BIOGRAFIA – John Wycliffe (A Estrela da Manhã da Reforma)

John Wycliffe

John Wycliffe (ou Wyclif) (1320 (?)— 31 de dezembro 1384) foi professor da Universidade de Oxford, teólogo e reformador religioso inglês, considerado precursor das reformas religiosas que sacudiram a Europa nos séculos XV e XVI. Trabalhou na primeira tradução da Bíblia para o idioma inglês, que ficou conhecida como a Bíblia de Wycliffe.

Em Oxford

Na Universidade, aplicou-se nos estudos de teologia, filosofia e legislação canônica. Tornou-se sacerdote e depois serviu como professor no Balliol College, ainda em Oxford. Por volta de 1365 tornou-se bacharel em teologia e, em 1372, doutor em teologia.

Como teólogo, logo destacou-se pela firme defesa dos interesses nacionais contra as demandas do papado, ganhando reputação de patriota e reformista. Wycliffe afirmava que havia um grande contraste entre o que a Igreja era e o que deveria ser, por isso defendia reformas. Suas idéias apontavam a incompatibilidade entre várias normas do clero e os ensinos de Jesus e seus apóstolos.

Uma destas incompatibilidades era a questão das propriedades e da riqueza do clero. Wycliffe queria o retorno da Igreja à primitiva pobreza dos tempos dos evangelistas, algo que, na sua visão, era incompatível com o poder temporal do papa e dos cardeais. Para ele o Estado deveria tomar posse de todas as propriedades da Igreja e encarregar-se diretamente do sustento do clero. Logo, a cátedra deixou de ser o único meio de propagação de suas idéias, ao iniciar a escrita de seu trabalho mais importante, a Summa theologiae. Entre as idéias mais revolucionárias desta obra, está a afirmação de que, nos assuntos de ordem material, o rei está acima do papa e que a Igreja deveria renunciar a qualquer tipo de poder temporal. Sua obra seguinte, De civili dominio, aprofunda as críticas ao Papado de Avignon (onde esteve a sede provisória da Igreja de 1309 até 1377), com seu sistema de venda de indulgências e a vida perdulária e luxuosa de muitos padres, bispos e religiosos sustentados com dinheiro do povo. Wycliffe defendia que era tarefa do Estado lutar contra o que considerava abusos do papado. A obra contém 18 teses, que vieram a público em Oxford em 1376.

Suas idéias espalharam-se com grande rapidez, em parte pelos interesses da nobreza em confiscar os bens então em poder da igreja. Wycliffe pregava nas igrejas em Londres e sua mensagem era bem recebida.

A oposição da Igreja

Apesar de sua crescente popularidade, a Igreja apressou-se em censurar Wycliffe.

É importante lembrar que, neste período, desenrolava-se a Guerra dos Cem Anos entre a França e a Inglaterra. Na Inglaterra daquele tempo, tudo que era identificado como francês era visto como inimigo e nessa visão se incluiu a Igreja, pois havia transferido sua sede de Roma para Avignon, na França. A elite inglesa (realeza, parlamento e nobreza) reagia à idéia de enviar dinheiro aos papas, esta era uma atitude vista como ajuda ao sustento do próprio inimigo. Neste ambiente hostil à França e à Igreja, um teólogo como Wyclif desfrutou quase imediatamente de grande apoio, não apenas político, como também popular, despertando o nacionalismo inglês.

Em 22 de maio de 1377, o Papa Gregório XI, que em janeiro havia abandonado Avignon para retornar a sede da Igreja a Roma, expediu uma bula contra Wycliffe, declarando que suas 18 teses eram errôneas e perigosas para a Igreja e o Estado. O apoio de que Wycliffe desfrutava na corte e no parlamento tornaram a bula sem efeito prático, pois era geral a opinião de que a Igreja estava exaurindo os cofres ingleses.

A Bíblia Inglesa

John Wycliffe entrega a tradução da Bíblia aos padres, que ficaram conhecidos como lolardos.

Wyclif organizou um projeto de tradução das Escrituras, defendendo que a Bíblia deveria ser a base de toda a doutrina da Igreja e a única norma da fé cristã. Sustentava que o papa ou os cardeais não possuíam autoridade para condenar suas 18 teses, pois Cristo é a cabeça da Igreja e não os papas.

