ESTE MUNDO: LUGAR DE LAZER OU CAMPO DE BATALHA? – A. W. TOZER – Devemos atacar

       Muitas das convicções da nossa fé são negativas. Agimos não a partir de uma convicção de que algo está certo, mas de um sentimento de que o oposto é que está errado. Tornamo-nos alérgicos a certas crenças e práticas e reagimos violentamente fugindo delas. Desse modo, as nossas reações se tornam ações. Somos levados a nossa posição muito mais pelo inimigo do que pela verdade.

       O erro que há nesse modo de pensar é a presunção de que se alguém está errado em certo ponto, tal pessoa incorre em erro em tudo o mais. Se soubermos que um liberal ou um partidário de alguma seita concorda com um determinado ensino, nós o rejeitamos imediatamente, não por sabermos qual é o seu erro, mas por sabermos quem é que o está sustentando. Pomo-nos, então, sempre na defensiva. Dirigimo-nos de volta a nossa posição tal como cavalos teimosos, em vez de prosseguirmos com a fronte erguida, como ovelhas obedientes. Para não errarmos, pensamos que o melhor a fazer é observar o inimigo, descobrir o que ele está apoiando e então seguir o caminho oposto.

       Não seria nada difícil provar que muitas das crenças defendidas com maior ardor não são nada mais do que reações a questões que consideramos como falsas doutrinas. A doutrina da justificação pelas obras – em si mesmo sendo um erro terrível -, por exemplo, tem levado alguns mestres a ensinar o erro igualmente danoso da salvação sem obras. Para muitas pessoas, o pensamento de “obras” é repugnante em razão de sua associação com o judaísmo que foi rejeitado na era do Novo Testamento. Como resultado disso, ficamos com uma salvação sem retidão em nossa vida e com doutrinas certas sem boas obras. A graça é distorcida, sendo colocada fora de seu contexto moral, e acaba sendo a causa de baixos padrões de conduta na igreja.

       Ainda, o medo do “legalismo” tem levado alguns homens de Deus a posições tão grotescas que chegam a ser ridículas. Há alguns anos, em um boletim de uma igreja, deparei-me com um caso assim de uma doutrina negativa. Querendo tornar bem clara a diferença entre a lei e a graça, quem escreveu aquele artigo argumentou que se um assassino viesse a ele e perguntasse como ser salvo, ele não diria para que deixasse a sua velha vida, não mais cometesse crime algum e cresse em Jesus. De outro modo, disse ele, seria misturar a lei com a graça. Tudo o que teria de dizer, raciocinou ele, para estar de acordo com as Escrituras, teria sido: “Creia no Senhor Jesus Cristo e você será salvo.” Um ensino herege assim não pode ter vindo diretamente das Escrituras – é o resultado de uma desesperada fuga a tudo o que pudesse corroborar para o erro da salvação pelas obras.

       Temos observado que, em muitas ocasiões, reagimos dessa maneira em relação à ciência, a evolução e à fé cristã. A nossa reação a esses inimigos é como um vôo cego. Desperdiçamos toda a nossa munição, em uma ação de retaguarda que na melhor das hipóteses apenas dificulta o que é evidentemente apenas uma retirada.

       Temos plena convicção de que o Cristianismo pode sustentar-se sobre suas próprias pernas. Cristo não precisa de nossa defesa. A Igreja não tem de fazer o jogo do inimigo, permitindo que o mundo incrédulo decida o que se deve crer e sobre onde e quando agir. Enquanto a igreja estiver agindo dessa forma, estará deixando de usufruir  de seus privilégios em Cristo Jesus.

       “Recebereis poder” (At 1:8) – disse o Senhor aos seus discípulos – e poder significa capacidade para fazer alguma coisa. É propósito de Deus nos dar amplo poder para levar a luta até o inimigo em vez de ficarmos sentados e passivamente deixarmos que ele leve a luta até nós. Quem tem de ficar na defensiva jamais deve ser a Igreja. Esta verdade é evidente e renova-se em si – toda a sua psicologia é a do ataque. Um forte ataque é tudo de que precisa para se defender.

       Será que por trás de toda essa ação defensiva encontra-se a razão pela qual tantos líderes deixam de ter uma verdadeira experiência espiritual em sua vida? É difícil entender como alguém que tenha visto o céu aberto e que tenha ouvido a voz de Deus falando ao seu coração, possa ser tão inseguro quanto à mensagem que deve proclamar.

 

 

 

 

A.W.TOZER

Este mundo: Lugar de Lazer ou Campo de Batalha?

DANPREWAN – Editora

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