é pastor luterano e trabalha com a Visão Mundial Internacional e com o Centro de Pastoral e Missão, em Curitiba, PR. É autor de, entre outros, Para Falar das Flores… e Outras Crônicas

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2 respostas para Deus se importa com a gestante

  1. Kornelia disse:

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