“A verdadeira autoridade emana da Biblia, que contém o suficiente para governar o mundo”, cita Wycliffe em seu livro De sufficientia legis Christi. Wycliffe afirmava que na Bíblia se encontra a verdade, a fonte fundamental do Cristianismo e que, por isso, sem o conhecimento da Bíblia não haveria paz na Igreja e na sociedade. Com isso, contrapunha a autoridade das escrituras à autoridade papal: “Enquanto temos muitos papas e centenas de cardeais, suas palavras só podem ser consideradas se estiverem de acordo com a Bíblia”. Idêntico princípio seguiria Lutero mais de 100 anos depois, ao liderar a Reforma Protestante.

Wycliffe acreditava que a Bíblia deveria ser um bem comum de todos os cristãos e precisaria estar disponível para uso cotidiano, na língua nativa das populações. A honra nacional requeria isto, desde quando os membros da nobreza passaram a possuir exemplares da Bíblia em língua francesa. Partes da Bíblia já haviam sido traduzidas para o inglês, mas não havia uma tradução completa. Wycliffe atribuiu a si mesmo esta tarefa. Embora não se possa definir exatamente a sua parte na tradução (que foi baseada na Vulgata), não há dúvidas de que foi sua a iniciativa e que o sucesso do projeto foi devido à sua liderança. A ele devemos a tradução clara e uniforme do Novo Testamento, enquanto seu amigo Nicholas de Hereford traduziu o Antigo Testamento. Ambas as traduções foram revisadas por John Purvey em 1388, quando então a população em massa teve acesso à Bíblia em idioma inglês, ao mesmo tempo que se ouvia dos críticos: “a jóia do clero tornou-se o brinquedo dos leigos”.

Mas, cabe fazer algumas ressalvas. Durante a Idade Média os livros eram raros e caros por serem feitos à mão, a Bíblia não era exceção. O uso exclusivo do Latim era comum a todos os livros dado a universalidade da língua e o seu reconhcimento erudito e intelectual na Europa Ocidental, regra válida também para a Bíblia. A tradução de Wycliffe da Bíblia para o inglês pode ser entendida como mais movida pelo nacionalismo inglês e menos por uma inclinação popular de democratização de acesso. Os pobres continuaram sem ter acesso a mesma por dois motivos: o primeiro é que era cara por sua confecção ainda manual e segundo o povo continuava analfabeto. A grande difusão da Bíblia só foi de fato possível com a invenção da imprensa no século XV e a universalização da educação a partir do século XIX. Então, somente após o século XIX reuniram-se as condições para a Bíblia se tornar um livro popular.

Apesar do empenho da hierarquia eclesiástica em destruir as traduções em razão do que consideravam como erros de tradução e comentários equivocados, ainda existem ao redor de 150 manuscritos, parciais ou completos, contendo a tradução em sua forma revisada. Disso podemos inferir o quão difundida essa tradução foi no século XV, razão pela qual os partidários de Wyclif eram chamados de “homens da Bíblia” por seus críticos. Assim como a versão de Lutero teve grande influência sobre a língua alemã, também a versão de Wycliffe influenciou o idioma inglês, pela sua clareza, força e beleza.

A Bíblia de Wycliffe, como passou a ser conhecida, foi amplamente distribuída por toda a Inglaterra. A Igreja a denunciou como uma tradução não autorizada.

O legado de Wycliffe

Início do Evangelho de João, em uma cópia da tradução para o inglês da Bíblia de Wycliffe

Wycliffe então se retirou para sua casa em Lutterworth, onde reuniu sábios que o auxiliaram na tarefa de traduzir a Bíblia do latim para o inglês. Enquanto assistia à missa em Lutterworth, no dia 28 de dezembro de 1384, foi acometido por um ataque de apoplexia, falecendo 3 dias depois, no último dia do ano.

A influência dos escritos de Wyclif foi muito grande em outros movimentos reformistas, em particular sobre o da Boêmia, liderado por Jan Huss e Jerônimo de Praga. Para frear tais movimentos, a Igreja convocou o Concílio de Constança (14141418). Um decreto deste Concílio (expedido em 4 de maio de 1415) declarou Wycliffe como herético, recomendou que todos os seus escritos fossem queimados e ordenou que seus restos mortais fossem exumados e queimados, o que foi cumprido 12 anos mais tarde pelo Papa Martinho V. Suas cinzas foram jogadas no rio Swift, que banha Lutterworth.

Origem:

1)Wikipédia, a enciclopédia livre;

2)O Cristianismo através dos séculos -Uma história da Igreja Cristã

Earle E. Cairns

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